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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Cem Guerras Que Mudaram a História do Mundo

Cem guerras que mudaram a história do mundo
Samuel Willard Crompton

SUMÁRIO

Introdução 11
1. Batalha de Kadesh (1294 a.C.) 15
2. Guerras entre Grécia e Pérsia
(499 - 448 a.C.) 17
3. Guerra do Peloponeso
(431 -404 a.C.) 19
4. Batalha de Leuctra (371 a.C.) 21
5. Batalha de Issus (333 a.C.) 23
6. Batalha de Arbela (331 a.C.) 25
7. Primeira Guerra Púnica
(264-241 a.C.) 27
8. Segunda Guerra Púnica
(218-202 a.C.) 29
9. Batalha de Pidna (168 a.C.) 31
10. Terceira Guerra Púnica
(149- 146 a.C.) 33
11. Guerras Gálicas (58- 52 a.C.) 35
12. Guerra do Primeiro Triunvirato
(50-45 a.C.) 37
13. Guerra do Segundo Triunvirato
(32-31 a.C.) 39

14. Batalha de Adrianópolis (378 d.C.) 41
15. Batalha de Chalons-sur-Marne (451 d.C.) 43
16. Batalhas de Meca e Medina (627 - 630 d.C.) 45
17. Batalha e cerco de Constantinopla (717 - 718 d.C.) 47
18. Batalha de Tours (732 d.C.) 49
19. Conquistas de Carlos Magno (771 - 814 d.C.) 51
20. Invasões escandinavas na Europa (800 - 1016 d.C.) 53
21. Batalha de Hastings (1066) 57
22. Batalha e cerco de Jerusalém (1099) 59
23. Batalha dos Chifres de Hattin (1187) 61
24. As conquistas de Gêngis Khan (1206 - 1227) 63
25. Guerras de fronteira entre Escócia e Inglaterra
(1295- 1328) 65
26. Guerra dos Cem Anos (1337 - 1453) 67
27. Batalha e cerco de Constantinopla (1453) 69
28. Guerra das Rosas (1455 - 1485) 71
29. Batalha e cerco de Granada (1491 - 1492) 73
30. Batalha e cerco a Tenochtitlán (1 521 - 1 522) 75
31. Batalha de Cajamarca (1532) 77
32. Guerras religiosas francesas (1 562 - 1 593) 79
33. Guerra dos Oitenta Anos (1568 - 1648) 81
34. Guerras entre Espanha e Inglaterra (1 580 - 1603) 83
35. Guerra dos Trinta Anos (1618 - 1648) 85
36. Guerra Civil ou Revolução Puritana da Inglaterra
(1642 - 1649) 87
6


37. Grande Guerra do Norte (1700 - 1721) 89
38. Guerra dos Emboabas (1708- 1709) 93
39. Guerra dos Mascates (1710- 1711) 95
40. Guerra Guaranítica (1754- 1756) 97
41. Guerra dos Sete Anos (1756- 1763) 99
42. Guerra de Independência dos Estados Unidos
- Batalha de Trenton (1776) 101
43. Guerra de Independência dos Estados Unidos
- Batalha de Saratoga (1777) 103
44. Batalha e cerco de Gibraltar (1779 - 1783) 107
45. Inconfidência Mineira (1789) 109
46. Guerras da Revolução Francesa (1793 - 1799) 113
47. Batalha do Nilo (1798) 115
48. Batalha de Trafalgar (1805) 117
49. Batalha de Waterloo (1815) 119
50. Guerra de Independência do Peru (1820 - 1825) 123
51. Guerra da Independência do México (1821 - 1823) 125
52. Guerra da Independência da Grécia (1821 - 1832) 127
53. Guerra da Cisplatina (1825 - 1828) 129
54. Conquista Francesa da Argélia (1830 - 1847) 131
55. Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha
(1835- 1845) 133
56. Primeira Guerra do Ópio (1839 - 1842) 137
57. Primeira Guerra Afegã (1839 - 1842) 139
58. Batalha de Chapultepec (1847) 141
7

59. Rebelião Taiping (1850) 145
60. Guerra da Criméia (1853 - 1856) 147
61. Segunda Guerra do Ópio (1856- 1860) 149
62. Guerra da Independência Italiana (1859 - 1860) 1 51
63. Guerras dos índios americanos (1860 - 1890) 1 53
64. Guerra Civil Americana (1861 - 1865) 157
65. Guerra do Paraguai (1864 - 1870) 161
66. Guerra Austro-Prussiana (1866) 165
67. Guerra Franco-Prussiana (1870- 1871) 167
68. Segunda Guerra Afegã (1878 - 1880) 169
69. Guerra Zulu (1879) 171
70. Batalha de San Juan (1898) 173
71. Guerra Russo-Japonesa (1904- 1905) 177
72. Guerras Balcânicas (1912 - 1913) 181
73. Primeira Guerra Mundial (1914- 1918) 183
74. Revolução Russa (1917) 187
75. Guerra Civil da China e Revolução Comunista
(1930- 1949) 189
76. Revolução de 1930 (1930) e Revolução Constitucionalista
de 1932 (1932) 191
77. Guerra entre Itália e Etiópia (1935 - 1936) 195
78. Intentona Comunista (1935) 197
70. Guerra Civil Espanhola (1936 - 1939) 199
80. Guerra Sino-Japonesa (1937 - 1945) 201


81. Segunda Guerra Mundial (1939- 1945) 203
82. Segunda Guerra Mundial - Batalha pela França (1 940) ....207
83. Segunda Guerra Mundial - Batalha da Inglaterra
(1940-1941) 209
84. Segunda Guerra Mundial - Batalha de Pearl Harbor
(1941) 211
85. Segunda Guerra Mundial - Batalha de Midway (1942) ....213
86. Segunda Guerra Mundial - Batalha de Stalingrado
(1942 - 1943) 215
87. Segunda Guerra Mundial - Batalha do Dia D (1944) 217
88. Guerra Fria (1945 - 1990) 219
89. Guerra da Indochina (1946- 1954) 223
90. Guerra Civil Indiana e Guerra entre índia e Paquistão
(1947- 1948) 225
91. Guerra de Independência Israelense (1948 - 1949) 229
92. Guerra da Coreia (1950 - 1953) 231
93. Revolução Cubana (1956 -1959) 235
94. Guerra do Vietnã (1956 - 1975) 237
95. Golpe de 1964 e Regime Militar (1964- 1985) 239
96. Guerra dos Seis Dias (1967) 241
97. Batalha do Canal de Suez (1973) 243
98. Guerra Civil Afegã (1979 - 1989) 245
99. Guerra Irã-lraque (1980 - 1988) 247
100. Guerra do Golfo Pérsico (1990 - 1991) 249

INTRODUÇÃO

Desde as primeiras batalhas registradas no Oriente Médio até a Guerra do Golfo, os homens (e às vezes as mulheres) têm tomado as armas por objetivos pessoais, políticos
e económicos. Religião, terras, glória e a busca de riquezas tiveram seu papel na motivação humana para as guerras. No fundo de tudo isso está o desejo de superação
que frequentemente é satisfeito nos combates, seja em lutas com lanças, seja na troca de mísseis.
Mudanças marcantes em estratégia e armamentos transformaram o formato de guerras e batalhas ao longo dos séculos. Os combates no Oriente Médio no tempo dos egípcios
se concentravam nos carros puxados a cavalo, que depois deram lugar à cavalaria. Soldados de infantaria gregos e romanos dominaram o mundo mediterrâneo durante anos
com sua falange e legiões, mas essas sólidas brigadas depois foram exterminadas, substituídas, na era dos cavaleiros da Ásia Central: os hunos, os mongóis e os turcos.
Fortificações construídas na Idade Média permaneceram por séculos, mas depois ruíram com o advento da pólvora e da artilharia

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do século XV. Mais recentemente, o mosquete deu lugar ao rifle, que o cedeu à metralhadora; o navio de alto bordo deu lugar ao navio de guerra e depois aos porta-aviões.
Um príncipe não deve, portanto, ter qualquer outra meta ou pensamento, nem tomar qualquer outra coisa para estudo, que não a guerra e sua organização e disciplina,
pois essa é a única arte necessária àquele que comanda.
Assim escreveu Nicolau Maquiavel em O Príncipe, de 1532, indicando que mesmo durante o auge da renascença italiana, período famoso por sua expressão artística,
os homens tinham a guerra como prioridade, como instrumento primário da política nacional. Um exemplo mais recente da atração exercida pela guerra: no final do século
XIX, surgia um grande otimismo, principalmente entre os europeus e os americanos de classe alta, de que a educação, a ciência, a medicina e a aplicação do pensamento
racional em todo o mundo eliminariam a guerra, as doenças, a fome e os conflitos no século seguinte. Mas ao contrário do que pensavam, o século XX presenciou duas
enormes guerras globais, o desenvolvimento e a utilização de armas atómicas, um marcante ressurgimento de nacionalismos tribais (especialmente na Europa) e uma gama
de novas doenças que talvez continuem resistindo aos esforços dos médicos e aos antibióticos. E mesmo enquanto a Guerra Fria terminava, em 1990, os Estados Unidos
estavam organizando uma coalizão multinacional para combater Sadam Hussein no Iraque. Previsões de que a guerra um dia será desnecessária parecem sem fundamento
e somos forçados a refletir sobre a possibilidade de cada geração ter de enfrentar seus próprios males.
A medida que a população mundial se encaminha para os seis bilhões de habitantes e os recursos se tornam cada vez mais escassos, parece provável que guerras
futuras ocorram entre países do Primeiro e do Terceiro Mundos, entre as regiões desenvolvidas e as subdesenvolvidas do globo. O único remédio para evitar calamidades

futuras está na capacidade da humanidade de criar uma via de saída para a agressividade e encontrar uma forma de aprisionar o monstro nuclear. Como afirmou Benjamin
Franklin, "Nunca existiu uma guerra boa nem uma paz ruim."
Antes de podermos mudar o curso dos acontecimentos atuais, temos de entender o que aconteceu antes. É por isso que procuramos aprender sobre as guerras e as
batalhas que mudaram a história do mundo.

Próximo à virada do século XIV a.C, um novo reino surgiu na Ásia Menor, atual Turquia, desafiando o poder do Egito no Oriente Médio. O império hiti-ta é relativamente
desconhecido para os historiadores de hoje, mas não há dúvidas de que seus habitantes usavam armas de ferro em uma época em que os egípcios e quase todos os outros
povos ainda utilizavam o bronze para fabricar as suas. Quando os hititas começaram a competir com o Egito pelo controle do território onde hoje ficam Israel e Líbano,
os egípcios decidiram des-ferir um golpe fatal contra o novo reino. O faraó egípcio Ramsés II recrutou um exército de vinte mil homens, incluindo soldados de infantaria
e condutores de carros de guerra. Teve como oponente um exército hitita de 8.500 homens da infantaria e dos carros de guerra (os hititas levaram 3.500 carros puxados
a cavalo para o combate).

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A batalha ocorreu ao sudeste de Kadesh, às margens do rio Orontes, na Síria. A princípio, os hititas pareciam levar vantagem. A força de seu primeiro ataque
com os carros de guerra confundiu os egípcios e os hititas penetraram no acampamento principal do exército de seus inimigos. Muitos dos soldados hititas passaram
a saquear o acampamento, o que deu aos egípcios a oportunidade para se reorganizarem. A batalha terminou em um empate sangrento e inconclusivo. Ramsés II registrou
a batalha em detalhes em monumentos e obeliscos, mas seus registros não mostraram que a batalha de Kadesh deixou tudo praticamente como era antes: um poderoso reino
hitita ao norte e um venerável império egípcio ao sul, com uma "terra de ninguém" no meio. A batalha mudou a história do mundo porque deixou aquela terra de ninguém
intacta. Na região (Líbano, Síria, Israel e Cisjordânia de hoje) desenvolveram-se mais tarde uma série de pequenos reinos (e não poderosos impérios). Esses pequenos
reinos geraram importantes descobertas para o futuro do mundo. O reino da Fenícia, por exemplo, onde hoje fica o Líbano, desenvolveu o primeiro alfabeto fonético
do mundo, com 21 letras, e os reinos da Judéia e de Israel desenvolveram práticas religiosas monoteístas.

ERRAS ENTRE ÉCIA E PÉRSIA * {499 - 448 a.C.)
Figura de guerreiro persa em
cerâmica esmaltada polinómica,
originaria dd sala do audiências
do palácio de Dano I, ari Susa.

Comparada ao poderoso Império Persa, a Grécia era um território pequeno e insignificante, pontilhado de pequenas cidades-estado, cada uma com população em torno
de trinta mil habitantes. Não costumava haver cooperação de Atenas, Tebas, Esparta, Corinto e outras cidades-estado em tempos de paz: cada qual cuidava de seus assuntos
e tentava superar comercialmente as vizinhas. Mas essa terra de centros políticos desunidos precisou de ajuda quando o Império Persa ameaçou se expandir para além
da Turquia até o mar Egeu.
Em 499 a.C, as colónias gregas da Turquia começaram a se revoltar contra a regência da Pérsia. Atenas e outras cidades-estado enviaram ajuda para os conterrâneos
da Grécia. Como resposta, Dario I (558 - 486 a.C), rei da Pérsia, enviou um exército e uma esquadra para conquistar a Grécia em 490 a.C.
A frota persa ancorou próximo à costa da Grécia, ao norte de Atenas. Aproximadamente trinta mil soldados persas

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desembarcaram e marcharam contra Atenas, a cidade mais exposta a ataques por terra e por mar. Os persas foram atacados na praia por dez mil atenienses concentrados
em postos mais elevados. Correndo para o ataque, os guerreiros hoplitas desequilibraram os persas e fizeram o exército inteiro recuar, desordenadamente, de volta
aos navios. Cerca de seis mil persas morreram na praia, na batalha de Maratona; a Grécia permaneceu livre e pôde continuar a realizar suas experiências democráticas.
Dez anos depois, Xerxes (519 - 465 a.C), sucessor de Dario, fez outra tentativa de subjugar os gregos. Comandando trezentos mil soldados persas por terra, através
da Turquia, e cruzando o estreito de Helesponto, Xerxes chegou a Atenas e queimou grande parte da cidade em 480 a.C. Entretanto, pouco depois, viu sua frota perder
a batalha de Salamina, bem ao sul de Atenas. Os atenienses haviam construído embarcações com três ordens de remos. Podendo manobrar seus navios mais rapidamente
nas águas restritas da baía de Salamina, os gregos venceram por esperteza a enorme frota persa. O numeroso exército de Xerxes dependia dos suprimentos de sua frota;
Xerxes voltou para a Ásia, deixando, entretanto, um exército de tamanho considerável sob o comando de Mardônio para assediar os gregos durante o ano seguinte. O
exército de Mardônio foi completamente derrotado pelos guerreiros hoplitas da Grécia em Plateia, na primavera de 479 a.C.
Outros combates se seguiram e um ressentimento duradouro se desenvolveu em ambos os lados. Um novo conflito parecia provável, mas antes de atacar os persas,
os gregos ainda iriam lutar entre si em uma série de conflitos conhecidos como Guerra do Peloponeso (ver n" 3).

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xxx3
GUERRA DO PELOPONESO
(431 - 404 a.C.)
Guerra do Peloponeso.

O sucesso pode gerar arrogância, orgulho e vaidade. Parece ter sido isso que aconteceu com Atenas nos cinquenta anos que se seguiram à derrota dos persas em Maratona,
Salamina e Plateia. Inflamada com a vitória naval de Salamina, Atenas passou a construir um império próprio no mar Egeu. Pequenas ilhas logo descobriram que precisavam
pagar impostos a Atenas para manter sua posição na Liga Delia, uma associação criada para repelir futuros ataques persas. Quando a ilha de Meios se recusou a pagar
o imposto, os atenienses a atacaram, capturaram seus habitantes e venderam-nos como escravos. Os outros gregos, fossem de Esparta, Corinto ou Tebas, talvez tenham
se perguntado se o domínio ateniense seria melhor que uma ocupação persa.
Esparta, potência localizada na região sul da Grécia, emergiu como único grande oponente de Atenas. Os guerreiros

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vf-í ¦

espartanos eram conhecidos por sua dedicação e bravura. Após uma série de manobras e contramanobras diplomáticas, Atenas e Es-parta entraram em guerra - era o início
da longa e cruel Guerra do Peloponeso.
Liderados por Péricles (495 - 429 a.C), os atenienses evitaram confrontar os espartanos em combate aberto. Deixaram o inimigo destruir os vinhedos nas redondezas
de Atenas enquanto permaneciam em segurança atrás dos muros da cidade e mandavam frotas para atacar Esparta por mar. Essa estratégia foi vantajosa nos primeiros
dois anos da guerra, mas então, Atenas foi atingida por uma terrível praga, que matou muitos de seus melhores homens, inclusive Péricles. A guerra se arrastava,
sem conclusão à vista.
Atenas desperdiçou muitos homens e dinheiro em uma tentativa fracassada de capturar a cidade de Siracusa, na Sicília, uma aliada de Esparta. Enquanto isso, os
espartanos desenvolviam sua própria frota - com o auxílio da Pérsia, inimiga de todos os gregos. Logo começaram a ameaçar o abastecimento de alimentos de Atenas.
Totalmente dependentes dos grãos trazidos à cidade por navio através do mar Negro, os atenienses atacaram os espartanos por mar. Esparta venceu a Batalha de Egospótamo
em 404 a.C, encerrando definitivamente a guerra. Segundo os termos do tratado de paz, Atenas era obrigada a derrubar seus muros de proteção, a renunciar a seu império
marítimo e a permitir a hegemonia espartana na Grécia. Embora a longa guerra tivesse terminado, outras cidades-estado gregas viriam a ressentir Esparta tanto quanto
tinham invejado Atenas.

4
BATALHA DE LEUCTRA
(371 a.C.)
Após a batalha, um guerreiro
carrega o corpo de um
de seus colegas.

O domínio de Esparta na península grega foi tão nocivo para as cidades-estado gregas quanto o fora o domínio de Atenas. Uma geração após a Batalha de Egospótamo,
os gregos começavam a querer um grau mais elevado de independência de Esparta. Um dos líderes do novo movimento foi Epaminondas (418 - 362 a.C.), filho do rei de
Tebas, outra cidade-estado grega. Quando menino, Epaminondas fora obrigado a ficar em Esparta como refém para garantir o bom comportamento do pai. Observador dedicado
tanto da natureza humana quanto das táticas militares, ele acompanhava os espartanos de perto e conseguiu entender por que eles eram conhecidos como os melhores
guerreiros de seu tempo.
Quando se tornou rei de Tebas, Epaminondas se recusou a pagar impostos a Esparta. Depois, enfrentou uma invasão espartana em seus territórios, o que todos os
líderes gregos temiam imensamente. O exército tebano se reuniu 16 quilómetros

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a oeste de Tebas, na atual Voiotia, Grécia. Esparta tinha 11 mil homens, c Tebas, cerca de seis mil. As chances não eram boas para os te-banos, que sabiam também,
como sabiam todos os gregos, que os guerreiros espartanos estavam invictos desde a Batalha de Termópilas, 110 anos antes. Mas Epaminondas tinha suas próprias opiniões
sobre a invencibilidade de Esparta.
Os espartanos organizavam seus homens segundo a maneira tradicional, colocando os melhores guerreiros em seu flanco direito. Epaminondas fez o contrário, dispondo
seus melhores homens em seu flanco esquerdo, diretamente opostos aos melhores espartanos. Também arrumou seu flanco direito em formato de esquadrilha, distante dos
espartanos, deixando, dessa forma, de colidir totalmente frente a frente, como era o costume. A esquerda tebana, disposta em uma coluna de 24 metros de largura por
45 de profundidade, passou rapidamente pelo flanco direito de Esparta. Os espartanos lutaram com determinação e bravura, mas não fizeram nenhuma inovação tática
para reagir a esse ataque. Em poucas horas, Epaminondas havia derrotado os espartanos, que perderam dois mil homens, inclusive seu rei, Cleombrotus. As baixas tebanas
não foram registradas, mas acredita-se que tenham sido pequenas. No final do dia, Tebas surgia como nova potência militar da Grécia. A batalha também confirmou que
movimentos coordenados das tropas poderiam derrotar até mesmo os guerreiros mais robustos.

|t DE ISSUS *. (333 a.C.)
Mosaico de Alexandre, cópia
romana de uma pintura
helenística tardia, c. 80 a.C.
Museu Nacional, Nápoles.


**£
Felipe da Macedônia conquistou Tebas e tornou-se senhor absoluto da Grécia em 338 a.C. Os soldados mace-dônicos, grandes cavaleiros e também grandes bebedores, planejavam,
então, marchar contra a Pérsia, mas Felipe morreu prematuramente. Seu filho Alexandre (356 - 323 a.C.), que havia liderado o ataque da cavalaria ' lue derrotou
os teba- nos e que mais tarde ficaria conhecido como Alexandre, o Grande, o sucedeu. Poucas vezes na história um líder militar do porte de Felipe foi sucedido
por um filho que se tornaria ainda mais genial que o pai.
Alexandre liderou trinta mil soldados macedônicos através do Helesponto até a Ásia Menor em 333 a.C. Derrotou um exército persa do mesmo tamanho do rio Granicus
e marchou para o leste. No sudeste da Ásia Menor, encontrou um exército de noventa mil persas, liderados pelo rei Dario III (380? - 330 a.C), que,

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como Xerxes, seu antecessor, era conhecido como o Rei dos Reis. Dario posicionou seu exército ao longo das linhas de abastecimento de Alexandre e forçou os macedônios
a lutarem em Issus, às margens do rio Payas, próximo a Iskenderun, hoje na Turquia.
A batalha aconteceu em uma planície estreita entre as montanhas e o mar, o que impediu que Dario usasse todo o seu exército (alguns comentaristas especulam que
Dario comandava cerca de quinhentos mil homens). Além disso, as forças de Dario eram compostas de soldados provenientes de muitos grupos culturais e nacionais diferentes
(bactrianos, persas, fenícios e até mercenários gregos), ao passo que as tropas de Alexandre formavam um núcleo coeso de soldados que só conheciam a vitória.
Dario começou avançando a cavalaria em seus flancos, esperando levar os macedônios até onde um número maior de seus soldados pudesse atacá-los. A cavalaria macedônica
conduziu os cavaleiros persas e então partiu para a ofensiva, cavalgando contra o corpo principal do exército da Pérsia. Não parecia haver motivos para que os persas
não triunfassem, mas a composição multinacional do exército de Dario casou-lhe problemas. Seus homens não se coordenaram bem uns com os outros e o avanço repentino
da falange macedônica, um muro de lanças e espadas desenvolvido por Felipe e aperfeiçoado por Alexandre, deixou-os apavorados. Só os mercenários gregos de Dario
continuaram a lutar; os outros grupos do exército persa se desintegraram face ao ataque de Alexandre. Dario fugiu do campo de batalha. Ele e seus homens foram perseguidos
pela cavalaria grega, mas conseguiram escapar. O mesmo não pode ser dito dos 1 5 mil homens do exército persa que foram abatidos, nem da rainha e da família de Dario,
que foram capturados pelos gregos após a batalha. Um dia de lutas havia dado a Alexandre o controle absoluto da Ásia Menor e também de regiões dos atuais Líbano
e Síria.

6
BATALHA DE ARBELA
(331 a.C.)
Baixo-rclevo com cenas de
batalhas entre os macedônios e
os persas, esculpido nas paredes
do chamado "Sarcófago de
Alexandre", no qual são
representadas as campanhas
militares do jovem soberano da
Macedônia.

Após sua grande vitória em Issus (ver nfi 5), Alexandre, o Grande (356 -323 a.C), capturou a cidade fenícia de Tiro e continuou adentrando o Egito antes de se virar
novamente contra os persas. Alexandre já havia capturado um terço do Império Persa; o rei Dario III (380? - 330 a.C.) mandou seus enviados discutirem os termos de
paz, mas Alexandre riu
das propostas. Para ele, vitória significava tudo ou nada; não havia meio-termo. Após passar algum tempo no Egito, onde sacerdotes lhe disseram que ele era filho
de Amon, o deus do sol, Alexandre levou seus homens de volta à Ásia para confrontar novamente os persas.
Dario reuniu um exército ainda maior para enfrentar os macedônios. Pelo menos 250 mil soldados de diversas nacionalidades

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se reuniram na planície de Arbela, por vezes chamada de Gaugamela, próxima à atual Mosul, no norte do Iraque. Dario passou dias preparando o campo de batalha. Fez
com que seus homens limpassem e varressem a planície para que suas carruagens e seus cavaleiros pudessem ser usados da melhor forma. Tinha duzentos carros, 15 elefantes
e quarenta mil soldados montados, além de duzentos mil da infantaria, vindos de diversas regiões do vasto império persa. Mas o tamanho e a força do exército pouco
significavam em face do estado abalado de Dario. Um exército maior nunca conseguiria lhe dar confiança, pois ele acreditava que Alexandre fosse realmente imbatível.
Alexandre achava o mesmo, assim como seus homens, em números cada vez maiores, que haviam marchado de uma vitória a outra no decorrer de mais de dois anos.
Alexandre conduziu seu exército de quarenta mil homens, desviando-se em direção ao flanco esquerdo do exército persa. Quando a batalha começou, os gregos continuaram
a se mover para a direita, forçando Dario a deslocar seus homens para auxiliarem no ataque concentrado. Dario lançou seus carros e elefantes, mas ambos foram repelidos
pelos macedônios com flechas e lanças.
O plano de concentrar um ataque de cavalaria não dera certo e Dario ficou consternado. Ainda havia tempo de reagrupar os persas. Vendo uma mudança na formação
persa e um momento de fraqueza, Alexandre e seus guarda-costas atacaram diretamente a divisão em que Dario se encontrava. Ele fugiu com sua comitiva e a batalha
se desintegrou rapidamente, virando um tumulto. As baixas estimadas foram de quarenta mil para a Pérsia e de meros quinhentos homens para os macedônios. Dario conseguiu
despistar Alexandre, mas foi morto por um de seus próprios generais. Assim terminava a dinastia que começara com Ciro no século VI a.C. e que foi, durante séculos,
o maior império do mundo ocidental.

íf *
7
PRIMEIRA
UERRA PÚNICA (264 - 241 a.C.)
Afresco encontrado em Pompéia, representando uma batalha naval.

O império de Alexandre, o Grande (356 - 323 a.C), se estendia para o leste, da Grécia à índia. Duas outras potências começaram a competir pela supremacia das regiões
central e ocidental do mar Mediterrâneo: Roma e Cartago. A primeira era uma cidade-estado às margens do rio Tibre, próximo à costa ocidental da Itália, e a segunda,
uma cidade-estado fenícia, próxima à atual Turquia, no norte da África. Ambas dependiam do comércio e eram bastante agressivas na vigilância de seus territórios.
As duas potências acabaram se confrontando pelo domínio da ilha da Sicília, que ficava no Mediterrâneo, entre Roma e Cartago.
Quando a Primeira Guerra Púnica começou, em 264 a.C, Cartago estava em vantagem. Sua frota era maior e já havia exércitos posicionados na Sicília. Em dois anos,
Roma ergueu sua primeira frota (copiada de um navio de três remos

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capturado dos cartagineses) e partiu para vencer uma série de importantes batalhas navais. Os romanos lutaram contra a experiência dos marinheiros cartagineses com
coragem: colocaram muitos soldados em seus navios e, quando chegavam perto de uma embarcação inimiga, jogavam um corvus (bate-estacas com ponta de ferro) no convés
do oponente. O corvus se tornava uma ponte estreita, onde os romanos lutavam como se fosse uma batalha em terra. Intimidados pela inventividade e coragem dos romanos
no combate corpo a corpo, os cartagineses evitaram outras batalhas navais com Roma, o que garantiu o controle das águas em torno da Sicília às novas legiões romanas.
Roma sofreu uma grave derrota na guerra. Um exército romano no norte da África foi derrotado e seu general, Régulo, capturado. Intimado por seus captores a iniciar
as negociações para salvar sua vida, Régulo, ao contrário, informou aos seus conterrâneos romanos que deveriam continuar lutando, não importando o que acontecesse
com ele.
A guerra se arrastou até 241 a.C, quando os últimos soldados cartagineses na Sicília se renderam. No tratado de paz que se seguiu, Roma impôs uma indenização
a Cartago, tomando permanentemente a Sicília. Para piorar as coisas, Cartago logo viria a sofrer uma revolta de seus soldados mercenários, que não haviam sido pagos.
Nos tempos instáveis que se seguiram, Roma aproveitou-se da situação e tomou também a Sardenha dos cartagineses. Embora Roma tivesse vencido a primeira rodada da
guerra com convicção, sua rival do sul ainda não havia dado sua última palavra. Um dos generais de Cartago, Amíl-car Barca, jurou ódio eterno a Roma por seus quatro
filhos e todos os quatro acabariam tomando as armas contra o antigo inimigo.

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SEGUNDA JUERRA PÚNICA
>(218 - 202 a.C.)
Aníbal Barca.

A sede de vingança de Cartago foi personificada por Aníbal Barca (247? -183? a.C), o mais velho dos quatro filhos de Amílcar Barca. Educado desde cedo para odiar
Roma, Aníbal planejou, com seus três irmãos, atacar a cidade-estado por onde ela menos esperava - a Espanha. Em 220 a.C, os irmãos Barca já haviam estabelecido uma
província de Car-na Espanha e, em 219 a.C, ;rcaram a cidade de Sagunto, aliada de Roma. Ao ser informado pelos romanos de que deveria romper o cerco ou enfrentar
uma guerra, Aníbal capturou Sagunto.
Aníbal saiu da Espanha com cinquenta mil homens para a Gália inferior, cruzou o rio Ródano e entrou nos Alpes. 1 >uase todos os elefantes que le-morreram na
travessia das montanhas, mas Aníbal e seus homens suportaram a caminhada e chegaram ao vale do Pó, no norte da Itália. Embora tivesse sofrido grandes baixas devido
ao frio e à fome, Aníbal recrutara homens entre as tribos gaulesas durante a marcha.

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Confiantes de que repetiriam os sucessos da Primeira Guerra Púnica, os romanos enviaram exército atrás de exército contra Aníbal. A orgulhosa cidade de Roma
ficou chocada quando suas tropas foram derrotadas às margens do rio Ticino e do rio Trebbia, em 218 a.C, e no lago Trasimere, em 217 a.C. O auge da glória de Aníbal
veio na Batalha de Canas, em 216 a.C, quando executou uma manobra de duplo envolvimento, circundando e encurralando cinquenta mil soldados romanos. A perda de seu
maior exército e de dois de seus líderes consulares convenceu Roma a adotar táticas diferentes. Sob o comando de Fábio Máximo, Roma ficou na defensiva por anos,
ganhando tempo até a hora certa de contra-atacar.
A oportunidade chegou quando um novo líder, Público Cornélio Cipião (237 - 183 a.C), também conhecido como Africano, levou a guerra à Espanha, lá derrotando
as forças de Cartago. Asdrúbal Barca, irmão mais novo de Aníbal, conduziu um segundo exército cartaginês pelos Alpes para o norte da Itália, mas as tropas foram
esmagadas pelos romanos antes que Aníbal soubesse da aproximação do irmão.
Estimulado por seus sucessos, Cipião atravessou para a África em 204 a.C. Derrotou diversas forças de Cartago e fez uma aliança crucial com os homens da cavalaria
de Numídia. Chamado à África para defender sua terra natal, Aníbal encontrou Cipião na Batalha de Zama, em 202 a.C. Embora Aníbal usasse todas as manobras possíveis,
o conhecimento, o profissionalismo e a confiança das legiões de Cipião prevaleceram. Derrotado, Aníbal insistiu em que o governo cartaginês firmasse a paz. Outra
indenização foi imposta a Cartago, com a cidade-estado africana jurando nunca entrar em guerra novamente sem a permissão de Roma.

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BATALHA DE PIDNA
(168 a.C.)
Moeda da época com o rosto de Lúcio Emílio Paulo.

Roma continuou a ganhar força nos anos que se seguiram à Batalha de Zama. Tendo dominado Aníbal (247? - 183r a.C.) e Cartago, Roma se voltou para o leste e
se envolveu em três guerras contra o Reino da Macedônia. A Macedônia estava ganhando terreno com Alexandre, o Grande (356 - 323 a.C), e suas incríveis conquistas
no Oriente Médio e na Ásia, e o reino possuía uma forte tradição militar. O sistema macedôni-co de lutar baseava-se na falange, composta de um
extenso paredão de homens que marchavam e lutavam juntos, geralmente usando lanças pesadas com até três metros e meio de comprimento. Esse paredão de lanças havia
surpreendido e derrotado os persas e continuava sendo a unidade guerreira mais formidável da Grécia, da Macedônia e do Oriente Médio. Agora, no entanto, a falange
enfrentaria as legiões e coortes romanos.

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TERCEIRA ERRA PÚNICA
P(149 - 146 a.C.)
Gravura do busto de Marcus Porcius Cato.
A legião romana (normalmente com seis mil homens) marchava e lutava em harmonia, como a falange. Existiam, entretanto, duas importantes diferenças. Em primeiro
lugar, a legião podia se dividir em grupos menores, ou coortes, e, em segundo lugar, os romanos usavam mais a espada curta que a lança. A falange e a legião se chocaram
ao longo das margens do rio Aeson, na costa ocidental do golfo de Tes-salônica. O rei Perseu da Macedônia estava no comando de uma infantaria de quarenta mil soldados
e uma cavalaria de quatro mil homens. Metade dos homens da infantaria estava agrupada em um tipo de falange compacta. Seu oponente romano, Lúcio Emílio Paulo (228
- 160 a.C), havia trazido para o campo de batalha quatro legiões romanas e seus auxiliares, aproximadamente 25 mil homens.
As lutas começaram com um conflito menor ao longo do rio. À medida que ambos os lados foram enviando reforços, o conflito virou uma grande batalha travada entre
os dois exércitos. A princípio, a falange macedônica usou todo o seu volume para forçar os romanos a recuar. Conforme os dois grupos de homens chegaram a uma grande
área de terreno irregular, a falange se desordenou e os macedônios tiveram de parar. Os romanos contra-atacaram e, lutando em terreno acidentado, começaram a dominar.
Separaram-se em coortes e penetraram na falange. No combate de perto, os macedônios viram que suas lanças compridas eram inúteis, enquanto os romanos podiam usar
suas espadas curtas de forma letal.
O que havia começado como um teste de forças entre dois exércitos se tornou um tumulto total. Ao final do dia, vinte mil soldados macedônicos estavam mortos
ou feridos e outros dez mil eram prisioneiros. Por outro lado, os romanos relataram apenas quinhentos mortos e feridos. Números tão assimétricos só poderiam ser
resultado de um encontro de duas táticas de batalha diferentes. A legião tornou-se a unidade tática padrão e Roma ganhou o controle de fato sobre Macedônia e Grécia.

Cinquenta anos depois do fim da Segunda Guerra Púnica, Cartago era novamente uma próspera cidade mercantil, que tomava cuidado para não afrontar Roma. Certos romanos,
entretanto, mantiveram uma animosidade duradoura contra a cidade-estado. Um líder do povo, Marcus Porcius Cato (ou Marco Pórcio Catão, 234-149 a.C.) declarava
seguidamente no Senado romano: "Delenda est Carthago!" (Cartago deve ser destruída.)
Cato tocara em um ponto sensível e, em 149 a.C, as circunstâncias levaram à terceira e última Guerra Púnica. O rei Massinissa da Numídia iniciou o conflito
provocando uma
u ¦.; 'ri il h<it,T:t.'tM.'i '*'&£ guerra contra Cartago
em solo africano. Precisando defender-se, Cartago organizou seu exército para combater os númidas. Em resposta a essa guerra "não autorizada", Roma
exigiu que Cartago entregasse todo e qualquer

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equipamento de guerra: navios, armas, etc. Era demais para os cartagineses, que juraram nunca abrir mão do direito de se defender.
Os cartagineses lutaram por três anos contra um cerco mortal à sua cidade. Noventa por cento da população da cidade morreram em decorrência de ferimentos de
guerra ou de fome. Quando os romanos finalmente venceram suas últimas defesas, encontraram pouco que valesse a pena ser preservado. Os cartagineses que restaram
foram vendidos como escravos. Os romanos derrubaram os muros e construções da cidade e espalharam sal na terra para desencorajar qualquer um de construir outra cidade
no mesmo lugar.
Ironicamente, a própria Roma iria no futuro construir colónias no norte da África - uma delas no local em que ficara Cartago.

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GUERRAS GÁLICAS
(58 - 52 a.C.)
Yvon Quadro alegórico
. mostrando César com o mundo
; nas mãos-ele triunfa sobre os
¦¦* adversários e a morte.

Na história das campanhas militares, existiram poucos líderes tão eficientes e mortíferos quanto o romano Júlio César (100-44 a.C).
César chegou à Gália Cisplatina em 58 a.C. como procônsul, enviado para defender as fronteiras romanas do norte. A cidade-estado de Roma tinha pavor dos
guerreiros gauleses, que a saquearam em 390 a.C, e esperava que César não só protegesse a fronteira da região, mas que também pudesse expandi-la. Sempre ambicioso,
César pretendia muito mais que isso: vislumbrava um império romano grandemente ampliado, que se estendesse para o norte, através da Gália, chegando ao mar do Norte.
Dois fatores o ajudaram: o ataque germânico e a divisão dos gauleses. As tribos germânicas localizadas ao leste do rio

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rio para saquear o território
Reno constantemente atravessavam o
gálico; já os gauleses estavam divididos em uma série de tribos que brigavam entre si e raramente cooperavam umas com as outras. Para justificar sua primeira intrusão
no território dos gauleses, César usou a desculpa de que precisava repelir o avanço de uma tribo germânica - os helvécios - na Gália. Mas César não se limitou a
deter os helvécios, aproveitando também para anexar grandes faixas de território gálico ao domínio romano. Os gauleses protestaram, mas também prezavam a defesa
contra os germânicos e, assim, a ofensiva de César passou despercebida.
De 57 a 54 a.C, César rumou para o norte para lutar contra a violenta tribo dos nérvios, na atual Bélgica. Prosseguindo em seu ímpeto de conquistas, montou uma
frota para atravessar o atual canal da Mancha e invadir a Grã-Bretanha. Qualquer observador perspicaz conseguiria ver que o desejo que César tinha de novas terras
era implacável. Para desafiá-lo, os gauleses finalmente se uniram em torno de um novo líder - Vercingetorix -, chefe da tribo dos arvernos. Unidos pela primeira
vez, os gauleses detiveram César na cidade fortaleza de Gergóvia, mas depois perderam quando lutaram em planície aberta. Recuando para a Alésia, os gauleses logo
foram cercados por cinquenta mil soldados romanos, que construíram um paredão de cerco. Ao saberem que um exército auxiliar de gauleses estava a caminho, construíram
um segundo paredão por fora do primeiro e lutaram contra os dois exércitos da sua posição fortificada do lado de dentro das duas muralhas. Confrontado com a vontade
irredutível de César e a coragem e a disciplina de suas legiões, Vercingetorix se rendeu em 52 a.C, pondo fim às Guerras Gálicas.
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w GUERRA DO í PRIMEIRO | TRIUNVIRATO
/ (50 - 45 a.C.)
Vincenzo Camuccini.
A morte de César, 1816-17.
Museo <ji Capodimonte, Nápoles.

O que restara do governo republicano dos romanos foi minguando durante o último século antes do nascimento de Cristo. Magnatas donos de terra estabeleceram imensas
propriedades na Itália e os veteranos que voltavam das guerras na África ou na Grécia descobriam que suas posses não lhes permitiam ter casa própria. Deixando suas
fazendas para juntarem-se aos pobres urbanos de Roma, esses homens tornaram-se perigosos para o Estado. Em resposta, principalmente, aos problemas urbanos de Roma
e à crise agrícola,
três homens se levantaram para servir como governantes não-oficiais da cidade: Pompeu, o Grande (106-48 a.C), Marco Licínio Crasso e Júlio César (100 - 44 a.C).
Quando o triunvirato se formou em cerca de 60 a.C, Pompeu parecia ser o líder, mas o sucesso militar glorioso de César nas Guerras Gálicas (ver nfi 11) lhe rendeu
enorme popularidade em Roma. O terceiro membro, Crasso, havia sido banqueiro. Ambicionando
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triunfo militar para si, Crasso levou um exército romano para o Oriente Médio e foi derrotado pelos partos. À medida que a década chegava ao fim, a longa rivalidade
entre César e Pompeu cresceu Suspeitando da crescente influência de César, Pompeu liderou um movimento no senado romano que exigiu que César se rendesse a seu comando
e retornasse a Roma como simples cidadão, sem a pro-teção de suas legiões.
César decidiu ficar com seu poder. Marchou para o sul, atravessando o rio Rubicão para a Itália, em 11 de janeiro de 49 a.C, e suas legiões o acompanharam. Desde
então, "atravessar o Rubicão" tem significado avaliar suas chances e decidir ir em frente.
Escapando de Roma enquanto César avançava, Pompeu navegou para o leste atravessando o mar Adriático até a Grécia; seus filhos, notáveis guerreiros, navegaram
até a Espanha para causar problemas a César naquela província romana. A divisão das forças de Pompeu deu a César uma vantagem considerável. Fazendo da capital, Roma,
seu baluarte e tribunal, César conseguiu que Pompeu e seus seguidores fossem considerados inimigos da República Romana. Enviando alguns de seus melhores tenentes
para a Espanha, para deter os filhos de Pompeu, César atravessou o mar Adriático, parecendo "brincar de esconde-esconde" com seu inimigo.
Embora tivesse cinquenta mil homens, contra os trinta mil de César, Pompeu tentou ao máximo evitar um confronto direto. Espertamente, frustrou os planos de César,
cortando suas linhas de abastecimento. César finalmente conseguiu provocar uma batalha em Farsália, na Tessália, em que teve uma vitória esmagadora, e Pompeu fugiu
para o Egito, onde depois foi assassinado pela monarquia ptolomaica. O próprio César viajou para o Egito, onde conheceu a rainha Cleópa-tra (69 - 30 a.C). Quando
retornou a Roma, César estava no auge de seu poder. Temendo que ele se autodeclarasse rei, o cônsul romano Marcus Junius Brutus (85 - 42 a.C.) e outros o assassinaram
nos degraus do Senado romano em 15 de março de 44 a.C.

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ÍUERRA DO
SEGUNDO
TRIUNVIRATO
F (32 - 31 a.C.)
f' Georgei Antoine Rochegrosse. Cleópatra, c. 1890.

A morte de Júlio César (100 - 44 a.C.) não trouxe de volta a antiga República de Roma e a maioria dos romanos não se surpreendeu com isso. A cidade-estado e seu
império já estavam totalmente acostumados ao comando militar. Roma logo caiu nas mãos de três homens que formaram o Segundo Triunvirato: Marco António (82 - 30 a.C),
Otaviano (63 a.C. -14 d.C), depois conhecido como Augusto, e Lépido. Marco António havia sido um dos tenentes em que Júlio César mais lonliara; agora tornava-se
líder das le-limes, assim como amante de Cleópatra ¦69-30 a.C), rainha do Egito. Otaviano era sobrinho por adoção de César e seu legatário; havia herdado, portanto,
a grande fortuna que César acumulara ao longo dos anos nas guerras que travou. Lépido era um funcionário público respeitado que foi chamado para equilibrar a grande
rivalidade que provavelmente iria surgir entre António e Otaviano. Para simplificar o governo, os homens dividiram o Império Romano em

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três unidades administrativas: Otaviano controlaria a região ocidental do Mediterrâneo, Lépido, a região central, e Marco António, o leste d0 Mediterrâneo.
Aliado a Cleópatra, Marco António conduziu campanhas no Oriente contra o império de Partia, no atual Iraque. Como não con seguiu conquistar qualquer vitória
expressiva, logo sentiu-se diminuído com o sucesso de Otaviano como administrador. Governando Roma Otaviano conseguiu mudar a opinião pública; enfatizava ao máximo
os fracassos de Marco António e insinuava, por meio de sua extensa máquina de propaganda, que os interesses do Egito haviam se tornado mais importantes para Marco
António que os de Roma. Agindo em conjunto por pelo menos uma vez, Otaviano e Marco António destituíram Lépido de seu cargo em 36 a.C, depois de ele ter levado seu
exército da África do Norte para a Sicília.
Sem um mediador, a guerra entre Otaviano e Marco António estourou em 32 a.C. Usando as táticas empregadas por Júlio César contra Pompeu (ver nfi 12), Otaviano
fez com que o Senado romano declarasse Marco António inimigo do Estado. Reunindo um grande exército, navegou para a costa oeste da Grécia para confrontar Marco António
e Cleópatra. A rainha do Egito havia trazido navios e caravelas de seu país para auxiliar, o que resultou em um duro combate entre duas gigantescas forças navais.
A frota de Otaviano venceu e António, abatido, fugiu para o Egito. Otaviano perseguiu os amantes até o Egito; tanto Marco António quanto Cleópatra preferiram cometer
suicídio a serem levados a Roma como espetáculo. A vitória de Otaviano garantiu a Roma o poder central do Mediterrâneo pelos séculos seguintes.

FALHA DE OPOLIS
J8 d.C.)
.*'"Moeda da época mostrando o
?ú". ¦ Imperador Valente.

O Império Romano perdeu um pouco de sua força durante o século IV d.C. A própria cidade de Roma tornou-se menos importante e a cidade de Constantinopla (atual Istambul,
construída onde o mar Negro se liga ao Mediterrâneo) tornou-se o centro do império. Por volta de 370 d.C, o imperador Valente (328? - 378) permitiu que um grande
número de godos (tribo guerreira da região centro-leste I uropa) cruzasse a fronteira do império e se estabelecesse dentro do território romano. Os cobradores de
impostos romanos come-çaram a tirar tudo o que podiam dos godos e, em 378 d.C, esses povos "bárbaros" que moravam no império juntaram-se em uma revolta de grande
escala. O imperador Valente comandou o exército romano e levou quarenta mil soldados de infantaria e vinte mil de cava-laria de Constantinopla para a atual fronteira
entre Grécia e Bulgária. Os godos haviam reunido um exército de cem mil homens, metade de infantaria e a outra

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metade de cavalaria. Esses números não alarmaram os líderes romanos, pois centenas de anos de história militar haviam mostrado qUe a legião romana era praticamente
invencível quando lutava em campo aberto. Muitos dos godos haviam servido como mercenários em exércitos romanos e estavam também melhor armados que seus antecessores
dos tempos de Júlio César (100-44 a.C.) ou Otaviano Augusto (63 a.C- 14 d.C).
Fritigern, líder dos godos, planejou bem sua estratégia. A infantaria gótica ficou protegida por um forte improvisado com uma carroça enquanto a cavalaria aguardava
nos bosques próximos ao campo aberto. Quando os romanos se aproximaram, Fritigern os encontrou com propostas de trégua. Alguns soldados romanos quebraram a trégua
e a batalha começou enquanto o exército romano ainda se colocava em formação.
A princípio, a batalha foi uma luta igual entre forças equilibradas. Os romanos atacaram a carroça e os godos a defenderam usando flechas e dardos. O elemento
surpresa ficou com a cavalaria gótica, que apareceu subitamente no campo e derrotou a cavalaria romana. Grandes números de guerreiros góticos, tanto montados quanto
a pé, cercaram o exército romano e começaram uma luta corpo a corpo. Com falta de cavaleiros, os romanos não conseguiram sair do cerco. Quando a noite se aproximou,
o imperador recuou para a casa de um camponês, que logo foi incendiada pelos godos. Valente morreu e com ele morreram também as últimas esperanças de seu exército.
Pelo menos quarenta mil romanos - dois terços do exército - morreram no campo de batalha.
Adrianópolis foi a maior perda sofrida pelo Império Romano até aquela data. Uma tribo de guerreiros havia esmagado um exército romano de tamanho considerável
em plena luz do dia em uma planície aberta. A batalha proclamou a nova ascendência dos povos "bárbaros" e foi um prenúncio do saque total à própria Roma que os godos
realizaram em 410 d.C.

ira turca retratando os que constituíam a elite guerreira entre os povos nómades da Ásia.

A eterna cidade de Roma sofreu um ataque feroz dos godos em 410 d.C, mas continuava sendo a capital oficial do Império Romano. Durante a década de 440, um novo inimigo
surgiu para desafiar o que sobrara do império. Esse rival era Átila (406- 453), líder dos hunos, povo da,\sia Central que havia derrotado todas as tribos desde
sua terra natal até a Europa. Átila planejava reduzir o Império Romano. Desencorajado pelos fortes muros que circundavam Constantinopla, ele se voltou em direção
à Gália (atual França) em 451 d.C. Toda a Europa romana tremia quando o nome de Átila era mencionado. A selvageria de seus guerreiros era lendária. Alguns historiadores
chegaram a dizer que os americanos do século XX não temiam as bombas de hidrogénio mais do que os europeus do século V temiam Átila.
Átila e sua horda de guerreiros -estima-se que fossem de cem a trezentos

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mil - atravessaram o rio Reno e começaram a saquear muitas das cidades do leste da Gália.
Dois líderes surgiram para combater os hunos. Flavius Aetius (396? - 454), capitão dos soldados romanos, fez uma aliança temporária com Teodorico, rei da tribo
visigótica. Embora os visigodos tivessem saqueado Roma em 410 d.C, eles representavam um obstáculo menos temível que os hunos.
O exército formado por romanos e visigodos encontrou os hunos em Chalons, cerca de 28 quilómetros ao norte de Troyes, na França de hoje. Não se conhece o tamanho
do exército aliado, mas era provavelmente maior que o dos hunos. Átila abriu a batalha, mandando seus melhores homens diretamente contra a parte central da linha
inimiga. Os hunos destroçaram o centro e depois se voltaram para a asa direita dos rivais, que era formada pelos visigodos. Átila estava perto da vitória, mas a
asa esquerda do exército misto, composta por soldados romanos, manteve-se firme. Quando a cavalaria gótica lançou um eontra-ataque, uma feroz batalha corpo a corpo
se seguiu, com soldados de ambos os lados sendo impedidos de receber ordens de seus superiores. Nessa confusão desesperada, os romanos e visigodos se saíram muito
melhor que os hunos, e Átila acabou sendo forçado a ordenar uma retirada. Teodorico foi morto durante o combate e Aetius não aproveitou sua vitória, deixando Átila
livre para ameaçar a Europa novamente no ano seguinte. Embora a batalha de Chalons não tenha representado uma vitória completa para os romanos e os visigodos, ela
permitiu que a civilização romana perdurasse na Europa, muito além da passagem de Átila e de seus violentos exércitos.

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VTALHAS DE MECA E MEDINA
Í27 - 630 d.C.)
V;_ Maomé tomando Meca. turca do século XVIII.

A árida e inóspita Península Arábica (conhecida hoje como Arábia Saudita) teve pouca participação na história mundial até a chegada do profeta Maomé (570 - 632).
Nascido na cidade mercantil de Meca, Maomé recebeu a visita do anjo Gabriel, que ordenou a ele que "recitasse" a palavra de Alá. Em poucos anos, Maomé tornou-se
líder de uma nova fé - a dos muçulmanos -, cujo nome declarava sua submissão a Alá. Os muçulmanos acreditavam que não havia outro Deus senão Alá e que Maomé era
seu Profeta.
Maomé não foi bem recebido por seus conterrâneos de Meca, que eram pagãos. Ele fugiu da cidade em 622 d.C. e se refugiou na cidade de Medina, 338 quilómetros
ao norte. Lá, reuniu seus verdadeiros seguidores e começou uma guerra contra as ricas caravanas que seguiam para Meca. Seu grande inimigo era Abu Sufyan, líder da
tribo coraix da Arábia.

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Em 624, Maomé venceu a batalha de Badr, mas em 625, foi derrotado na Batalha de Ohod. Após a derrota, Maomé se recolheu em Medina Isso provocou um ataque em grande
escala à cidade pelos homens da tribo coraix comandados por Abu Sufyan.
Em 627, Sufyan levou dez mil de seus seguidores para o norte e armou um cerco a Medina. A cidade foi defendida por Maomé, no comando de três mil de seus mais
dedicados seguidores. Os muçulmanos cavaram uma trincheira em toda a volta da cidade e repeliram todos os ataques dos coraixitas. Após vinte dias de lutas intermitentes,
os coraixitas recuaram, deixando Maomé no controle da cidade que adotara.
Em 628, Maomé e seus adversários firmaram o Tratado de Hu-daybiya, que dava aos muçulmanos o direito de fazer peregrinações a Meca. Quando esse tratado foi rompido,
em 629, Maomé comandou seus seguidores em uma viagem de 338 quilómetros para o sul, até Meca, e cercou sua antiga terra natal. Em janeiro de 630, Maomé e seus homens
adentraram a cidade e conseguiram converter a maioria de seus habitantes à fé muçulmana. Segundo registros, Maomé teria destruído cerca de 360 ídolos pagãos. Quando
morreu, já havia erradicado o paganismo da Arábia e criado uma força unificada de guerreiros muçulmanos, que viriam a assediar os antigos mundos gregos, persas e
romanos no século seguinte.
Os pequenos conflitos que deram o controle da Arábia a Maomé foram de suma importância. Eles abriram o caminho para uma fé e um modo de viver e guerrear que
se enraizaram no Oriente Médio, tornando-se uma das religiões mais praticadas no mundo.

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:o DE
tNTINOPLA í- 718 d.C)
Constantinopla, gravura medieval.

As conquistas de Maomé (570 -632), fundador do islamismo, e de seus sucessores colocaram o mundo muçulmano, que acreditava em Alá, em contato e em conflito com o
mundo bizantino, no qual se desenvolvera o cristianismo ortodoxo. Constantinopla, a capital e o centro nervoso do Império Bizantino, foi atacada e sitiada por guerreiros
muçulmanos de 717 a 718. Após a morte de Maomé, esses guerreiros saíram da Arábia para conquistar toda a I erra Santa (Jordão, Is-i.iel, Líbano e Síria). I m 717
d.C, Maslama, nmão do califa de Damasco, na Síria, reuniu um enorme exército de oitenta mil soldados de infantaria, amparados por uma frota de cerca de oitocentos
navios, e armou cerco a Constantinopla -o maior prémio que qualquer conquistador árabe poderia desejar - em 1 5 de agosto de 717.

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A defesa da cidade estava nas mãos do imperador Leão III ( - 741). Soldado habilidoso, Leão juntou a frota bizantina para j^ pedir que os navios muçulmanos
passassem pela cidade e entrassem5 no mar Negro. Quando os muçulmanos tentaram forçar passagem, f0 ram derrotados pela combinação da habilidade náutica do inimig
com o uso do "fogo grego" - mistura de enxofre, cal viva, nafta e ágUa salgada, que era lançada aos navios muçulmanos. Após o sucesso na defesa da rota marítima
que passava por Constantinopla, Leão passou a liderar a defesa por terra.
Em termos numéricos, os muçulmanos estavam em vantagem Tinham cerca de oitenta mil homens, ao passo que Leão tinha apenas metade desse número. O inverno de 717
e 718 foi mais frio que o normal e muitos dos invasores egípcios e árabes sofreram com as temperaturas gélidas. Para piorar a situação dos agressores, Leão convenceu
o reino dos búlgaros a enviar um exército de socorro para a área. Uma batalha se seguiu entre os muçulmanos e búlgaros a noroeste de Constantinopla, e cerca de 22
mil árabes perderam a vida. Em decorrência disso, Maslama pôs fim ao cerco, encerrando 12 meses de conflito.

DE
i Martel vence os árabes em Poitiers. Museu de Versalhes.

Seis anos antes da derrota do exército muçulmano em Constantinopla, de 717 a 718 (ver nfi 17), uma pequena força árabe conseguiu passar pela costa norte da África,
cruzou o Estreito de Gibraltar e conquistou toda a Espanha visigótica. Parecia bem possível que os exércitos árabes que estavam na Espanha seguissem para o norte
e se juntassem a seus semelhantes contra os bizantinos na Ásia Menor e em Constantinopla. Atento a esse perigo, os francos, moradores da Gália (atual França), procuraram
um líder e um novo estilo de guerrear que pudesse resistir aos árabes. Carlos Martel (688? - 741), também conhecido como Carlos, o Martelo, desenvolveu uma falange
de infantaria tipo barreira, composta de uma força armada de veteranos francos que lembrava a falange usada pelos gregos de Alexandre, o Grande (356-323a.C.) [ver
nu 5]. Martel

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vigiava atentamente as montanhas dos Pireneus que marcavam a frOn. j teira entre França e Espanha. Em 732, Martel soube do avanço de Utll grande corpo de tropas
árabes, a maior parte a cavalo. Alguns comentaristas dizem que o líder árabe, Abderrahman Ibu Abdillah, atravessou os Pireneus até a França com oitenta mil homens;
muitos Fiist riadores dizem que o número é exagerado, já que ele não teri conseguido alimentar um grupo tão grande.
Martel e suas tropas francas encontraram o inimigo árabe/mouro em Cenon, a meio caminho entre Tours e Poitiers. Martel dispôs seus homens em uma firme falange,
usando lanças e espadas para repelir ataques de cavalaria do inimigo. Os árabes estavam acostumados a lutar com energia e a vencer as batalhas rapidamente. Eles
haviam derrotado muitos de seus inimigos por meio de sua audácia e da crença de que Alá os guiava nos combates. Os homens de Martel se mantiveram firmes contra os
ataques dos cavaleiros árabes, que usavam armas leves mas eram altamente motivados. Comentaristas árabes declaram que a batalha durou dois dias, enquanto os registros
cristãos alegam que ela continuou por sete dias. Os soldados de infantaria de Martel conseguiram resistir aos ataques e os árabes acabaram por recuar, deixando para
trás os tesouros que haviam pilhado em suas conquistas no sul da França. Ibu Abdillah foi morto na batalha e seus homens se retiraram para a Espanha. Embora posteriormente
tenham ocorrido alguns ataques contra a costa sul da França (atual Riviera), os árabes não comandaram nenhuma outra grande invasão. A vitória de Martel garantiu
que a Europa central não fosse tomada pelos muçulmanos.

*¦*¦
ISTAS DE
MAGNO
814 d.C.)
Dúrer. Carlos Magno. $ Museu Nacional Alemão, Nuremberg.

Ao tomar as terras que haviam pertencido ao irmão Carlomano, Carlos Magno (742 - 814) deu início a uma série de guerras que iriam durar por toda a sua vida e que
preservaram seu nome na história da Europa. Carlos Magno havia recebido instruções do pai, Pepino, o Grande, para dividir igualmente o reino dos francos com Carlomano.
Após a morte do irmão, Carlos Magno tornou-sc o único rei dos francos.
Quase imediatamente, organizou sua primeira campanha fora da terra dos francos, invadindo a Lombardia, no norte da Itália. Em 772, começou o que viria a ser
uma mortífera série de guerras contra os saxões pagãos do norte da Alemanha. Essas guerras, que estouravam e arrefeciam continuamente até 804, tinham o objetivo
de converter os pagãos. Para os saxões, eram simplesmente atos de agressão.
Carlos Magno, então, voltou sua atenção para a Espanha muçulmana. Marchou em direção ao sul para as montanhas dos

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51

1
Pireneus em 778, mas não conseguiu ultrapassar as defesas rnuçu| manas. Ao voltar, ofendeu os cristãos bascos de Navarra. Eles ataca ram e destruíram a retaguarda
de Carlos Magno, que era liderada pG seu sobrinho Rolando, em Roncesvalles, em 15 de agosto de 77§. 1 batalha depois foi celebrada em poesia e música na canção "r
I Chanson de Roland" (A canção de Rolando). Carlos Magno con truiu um conjunto de fortes ao longo da fronteira e nunca mais s aventurou na Espanha.
Os francos tiveram mais sucesso na Europa oriental. Carlos Magno invadiu a Lombardia pela segunda vez, em 780, e declarou seu filho rei dos lombardos.
Empreendeu uma guerra punitiva contra a Bretanha em 786 e conquistou a Baviera de 787 a 788. Voltou-se então, para os avaros, uma tribo guerreira localizada na região
do Danúbio; para os francos, era como se os hunos tivessem voltado. Carlos Magno eliminou completamente a nação dos avaros entre 791 e 796; usando o fabuloso tesouro
de seus inimigos derrotados, começou a construir a bela capital de Aachen.
No dia de Natal de 800, Carlos Magno foi coroado imperador dos romanos pelo Papa Leão, em Roma. Querendo recriar o Império Romano do passado, derrotou os saxões
em 804, subjugou os boémios em 805 e aniquilou os dinamarqueses e seus aliados saxões de 808 a 810. Em 811, fez seu testamento, certo de que o império que havia
criado duraria tanto quanto o Império Romano original. Teria ficado triste em saber que seu império não pôde se defender contra os saqueadores que chegaram depois
de sua morte: agressores vikings, magiares e muçulmanos iriam trazer morte e destruição a quase todas as partes do antigo Império Carolíngio.

"ES INAVAS tOPA
>16 d.C.)
Relevo viking mostrando guerreiros.

Os vikings, como eram conhecidos os grandes grupos de guerreiros escandinavos oriundos da Noruega, Suécia e Dinamarca de hoje, conduziram ataques e invasões à Europa
por mais de duzentos anos. Ao mesmo tempo, levaram mudanças culturais e materiais a um continente que foi quase totalmente destruído pela força de seus ataques.
Achava-se que o Sacro Império Romano de Carlos Magno (ver nE 19) fosse durar para sempre. Seus guerreiros francos conseguiram, de fato, repelir a maior parte das
ameaças por terra. Por mar, foram cons-tantemente superados e derrotados pelos guerreiros da Escandinávia, que navegavam pelos longos rios da França e dos Países
Baixos (Holanda, Bélgica e Luxemburgo). Em seus escaleres - compridos barcos com quilhas rasas - conseguiam atuar tanto em mar aberto quanto em pequenos rios. Sua
habilidade de se mover rapidamente e a ferocidade com que seus guerreiros

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lutavam permitiram que os vikings criassem grande confusão na Europa e nas Ilhas Britânicas.
Os primeiros ataques dos vikings foram contra a Irlanda, em 795 O modelo de cristandade dos celtas, que havia prosperado por quatrocentos anos mantendo pouco
contato com Roma, foi gravemente ferido com os saques realizados pelos vikings, que tinham como alvo a riqueza dos mosteiros. Os vikings também atacaram a Inglaterra
e o norte da França a partir do século IX; em pouco tempo, os bem-sucedidos saques de verão acabaram se estendendo pelo ano inteiro Os vikings descobriram que era
mais vantajoso manter um assentamento permanente na costa da Inglaterra ou da França, usando-o como base para os ataques de cada ano.
Em 911, Carlos, o Simples, rei da França, fez uma sugestão inédita a Rollo, o viking que havia montado acampamento perto da desembocadura do rio Sena. Se Rollo
se convertesse ao cristianismo e se casasse com uma de suas filhas, ele e seus homens poderiam ficar para sempre com as terras que estavam ocupando. Rollo concordou,
e seus homens, conhecidos pelos franceses como "homens do norte", logo estabeleceram a província que desde então é conhecida como Normandia.
Os ataques dos vikings à França começaram a diminuir, mas estavam se aproximando de seu auge na Inglaterra: uma monarquia dinamarquesa foi criada por um breve
período; o rei Canuto foi o mais famoso dos governantes escandinavos. A Irlanda continuou a ser molestada pelos invasores vikings até 1014, quando Rrian Boru venceu
a Batalha de Clontarf e finalmente acabou com a ameaça à ilha Esmeralda.
Mas os vikings fizeram suas conquistas mais progressistas bem longe da Europa. Leif Ericsson e alguns homens fizeram a primeira viagem de que se tem notícia
ao Novo Mundo em cerca de 1000 d.C e estabeleceram um assentamento temporário, provavelmente onde hoje fica Newfoundland, no Canadá. Vikings suecos penetraram nos
rios da Rússia e fundaram um Estado centralizado em Kiev, na atual

Be-*-
Mais do que simples saqueadores, os vikings contribuíram lUndo com suas habilidades em navegação e demonstraram as de uma economia baseada na troca.

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ntando uma cena da Batalha de Hastings.

A batalha mais decisiva da história da Inglaterra ocorreu em um dia de outono, em East Sussex, na parte inferior do país. A disputa foi entre os guerreiros norman-dos
do duque Guilherme da Normandia (1027 - 1087), também conhecido como Guilherme, o Bastardo, por causa de seu nascimento ilegítimo, e os soldados anglo-saxônicos
do rei Haroldo II (1022?- 1066) da Inglaterra. Haroldo foi coroado rei em 1066, sobrepujando o herdeiro aparente, o duque Guilherme. Guilherme contestou o trono
e reuniu um exército de oito mil a dez mil homens para invadir a Inglaterra. O exército teve de esperar na Normandia, na costa da França, por ventos e maré favoráveis
para poder cruzar o canal. Ao mesmo tempo, Haroldo foi forçado a marchar para o norte e a lutar contra uma invasão de noruegueses na região de York. Haroldo derrotou
os inimigos escandinavos e redi-recionou seus homens rapidamente para Londres, para esperar a chegada dos navios de Guilherme. O exército de Guilherme

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havia desembarcado em Pevensey, na costa inglesa, e marchado para
e suas tropas.
Hastings, onde encontraram Haroldo
Haroldo levou para a batalha dois mil homens de sua guarda pessoal e 5.500 das tropas de milícia. Guilherme tinha o mesmo número de homens, mas sua vantagem
era estarem descansados. Os homens de Haroldo tinham caminhado cerca de oitocentos quilómetros nas duas semanas que antecederam a batalha. Além disso, os normandos
eram claramente superiores em número de cavaleiros.
A batalha ocorreu em uma faixa de terra desnivelada, e Haroldo e seus homens ocuparam o terreno mais elevado. Os anglo-saxões formaram um paredão e o defenderam
contra inúmeros ataques, tanto da cavalaria quanto dos arqueiros do exército normando. Após um ataque fracassado, a notícia de que o duque Guilherme havia caído
circulou. Para restaurar a confiança de seus homens, Guilherme tirou rapidamente seu capacete para que eles pudessem ver seu rosto; cavalgou por toda a extensão
das fileiras de seu exército para assegurar seus homens de que ele estava vivo. Os exércitos medievais costumavam entrar em pânico ou se dispersar com a morte de
seu líder.
A luta continuou por todo o dia. Perto do anoitecer, o rei Haroldo foi atingido por uma flecha no olho e, mais tarde, morto em combate corpo a corpo. Sua morte
desencorajou seus homens e Guilherme se aproveitou do momento para lançar um ataque concentrado ao paredão. Finalmente, os normandos conseguiram ultrapassá-lo, vencendo
a batalha e finalizando o combate. Acredita-se que cada lado tenha perdido dois mil homens.
Com a morte de Haroldo, Guilherme não tinha outro inimigo à vista. Marchou para o norte e foi coroado rei da Inglaterra em Londres, no dia de Natal de 1066.
O povo começou a chamá-lo de Guilherme, o Conquistador. A Inglaterra anglo-saxônica passava para as mãos do governo normando, comando que deixaria uma marca longa
e definitiva na sociedade, na cultura e na política inglesas. A centralização do poder, o sucesso da arquitetura, da construção de cidades, da lei e do governo que
hoje associamos à Inglaterra tiveram suas raízes na conquista normanda de 1066.

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(ATALHA
CERCO IERUSALEM (1099)
Os cruzados diante das portas de Jerusalém.

Após a vitória dos turcos em Manzikert (1071), o imperador bizantino apelou ao papa em Roma para que enviasse soldados para ajudar a defender a Terra Santa. Em 1095,
o papa Urbano II (nascido em 1053?) pregou um sermão em Clermont, na França, implorando que os cavaleiros da cristandade ocidental parassem de lutar entre si e seguissem
para a Terra Santa para recuperar Jerusalém.
Dois grupos partiram para reconquistar a cidade: a Cruzada dos Camponeses e a Cruzada dos Cavaleiros. A primeira fase consistia em um exército camponês de trinta
mil homens liderados por um pregador carismático chamado Pedro, o Eremita. Esses guerreiros sem treinamento foram pegos pelos turcos em uma emboscada nas montanhas
da Ásia Menor e muitos foram mortos. O segundo grupo - a Cruzada dos Cavaleiros - estava mais bem equipado em armas e armaduras. Mais de trinta mil

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homens se apresentaram, na esperança de ganhar riquezas. MuitOs< dos líderes eram cavaleiros da Normandia, homens cujos pais havian, lutado com Guilherme, o Conquistador
(1027 - 1087) na Batalha de Hastings (ver nu 21).
O exército de cavaleiros seguiu para Constantinopla, atravesso a Ásia Menor e abriu caminho pela costa até Jerusalém. Algumas ba talhas notáveis foram travadas
no percurso - o cerco a Antioquia em 1097, em especial -, mas a fase que coroou a campanha foi a batalha por Jerusalém, no verão de 1099.
O papa Urbano havia descrito a Terra Santa como um lugar abundante em leite e mel. Os cruzados encontraram coisa diferente especialmente porque os turcos haviam
envenenado todos os poços num raio de trinta quilómetros de Jerusalém. Os cruzados chegaram à cidade em 15 de junho de 1099 e começaram o cerco. Um cruzado especialmente
devoto contou a seus companheiros sobre um sonho que lhe dizia para não capturar a cidade até que tivessem purificado seus corações. Por três dias, os cruzados marcharam
em torno dos muros de Jerusalém, recitando orações pelo perdão e absolvição de seus pecados. Ao final do ritual, realizaram um ataque feroz à cidade. Os cruzados
usaram duas torres para atacar os muros. Os turcos usaram óleo e água fervente contra os atacantes, que, por sua vez, empregaram flechas com pontas flamejantes contra
os defensores. Após horas de luta, os cruzados derrubaram um dos portões e penetraram na cidade. Seguiu-se um dos massacres mais horrendos da longa história militar
da Terra Santa. Alguns relatos declaram que, por três dias, os cruzados investiram furiosamente, matando todos os muçulmanos e turcos. Estimativas do número de mortos
chegam a setenta mil.
Após a batalha e a conquista, Jerusalém tornou-se a capital de um novo reino cruzado. Como resultado, óleo, tapetes, especiarias e outros artigos de luxo turcos
começaram a sair da Terra Santa em di-reção à Europa, o que aumentou o desejo dos europeus por essas mercadorias e criou uma nova classe de mercadores.

Ift
DOS =RES ITTIN
1187)
Gustave Doré.
Ricardo e Saladino
na Batalha de Arsuf,
gravura do século XIX.

Os reinos cristãos que foram criados na Terra Santa após a Batalha de Jerusalém (ver nB 22) duraram até os últimos 25 anos do século XII. Castelos de pedra ainda
se encontram hoje onde os cruzados deixaram sua marca no Oriente Médio. Salahal-Din (H38- 1193), mais conhecido pelos ocidentais como Saladino, governante do Egito
controlado pelos árabes, levantou-se para desafiar os cruzados.
Curdo de nascimento, Saladino tornou-se líder do Egito muçulmano, que nunca havia sucumbido aos cruzados. Em 1187, levou um exército do Egito e ameaçou tomar
Jerusalém dos europeus. Seu oponente, o rei Guy de Jerusalém, levou 1.200 mil cavaleiros e 18 mil soldados da cidade para a região árida na fronteira do mar da Galiléia.
Saladino exultou quando soube que os cristãos estavam marchando pelo deserto

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em sua direção. Imediatamente enviou destacamentos de arqueirOs montados para investir contra o inimigo enquanto eles avançavam Saladino, de costas para o Mar da
Galiléia, tinha um suprimento regular de água que os cruzados não tinham. O rei Guy e seus homens seguiam em meio a condições áridas e chegaram aos Chifres de Hattin
onde descobriram que seu caminho estava bloqueado pelo corp0 principal do exército de Saladino. Os cruzados acamparam para passar a noite; enquanto isso, os homens
de Saladino atearam fogo ao mato em volta do acampamento cristão, o que produziu fumaça e tornou a sede ainda mais intensa.
A batalha durou um dia inteiro. Apesar de sua situação precária os cruzados lutaram com grande valentia. A Vera Cruz, ou Cruz Verdadeira (que acreditavam ser
a mesma cruz em que Jesus Cristo foi crucificado), permaneceu em uma colina, assim como a bandeira de batalha do rei Guy. Enquanto os emblemas lá permaneciam, parecia
haver esperança para a armada cristã.
Saladino enviou seus arqueiros montados para atacar os inimigos. Os muçulmanos estavam menos protegidos por armaduras e o combate corpo a corpo favoreceu os
cristãos. Próximo ao fim do dia, Saladino lançou-se a um ataque concentrado, com a cavalaria e a infantaria. A Vera Cruz e a bandeira do rei Guy foram capturadas,
assim como o próprio rei e muitos de seus nobres.
Quase todos os membros do exército cristão haviam sido mortos ou capturados. Saladino poupou a vida do rei Guy, mas mandou degolar cerca de duzentos cavaleiros
na hora. Saladino continuou em frente, sitiando Jerusalém e depois aceitando sua rendição em 2 de outubro de 1187. Diferentemente dos cruzados, que haviam massacrado
a população civil em 1099, Saladino permitiu que os cristãos de Jerusalém pagassem seus resgates com ouro. A batalha dos Chifres de Hattin devolveu o controle da
Terra Santa aos muçulmanos, que o mantiveram até 1917.

ia,..
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JISTAS DE IGIS KHAM )6-1227)
Gêngis Khan recebendo homenagens.

Mais do qualquer outra pessoa na história, Gêngis Khan (1167 - 1227) está associado a conquistas violentas. Começando em 1206, quando foi proclamado "grande governante"
ou "poderoso governante" das tribos mongóis, ele conduziu guerras nos quatro cantos da Ásia. Nascido Temujin na capital Karakorum, atual Mongólia, ele ascendeu rapidamente,
recebendo o título de Khan, ou regente supremo, na grande assembleia dos mongóis de 1206. Na época, ele tinha cerca de 40 anos de idade e nos anos anteriores havia
aprendido a ser extremamente cruel, qualidade que utilizou contra praticamente todos os povos com os quais se deparou.
A primeira grande campanha de Gêngis Khan foi contra o Império Hsi Hsia, localizado na região centro-norte da China. Ele derrotou os soldados do império e foi
reconhecido como senhor feudal em 1209. Em 1211, os soldados de Khan passaram pela Grande Muralha da China e começaram

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uma guerra contra o Império Chin, localizado no centro e no leste China. Após um cerco malsucedido em 1214, Gêngis Khan voltou em' 1215 e saqueou sem piedade a capital
do império Chin, Pequim.
Em 1220, emissários do Khan ao regente do reino Kowarazee em Samarcanda, foram executados pelo Xá Mohamed. EnfureciH ' Gêngis Khan guiou seu exército inteiro
(que muitos estudiosos acr ditam nunca ter passado de 120 mil homens) para o oeste e sitioi Samarcanda. O saque à cidade foi a mais notória das muitas conqujs. tas
a cidades estrangeiras do Khan. Ele perseguiu o herdeiro do Xá Mohamed, o príncipe Jalal ad-Din até a Rússia, venceu uma grande batalha contra os príncipes
russos em 1223, e então voltou à Mongólia. Nunca mais iria se aventurar pela Ásia Central.
Uma segunda guerra ocorreu contra o reino Hsi Hsia, de 1225 a 1227; dessa vez, o Khan foi menos generoso e o reino foi totalmente absorvido pelo império mongol.
Ainda planejando realizar mais conquistas no centro e no sul da China, Gêngis Khan morreu subitamente em 1227, em algum lugar ao sul de Yinchuan, atual capital de
Hsi Hsia. Na época de sua morte, a influência mongólica se estendia do Oceano Pacífico ao mar Negro, incluindo o norte da China, e para o norte, chegava às regiões
mais inferiores da Sibéria. Para o oeste, estendia-se até a planície do Volga, no sul da Rússia.

m
Sí"
IS DE
ENTRE
A E
OTERRA
- 1328)
"de Robert the Bruce.

A longa sequência de guerras entre Inglaterra e Escócia que deu a independência a essa última, iniciou-se em 1295. As mortes do rei escocês Alexandre III em 1286
e de sua neta, Margarete da Noruega, em 1290 deixaram o trono da Escócia aberto às facções rivais lideradas por Robert the Bruce (1274 - 1329) e John Balliol.
Essa crise na política escocesa deu espaço ao rei inglês Eduardo I, que propôs ser mediador e conciliador entre as duas facções. Eduardo escolheu Balliol para rei
em 1292 e depois impôs um estado de vassalagem a ele e a toda a nação escocesa. Balliol se rebelou em 1295 e, em 1296, foi deposto por Eduardo, que rumou
para o norte com tropas inglesas. As forças de Eduardo capturaram a maioria das cidades escocesas, roubaram a Pedra de Scone (sobre a qual todos os reis
escoceses haviam, até então, sido coroados) e voltaram à Inglaterra. Eduardo deixou três

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delegados e algumas guarnições militares para governar o pafs e reprimir levantes futuros.
O plebeu escocês William Wallace (1272 - 1305) surgiu para lj. derar uma rebelião contra o controle inglês. Usando táticas militares não convencionais, especialmente
o emprego de concentrações d lanceiros, Wallace surpreendeu e derrotou um grande exército inglê na Batalha de Stirling Bridge, em 1297. Alarmado, Eduardo marchou
novamente para o norte, e sua enorme armada esmagou o exército de Wallace na Batalha de Falkirk, em 1298. Wallace escapou e foi em frente, envolvendo-se em uma guerrilha
mortal contra as guarnições inglesas. Eduardo novamente rumou para o norte em 1303, derrotou as tropas de Wallace em campo aberto e depois esperou que Wallace fosse
traído. O patriota escocês foi então julgado, enforcado, arrastado e esquartejado, mas a lembrança de sua coragem e de seu patriotismo permaneceu para inspirar outros
escoceses.
Robert the Bruce fez um jogo duplo durante a revolta de Wallace, mas, em 1306, assassinou seu único rival verdadeiro na disputa do trono e fez-se coroar rei
da Escócia em Scone (sem usar a Pedra, que permanecia na Inglaterra). Eduardo I empreendeu uma última campanha; derrotou Bruce, que foi forçado a fugir para a Irlanda.
A morte de Eduardo em 1307 privou a Inglaterra de um de seus líderes militares mais eficazes, e Bruce logo retornou à Escócia para iniciar uma guerra de fronteira.
Venceu a crucial Batalha de Bannockburn em 1314 e repeliu uma invasão do rei inglês Eduardo II, em 1322. A Paz de Northampton, de 1328, deu à Escócia independência
legal e soberania. O país havia conquistado sua liberdade e, embora viesse a ser anexado à Inglaterra em 1603, a região norte da ilha nunca se considerou meramente
outra região da Inglaterra; era verdadeiramente uma nação própria, com sua cultura, herança e orgulho.

W-: ¦
6
DOS
ANOS
- 1453)
Joana d'Arc.

A antiga rivalidade entre franceses e ingleses começou no século XIV e praticamente não abrandou até o século XX! Durante a Alta Idade Média, tanto os ingleses quanto
os franceses pertenciam à Igreja Católica Romana. Rivalidades comerciais e entre dinastias se agravaram e fizeram surgir uma guerra que durou mais de cinco gerações.
O último dos reis capetos da França morreu em 1337. O rei Eduardo III (1312- 1377) da Inglaterra reivindicou o trono da França, mas os nobres franceses
deram o título a Felipe de Valois, que deu início à dinastia Valois. Os dois países também competiam pelo controle comercial da região conhecida como Flandres, atual
Bélgica, onde o comércio de lã era competitivo e lucrativo. Por essas razões, Inglaterra e França foram à guerra em 1340. A França tinha uma população quatro a cinco
vezes maior que a da Inglaterra e seus cavaleiros tinham a tradição militar mais antiga e distinta da Europa. Os ingleses

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tinham dois pontos fortes, o controle marítimo e o arco de flecha Controlar o Canal da Mancha significava que o rei Eduardo III po^ç ria invadir a França quando
quisesse, enquanto o arco neutralizaVa o poder dos cavaleiros franceses, que por tanto tempo haviam domj. nado as guerras da Europa medieval. Um arqueiro
inglês bei* treinado podia acertar as fendas da armadura de um cavaleiro a um distância de duzentos metros. Também podia atirar várias flecha por minuto. A balista,
usada pelos franceses, levava muito mais tempo para ser armada.
As batalhas mais importantes foram vencidas pelos ingleses: pe. quenos exércitos ingleses derrotaram armadas francesas muito maiores em Crécy, em 1346, Poitiers,
em 1356, e em Agincourt, em 1415. Os ingleses tomaram posse de grandes regiões rurais da França e, após Agincourt, passaram a controlar Paris por vários anos. O
delfim não coroado da França, Carlos VII (1403 - 1461), retirou-se para uma França reduzida, ao sul do rio Loíre. As coisas pareciam deprimentes para a França até
que uma camponesa de 17 anos de idade surgiu como nova defensora da monarquia Valois e do povo francês. Filha de um dono de estalagem, Joana d'Arc (1412 - 1431)
comandou tropas francesas na vitória de Orléans, em 1429, e depois escoltou o delfim à Catedral de Reims, onde ele foi coroado e designado rei da França. Joana foi
capturada um ano depois pelos borgonheses (facção francesa que ficou do lado da Inglaterra) e queimada viva após ser condenada por bruxaria por um tribunal da igreja.
Sua coragem havia unificado os franceses e dado-lhes nova esperança. Usando uma inovação militar - os primeiros canhões da Europa -, os franceses lentamente
empurraram os ingleses para fora de Paris e do noroeste da França. As últimas batalhas ocorreram na Nor-mandia, em 1453; quando terminaram, a França havia se tornado
verdadeiramente francesa e os dois países haviam desenvolvido uma animosidade que duraria séculos.

zr-
.HA E
:o DE
INOPLA (1453)
Mpmada de Constantinopla > turcos, 22 de abril de >3, da Viaje dOutremer ¦ de Bertrand da Broquiere.

Constantinopla (atual Istambul), capital e centro nervoso do Império Bizantino, havia conseguido manter-se firme apesar dos 16 cercos, aproximadamente, que sofreu
ao longo dos séculos. Seus altos muros e a proteção aquática natural com que contava em três de seus lados mantiveram sua segurança durante ataques de árabes, seljúcidas,
turcos, avaros, hunos e um sem-número de outros povos. Em 1453, a cidade estava em perigo devido ao aparecimento de um novo povo turco que trazia uma arma desconhecida.
Os turcos otomanos haviam aparecido na Ásia Menor aproximadamente em 1300. Eles formaram exércitos e capturaram a maior parte das terras bizantinas da península
até 1400, mas haviam sido detidos por um ataque dos mongóis, liderado por Tamerlão (1336 -1405) em 1402. Os turcos otomanos prosseguiram, partindo para sitiar Constantinopla

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em 1453. Com eles, levavam um grande número de canhões; os otomanos lideraram o desenvolvimento da artilharia pelos dois séculos seguintes.
A defesa de Constantinopla foi comandada pelo imperador bizantino Constantino IX. Apenas dez mil pessoas se apresentaram voluntariamente para lutar, portanto
ele tinha uma pequena armada para resistir ao ataque de cinquenta mil homens, 56 armas de fogo pequenas e 14 canhões pesados. A artilharia otomana logo começou a
reduzir os muros de Constantinopla, que, por séculos, haviam repelido invasores. O moral dos defensores estava muito baixo; os bizantinos haviam pedido ajuda a seus
primos latinos em Roma e no ocidente, mas pouco auxílio havia chegado. Parecia que Constantinopla, a fortaleza que protegera a Europa durante séculos, estava sendo
deixada à própria sorte.
Ao final de maio, os muros já haviam sido bombardeados e os turcos estavam prontos para atacar. O sultão Maomé II (1430? - 1481) liderou seus homens em uma investida
que os colocou dentro da cidade. Uma vez do lado de dentro dos muros, os turcos encontraram pouca resistência. O imperador Constantino foi morto nos degraus de uma
igreja e uma guarnição de 8.900 homens foi morta ou vendida como escrava. Os turcos saquearam a cidade por três dias, matando cerca de quatro mil habitantes; somente
desistiram porque o sultão queria que Constantinopla fosse a capital de seu próprio império. Isso logo aconteceu - a cidade que ficava na encruzilhada da Europa
com o Oriente Médio tornou-se o orgulho do novo Império Otomano.


(*:-.
28
ÍUERRA
ROSAS
"5 - 1485)
"¦•" Batalha de Tewkesbury.

A complicadíssima Guerra das Rosas começou em 1455 por duas razões: a população da Inglaterra ficara enfurecida com o resultado da Guerra dos Cem Anos (ver nfi 26)
e as duas casas ducais estavam competindo pelo trono inglês. A Guerra dos Cem Anos finalmente terminou em 1453 e muitos ingleses ressentiam ter pagado tantos impostos
para sustentar um combate que, no final, havia perdido todos os territórios ingleses na França. Para piorar as coisas, a Casa de York afirmava que o rei Henrique
VI (1421 - 1471) e sua mulher, Margaret dAnjou, da Casa de Lancaster, haviam assumido o trono por engano. Ricardo, duque de York, acreditava que sua reivindicação
ao trono era superior, já que descendia do terceiro filho do rei Eduardo III, enquanto o rei Henrique VI descendia do quarto filho daquele monarca. Em 1450, Ricardo
forçou o rei a reconhecê-lo como herdeiro ao trono. Em 1453, o rei Henrique VI sofreu de insanidade

70

71

temporária e, no mesmo ano, sua mulher teve um filho que, obviamente, passou a ter precedência sobre a reivindicação do duque de York. O rei se recuperou em 1454
e Ricardo, vendo-se excluído da câmara real, tomou as armas, iniciando a Guerra das Rosas entre a Casa de Lancaster, que exibia uma rosa vermelha como emblema, e
a Casa de York, com sua rosa branca. O conflito duraria trinta anos.
A Casa de York venceu a Batalha de Saint Albans em 1455, mas em 1459, Ricardo e seus principais partidários fugiram do país voltando depois para vencer a Batalha
de Northampton, em 1460, na qual o rei Henrique VI foi feito prisioneiro. A rainha Margaret continuou a lutar e suas forças venceram a Batalha de Wakefield. Ricardo
foi morto na batalha e seu filho Eduardo assumiu a liderança da Casa de York, ajudado pelo conde de Warwick.
A Casa de York venceu a Batalha de Towton em 1461 e Eduardo foi coroado rei Eduardo IV. Logo após a coroação, o conde de Warwick trocou de lado e, em 1470, já
conseguira forçar o jovem rei a procurar abrigo na Holanda. Henrique VI foi coroado novamente. Eduardo voltou da Holanda e venceu a Batalha de Barnet, na qual Warwick
foi morto; a rainha Margaret foi derrotada na Batalha de Tewkesbury, em 1471, e feita prisioneira; o filho de Henrique VI foi assassinado, e o rei, morto na Torre
de Londres.
Em 1483, Eduardo IV morreu e foi sucedido por seu filho de 12 anos, Eduardo V Ricardo, duque de Gloucester, usurpou o trono em 25 de junho de 1483, e tanto o
rei-criança quanto seu irmão mais novo foram assassinados, provavelmente por ordens de Ricardo. O rei Ricardo III governou o país por dois anos, antes de ser derrotado
e morto na Batalha de Bosworth Field. Henrique Tudor, conde de Richmond, que havia vencido a batalha, assumiu o trono como Henrique VII, iniciando a dinastia Tudor.
Ao casar-se com uma princesa da Casa de York, pôs fim aos conflitos.


!:'¦
9
.HA E tCO DE IADA
- 1492)
,. _ . Cristóvão Colombo -diante dos soberanos da Espanha, 1874. de Historia Nacional, Buenos Aires.

Poucos povos na história do mundo lutaram tão obstinadamente por um período tão longo quanto os espanhóis em sua tentativa de reconquistar dos árabes e dos mouros
a Península Ibérica. A Reconquista Espanhola durou de 800 d.C. a 1492, quando o reduto mais importante dos mouros, Granada, caiu ante os exércitos do rei Fernando
de Aragão (1452-1516) e da rainha Isabel de Castela (1451 - 1504). Os dois monarcas cristãos casaram-se em 1469, unindo seus reinos, antes distintos. Durante a década
de 1480, eles lutaram contra o reino mouro de Granada, alojado na região mais ao sul da Espanha. Após a captura de Málaga, em 1487, tudo o que restava aos mouros
era a própria cidade fortaleza de Granada, comandada pelo último dos líderes mouros, o rei Abu Abd Allah Mohammed XI, mais conhecido como Boabdil (morto em 1527).
Embora soubesse que sua posição era desesperadora, Boabdil se recusou a

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louvar os líderes cristãos. Em abril de 1491, o rei Fernando apareceu diante da cidade com oitenta mil homens. A despeito da capacidade de defesa da cidade (que
era ainda maior devido aos dois castelos de Albaicín e Alhambra ), os mouros estavam condenados a morrer de fome ou a ser derrotados em campo aberto. Para demonstrar
seu poder invencível, Fernando e Isabel construíram uma cidade inteiramente nova, chamada Santa Fé, nove quilómetros a oeste de Granada.
Em face dessas dificuldades, Boabdil começou a negociar. A rendição se deu em 2 de janeiro de 1492, quando Boabdil entregou as chaves da cidade a Fernando e
Isabel. A Reconquista chegava finalmente ao fim, séculos após os primeiros árabes e mouros cruzarem o Estreito de Gibraltar, em 711 d.C.
Como consequência secundária da vitória, Fernando e Isabel ficaram ricos o suficiente para patrocinar Cristóvão Colombo (1451 -1506) em sua tentativa de encontrar
terra navegando para o oeste, pelo oceano Atlântico. Com a mesma intensidade com que haviam ficado desconsolados com a rendição de Constantinopla (ver nu 27), cristãos
de toda a Europa ficaram exultantes com a notícia da tomada de Granada. Como resultado dessa vitória, uma série de impetuosos guerreiros espanhóis, nascidos e criados
sob o ideal da Reconquista, iriam voltar sua energia para o Novo Mundo.

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30
(ATALHA E CERCO A IOCHTITLÁN Í1521 -1522)
{Hanta de renochtitlan, in itates Orb s Torraram rm Georgius rfuun. 1 59-blioteca Nacor-il M.idn

Nos tempos das conquistas europeias dos povos indígenas, poucas vitórias pareceram tão completas como a de Hernán Cortês (1485 - 1547), o espanhol que derrubou o
império asteca no atual México. Historiadores vêm analisando essa notável conquista e ainda não conseguiram explicar inteiramente todos os fatores que colaboraram
na vitória espanhola.
Cortês desembarcou na costa do México em 1521. Tinha apenas seiscentos homens e alguns cavalos com ele. Sabendo muito pouco sobre a extensão do império asteca,
mas acreditando que fosse rico em ouro, ele abriu caminho até Tenochtitlán, atual Cidade do México. Cortês chegou a Tenochtitlán em 8 de novembro de 1519 e passou
a aterrorizar os índios com armas de fogo, cavalos, cães e armas brancas espanholas. Em pouco tempo, abduziu o imperador asteca, Montezuma II (1466 -1520), e começou
a tomar ouro e prata

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dos habitantes. Não obstante sua óbvia ganância e seu desdém pelos astecas, Cortes foi ousado e engenhoso no combate. Ao saber que um contingente de espanhóis havia
desembarcado na costa para prendê-lo, deixou um pequeno número de homens na capital e correu até a costa, onde derrotou os homens que lhe deviam prender e depois
ganhou seu apoio. Correndo de volta a Tenochtitlán, enfrentou urna enorme revolta do povo asteca. Cortês e seus homens conseguiram sair à força da cidade em 20 de
junho de 1520, data que ficou conhecida pelos espanhóis como Noche Triste, ou "Noite Triste". Quase mil espanhóis perderam a vida naquela noite, bem como muitos
de seus aliados indígenas.
Fazendo alianças com os índios totonacas e de Tlaxcala, que odiavam seus conquistadores astecas porque esses exigiam sacrifícios humanos como homenagens, Cortês
voltou e sitiou a cidade em 26 de maio de 1521. Montezuma havia morrido em lutas anteriores e seu substituto como imperador asteca estava determinado a resistir
aos espanhóis. Esses, ao lado de seus aliados indígenas, lutaram por dois meses e meio até chegar à cidade. Em 13 de agosto de 1521, realizaram um ataque concentrado
e capturaram a sua parte interna. Cortês e seus homens haviam triunfado com grande custo de vidas humanas. Dos duzentos mil astecas que habitavam a cidade antes
da chegada de Cortês, apenas um terço sobreviveu. As conquistas arquitetônicas e culturais dos astecas foram destruídas pelos espanhóis nos anos de consolidação
que se seguiram. Tenochtitlán foi decisiva para o desenvolvimento futuro das Américas Central e do Sul, na medida em que o desejo dos europeus de ouro e glória continuava
a causar impacto nos povos nativos do Novo Mundo.

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VTALHA DE IAMARCA
(1532)
IK.ISSH. ,to de Atahualpa, in 1 " ¦ onquista Espanhola (i ¦'. na de Ayala, 1587.

Francisco Pizarro (1470 - 1541) vinha de Estremadura, a mesma região da Espanha de Hernán Cortês (1485 -1 547). Assim como Cortês, Pizarro queria explorar novas
terras e conquistar ouro, glória e honra para si e para seu país.
Em 1531, Pizarro desembarcou na costa oeste do Peru, no continente que hoje chamamos de América do Sul. Logo encontrou os súditos e os vassalos do Império Inça,
um domínio que se estendia por quase 3.200 quilómetros de norte a sul. Os peruanos eram governados por um monarca absoluto, o Inça, e não estavam acostumados com
influências externas, já que a geografia os isolava de seus vizinhos da América do Sul. Assim, o aparecimento de 160 espanhóis comandados por um líder determinado
e cruel trouxe confusão à região norte do Império Inça.
Os peruanos haviam acabado de passar por uma luta de poder entre dois

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irmãos (Atahualpa e Huáscar), que guerrearam para decidir quem se tornaria o Inça, ou seja, o monarca. Atahualpa venceu no início de 1532 e levou suas forças a Cajamarca,
localizada em um platô na encosta leste da Cordilheira dos Andes.
Pizarro e seu pequeno grupo eram tão ousados que resolveram marchar da costa do Peru para o interior, com a intenção de encontrar o Inça e seu exército. Pizarro
fez seus homens subirem montanhas e atravessarem desertos. As forças peruanas poderiam ter armado emboscadas e destruído os espanhóis diversas vezes, mas parece
que Atahualpa ficara curioso com os estrangeiros. Deixou que eles entrassem em sua região e, então, retirou-se da cidade de Cajamarca e acampou em planície aberta
com uma força de trinta mil homens.
Pizarro se aproveitou da situação rapidamente; ocupou a cidade e depois enviou Hernando de Soto (1500 - 1542) - que mais tarde ficaria famoso como explorador na
América do Norte - ao Inça, conv,-dando-o à cidade em nome de Pizarro. O Inça entrou na cidade no final do dia 16 de novembro de 1532, com uma escolta de sete mil
homens. Um famoso e muito discutido encontro entre o Inça e um frei dominicano levou Atahualpa a jogar a Bíblia no chão, afirmando que ele próprio era um deus e
que não precisava do deus dos cristãos. Instantes depois, Pizarro deixou cair seu lenço, dando o sinal para atacar. Um canhão foi disparado e a pequeníssima força
de espanhóis surgiu das edificações, atirando-se contra os peruanos. A visão das espadas de aço espanholas, o som da artilharia e a ferocidade do ataque foram demais
para os peruanos. Atahualpa foi capturado, cerca de quatro mil peruanos foram mortos ou feridos, e os espanhóis não sofreram a perda de um único homem. Cajamarca
foi uma das batalhas mais desiguais da história da humanidade. Atahualpa pagou a Pizarro um alto resgate, porém depois foi julgado e executado. Mais tarde, em
1541, o próprio Pizarro morreu nas mãos de seus homens.

12
ERRAS
ilOSAS
ICESAS
-1593)
de São Bartolomeu, 1572.
Musée Cantonal des Beaux-Arts, Lausanne.

O protesto de Martinho Lutero (1483 - 1546) contra a corrupção da Igreja Católica Romana em 1517 havia levado ao desenvolvimento de diversas crenças: luterana, calvinista,
anabatista e outras. Na França, o rei e sua corte continuaram sendo católicos convictos, assim como a maioria da população. Cerca de dez por cento dos franceses
se tornaram huguenotes, seguidores de João Calvino (1509-1564)edesuas doutrinas religiosas.
Durante séculos a França seguira a doutrina de "um rei, uma lei, uma religião". Após 1550, o país se viu profundamente dividido entre católicos e huguenotes.
Os outros países não foram meros espectadores. A Espanha católica enviou auxílio à maioria católica da França, enquanto a Inglaterra e os Países Baixos procuraram
socorrer a minoria huguenote. A luta começou em 1562. Um dos episódios mais violentos acontecera dez anos antes, quando o rei Carlos IX convidou

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m p lu

milhares de huguenotes a Paris para celebrar o casamento da irmã com orei Henrique IV de Navarra (1553- 1610), huguenote proeminente do sul da França. Inicialmente,
a intenção de Carlos era boa> mas ele era emocionalmente instável e muito influenciado por sua mãe, Catarina de Mediei. Escutando o conselho da mãe e de outras pessoas,
o rei ordenou um massacre dos huguenotes na cidade. 0 massacre do Dia de São Bartolomeu foi imitado em outras cidades francesas; pelo menos vinte mil huguenotes
morreram em poucas semanas de terror.
A rainha-mãe e seus conselheiros tinham se enganado ao acreditar que o terror abalaria os huguenotes; ao contrário, eles contra-atacaram mais ferozmente que
nunca. Henrique de Navarra aos poucos se tornou o foco do conflito e, na década de 1 580, o país caiu na guerra dos três Henriques, entre o rei Henrique III (que
havia sucedido Carlos IX), Henrique, o duque de Guise, e Henrique de Navarra. Depois que o rei Henrique III foi esfaqueado e morto por um louco em 1593, os franceses,
já cansados de guerras e tumultos, pediram a Henrique de Navarra que se convertesse ao catolicismo para ganhar o trono. Com as palavras "Paris merece uma missa",
Henrique de Navarra foi coroado como rei Henrique IV em 1594, pondo fim às guerras religiosas da França. Em 1598, promulgou o Edito de Nantes, que declarava que
o catolicismo era a religião da maioria dos franceses.

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IERRA DOS
ENTA ANOS
1568-1648)
ciano Retrato de Felipe II,
óleo sobre tela, c. 1 554.
zzo Pitti Galleria Palatina,
Florença, Itália.

O que hoje chamamos de Holanda trata-se, na verdade, das Províncias Unidas dos Países Baixos, região que conquistou sua independência da Espanha durante os séculos
XVI e XVII. Famosos por suas aptidões artísticas e comerciais, os holandeses foram um dos primeiros povos da Europa a conquistar a liberdade de um poder opressivo
e a desfrutar uma oligarquia que respondia aos desejos do povo.
Carlos V (1500-1558), rei da Espanha e imperador do Sacro Império Romano, era, na verdade, flamengo de nascimento. Uma série de acontecimentos dinásticos felizes
o levaram às coroas da Espanha, Alemanha e de sua terra natal. Além disso, Carlos governou a Espanha de 1520 a 1556, o que incluiu os anos em que Hernán Cortês (1485
-1547), Francisco Pizarro (1470-1541) e outros conquistadores expandiram os territórios espanhóis no Novo Mundo. Carlos abdicou do trono em 1556, passando suas amplas
posses a seu

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filho, Felipe 11(1527-1 598). Criado na Espanha, Felipe não era sensível a seus súditos flamengos e holandeses como fora seu pai e, em 1568, ocorreram revoltas em
diversas províncias dos Países Baixos. 0s holandeses, amantes da liberdade, eram calvinistas em sua maioria e Felipe havia tentado forçá-los ao catolicismo.
Felipe enviou milhares de soldados espanhóis para o norte par conquistar os Países Baixos, sob o comando do duque de Alva e do duque de Parma. Os dois eram soldados
habilidosos e os espanhóis eram os melhores homens de infantaria de sua época, mas estavam lutando contra um povo que queria desesperadamente salvar sua terra natal
e sua liberdade. Os holandeses preferiam abrir buracos em seus diques e inundar grandes áreas de sua região campestre a ter que perder esses territórios para a Espanha.
Em 1581, os principais políticos e comerciantes holandeses solenemente "repudiaram" Felipe II como seu monarca, citando os abusos deste contra seu povo. Declarando
a liberdade e soberania de sete Províncias Unidas dos Países Baixos, os holandeses deram início a uma tradição revolucionária que seria imitada pelos ingleses em
1642, pelos americanos em 1775 e pelos franceses em 1 789.
Incapaz de impedir que a Inglaterra protestante ajudasse os rebeldes holandeses, Felipe II enviou a Armada Espanhola contra a Inglaterra em 1588. Quando essa
tentativa fracassou, a habilidade de Felipe de sufocar a revolta holandesa começou a se dissipar. A Espanha continuou lutando até 1609, quando uma trégua foi estabelecida.
Quando a Guerra dos Trinta Anos (ver nu 35) começou, nove anos depois, a Espanha e os Países Baixos entraram em guerra novamente. Na época, os holandeses já haviam
se tornado exímios marinheiros e saqueavam navios espanhóis tanto na Europa quanto no Caribe. Quando a Guerra dos Trinta Anos terminou, em 1648, a Espanha concordou
com a completa independência dos Países Baixos, oitenta anos após o início do conflito.

14
ENTRE IHA E tTERRA
-1603)
ato de Francis Drake.

O rei Felipe II (1527 - 1598) da Espanha e a rainha Elizabeth I (1533 - 1603) da Inglaterra eram inimigos mortais, ambos jurando defender suas diferentes religiões
(católica e anglicana) e ambiciosos quanto ao bem-estar de seus países. Os dois monarcas competiram por prestígio durante anos antes de começarem a lutar pelo tesouro
e pelos territórios espanhóis no Novo Mundo.
Elizabeth por muito tempo havia ignorado os corsários ingleses que saqueavam os navios espanhóis no Caribe, mas, em 1580, ela deu autorização de fato ao capitão
Francis Drake (1540 - 1596) para que ele atacasse os espanhóis em quaisquer de seus territórios do Novo Mundo. Tomando as ordens literalmente, Drake atacou o Panamá
e depois navegou para o sul, circundando a América do Sul, e apareceu na costa oeste do continente, onde pegou os colonizadores espanhóis

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de surpresa. Drake saqueou e queimou a Espanha da América do SUJ e navegou para o norte, para a atual Califórnia, antes de virar para 0 oeste pelo oceano Pacífico.
Ao chegar a Londres em 1582, após haver realizado a segunda circunavegação do mundo (a primeira fora realizada por Fernão de Magalhães), Drake foi nomeado cavaleiro
pej rainha Elizabeth, em reconhecimento por suas explorações. Drak tornou-se modelo da nova marinha elizabetana que estava se desen volvendo para defender-se de
uma possível invasão espanhola.
Furioso com as incursões em seus territórios, Felipe II aos poucos reuniu uma enorme frota de 130 navios, que ficou conhecida como a Armada Espanhola. Navegando
para o norte a partir da Espanha em 1588, a Armada encontrou uma resistência feroz dos ingleses. Os navios ingleses, mais levemente armados e mais fáceis de manobrar,
impuseram danos consideráveis, mas o que realmente derrotou os espanhóis foi o uso de brulotes (navios que atiram fogo) combinado à ocorrência de uma tempestade.
Apenas metade dos navios voltou à Espanha.
Longe de desistir, Felipe reuniu frotas similares em 1593 e 1594, mas o mau tempo e a falta de suprimentos sempre impediram que seus marinheiros atingissem seus
objetivos. O próprio Drake foi morto em um ataque fracassado em uma cidade sul-americana, e a guerra começou a retroceder após a morte de Felipe, em 1598.
Uma rivalidade aguda havia se desenvolvido entre os dois países. Muitos súditos ingleses ficaram decepcionados quando seu novo rei, James II, que subiu ao trono
após a morte da rainha Elizabeth, anunciou que iria implementar uma política de paz com a Espanha. As bases do poder naval inglês haviam sido lançadas durante o
período elizabetano, e foi meramente uma questão de tempo até a Inglaterra desafiar os espanhóis, os franceses e os holandeses pela supremacia no Novo Mundo.
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35
IRA DOS
TA ANOS
18-1648)
Gustavo Adolfo.

Diferenças religiosas fervilharam por todo o século XVI. No século XVII, elas explodiram em uma guerra que envolveu quase todas as principais potências da Europa.
O Sacro Império Romano, fundado em 962 por Otto, o Grande, estava dividido em uma região norte de predominância protestante e um segmento decididamente católico
ao sul. A guerra começou quando patriotas tchecos de Praga atiraram comissários do Sacro Império Romano por uma janela; os comissários caíram sobre um monte de esterco
e o episódio ficou conhecido como a Defenestração de Praga.
A princípio, a guerra se restringiu à Tchecoslo-váquia católica e à Boémia protestante. Os católicos venceram as primeiras batalhas, praticamente erradicando
o protestantismo nas regiões do leste do Sacro Império Romano. Um novo exército entrou
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no conflito vindo do norte: Gustavo Adolfo, o rei luterano da Suécia levou um pequeno porém bem treinado exército para o sul até o Sacro Império Romano. Apoiando
e auxiliando a causa protestante, Adolf0 conquistou duas grandes vitórias sobre seus inimigos antes de morrer na Batalha de Lutzen, em 1632.
A França entrou na guerra em 1635, não apoiando o catolicismo como era de se esperar, mas como aliada dos protestantes. O cardeal e duque de Richelieu (1585
- 1642) - o poder por trás do trono da França - queria que seu país substituísse a Espanha como potência militar mais proeminente da Europa. Como a Espanha achava
que seu papel fosse apoiar os interesses católicos em toda a Europa, a França deu seu apoio à causa protestante. Daquele momento em diante, a guerra se transformou
em uma luta por poder, na qual a religião tinha uma importância cada vez menor. Os Países Baixos, protestantes, continuavam a lutar por sua independência da Espanha
católica (ver nu 33); forças protestantes dentro do Sacro Império Romano continuavam a disputar a supremacia com Fernando II, o imperador católico da casa de Hapsburg;
a Espanha continuava a mandar auxílio ao Sacro Império Romano, enquanto a França enviava tropas para ajudar os protestantes do Império.
Em 1640, a disputa estava chegando ao fim. A Espanha juntou suas forças e tentou tirar a França da guerra. Em vez disso, algumas de suas melhores tropas foram
derrotadas e capturadas na Batalha de Rocroi, em 1643. Em 1648, todos os lados envolvidos estavam esgotados; o Tratado de Westfália, sancionado naquele ano (1648),
pôs fim ao conflito dentro do Império, com a cláusula que declarava que cada príncipe poderia determinar a religião que seus súditos teriam de seguir. Como o Império
tinha mais de trezentos principados, ducados e bispados diferentes, havia espaço para a prática de crenças diversas. Os Países Baixos conquistaram sua total independência
da Espanha, e França e Espanha continuaram a se enfrentar esporadicamente até 1659, quando o Tratado dos Pireneus pôs fim aos conflitos.


¦ i"
36
IRA CIVIL ÍEVOLUÇÃO
ITANA DA ÍLATERRA
-1649)
Oliver Cromwell.

Matar um rei, ato conhecido como regicídio, era um pensamento assustador para a maioria dos europeus. Os ingleses foram os primeiros europeus a cometer um ato de
regicídio, durante a longa e amarga Guerra Civil travada entre as forças do rei Carlos I (1600 - 1649) e o Parlamento. Durante as décadas de 1620 e 1630, o rei Carlos
I entrou em sério conflito com o Parlamento. Carlos exigia novas taxas e impostos, que o Parlamento se recusava a conceder. O rei, então, dissolveu o Parlamento
e tentou governar sozinho. Limitado por sua incapacidade de arrecadar mais impostos, Carlos reuniu um novo Parlamento em 1640. Quando tentou dissolvê-lo - e prender
cinco de seus membros mais importantes - deu início à Guerra Civil inglesa, entre os Cavaleiros (homens leais ao rei) e os Cabeças Redondas (leais ao Parlamento).

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A guerra começou com a Batalha de Edgehill, em 1642. A cavalaria do exército do rei quase ganhou no início, mas perdeu ternp0 saqueando o trem do inimigo. Assim,
a sólida infantaria das forças parlamentares ganhou terreno em uma luta duramente disputad Edgehill foi, em muitos aspectos, precursora da guerra como um todo Os
Cavaleiros, de maneira geral, lutavam rápida e energicamente com frequência conseguiam dispersar a cavalaria do oponente nos estágios iniciais das batalhas. Entretanto,
a disciplina mais severa dos Cabeças Redondas, assim como seus melhores recursos, garantia que eles dominassem a longo prazo. O resultado da guerra estava bastante
incerto até Oliver Cromwell (1599 - 1658) surgir como o principal líder dos Cabeças Redondas.
Homem severo, que acreditava totalmente na fé puritana, Cromwell era tão rigoroso que proibia seus homens de xingarem. Criou uma cavalaria, os "Ironsides" (laterais
de ferro), tão boa quanto os cavaleiros do rei Carlos. Os Cabeças Redondas venceram a Batalha de Marston Moor, no norte da Inglaterra, em 1644, e o Prince Rupert
do Reno jurou vingança. Quando as duas forças se encontraram novamente na Batalha de Naseby, em 1645, os homens da cavalaria de Rupert repetiram muitos dos erros
que haviam cometido em Edgehill e em outros conflitos. Ao final do dia, as forças parlamentares haviam conquistado vitória total e o rei havia fugido.
O rei Carlos se rendeu ao Parlamento em 1645. Mais tarde, descobriu-se que ele conspirava com os escoceses, que estavam planejando uma marcha ao sul para libertá-lo.
Cromwell rumou apressadamente para o norte e derrotou os escoceses completamente na Batalha de Dunbar, em 1648. Após retornar à Inglaterra, Cromwell reuniu uma corte
de mais de duzentos homens para julgar o rei. Como a monarquia era muito reverenciada, muitos desses juizes evitaram o processo, mas a vontade de Cromwell prevaleceu
no final, com 59 juizes assinando a sentença de morte. O rei Carlos foi condenado por crimes contra o Estado e executado em 27 de janeiro de 1649.


IF
37
ÍRANDE iUERRA
NORTE
FOO-1721)
Carlos XII.

Próximo à virada do século XVII para o século XVIII, a Suécia ainda era a potência militar e comercial mais proeminente do mar Báltico. Devido à sua intervenção
na Guerra dos Trinta Anos (ver nu 35), passou a controlar grande parte da navegação do Báltico e tinha o exército mais profissional da região, apesar da pequena
população de um milhão de habitantes.
Quando um rapaz de 15 anos de idade se tornou o rei Carlos XII (1682-1718), em 1697, os países vizinhos decidiram que havia chegado a hora de colocar a Suécia
em seu devido lugar. Frederico IV da Dinamarca, Augusto II (1670 - 1733) da Polónia e o czar Pedro I (1672 - 1725) da Rússia, depois conhecido como Pedro, o Grande,
formaram uma coalizão contra a Suécia. A guerra começou em 1700, quando os poloneses sitiaram a cidade-chave de Riga e os russos fizeram o mesmo

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com
Narva. Os aliados haviam subestimado a personalidade do jovem rei da Suécia.
O rei Carlos XII era um génio militar e também um megalo-maníaco. Atacou primeiro a Dinamarca e capturou Copenhague, fazendo com que os dinamarqueses pedissem
a paz. Em seguida, voltou-se contra a Rússia; levantou o cerco a Narva e infligiu uma derrota humilhante ao exército mais numeroso do inimigo. O rei prosseguiu indo
ao auxílio de Riga e depois cercando Varsóvia e Cracóvia, as maiores cidades da Polónia. Após derrotar definitivamente o exército polonês em Pultusk, em abril de
1703, Carlos convenceu a legislatura polonesa a eleger o candidato escolhido por ele como novo rei, em lugar de Augusto, que havia fugido para a Saxônia.
Carlos deixou a Suécia com oitenta mil homens em setembro de 1707 e marchou para Moscou. Detido pelo duro inverno, teve de esperar na Ucrânia. Foi, então, derrotado
por Pedro, o Grande, na crucial Batalha de Poltava, em 28 de junho de 1709. Escapando com cerca de 1.800 homens, Carlos seguiu para o sul até a Turquia e conseguiu
convencer o Império Otomano a iniciar uma guerra contra a Rússia. A Guerra Turco-Russa durou apenas dois anos, enquanto no norte da Europa, a Suécia enfrentava uma
nova coalizão de seus inimigos: Polónia, Rússia, Saxônia, Hannover e Dinamarca. Augusto II retornou ao trono polonês e retomou a guerra mais ferozmente. Carlos viajou
incógnito para a Suécia em 1714; ao chegar a sua terra natal, logo inspirou seus conterrâneos a se empenharem ainda mais. Seu génio brilhante, ainda que imprevisível,
poderia ter dado uma virada na guerra, mas ele foi baleado e morto nas trincheiras enquanto preparava o cerco ao forte norueguês de Fredrikssten, em dezembro de
1718.
O esforço de guerra sueco logo foi interrompido. Os Tratados de Estocolmo de 1719a 1720 e de Nystad, em 1721, cediam a Livônia, Ingermanland, parte da Carélia
e muitas ilhas bálticas à Rússia, que, por sua vez, abria mão da Finlândia. O czar Pedro, o Grande, surgiu como vencedor. Com grande custo em termos de vidas e tesouros,
a

-'¦>•.

ssia havia conquistado um porto báltico, a "janela para o ocidente ie Pedro queria, e logo construiu a cidade de São Petersburgo para imemorar a realização. Tornou-se
a potência dominante do mar Jtico e a Suécia nunca mais recuperou o status militar que possuíra
segunda metade do século XVII.

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IERRA DOS SMBOABAS
1708-1709)
=1" 'ri da Rocha Ferreira. or das minas, 1700. Vtuseu Paulista, USP.

Desde o primeiro contato com os índios do Brasil, os portugueses sonhavam em encontrar o "eldorado", uma região na qual, segundo as lendas, o ouro brotava. As primeiras
grandes incursões ao interior do Brasil à procura de ouro e pedras preciosas saíram do planalto de Pirati-ninga, no atual estado de São Paulo, no século XVII. No
final do século, os paulistas finalmente descobriram ouro em abundância. Em 1698, a bandeira de António Dias de Oliveira chegou ao local em que mais tarde se estabeleceria
Vila Rica, hoje Ouro Preto.
Com as notícias da descoberta se espalhando pelo país e chegando a Portugal, uma grande corrida do ouro aconteceu, e portugueses e brasileiros de outras partes
chegavam aos milhares à região. Os paulistas, que haviam descoberto as minas, queriam ter o direito exclusivo de explorá-las e chamavam os "forasteiros" de emboabas,
um apelido pejorativo com origem na língua tupi,

93

significando "aves com penas até as pernas" - uma alusão às botas que eles usavam.
Do lado dos paulistas, estava o respeitado superintendente das minas, Manuel de Borba Gato (1628 - 1 71 8). Já os emboabas criaram seu próprio governo, nomeando
o português Manuel Nunes Viana criador de gado e contrabandista de ouro, governador das minas Em 12 de outubro de 1708, Borba Gato exigiu a expulsão de Nunes Viana.
Sob o comando deste, os emboabas atacaram os paulistas que estavam concentrados em Sabará. Outro grupo, comandado por Bento do Amaral Coutinho, atacou os paulistas
no Arraial da Ponta do Morro, atual Tiradentes. Os paulistas foram derrotados e se renderam, mas apesar das garantias de Amaral Coutinho no acordo de rendição os
emboabas massacraram aproximadamente trezentos paulistas (ou cinquenta, segundo alguns historiadores), no episódio denominado Capão da Traição, como também ficou
conhecido o local.
Os paulistas organizaram, então, uma tropa de cerca de 1.300 homens, mas não conseguiram chegar a Minas. Os conflitos continuaram até a chegada do capitão-general
do Rio de Janeiro, António de Albuquerque Coelho de Carvalho, que obrigou Nunes Viana a voltar à sua região, na Bahia. Muitos paulistas perderam suas minas e resolveram
partir do local. Em 1718, foram encontradas outras jazidas em Mato Grosso.
Os resultados da guerra foram excelentes para Portugal. Em 11 de novembro de 1709 foi criada a capitania de São Paulo e das Minas do Ouro, governada pelo próprio
António de Carvalho. A capitania estava ligada diretamente à Coroa, e a cobrança do quinto - imposto pago a Portugal pela exploração do ouro - foi regulamentada.

39
;RRA DOS
ÍCATES
-1711)
i da Recife e cidade de J.1630, gravura. Ilustração ffmo de Johannes de Laet vinghe van west-indien, teyden, Elzeviers, 1630. rfuseu do Estado, Recife.

No início do século XVIII, uma rivalidade entre os senhores de engenho de Olinda e os comerciantes portugueses do Recife acabou culminando em um conflito que ficou
conhecido como a Guerra dos Mascates.
Os fazendeiros que viviam da cana-de-açúcar consideravam-se nobres e aliados da Coroa portuguesa por conta da participação de seus antecessores na expulsão
dos holandeses de Pernambuco e reivindicavam para si uma chamada "nobreza da terra". No final do século XVII o preço do açúcar no mercado internacional começou a
cair; no início do século seguinte, a queda já era grande e prejudicou de forma significativa os fazendeiros de Olinda. Já os comerciantes do Recife estavam prosperando
cada vez mais e contavam com o apoio do rei Dom João V (1689 - 1750), que subira ao trono português em 1706.

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Sem o apoio da Coroa, os senhores de engenho decidiram bloquear a entrada dos comerciantes portugueses do Recife - que chamavam pejorativamente de mascates
- na Câmara Municipal d Olinda. Como represália, Dom João V elevou o povoado do Recife status de vila, com câmara municipal própria. Com essa medida devido à decadência
do açúcar, a importância da cidade de Olinda co meçou a declinar. Para piorar a situação, os senhores de engenho estavam sendo forçados a pedir empréstimos aos "mascates"
do Recife
Em 1710, com a demarcação dos limites dos dois municípios a revolta começou. Comandados por Bernardo Vieira de Melo e Leonardo Bezerra Cavalcanti, os "nobres"
de Pernambuco atacaram o Recife. O governador de Pernambuco fugiu depois de ser ferido com um tiro na perna, mas em 1711, os mascates contra-atacaram, invadindo
Olinda, incendiando e destruindo casas e fazendas das proximidades. Um novo governador foi nomeado para o Recife, e da Bahia foram enviadas tropas que poriam fim
ao conflito.
Recife tornou-se capital de Pernambuco. A Guerra dos Mascates marcou o início do fim do poderio dos grandes senhores de engenho do Nordeste, mas a rivalidade
entre pernambucanos e portugueses continuou e acabou ressurgindo em uma revolta um século depois -a chamada Revolução Pernambucana de 1817.

40
lUERRA
IÍTICA S4-1756)
I Vieira leão. Planta da ide Jesus, Maria e José, .'Seu objetivo era repelir quer ataque dos índios rebelados na chamada Guerra Guaranítica.

Com a descoberta do Novo Mundo no final do século XV, portugueses e espanhóis passaram a disputar as novas terras. Em 1494, assinaram o Tratado de Torde-silhas,
que demarcou suas conquistas. Segundo o acordo, a maior parte do atual território brasileiro pertencia aos espanhóis. Nos anos seguintes, dentre as várias mudanças
efetuadas pela Igreja Católica para combater a reforma religiosa iniciada na Europa por Martinho Lutero, estava a criação de novas congregações religiosas. A Companhia
de Jesus era uma delas, uma organização severa com disciplina quase militar. Logo padres jesuítas foram enviados ao Novo Mundo, onde fundaram as missões, com o objetivo
de catequizar os índios, ou seja, de convertê-los à fé católica e assim consolidar a ocupação dos europeus.
Em meados do século XVIII, os portugueses já ocupavam terras que oficialmente pertenciam à Espanha, no sul do Brasil.

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Um outro acordo foi assinado em 1750 - o Tratado de Madri - A limitando novas fronteiras. Segundo o tratado, Sete Povos das M" soes, na margem esquerda do rio Uruguai,
passaria para Portuga] enquanto a Colónia de Sacramento, possessão portuguesa do out lado do rio, passaria para a Espanha. Mas o acordo não agradou ne aos jesuítas,
nem aos índios guaranis que há séculos habitavam a re gião sul, vindos da Amazónia, e que de certa forma eram protegido pelos padres e recebiam deles educação formal.
Em 1753, os índios guaranis das missões se uniram para impedir a demarcação da nova fronteira estabelecida pelo Tratado e recusaram-se a abandonar Sete Povos
das Missões. Em 1754, portugueses e espanhóis dão início à guerra, enviando tropas para combater os rebeldes, que somavam milhares de nativos liderados por Nicolau
Neenguiru e Sepé Tiaraju (? - 1756). Os espanhóis chegaram pelo sul, vindos de Buenos Aires e Montevidéu; já os luso-brasileiros vieram do Rio de Janeiro e, liderados
pelo general Gomes Freire, seguiram pelo rio Jacuí. Os dois exércitos se juntaram na fronteira com o Uruguai e juntos atacaram os índios. Em fevereiro de 1756, Sepé
Tiaraju foi assassinado e em maio do mesmo ano, o exército unido dos europeus conseguiu dominar Sete Povos e acabar com a resistência guarani.
A Guerra Guaranítica não resolveu a questão das fronteiras. Os jesuítas da colónia de Sacramento também não ficaram satisfeitos com o Tratado de Madri, que acabou
sendo anulado em 1761. Na Europa, os jesuítas eram acusados de ter liderado a Guerra Guaranítica e com a crescente pressão contra a Igreja, os padres da Companhia
de Jesus foram expulsos dos territórios americanos em 1768. O episódio pôs fim às missões e causou impacto definitivo aos índios guaranis do Brasil, da Argentina
e do Paraguai.

ilft
41
IRA DOS
ANOS
16-1763)
filliam Pitt, o Jovem.

Em 1754, alguns acontecimentos na América do Norte deram início a uma pequena chama que acabou se transformando no grande incêndio que foi a Guerra dos Sete
Anos, travada na Europa, na índia e nos oceanos do planeta. Aos 21 anos de idade, em maio de 1754, George Washington (1732 - 1799) encurralou um pequeno
destacamento de soldados franceses no oeste do estado da Pensilvânia. Tanto britânicos quanto franceses enviaram grandes exércitos pelo oceano Atlântico
para disputar o controle da "terra de Ohio' - correspondente ao oeste da Pensilvânia e aos estados de Ohio e de Indiana de hoje. Soldados franceses e índios
americanos atacaram os britânicos da América no episódio que foi chamado derrota de Braddock, na Pensilvânia, em 1755, deflagrando o que ficou conhecido na América
como a guerra de franceses e de índios.

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Na Europa, alianças tradicionais eram postas de lado. França e Áustria, inimigas de longo tempo, se juntaram. Essa troca de aliados conhecida como Revolução
Diplomática de 1756, era praticamente ' garantia de um conflito prolongado e destrutivo. A Rússia se junt à França e à Áustria pouco tempo depois.
Frederico II (1712 - 1786), também conhecido como Frederic o Grande, venceu uma batalha atrás da outra no continente. Su grande habilidade tática aliada ao profissionalismo
e à determinaçã de suas forças fez com que a Prússia vencesse ataques de inimigos muito mais numerosos.
A Grã-Bretanha procurou usar seu poder naval para conter a França na Europa e capturar colónias francesas localizadas em outros lugares do mundo. Os britânicos
fracassaram de início e os exércitos franceses conquistaram vitórias notáveis na América do Norte: em Oswego, em 1756, e em Fort William Henry, em 1757.
A maré mudou quando William Pitt (1708 - 1778) tornou-se primeiro-ministro da Grã-Bretanha em 1757. Com as palavras "sei que posso salvar este país e que ninguém
mais pode", Pitt redobrou os esforços britânicos. Dando dinheiro a Frederico II para que os prussianos pudessem conter o poderio francês na Europa, Pitt enviou exércitos
e frotas que obtiveram vitórias consecutivas em Quebec, Minden, Ticonderoga e Quiberon Bay. Conhecido como Ano das Vitórias, 1759 lançou as fundações para a criação
do império britânico.
A entrada da Espanha da casa de Bourbon na guerra, em 1761, não fez muita diferença. Frotas e exércitos britânicos logo capturaram Havana, em Cuba, e as Filipinas,
fazendo a Espanha lamentar o dia em que havia buscado ajudar a monarquia Bourbon da França. A Paz de Paris, que pôs fim à guerra em 1763, deu todo o Canadá e a índia
à Grã-Bretanha; a França ficou apenas com duas pequenas ilhas pesqueiras próximas à costa de Newfoundland. Frederico II manteve a Silésia, enquanto França, Áustria
e Rússia pouco tinham para mostrar após sete longos anos de guerra.

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IRA DE )ÊNCIA DOS
UNIDOS
DE TRENTON
[1776)
i Leutze. Washington <o Delawar, 1851, óleo sobre tela. >litan Museum of Art, Nova York.

A Guerra de Independência dos Estados Unidos começou em abril de 1775 quando militares patriotas revidaram o ataque dos "casacas vermelhas" britânicos em Lexington
Green e Concord Bridge. A guerra, que começara como um problema da região da Nova Inglaterra, com os combates centralizados em Boston, se expandiu quando o Congresso
Continental nomeou George Washington (1732-1799), então com 42 anos de idade, comandante-chefe das forças americanas. Nascido no estado da Virgínia, Washington levou
um senso de unidade intercolonial à rebelião americana, sentimento que foi aprofundado por Thomas Paine (1737 - 1809) e pela elegante redação da Declaração de Independência
de Thomas Jefferson (1743 - 1826).
Em dezembro de 1776, George Washington confidenciou em uma carta que, a não ser que alguma coisa mudasse logo, o jogo estaria praticamente terminado. Washington
havia cedido a cidade de Nova

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York aos ingleses, tinha sido perseguido por New Jersey e visto suas forças minguarem para quatro mil homens no último mês do ano.
Existia, no entanto, certa hesitação da parte dos britânicos e de seus aliados hessianos (mercenários alemães). Os generais ingleses Sir William Howe (1729 -
1814) e Charles Cornwallis (1738-1805) foram para alojamentos de inverno, deixando apenas quatro mil homens das tropas hessianas para vigiar Washington, que estava
no lado sul do rio Delaware (os hessianos estavam no lado norte).
Nos últimos dias de dezembro, a causa americana estava em estado desesperador. Muitos dos homens de Washington que restaram iriam partir no último dia do ano,
quando encerrava seu alistamento. Dada a situação, Washington decidiu usar aqueles homens enquanto podia. Planejou cruzar o Delaware à noite e surpreender os hessianos
no dia seguinte ao Natal.
A travessia americana do Delaware foi celebrada em um conhecido quadro de Jonathan Trumbull, mas o artista não mostrou o estado precário dos sapatos e das roupas
das tropas americanas. Na verdade, muitos observadores alegavam que, depois de cruzar o rio, era possível encontrar o caminho para Trenton seguindo o rastro de sangue
deixado pelos pés descalços de muitos dos americanos.
Washington conseguiu chegar a Trenton, com 2.400 de seus homens, ao anoitecer do dia 26 de dezembro. Seu oponente, o coronel Johann Rall, e seus 1.400 hessianos
dormiam profundamente após uma farta comemoração de Natal. Os americanos se aproximaram da cidade de dois lados diferentes e dispuseram seus canhões de forma que
pudessem varrer as ruas com os disparos. Embora Rall e os hessianos tivessem levantado rapidamente e lutado com coragem, a batalha terminou em menos de vinte minutos.
As oito da manhã, Washington já conseguia ver claramente o resultado de sua vitória: 22 hessianos mortos e 918 capturados. Os americanos haviam perdido somente quatro
homens, que morreram, e outros oito ficaram feridos. Essa vitória desigual deu uma energia renovada à causa americana.

43
ÍUERRA DE JDÊNCIA DOS
UNIDOS
DE SARATOGA
(1777)
> batalha de Germantown.

Após a jogada desesperada e bem-sucedida de George Washington (1732 -1799) em Trenton (ver na 42), os britânicos decidiram sufocar a rebelião americana de uma vez
por todas. O general inglês John Burgoyne (1722 - 1792) elaborou um plano mestre: três exércitos iriam convergir em Albany, no estado de Nova York, e se posicionar
ao longo do rio Hudson. Fazendo isso, os ingleses estariam separando a Nova Inglaterra (considerada o coração da rebelião americana) do restante dos estados.
Burgoyne levou oito mil tropas britânicas e hes-siânicas e aliados indígenas de Montreal para o sul. Capturou o Forte Ticondero-ga em 4 de julho de 1777 e continuou
até a cabeceira do lago Champlain. Apenas 32 quilómetros separavam o general do rio Hudson, mas essa distância cobria uma região de mata cerrada e pântanos, e os
americanos derrubaram árvores para atrasar o avanço de Burgoyne.

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103

Os britânicos levaram vinte dias para percorrer os 32 quilómetros até
o no.
Os outros dois exércitos britânicos já estavam fora de cena. O ge_ neral William Howe (1729 - 1814) havia desconsiderado as ordens de se encontrar com Burgoyne
e seguido para capturar a Filadélfia 0 terceiro exército, comandado pelo coronel Barry Saint Leger, havi sido detido pelos americanos no Forte Stanwix, no oeste
do estado de Nova York.
Desconhecendo a extensão dos perigos que o cercavam, Burgoyne começou sua marcha para Albany. Só conseguiu chegar a Freemans Farm, na margem esquerda do rio
Hudson, onde seu exército de sete mil homens encontrou dez mil americanos comandados pelos generais Horatio Gates e Benedict Arnold.
A Batalha de Freemans Farm foi travada em 19 de setembro. Burgoyne enviou um destacamento de 1.500 homens para sondar as fileiras americanas. Esses homens foram
logo afugentados com uma rajada de balas de mosquete, disparadas principalmente pelos soldados da Virgínia, do coronel Daniel Morgan. Burgoyne reforçou sua coluna
e uma batalha geral se iniciou. Protegidos pela mata, os americanos fizeram seiscentas vítimas britânicas e perderam apenas metade desse número.
Em 7 de outubro de 1777, Burgoyne tentou novamente. Enviou outro destacamento para testar o núcleo dos americanos. Naquele ponto, Gates e Arnold já haviam recebido
reforços e contavam com um total de vinte mil homens. O grupo enviado pelos britânicos foi logo rechaçado e os americanos partiram para a ofensiva. Gates achava
suficiente repelir o avanço dos inimigos, mas Arnold levou seus homens a investirem contra as defesas principais dos britânicos. Atacando um reduto alemão a cavalo,
Arnold foi ferido na perna. Ainda assim, havia inspirado os americanos e, ao fim do dia, os ingle-ses haviam perdido mais seiscentos homens e suas melhores posições
defensivas.
Burgoyne se rendeu em Saratoga em 17 de outubro de 1777-A perda de todo um exército britânico incentivou a França a entrar na

a do lado dos americanos, transformando-a em um conflito ndial. A guerra só terminou em 1783, com o Tratado de Paris, que nheceu a independência americana.

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r

TALHA E RCO DE RALTAR
9-1783)

A rocha de Gibraltar sempre foi ferozmente disputada em uma série de batalhas e cercos ao longo dos séculos, mas a disputa mais memorável se deu entre Espanha e
Grã-Bretanha durante a Guerra Revolucionária da América do Norte. A Espanha entrou na guerra em 1 779, com a intenção de recuperar Gibraltar da Inglaterra, que havia
tomado o local em 1704, durante a Guerra de Sucessão espanhola.
Apenas cinco mil soldados britânicos tomavam conta de Gibraltar quando a guerra estourou. Aqueles homens foram capazes de resistir aos primeiros ataques
da infantaria espanhola, mas precisavam de suprimentos de comida e água para poderem manter sua posição. No inverno de 1779 - 1780, o almirante britânico George
Rodney derrotou uma frota espanhola e entrou no porto levando suprimentos e reforço para o batalhão de defesa, que aumentou para 7.500 homens.

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erompton
Quando as negociações de paz começaram, em 1781, a Espanha ficou ansiosa para tomar o forte antes que a guerra fosse concluída. Em setembro de 1782, realizou
um ataque massivo e final a Gibraltar; dez "baterias flutuantes" de canhões haviam sido construídas segundo instruções de engenheiros franceses. Embora as baterias
fossem supostamente seguras contra tiros de canhão ou fogo, diversas delas foram incendiadas pelas balas dos canhões ingleses. O restante das baterias foi retirado
às pressas e o ataque franco-espanhol fracassou Os espanhóis ficaram tão desmotivados com o episódio que um comboio de auxílio britânico conseguiu passar para o
porto e reabastecer a guarnição em outubro de 1782.
O rei Carlos III da Espanha queria desesperadamente salvar Gibraltar, mas até seu ministro de relações exteriores - o conde de Floridablanca - aconselhou-o a
assinar o tratado de paz. "Por quanto tempo, Vossa Majestade, pode uma rocha perturbar a paz de três grandes impérios?", perguntou, referindo-se a Espanha, França
e Grã-Bretanha. O tratado de paz final, assinado em 1783, deu Minorca e Flórida à Espanha e Gibraltar à Grã-Bretanha.

irr
45
CONFIDENCIA IINEIRA
(1789)
,';:¦
António Parreiras. Jornada dos mártires.

Revolta contra o domínio e a exploração dos portugueses, a Inconfidência Mineira acabou não se transformando em batalha ou guerra, mas criou, na figura de Tiradentes,
um símbolo da liberdade -que um século mais tarde seria usado no movimento pela proclamação da República no Brasil.
As jazidas de ouro de Minas Gerais começavam a se esgotar e um empobrecimento geral acontecia na região. A Coroa portuguesa insistia em cobrar pesados impostos
e em receber cem arrobas - o equivalente a 1.500 quilos - de ouro por ano, independentemente do que os mine-radores conseguissem explorar. Em fevereiro de 1789,
para compensar o não-cumprimento dessa cota, o governador da capitania de Minas Gerais anunciou a derrama - um imposto extra que seria cobrado de todos os cidadãos
para arrecadar 8.940 quilos de ouro.

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A elite de Minas Gerais - formada principalmente pelos mais ricos que não queriam pagar os impostos a Portugal e por intelectuais influenciados pelos ideais
do Iluminismo e posteriormente da Revolução Francesa e pelos movimentos de independência dos Estado Unidos (ver n- 42 e 43) - começara a se reunir clandestinamente
em Vila Rica (atual Ouro Preto) para conspirar e planejar uma revolta Integravam o grupo mineradores e magnatas endividados, corno Alvarenga Peixoto (1744? - 1793),
poetas como Cláudio Manoel da Costa (1729 - 1789) e Tomás António Gonzaga (1744 - 1810), que também era jurista, além do alferes (oficial) do exército Joaquim José
da Silva Xavier (1746 - 1792), também conhecido como Tiradentes, devido à profissão que exercia. Ao grupo, juntou-se também Joaquim Silvério dos Reis (1755? - 1819),
que segundo algumas fontes estava mais endividado do que qualquer outro na capitania.
Os inconfidentes decidiram iniciar a revolução no mesmo dia em que fosse decretada a derrama. Seus planos, porém, eram vagos. A ideia era libertar o Brasil de
Portugal, criando uma república com capital em São João dei Rei. Adotariam também uma nova bandeira com os dizeres Libertas quae será tamem ("liberdade ainda que
tardia ")• Além disso, os idealistas desejavam criar uma universidade em Vila Rica e incentivar as indústrias no país. Mas os inconfidentes não tinham tropas armadas,
nem o apoio popular. Seu movimento era elitista e não previa melhorias para os pobres nem a libertação dos escravos.
Diferentemente dos outros inconfidentes, Tiradentes tinha origem mais humilde e pouco estudo, porém era um entusiasta da independência do Brasil. Ele conhecera
a pobreza do povo brasileiro em suas viagens como militar e pregava o movimento em tabernas e estabelecimentos comerciais.
O movimento foi sufocado antes mesmo de eclodir. Joaquim Silvério dos Reis denunciou as intenções do grupo em troca do perdão de suas enormes dívidas. O visconde
de Barbacena suspendeu a cobrança dos impostos e mandou prender os revoltosos. Todos foram

sós e condenados (algumas fontes, porém, dizem que a devassa in-i 84 implicados no movimento e apenas 24 condenados); 11 rece-im a pena de morte, mas somente a de
Tiradentes foi mantida, Jo os outros condenados ao degredo na África. Para Portugal, sua cução serviria de exemplo e demonstração de seu poder, e o que
Iseguiu foi um espetáculo de crueldade e horror. Em 21 de abril de 92, Tiradentes foi enforcado em praça pública, no Rio de Janeiro, i cabeça foi decepada e levada
para Vila Rica, onde foi pregada em poste. O restante de seu corpo foi divido em quatro partes, que
íàm pregadas em pontos do caminho entre Rio e Minas.

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í I

ERRAS DA OLUÇÃO CESA
3-1799)
,' A queda da Bastilha, gravura popular.

"Não me incluo entre aquele rebanho comum de estadistas... que ainda têm de aprender que não existe acordo com tiranos, que ainda têm de aprender que o único lugar
para dar um golpe em um rei é entre a cabeça e os ombros, que ainda têm de aprender que não receberão nada da Europa exceto por meio das armas. Voto pela morte do
tirano." Assim declarou Georges-Jacques Danton, filósofo e porta-voz dos revolucionários franceses que executaram o rei Luis XVI em janeiro de 1793. Depois
de três anos de atividade revolucionária, a Assembleia Legislativa julgou o rei, declarou-o culpado de crimes contra o Estado e mandou-o para a forca. Era apenas
a segunda vez na história da Europa que um povo mandava seu monarca para a morte: a primeira vez havia acontecido quando o rei Carlos I (1600 - 1649) da Inglaterra
fora executado pelos Cabeças-Redondas de Oliver Cromwell (1599 -1658) [ver n" 36].
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Poucos meses após a morte de Luis XVI, a França se encontrava em guerra com a Grã-Bretanha, a Espanha, a Prússia e a Áustria. As chances de uma revolução sobreviver
a tal tumulto eram poucas, especialmente porque as legiões de oficiais do exército pré-revolucionário da França consistiam inteiramente de membros da nobreza, que
agora estavam excluídos do novo exercito de cidadãos.
Lucien Carnot apareceu para dar à França a liderança de qUe precisava. Determinado a salvar a revolução da extinção nas mãos das monarquias da Europa, ele declarou
estado de emergência nacional e criou a chamada Levée en Masse, em que todos os homens fisicamente capazes foram convocados para servir à nação. Jovens lutavam nos
campos de batalha, homens de meia-idade faziam armas nas fábricas e os mais velhos tinham de tocar sinos nas praças das cidades e gritar slogans patrióticos como
"Vive Ia Republiquei"
Em 1793, Carnot conseguiu mobilizar oitocentos mil franceses e organizá-los em um exército. Era uma força de tamanho inédito; nem mesmo os exércitos de Luis
XIV, um século antes, jamais haviam passado de quatrocentos mil homens. Com entusiasmo revolucionário e novas táticas de batalha (como a reprodução do estilo de
lutar dos índios norte-americanos), os franceses começaram a derrotar seus inimigos mais "profissionais" em uma batalha após a outra. No início de 1 794, a França
já havia empurrado os invasores para fora das regiões mais ao leste do país. No mesmo ano, um jovem coronel chamado Na-poleão Bonaparte (1769 - 1821) mostrou sua
destreza no uso da artilharia quando forçou a frota britânica a pôr fim à sua ocupação do porto mediterrâneo francês de Toulon.
O Comité de Segurança, que havia organizado a Levée en Masse, foi substituído pelo governo do Diretório em 1795. Os novos governantes da França enviaram exércitos
ainda maiores, que não apenas expulsaram os inimigos, mas que também começaram a ganhar vastos territórios da Suíça, da Itália, do Sacro Império Romano e dos Países
Baixos. Em 1798, os exércitos da República Francesa já haviam conquistado tudo o que Luis XIV ambicionara: "as fronteiras naturais da França."
114

47
BATALHA DO NÍLO
(1798)
Antoine-Jean Gros. folha das Pirâmides, 1810. Arquivo da editora.

No verão de 1798, o general francês Napoleão Bonaparte (1769 - 1821) navegou de Toulon em direção a Malta e depois ao Egito. Ele pretendia conquistar uma parte do
Oriente Médio e estabelecer um império na tradição de Alexandre, o Grande (356 - 323 a.C).
A frota francesa levou Napoleão em segurança a Alexandria, no Egito. Depois de desembarcar, os franceses lutaram e venceram a Batalha das Pirâmides, que acabou com
o poder dos sultões mamelucos no Egito. Entretanto, Napoleão havia esquecido do longo braço da marinha britânica e de seu proeminente almirante, Horatio Nelson (1758
- 1805).
Nelson não conseguiu alcançar a frota francesa antes do desembarque do exército de Napoleão. Ele procurou incansavelmente os navios franceses e, na tarde de
lu de agosto, encontrou a frota de 13 navios e quatro fragatas ancorada na baía de Abukir.
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O almirante francês François-Paul Brueys estava em uma posiçã bem abrigada. Seus navios estavam firmemente ancorados uns aos o tros, com suas melhores armas
e atiradores apontando para o mar A criar esse tipo de formação defensiva, Brueys estava, na verdade copiando um antigo almirante britânico, Sir Samuel Hood. Nelson
que havia servido sob o comando de Hood no Caribe, conhecia tanto os pontos fortes quanto as fraquezas da posição francesa. Decidiu correr um grande risco e atacar
assim que os avistou, ao invés de esperar pela manhã seguinte.
A frota britânica partiu em direção ao inimigo, mas em vez de atirar, fez uma manobra que colocou diversos navios em torno dos franceses. Em meia hora, metade
da frota britânica estava a sotavento (lado voltado para a terra) dos navios franceses, que estavam com-pletamente desprotegidos. Brueys não havia aberto os canhões
nas laterais voltadas para a costa.
A Batalha do Nilo foi uma vitória completa para Nelson e um desastre para o moral da marinha francesa. Os franceses lutaram com ímpeto, apesar da situação desanimadora,
e a lista de vítimas crescia à medida que a noite avançava. Brueys foi morto e sua nau capitânia, LOrient, se consumiu em chamas assombrosas quando seu arsenal de
pólvora explodiu. A meia-noite, a derrota fragorosa estava consumada. Os britânicos capturaram ou afundaram 12 navios de alto bordo (navios de guerra grandes o suficiente
para ficarem na linha de batalha) naquela noite e de três mil a quatro mil marinheiros franceses morreram vítimas de tiros de canhão, explosões ou afogamento.
A batalha deu à Grã-Bretanha controle total do mar Mediterrâneo. Napoleão voltou à França em 1799 e nunca mais tentou imitar os conquistadores do Oriente Médio
de dois mil anos atrás.
116

Tíl'.'
48
ITALHA DE IFALGAR (1805)
Denis Dighton. 1 francesa da batalha.

Em 1800, Napoleão Bonaparte (1769 - 1821) tornou-se Primeiro Cônsul da França após uma série de vitórias notáveis no norte da Itália e a campanha desastrosa no Egito,
que lhe custou um exército inteiro (ver n2 47).
Mas Napoleão não conseguia encontrar uma forma de atacar a Grã-Bretanha. A frota do almirante Horatio Nelson (1758 - 1805) sempre o impedia de conquistar a Inglaterra.
Em 1805, Napoleão decidiu aliar sua frota à da Espanha. Se pudesse ganhar o controle do Canal da Mancha, poderia atravessar a Inglaterra com seu exército e derrotar
o único país que lhe havia imposto resistência.
O almirante francês Pierre de Villeneuve conhecia bem as qualidades de Nelson e sua frota. Em setembro de 1805, por causa das repetidas ordens e provocações
sarcásticas de Napoleão, Villeneuve finalmente deixou
117

o porto espanhol de Cardiz com sua frota combinada formada por 36 navios de alto bordo.
Nelson levou rapidamente a frota britânica de 33 navios de alto bordo em direção ao sul, e as duas frotas se avistaram próximo à costa da Espanha. Nelson se
reuniu com seus capitães na noite anterior à batalha. Ele pretendia deixar de lado o plano de batalha comum -em que as duas frotas se emparelhavam navio a navio,
linha a linha -estratégia que praticamente garantiria um empate. Em vez disso, Nelson e seus capitães se aproximariam da frota franco-espanhola em duas linhas, vindo
em ângulos retos em relação ao inimigo. Quando as duas frotas se enfrentassem, Nelson acreditava que "nenhum capitão que coloque seus navios ao lado daqueles de
seu inimigo pode se sair mal". Villeneuve, perturbado devido à reputação de Nelson, não tinha nenhum plano de batalha definitivo, o que aumentava a sensação de desastre
iminente na frota franco-espanhola.
Em 21 de outubro de 1805, após enviar seu famoso sinal - "A Inglaterra espera que todos os homens cumpram seu dever" -, Nelson comandou as linhas britânicas
contra o inimigo. A frota aliada tinha preciosos trinta minutos para atirar nos navios britânicos que se aproximavam. Aquela meia-hora fez muitas vítimas entre os
britânicos, mas quando esses penetraram na linha franco-espanhola, revidaram com vantagem. Os atiradores britânicos, que tinham muito mais prática que seus oponentes,
fizeram grandes estragos nos navios franceses e espanhóis.
Nelson recebeu um tiro de um atirador francês quando andava pelo convés de sua nau capitânia, a Vitória. Quando lhe disseram que pelo menos 15 navios inimigos
haviam retirado suas bandeiras, ele retrucou que esperava que pelo menos vinte fizessem isso. Nelson morreu a bordo da Vitória.
Villeneuve foi levado como prisioneiro, assim como milhares de seus homens. O total de vítimas franco-espanholas chegou a 14 mil entre mortos, feridos e prisioneiros.
Foi um dia desastroso para a França, que acabou com o sonho de Napoleão de dominar as Ilhas Britânicas.

49
lATALHA DE ÍATERLOO (1815)
Lady Butler. .• Morris, 79 Regimento.

Após a derrota na Batalha de Trafal-gar (ver nu 48), Napoleão Bonaparte (1769 - 1821) voltou suas atenções para o continente europeu e travou uma série de batalhas,
derrotando completamente os prus-sianos e os austríacos em 1806. Depois, lutou contra a Rússia czarista, mas acabou
ficando amigo do czar Alexandre I (1777 -1825) e o convenceu a juntar-se a ele num boicote aos produtos da Grã-Bretanha.
Depois de muitas vitórias do duque de Wellington (1769 - 1852) sobre os franceses em Portugal e na Espanha, sentindo que seu controle do continente começava
a enfraquecer, Napoleão reuniu seiscentos mil homens e marchou para a Rússia determinado a depor o czar Alexandre, que havia fracassado completamente

118

119

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no boicote aos produtos ingleses. Mas a campanha na Rússia foi um erro absoluto: o exército de Napoleão foi vencido pela extensão do território russo, pela determinação
dos exércitos inimigos e pela ferocidade do inverno de 1812 a 1813.
Napoleão abdicou do trono de imperador em 1814 e foi exilado na ilha de Elba, no Mediterrâneo. Na primavera de 1815, escapou da ilha, seguiu para a França e
organizou um levante da população contra a monarquia restaurada dos Bourbon e o rei Luis XVIII (1755 -1824). Napoleão dizia estar satisfeito em ter o trono de volta
e que queria a paz, mas as outras potências da Europa não acreditaram. Uma coalizão de nações se formou contra ele e, em junho, Napoleão já lutava contra as tropas
britânicas do duque de Wellington e o exército prussiano do marechal Blucher.
Napoleão derrotou os prussianos em Ligny em 12 de junho e rumou para a cidade de Bruxelas. Encontrou o exército de Wellington, formado por tropas britânicas
e dinamarquesas no monte Saint Jean, que se estendia ao longo da estrada para Bruxelas. Na manhã de 18 de junho, Napoleão apresentou seu plano de batalha a seus
marechais. Ele pretendia fazer um ataque direto após duas horas de ataques de artilharia, para enfraquecer as defesas. Um dos marechais informou-o sobre a pontaria
certeira e a defesa acirrada das tropas britânicas, mas Napoleão começou a batalha.
Por diversas vezes, os franceses avançaram sobre o campo dividido e atacaram diferentes partes das linhas de Wellington. Eles fizeram considerável progresso
no flanco esquerdo, mas não conseguiam avançar contra o flanco direito, nem no centro. No meio da tarde, o marechal francês Michel Ney (1769 - 1815) liderou uma
série de ataques de cavalaria ousados contra os quadrados de artilharia e infantaria. Ney perdeu milhares de cavaleiros nos ataques. Se Napoleão tivesse enviado
sua reserva (a famosa Guarda Imperial), eles provavelmente teriam varrido os britânicos do campo.
No entanto, Napoleão avistou uma pequena nuvem de poeira se aproximando a sudeste e adivinhou corretamente serem os soldados

jssianos de Blucher que avançavam. Assim, hesitou em compro-jeter sua última reserva de homens. Quando finalmente enviou os améns de sua guarda, Wellington já havia
reformado suas linhas de jtalha. Enquanto a Guarda Imperial avançava por sobre um espinha-próximo ao topo do monte Saint Jean, os britânicos e holandeses yantaram-se
de suas trincheiras e dispararam rajadas diretamente fileiras dos veteranos de Napoleão. Homens que haviam vencido , batalhas de Marengo, Austerlitz, Jema, Auerstadt
e Borodino deram sia-volta e correram quando os tiros começaram a desbastar suas leiras. Nesse momento, Wellington levantou-se nos estribos de seu avalo e abanou
seu chapéu; era o sinal para um avanço geral dos bri-licos morro abaixo.
O exército francês desapareceu na noite, com perdas de 25 mil jmens e oito mil levados como prisioneiros. Os britânicos, com 15 mortos e feridos, haviam lutado sua
batalha final contra Napo-5o, que logo depois foi enviado para a ilha de Santa Helena, no ocea-¦ Atlântico. Lá, passou o resto da vida escrevendo suas memórias.
íando morreu, terminava uma era em que um único homem havia levantado e presidido o continente europeu.

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50
ÍUERRA DE ¦PENDÊNCIA
>o PERU
1820 - 1825)
ulin Guérin. Simón Bolívar, óleo sobre tela.

A revolução que libertou o Peru do domínio espanhol foi, na verdade, instigada por forças externas. Desde a conquista de Francisco Pizarro (1470 - 1541), em 1532,
o Peru era o baluarte da autoridade espanhola no Novo Mundo. Lar das frotas do tesouro espanholas e afastado do mundo exterior, o Peru permaneceu submisso à Espanha
por mais tempo que alguns de seus vizinhos sul-americanos.
José de San Martin (1778 - 1850), argentino que havia libertado o Chile do domínio espanhol, partiu de navio com um exército de cinco mil argentinos e chilenos,
que desembarcaram em Pisco, no Peru, em 1820. As tropas de San Martin acamparam em Huacho e lá se juntaram a eles muitos recrutas peruanos; a chegada dos soldados
havia incentivado o apoio à revolução. O vice-rei espanhol fugiu da capital Lima para as montanhas Sierra, onde reuniu suas forças. Os cidadãos de

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II1:

Lima abriram os portões a San Martin em julho e, em 28 de julho de 1821, ele proclamou a independência do Peru. Sabendo que precisa va de aliados, San Martin apelou
ao patriota e revolucionário colo biano Simón Bolívar (1783 - 1830). Os dois se encontraram e Guayaquil de 26 para 27 de julho e San Martin entregou o control
do movimento ao colombiano. Em 1822, San Martin voltou para a A gentina, deixando seu exército no Peru.
Na ausência de San Martin, o vice-rei do Peru fortaleceu suas tropas e se preparou para retomar Lima. Bolívar e seu tenente António José de Sucre chegaram ao
Peru em 1823 com um pequeno exército de colombianos e venezuelanos. Em 6 de agosto de 1824, Bolívar e Sucre derrotaram uma armada monarquista na Batalha de Junin.
Para completar o sucesso revolucionário, em 9 de dezembro de 1824, Sucre comandou seis mil homens na Batalha de Ayacucho, na qual quase todo o exército espanhol
de nove mil homens foi capturado. Os enviados espanhóis logo concordaram em remover todas as tropas do Peru. No Alto Peru, revolucionários derrotaram os quatro mil
homens das tropas monarquistas que restaram, acabando com a guerra. Sucre havia feito um acordo prévio com os líderes do Alto Peru para criar dois países separados;
para acalmar Bolívar, que queria um só país, batizou o Alto Peru de Bolívia. Sucre tornou-se o primeiro presidente da Bolívia, um dos dois únicos países da América
do Sul sem acesso ao mar.

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(ERRA DA ÍPENDÊNCIA
MÉXICO 121 - 1823}
1 general António López de Santa Anna, ante a campanha contra os Estados Unidos.

Sentindo a forte pisada das botas espanholas desde os tempos de Hernán Cortês (1485 - 1547) [ver nu 30], os povos do México - peninsulares, crioulos, mestiços e
indígenas - ansiavam pela liberdade. A oportunidade de ganhar sua independência veio com o tumulto causado pelas guerras napoleônicas em toda a Europa e na Espanha,
em particular.
O trono da Espanha foi restituído ao rei Ferdinando VII após o impeachment de Napoleão Bona-parte (1769-1821), mas a monarquia espanhola enfraquecera-se bastante
com seu exílio de Madri. Vendo a falta de autoridade central na Espanha, os mexicanos começaram a buscar sua independência e forças rebeldes se formaram. Augustín
de Iturbide ganhou o comando de 2.500 soldados espanhóis para encontrar e derrotar os guerrilheiros liderados por Vicente Guerrero. Os dois homens se

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enfrentaram em batalhas menores, mas depois juntaram forças e lançaram o Plano de Iguala, clamando por uma monarquia mexicana independente e igualdade racial para
todos os mexicanos. Essa segunda cláusula atraiu a atenção de milhares de mexicanos e de outros lideres rebeldes. A maioria do exército regular da Espanha começou
a desertar sob pressão e o vice-rei Juan (TDonoju assinou o Tratado de Córdoba com Iturbide em 1821, pondo fim à regência espanhola e estabelecendo a independência
mexicana. Depois de se ver proclamado imperador do México por seus próprios soldados, Iturbide coroou a si próprio em 19 de maio de 1822, criando o primeiro Império
do México.
O novo império não durou. Iturbide encontrou dificuldades para eoletar impostos, já que um pequeno batalhão espanhol ainda controlava a fortaleza de San Juan
de Ulloa, fora de Veraeruz. Após enviar uma legião de soldados sob o comando do general António Lopez de Santa Anna (1795 - 1876) para capturar a fortaleza, Iturbide
logo ficou sabendo que Santa Anna havia reivindicado o comando de todo o exército e declarado uma república mexicana. Em fevereiro de 1823, Santa Anna e o general
Guadalupe Victoria lançaram o Plano de Casa Mata, pedindo uma nova constituição e governo. O exército mexicano parecia estar a favor do plano e Iturbide abdicou
do trono cm março de 1823. A primeira república do México logo se formou, com Guadalupe Victoria como primeiro presidente.

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ÍUERRA DA ¦PENDÊNCIA >A GRÉCIA
1821 -1832)
Cena da Guerra de
Independência da Grécia.
onalpinakothek, Atenas.

The mountains look on Marathon,
And Marathon looks on the sea;
And musing there an hour alone,
I dreanied that Greece might still be free.*
!*-
Essas palavras do poeta Lord Byron, escritas em 1818, ilustram o anseio de muitos intelectuais europeus de libertar a Grécia do Império Otomano, que controlava
Atenas, Maratona e todo o país desde 1456. Não era um desejo infundado, pois existiam dois movimentos de resistência crescendo dentro da própria
Grécia. Sociedades nacionalistas como a FilíJií Etaireía ("Sociedade de Amigos") empolgavam os intelectuais

* As montanhas olham para Maratona / E Maratona olha para o mar / E refletindo sozinho por uma hora / Sonhei que a Grécia poderia ser finalmente livre. (N. do E.)

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gregos, enquanto os Kleptos, povo das montanhas, planejavam guerrilhas contra os turcos.
A revolução grega começou em 1821 e obteve sucessos logo de início, o que convenceu os patriotas a declarar a independência de seu país no Epidauro, em 13 de
janeiro de 1822. Os turcos tentaram capturar a fortaleza de Missolongi, na entrada para o golfo de Corinto, mas não conseguiram e bateram em retirada. Exultantes,
os gregos tomaram Trípolí e Atenas em 1822. Fizeram, então, uma pausa para estabelecer um governo civil; durante essa interrupção, o sultão otomano pediu ajuda ao
paxá do Egito. O paxá enviou seu filho Ibrahim com tropas egípcias, que capturaram Missolongi, em 1826, e Atenas, em 1827, e recapturaram a Morea. Parecia que os
esforços dos gregos não iriam triunfar contra o peso que representava a união do Império Otomano e do Egito.
O espírito do Romantismo e dos ideais de revolução, que permeava a Europa desde o início da Revolução Francesa, induziu os líderes da Grã-Bretanha, da França
e da Rússia a assinarem juntos um protocolo pedindo que o Egito retirasse suas tropas. Ao ver que tanto Constantinopla quanto o Egito se recusaram a fazê-lo, frotas
das três nações navegaram para o Mediterrâneo e derrotaram a frota turca na Batalha de Navarino, em 20 de outubro de 1827. Para enfraquecer ainda mais a determinação
do sultão, uma guerra russo-turca eclodiu em 1828. Os turcos acabaram aceitando o inevitável. O Tratado de Adrianópolis de 1829 reconheceu a autonomia da Grécia
e o Tratado de Londres de 1832 garantiu a independência do país que estivera sob o controle otomano durante 376 anos.

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ÍUERRA DA JSPLATINA 1825-1828)
Ta da Cisplatina: combate naval de Lara-Quilmes \- em30dejulhode1826. Litografia feita a partir de emo de Gaston Roullet.


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Em 1821, o Brasil anexou a Banda Oriental do Uruguai e passou a chamar o território de Província Cisplatina. Localizada na entrada do estuário do rio Prata, a região
era estratégica tanto para os brasileiros quanto para os argentinos, pois garantia o controle da navegação e do comércio da bacia Platina. A população da região,
no entanto, não aceitou o domínio brasileiro. Incentivados pelos argentinos, que também queriam o controle da região, os uruguaios se rebelaram. Com o apoio do governo
de Buenos Aires, tropas uruguaias lideradas por Juan António Lavalleja e Frutuoso Rivera desembarcaram na Cisplatina e marcharam para Montevidéu. Lá, Rivera declarou
a independência do Uruguai em 1825.

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Ao saber do movimento, o imperador Dom Pedro I (1798 - 1834) enviou uma esquadra para bloquear o rio da Prata. Em represália, a Argentina atacou o sul do Brasil.
Para o Brasil, que enfrentava inúmeros problemas internamente, uma guerra significava gastos com os quais não podia arcar. Além disso, o estado das forças armadas
do país era decadente. Não havia transporte militar suficiente, a cavalaria estava em desordem e os soldos sempre atrasados. Mas D. Pedro I insistia em continuar
a guerra. Para resolver o problema dos soldados contratou mercenários da Europa, que, em sua maioria, não tinham treinamento militar.
Além desses problemas, o Brasil enfrentava oposição europeia. Inglaterra e França estavam preocupadas com o bloqueio e a guerra, que causariam problemas a Buenos
Aires e a Montevidéu, seus dois principais compradores na América do Sul.
Em 1827, as tropas de D. Pedro I foram derrotadas na Batalha do Passo do Rosário. O conflito se estendeu até 1828, quando a intervenção diplomática da Inglaterra
conseguiu fazer com que Brasil e Argentina reconhecessem a independência do Uruguai. A derrota representou um grande golpe ao imperador brasileiro e contribuiu para
as crises que se seguiram no país. Além disso, os outros países da América Latina passaram a olhar o Brasil com desconfiança, temendo sua política de expansão externa.


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54
"ONQUISTA ;RANCESA
ARGÉLIA
1830-1847)
Rei Carlos X.

Em 1830, muitos franceses estavam entediados com o governo insípido do rei Carlos X (1757 - 1836) e alguns até sentiam saudades dos tempos de Napoleão Bonaparte
(1769 - 1821), quando a França era respeitada e temida por sua competência militar. Ciente dessa insatisfação, Carlos enviou 37 mil soldados ao norte da África em
junho de 1830; as tropas capturaram a cidade de Argel em 5 de julho.
Essa aventura militar não salvou a reputação, nem o trono de Carlos: ele foi deposto no mesmo mês pelos parisienses, que proclamaram seu primo, Luis Felipe (1773
- 1850), da Casa de Orleans, "Rei dos Franceses". O novo rei prosseguiu com a ação na Argélia e, em 9 de março de 1831, assinou uma determinação que criava a Legião
Estrangeira, desde então conhecida pelo mundo como Legião Estrangeira Francesa.
Com quatro vezes o tamanho da França, a Argélia tinha um longo histórico

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de conflitos tribais. Um líder notável surgiu para desafiar a invasão francesa. Abd el-Kader (1807? - 1883), líder muçulmano e emir de Mascara, liderou argelianos
de muitas tribos diferentes em uma guerra de perseguição, de 1832 a 1834, contra tropas francesas em Oran e Mostaganem. Em 1834, os franceses assinaram o Tratado
de Desmichels, que reconhecia a posição de el-Kader como emir e lh dava o controle de regiões do interior de Oran.
A contínua expansão da França a partir da costa levou a uma segunda guerra, de 1835 a 1837, durante a qual o exército regular da França e a Legião Estrangeira
lutaram muitas batalhas contra os homens de el-Kader. O Tratado de Tafna pôs fim a essa segunda guerra e deu o controle da maior parte do interior a el-Kader; os
franceses ficaram apenas com alguns portos na costa da África do Norte.
Em dezembro de 1840, o marechal Thomas R. Bugeaud chegou como novo comandante francês na Argélia. Usando novas táticas de batalha, como o emprego de "colunas
voadoras" de tropas levemente equipadas, ele empurrou os homens de el-Kader para o Marrocos. O persistente emir logo convocou os marroquinos como aliados e usou
homens da cavalaria para conduzir ataques-surpresa incessantes contra os franceses. O confronto entre Bugeaud e el-Kader ocorreu na Batalha de Isly, no leste do
Marrocos, em 14 de agosto de 1844. Seis mil soldados de infantaria franceses e 1.500 de cavalaria enfrentaram 45 mil argelianos em um calor que chegou a sessenta
graus centígrados. Os franceses obtiveram uma vitória decisiva e el-Kader recuou para o Marrocos com apenas um punhado de homens. Uma série de duros combates se
seguiu à batalha de Isly e, em 1847, el-Kader se rendeu com seus últimos seguidores ao general francês Christophe Lamoricière.
Numerosos combates importantes ocorreram após a rendição de el-Kader, mas o espírito da resistência havia desaparecido.

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ÍUERRA DOS tRAPOS OU
(EVOLUÇÃO tROUPILHA (1835 - 1845}
Washt Rodrigues. Batalha dos Farrapos. ura Municipal de São Paulo.

A região sul do Brasil sempre se sentira de certa forma desprezada pelo governo de Portugal; a Coroa preferia explorar os produtos tropicais mais abundantes em outras
regiões do país e que podiam ser exportados. A insatisfação continuou no governo de D. Pedro I (1798 - 1834). O charque, produto principal do sul, era destinado
sobretudo ao mercado nacional, para consumo dos escravos. Os char-queadores sulinos - que concorriam com Argentina e Uruguai, cujo charque chegava mais barato ao
mercado brasileiro - queriam que o governo imperial adotasse uma política prote-cionista, em vez dos altos impostos que cobrava deles. Além disso, por ser estado
de fronteira, a província de São Pedro (atual Rio Grande do Sul) estava sempre em alerta contra ataques e não achava que era compensada justamente por esse papel
tão essencial na proteção do país.

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Samuel Willard Crompton
Em 1834, António Rodrigues Fernandes Braga foi nomeado para presidir a província; logo que assumiu, aumentou os impostos e acusou de separatistas os fazendeiros
rio-grandenses. O descontentamento cresceu entre fazendeiros e militares. Os "farrapos" ou "farroupilhas", liberais partidários do regime federalista, levantaram-se
contra o governo central defendendo maior autonomia para as províncias do sul. Em 21 de setembro de 1835, liderados pelo deputado e coronel Bento Gonçalves da Silva
(1788 - 1849), os rebeldes tomaram Porto Alegre, destituindo Fernandes Braga.
Em 10 de setembro de 1836, as forças do farroupilha António de Souza Neto (1803 - 1866) obtiveram uma vitória nos campos do Seival, entre Pelotas e Bagé, contra
as forças do legalista João da Silva Tavares. Os rebeldes proclamaram a República do Piratini, com Bento Gonçalves como presidente. Em seguida, no entanto, na Batalha
do Fanfa, Bento Gonçalves foi preso e depois enviado para a Bahia, e Porto Alegre foi retomado.
Bento Gonçalves conseguiu fugir da Bahia em abril de 1837; seguiu para Buenos Aires e de lá voltou para o Rio Grande do Sul, assumindo novamente o comando dos
rebeldes. Em 1839, liderados pelo italiano Giuseppe Garibaldi (1807 - 1882), aventureiro e entusiasta dos movimentos de independência, os farrapos chegaram a Laguna,
em Santa Catarina, onde proclamaram a República Juliana. Lá, Garibaldi conheceu Ana Maria de Jesus Ribeiro (1821 - 1849), mais tarde chamada de Anita Garibaldi,
que se tornou heroína brasileira e depois lutou a seu lado pela unificação italiana (ver n2 62).
Após essas conquistas, o movimento começou a se enfraquecer, com divisões de opiniões entre os próprios rebeldes. Em poucos meses as forças imperiais retomaram
Laguna. Em 1840, iniciou-se o governo de D. Pedro II (1825 - 1891) e as forças imperiais, após receberem reforços em homens e armas, avançaram com mais consistência
contra os farrapos. Em 1842, Luis Alves de Lima e Silva (ig03 _ 1880), futuro duque de Caxias, começou a negociar com Davi Canabarro (1796 - 1867), que substituíra
Bento Gonçalves.

100 Guerras que mudaram a História do Mundo
Abatidos com as discórdias e derrotas, os farroupilhas aceitaram um 'cordo - a Paz do Ponche Verde. O acordo foi benéfico para os far-apos; concedia anistia aos
rebeldes e o direito de indicarem o presidente de sua província, além de prever a taxação do charque da rgentina e do Uruguai.
Apesar de não terem conseguido fundar a federação que queriam, > movimento aumentou o prestígio e o poder dos estancieiros do Sul. maneira nobre como conduziu
as negociações de paz garantiu a Lima e Silva a presidência da província.

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PRIMEIRA GUERRA DO ÓPIO
(1839- 1842)
estacamento militar inglês sfila, em 1841, durante a erra do Ópio, em Cantão.

A guerra de três anos entre Grã-Bretanha e China teve como causas conflitos relacionados ao ópio, aos direitos de comércio e à sociedade tradicional e fechada da
China imperial. Tanto o ópio medicinal quanto o narcótico estavam sendo produzidos em grandes quantidades na Indonésia e índia. Comerciantes britânicos
na índia faziam fortuna transportando a droga para ser vendida na China; a quantidade de baús de ópio contrabandeada para a China aumentou de 4.244 em 1821 para
40.200 em 1839.
A dinastia mandchu, que governou a China de 1644 a 1911, declarou ilegal a importação de ópio e enviou o comissário imperial Lin Tse-Hsu ao Cantão para fazer
cumprir o decreto. Em 30 de março de 1839, Tse-Hsu obrigou os mercadores estrangeiros que moravam no Cantão a abrir seus galpões; seus agentes, então, jogaram

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no no vinte mil contêineres cheios de ópio valendo o equivalente a seis milhões de dólares. Como o Cantão era o único porto chinês em qUe os estrangeiros tinham
permissão de negociar, parecia ser possível que os chineses conseguissem pôr fim à importação de ópio em seu país
Sempre sensível aos interesses de seus mercadores, o governo britânico enviou uma força naval à costa da China; o tráfico de ópi0 da índia para a China era valioso
demais para ser deixado de lado. Os navios ingleses declararam um bloqueio de todos os portos chineses e, em maio de 1841, uma força britânica dirigiu-se para o
rio Pérola e capturou o próprio Cantão. As cidades chinesas de Amoy e Ningpo caíram logo em seguida, mas os ataques britânicos logo diminuíram de intensidade devido
à falta de suprimentos, às doenças e ao clima sujeito a tufões.
Na primavera de 1842, dois novos e vigorosos comandantes britânicos lideraram a captura de Xangai e Xinjiang. Em meados de 1842, soldados britânicos liderados
pelo general Hugh Gough e unidades navais lideradas pelo almirante William Parker já haviam tomado o ponto onde o Grande Canal se juntava ao rio Yang-tse e estavam
em posição de ameaçar o suprimento de grãos até mesmo de Pequim. Os líderes mandchus não tinham outra escolha senão negociar e, em 29 de agosto de 1842, a China
concordou com o Tratado de Nanquim. Segundo seus termos, cinco portos chineses - Cantão, Amoy, Foochow, Ningpo e Xangai - seriam abertos aos mercadores britânicos.
O porto de Hong Kong foi cedido à Grã-Bretanha pela China, as relações diplomáticas teriam de ser conduzidas no futuro com base na igualdade e a China deveria pagar
uma multa equivalente a vinte milhões de dólares pela destruição do ópio no porto e pelos custos da guerra. Ao Tratado de Nanquim seguiram-se outros tratados de
1844 que concediam direitos comerciais semelhantes aos mercadores franceses e americanos. A dinastia mandchu sofreu uma séria perda de prestígio e a opinião da China
sobre si própria como o Império d° Meio, centro de toda criação, ficou prejudicada com as evidências de que a máquina militar europeia era muito mais eficiente que
a chinesa-

\u
57
PRIMEIRA .GUERRA AFEGÃ
19 - 1842)
Dost Mohammed.

Ao mesmo tempo em que se envolvia na Primeira Guerra do Ópio (ver na 56), a Grã-Bretanha também jogava com a Rússia czarista o "Grande Jogo", competição para dominar
a índia e a Ásia Central. O Afeganistão, instalado diretamente entre as forças russas e britânicas, sentia-se, com razão, ameaçado pelas duas potências e procurava
manter sua independência - embora deva-se notar que o país era formado por facções tribais, não sendo uma nação-estado no sentido europeu.
A família Sadozai havia governado o Afeganistão de 1747 a 1826; mas nos últimos anos, Dost Mohammed, do clã Barotzai, ocupava o trono como emir do Afeganistão.
Quando os sikhs da índia começaram a ameaçar a fronteira afegã numa tentativa de conquistar mais territórios, Dost Mohammed pediu que os britânicos interferissem.
Como não recebeu deles nenhum apoio, voltou-se para os russos com

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Samuel WHiaru

o mesmo pedido. Ao saber disso, os líderes britânicos na índia enviaram um exército em direção ao norte em 1839. Os britânicos capturaram Kandahar e Ghanzi e Dost
Mohammed fugiu da capital afegã, Kabul. Os britânicos entraram em Kabul e colocaram o Xá Sooja, da família Sadozai, no trono como novo emir. Eles não haviam percebido
que, para os afegãos, o emir era apenas um chefe dentre outros chefes de clãs, longe de ser o senhor absoluto. Atacados por guerrilhas, os britânicos retiraram-se
de Kabul em 6 de janeiro de 1842, com uma força de 4.500 soldados britânicos e bengaleses, acompanhados por 12.500 seguidores.
Quase imediatamente após deixarem Kabul em sua marcha para Jalalabad, os britânicos e seus aliados foram atacados por milhares de homens das tribos do Afeganistão,
que usaram a vantagem do terreno acidentado para dominá-los. A retirada transformou-se em um tumulto total, e até 13 de janeiro, todo o exército e sua tropa de seguidores
haviam sido massacrados. O único sobrevivente foi um cirurgião britânico, William Brydon, que fora levado por seu exausto pónei a Jalalabad, onde deu a notícia da
guarnição que havia sido dizimada.
Os britânicos enviaram uma força punitiva a Kabul em 15 de setembro de 1842. O general britânico George Pollock ordenou que a fortaleza e o grande bazar da cidade
fossem queimados e depois partiu com seu exército para a índia. O golpe no moral inglês foi pesado e os nativos das tribos do Afeganistão, assim como de outros países
menos desenvolvidos, passaram a ter esperança de que as forças imperialistas britânicas não fossem de fato invencíveis.

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ÍATALHA DE '.HAPULTEPEC
(1847)
i norte-americanas durante Batalha de Cerro Gordo.

A guerra entre os Estados Unidos e o México (1846 - 1848) foi causada pela questão do Texas: estaria o Texas nas mãos do México, seria uma nação independente, ou
pertenceria aos Estados Unidos? Quando os Estados Unidos anexaram a região em 1845, o conflito com o México tornou-se inevitável.
A guerra começou favoravelmente para os americanos, em abril de 1846. Embora o exército mexicano fosse maior em número, não era tão bem treinado quanto os oficiais
americanos de West Point. A disparidade
entre os dois lados em termos de artilharia também era considerável. As primeiras vitórias dos americanos não convenceram o México a reivindicar a paz e, portanto,
o general americano Winfield Scott (1787 -1866) recebeu ordens de desembarcar em Vera Cruz e capturar a própria Cidade do México.

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Samuel Willard Crompton
Scott desembarcou com sucesso em Vera Cruz e começou a marchar em direção ao interior, seguindo praticamente a mesma rota que Hernán Cortês havia tomado 226
anos antes. Os americanos provaram que conseguiam viver da terra e rechaçaram numerosos ataques mexicanos. Chegaram aos arredores da Cidade do México em Ia de setembro
de 1847.
Para capturar a cidade, Scott tinha primeiro de controlar a fortaleza de Chapultepec, localizada em uma colina de mesmo nome. Antigo lar dos vice-reis do México,
desde 1833 era o colégio militar mexicano, equivalente a West Point. O coronel Nicolas Bravo comandava o batalhão de mil homens e os cadetes do colégio.
Scott tinha sete mil homens, enquanto o general Santa Anna comandava 16 mil homens dentro da cidade e em seus arredores. Na manhã de 12 de setembro, os americanos
iniciaram um bombardeio feroz a Chapultepec. O fogo continuou por todo o dia, sacudindo os muros do forte e fazendo vítimas entre os mexicanos que estavam do lado
de dentro. O coronel Bravo mandou mensagens a Santa Anna pedindo reforços, mas este respondeu que não tinha homens que pudesse dispensar.
Às oito horas da manhã de 13 de setembro, os americanos atacaram a fortaleza em dois lados. As tropas do general John Quitman encontraram uma coluna de mexicanos
do lado de fora do forte e a batalha impediu que Quitman participasse do ataque. Os homens do general Gideon Pillow seguiram diretamente para a fortaleza. Atravessaram
o muro do sul antes que os mexicanos pudessem explodir suas minas e depois lutaram ferozmente para conquistar as muralhas internas do forte. O batalhão de Bravo
ficou tão prejudicado que os mexicanos não conseguiram oferecer uma forte resistência. Os 51 cadetes da academia lutaram até a morte e ficaram conhecidos na história
do México como os "Ninos Heroes".
A bandeira americana foi fincada em Chapultepec e outras ações longo do dia dispersaram as forças mexicanas que estavam em
ao
frente à cidade. Santa Anna se desanimou com a queda de Chapultepec

100 Guerras que mudaram a História do Mundo
m 14 de setembro, ele e suas tropas deixaram a Cidade do México.
cott e o exército americano logo ocuparam a cidade; era a primeira
ez que os americanos entravam à força em uma capital de outra na-|ão. A batalha de Chapultepec garantiu aos Estados Unidos a con-|uista do que hoje é o sudoeste
americano (Arizona, Novo México, jolorado e Califórnia) e transformou a nação em uma verdadeira po-
ência "continental".

fe:

59
REBELIÃO TAIPING
(1850)
Imperador Xianfeng, da dinastia Qing, de 1850 a 1861.

() governo mandchu da China mal h.ixi.i se recuperado dos efeitos da Pri-iiii-ir.i Guerra do Ópio (ver na 56) quando si- \ iii diante de uma agitação interna em
Is^d O governo imperial de Pequim en-Mnii unidades do exército chinês para dissolver uma nova seita religiosa que se baseava em parte na doutrina protestante. Liderados
pelo estudioso Hung Hischuan, os seguidores do novo movimento derrotaram as forças armadas enviadas para enfrentá-los, e o que havia começado como uma revolta iconoclasta
se tornou uma guerra civil de grandes proporções.
Reunindo grande número de seguidores, Hischuan assolou as defesas do governo nas províncias do rio Yang-tse. Com falta de suprimentos militares, os rebeldes
capturaram um arsenal do governo em Yochow, prosseguiram pelo vale do Yang-tse e capturaram Nanquim, onde Hisch'uan proclamou sua própria dinastia,
a Taiping, ou "Grande Paz".

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Os rebeldes Taiping anunciaram sua intenção de rejeitar a herança confucionista da China e instituir reformas agrárias que iriam criar algo como uma sociedade comunal
(isto ocorreu apenas alguns anos depois de a palavra "comunista" ser usada pela primeira vez por Karl Marx no Manifesto Comunista). O governo mandchu a princípio
estava desamparado, mas quando os objetivos dos líderes rebeldes ficaram claros, a maioria dos burocratas e académicos da China - alarmados com a rejeição ao confucionismo
- voltou-se contra os insurgentes, que não conseguiram mais avançar para o norte depois de 1853. Seguiu-se um impasse de sete anos, com o governo mandchu retendo
o norte da China e os rebeldes Taiping controlando o sul.
Em 1860, quando a Segunda Guerra do Ópio (ver nu 61) se encaminhava para o fim, as potências europeias vitoriosas decidiram que era de seu interesse ajudar o
governo mandchu. Navios europeus patrulharam o mar do sul da China, impedindo movimentações dos rebeldes. Frederick Tovvnshend Ward (1831 - 1862), capitão americano
de Salem, formou e comandou um pequeno exército de quatro mil homens equipados com armas de estilo ocidental. Suas vitórias sobre os rebeldes fez com que seu grupo
fosse apelidado de "Exército Sempre Vitorioso". Após sua morte, foi substituído por um oficial britânico, Charles George "Chinês" Gordon. Os esforços de Ward e Gor-don
fizeram com que muitas das cidades cercadas por muros da costa sul da China se rendessem às forças do governo. Nanquim foi tomada de assalto em julho de 1864 e a
última resistência foi esmagada em 1865.
A guerra havia custado milhões de vidas aos chineses e grandes regiões da China estavam em ruínas. Ao lado da Primeira e da Segunda Guerra do Ópio, a Rebelião
Taiping demonstrou a fragilidade da dinastia mandchu e a vulnerabilidade da China imperial ante as influências externas, principalmente a das potências europeias.

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GUERRA DA CRIME ÍA
(1853-1856)
Tropas anglo-francesas
desembarcam em Kerc,
na Criméia oriental,
em maio de 1855.

Em 1853, uma guerra começou entre países localizados nos extremos da Europa, distantes quase 1.600 quilómetros uns dos outros. O czar Nicolau I (1 796 -1855) da
Rússia alegou que seu país tinha o direito de proteger a liberdade religiosa do cristãos ortodoxos que viviam nas fronteiras do Império Otomano. Os governantes
turcos de Constantinopla rejeitaram sua reivindicação e, então, tropas russas começaram a se movimentar para ocupar as províncias de Mol-dávia e
Wallachia, no lado oeste do mar Negro.
Os otomanos declararam guerra à Rússia, mas os russos fizeram a primeira movimentação militar, enviando sua frota contra os navios turcos em 30 de novembro de
1853. Os russos venceram a Batalha de Sinop e pareciam estar no caminho certo para ganhar territórios e outras concessões do enfermo Império Otomano, que, na época,
já era chamado de "o velho doente da Europa".

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Grã-Bretanha e França não queriam ver navios russos no Mediterrâneo, então enviaram uma força naval conjunta ao mar Negro, ordenando que os russos levassem seus
navios de volta ao porto. Quando os russos se recusaram a fazê-lo, a rainha Vitória (1819 - 1901) da Inglaterra e Napoleão III (1808 - 1873) da França declararam
guerra " Rússia. O czar Nicolau I esperava receber ajuda da Áustria ou da Prússia, mas os dois países permaneceram neutros, deixando a Rússia lutar sozinha.
Em setembro de 1854, uma força conjunta de tropas britânicas francesas, turcas e sardenhas desembarcou na Península da Criméia no sul da Rússia. Iniciaram um
cerco à cidade fortificada e base naval de Sevastopol que acabou durando um ano, de 28 de setembro de 1854 a 8 de setembro de 1855. Durante o cerco, franceses e
britânicos venceram a Batalha de Balaclava, imortalizada no poema de Alfred Tennyson, "A Carga da Brigada Ligeira". Os russos lutaram com grande coragem, mas seu
sistema de abastecimento - carroças de boi que saíam de Moscou arrastando suprimentos por centenas de quilómetros - não podia competir com o transporte feito por
mar pelos britânicos, franceses e seus aliados. Ao serem derrotados, os russos explodiram grandes áreas da fortaleza de Sevastopol e evacuaram a cidade. O Congresso
de Paris de 1856 estabeleceu os termos da paz: o Império Otomano manteria sua integridade territorial, a Rússia não desempenharia nenhum papel junto aos cristãos
ortodoxos em terras otomanas e o autogoverno da Moldávia e Wallachia estaria protegido.
A guerra viu o advento de importantes desenvolvimentos tecnológicos. Câmeras de jornalismo, telégrafo e navios com casco de aço foram usados pela primeira vez
em uma guerra. Florence Nightingale (1820 - 1910) serviu como enfermeira e, influenciada pelas terríveis condições hospitalares que presenciou, iniciou sua campanha
por melhorias no tratamento médico dado aos soldados.

¦CL1:
61
ÍEGUNDA
GUERRA DO ÓPIO
1856 - 1860)
! anglo-francesas ocupam
3de de Cantão, durante a
i Guerra do Ópio, 1857.

O dilema essencial que se apresentava à China Imperial era se ela deveria permitir a expansão dos privilégios comerciais que as nações ocidentais haviam conseguido
como resultado da Primeira Guerra do Ópio (ver nu 56). O governo mandchu da China sofria o ataque da Rebelião Taiping (ver na 59) dentro de seu próprio território;
ao mesmo tempo, diplomatas britânicos e franceses pressionavam a China para que se abrisse ainda mais ao contato com o ocidente. Em 1856, os chineses tomaram o Arrow,
navio pertencente à China que ostentava a bandeira da União Britânica e que estava envolvido no comércio ilegal de ópio. Usando esse incidente como pretexto, os
governos da Grã-Bretanha e da França enviaram uma força conjunta que tomou e ocupou a cidade portuária de Cantão, no sul da China, em 1857. A frota europeia
rumou, então,

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para o norte e capturou os fortes de Taku, próximo à cidade de Tientsin, controlando-os por pouco tempo.
tm resP°sta a essas ameaças e ao perigo constante que representava a Rebelião Taiping, o governo chinês assinou os Tratados de Tientsin com a Grã-Bretanha,
França, Rússia e Estados Unidos em junho de 1858. Segundo os tratados, a China abriria mais portos ao comércio externo, permitiria que diplomatas estrangeiros residissem
na cidade de Pequim e legalizaria a importação do ópio. Eram concessões humilhantes para um país tão orgulhoso quanto a China mandchu
Logo após a assinatura dos tratados, diplomatas estrangeiros foram impedidos de entrar em Pequim e uma força de invasão britânica foi massacrada pelos chineses
próximo a Tientsin. Os britânicos e franceses atacaram os fortes de Taku pela segunda vez, seguiram rio acima e capturaram Tientsin. Em 1860, os europeus derrotaram
um exército chinês fora de Pequim; o imperador chinês fugiu e, pela primeira vez segundo todos os historiadores chineses, exércitos estrangeiros entravam na capital.
Um grupo de enviados chineses, negociando em nome do imperador, finalizou quatro novos tratados com os europeus. Os chineses abriram mais portos ao comércio
externo e deram aos diplomatas britânicos, franceses, russos e americanos o direito de morarem em Pequim. A guerra basicamente abriu todo o império chinês à influência
do Ocidente; um ótimo negócio para o pressionado governo mandchu, que ao mesmo tempo lutava por sua sobrevivência contra a Rebelião Taiping, uma ameaça aos próprios
alicerces da China.

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ÍUERRA DA
DEPENDÊNCIA
ITALIANA
1859-1860}
i de Lagat. Em Calatafim,
a batalha decisiva
da unificação italiana.

A Itália não havia se unido politicamente desde os tempos do Império Romano. Em 1848, ainda estava dividida entre as regiões feudais do Reino da Sardenha, Ducado
de Milão, Estados Papais e Reino das Duas Sicílias. Naquela época, como agora, a região norte da Itália era mais próspera que o sul e o ímpeto pela união veio do
norte, onde dois homens diferentes clamavam pela unificação italiana: Ca-millo Benso, conde de Cavour(1810- 1861),e o aventureiro Giuseppe Garibaldi(1807- 1882).
Cavour, primeiro-ministro da Sardenha, conspirou com o imperador francês Napoleão III (1808 - 1873) para lutarem contra os austríacos, que haviam por tanto tempo
mantido um braço forte na política e negócios do norte da Itália. Na curta guerra que se seguiu, o armamento francês foi um fator decisivo, porém ambos os lados
sofreram perdas custosas. A Áustria

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foi exilada do norte da Itália e Cavour pôde relatar ao rei Victor Ern-manuel da Sardenha que a região estava disposta a seguir sua liderança.
Cavour era um nacionalista prático; ele ansiava por modernizar e industrializar seu país. Seu par improvável era Garibaldi, um nacionalista romântico que havia
passado a maior parte de sua vida lutando pela liberdade, seja na Itália ou nas Américas Central e do Sul O fracasso da Revolução de 1848 em trazer a unificação
italiana desmotivou Garibaldi, mas ele retornou à sua terra natal em 1859 e, no ano seguinte, levou seus famosos Camisas Vermelhas à ilha da Sicília.
Os mil voluntários de Garibaldi estavam mal organizados e mal armados, mas levavam com eles um espírito resoluto. Desembarcando na Sicília, conseguiram conquistar
a boa vontade da população local e, em seis semanas, derrotaram o exército de 25 mil homens dos governantes napolitanos. Atravessando a ponta da bota italiana, os
homens de Garibaldi começaram a rumar para o norte; no caminho, encontraram Cavour e o rei Victor Emmanuel, que haviam seguido para o sul para aproveitar o momento
propício criado com o sucesso de Garibaldi.
Ao encontrá-los na estrada ao sul de Nápoles, Garibaldi cedeu com elegância suas conquistas e um novo estado soberano ao rei. Recebendo pouco reconhecimento
por seus esforços, Garibaldi saiu do palco da história mundial no momento em que chegava ao auge de seu sucesso. Poucos outros exemplos de patriotismo abnegado podem
ser comparados ao de Garibaldi, e seu nome foi reverenciado pelos nacionalistas românticos do século XVIII. A Itália foi unificada em 1860.

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GUERRAS >os ÍNDIOS
IERICANOS
[1860-1890)
alha do rio Tamisa, em que Tecumseh morreu, 1813.

Em 1860, pouco antes do começo da Guerra Civil, pioneiros e colonizadores americanos haviam chegado às margens das Grandes Planícies. As paisagens de estados como
Montana, Dakota do Sul e do Norte, Colorado e Kansas praticamente não exibem rastros das comunidades indígenas que certa vez viveram e prosperaram no local. Tribos
como a cheyenne, sioux, apache, navajo e co-manche haviam desenvolvido uma boa relação com a terra e seus recursos. Usavam cavalos que chegaram até eles ainda selvagens
(descendentes dos cavalos trazidos para as Américas pelos conquistadores espanhóis) para cruzarem as grandes distâncias do oeste americano.
As guerras começaram tão logo os colonizadores invadiram os territórios dessas tribos. A Guerra dos Apaches e Navajos, de 1860 a 1865, aconteceu ao mesmo tempo
que a Guerra Civil, e a

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Guerra dos Sioux, de 1862 a 1864, mostrou a determinação dos sioux em lutar por suas terras no estado de Minnesota. A guerra Cheyenne e Apache, de 1864 a 1868, começou
depois que o exército americano destruiu o acampamento de inverno dos cheyennes. Tribos do Colorado ao Texas se levantaram contra os invasores. Três colunas do exército
americano foram enviadas em 1865, aniquilando um acampamento arapaho, e a guerra logo terminou.
A Guerra da Nuvem Vermelha, de 1866 a 1869, e a Guerra do Rio Vermelho, de 1874 a 1875, mostraram o poder de destruição do exército dos Estados Unidos. O herói
da Guerra Civil William Tecumseh Sherman (1820 - 1891) declarou guerra total às tribos do norte do Texas em 1874 e travou 14 batalhas contra elas. A maior parte
dos índios voltou às suas reservas até 1875. Quando os co-manches se renderam, quase não restavam índios livres nas planícies do sul.
A Guerra dos Sioux, de 1876 a 1877, foi provocada pela descoberta de ouro nas montanhas Negras de Dakota do Sul e pela corrida de colonizadores brancos para
aquela região. Tropas do exército eram comandadas pelos generais George Crook e Alfred H. Terry, mas foi a dizimação de um destacamento de homens liderados pelo
coronel George Armstrong Custer (1839 - 1876) que chamou a atenção do povo americano. A vitória indígena em Little Big Horn durou pouco. O chefe Crazy Horse (Cavalo
Louco) [1842 - 1877] se rendeu no ano seguinte e o chefe Sitting Buli (Touro Sentado) escapou para o Canadá.
A Guerra de Nez Pearce de 1877 foi outro obstáculo para os nativos americanos. Ao ver que não poderia derrotar o exército dos Estados Unidos, o chefe Joseph
liderou sua tribo em uma caminhada de 2.400 quilómetros pelo acidentado interior, tentando alcançar a segurança da fronteira canadense. Pegos a apenas sessenta quilómetros
do Canadá, o chefe Joseph e sua tribo se renderam em 5 de outubro de 1877.
A última guerra entre o exército dos Estados Unidos e os índios

americanos aconteceu em 1890, quando o poder das tribos já havia \ diminuído muito. Os sioux praticavam um ritual chamado Danças íFantasmas, que levava a visões,
transes e frenesi grupai. O governo Idos Estados Unidos decidiu que isso era perigoso e enviou a Sétima f/Cavalaria, que derrotou os sioux da reserva das Montanhas
Negras em í.Wounded Knee, Dakota do Sul, em 29 de dezembro de 1890.

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GUERRA
CIVIL MERICANA
(1861 - 1865)

Para o povo americano, os nomes de Robert E. Lee (1807 - 1870), Ulysses Simpson Grant (1822 - 1885) e Thomas J. Jackson (1824 - 1863) trazem à memória a paixão e
glória da Guerra Civil Americana, também conhecida como Guerra de Secessão.
A guerra começou em abril de 1861 quando soldados confederados abriram fogo

: í

Tropas da União tomam Richmond, capital da deraçao, no dia 03 de abril de 186'J Com essa batalha, pratn.ímente terminou a Ciurrra de Secessão.

ao Forte Sumter, no porto de Charleston, na Carolina do Sul. Os 11 estados confederados (do sul) logo se uniram para resistir às invasões subsequentes dos soldados
da União, formada pelos estados do norte e cujo comandante-chefe era o recém-eleito presidente Abraham Lincoln (1809 - 1865). A guerra aconteceu por causa de duas
questões principais: união ou secessão e escravidão ou liberdade.

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O norte tinha uma população mais numerosa, melhor capacidade industrial e uma porção maior da riqueza nacional. Os sulistas contavam com uma tradição militar
mais antiga e a importância do algodão para os países europeus como Grã-Bretanha e França; esperavam que esses países se aliassem a eles em sua proposta de se separarem
da União.
As primeiras batalhas foram, em geral, favoráveis aos confederados, que venceram a Batalha de Buli Run e defenderam a Virgínia de uma grande invasão unionista
na Batalha dos Sete Dias. O general da União Ulysses S. Grant capturou dois fortes essenciais dos confederados e lutou contra os sulistas até o empate na sangrenta
Batalha de Shiloh.
Sabendo que o norte iria prevalecer no final, simplesmente devido à superioridade numérica, o general confederado Robert E. Lee liderou duas invasões que resultaram
nas batalhas monumentais de Antietam, em 1862, e Gettysburg, em 1863. Antietam foi um empate sangrento: os Estados Confederados não conseguiram conquistar terras
do norte e os Estados da União não perseguiram o exército de Lee enquanto esse recuava. Uma semana depois, Lincoln publicou a Proclamação da Emancipação, libertando
todos os escravos de territórios ainda não conquistados pelo exército da União. A batalha em Gettysburg conteve o poder ofensivo do general Lee. O presidente Lincoln
trouxe o general Grant do oeste e ordenou que ele fosse atrás de Lee.
Após uma série de batalhas sangrentas no norte da Virgínia, Grant liderou um longo cerco às cidades gémeas de Richmond e Petersburg, na Virgínia, durante o inverno
de 1864 a 1865. Enquanto isso, o general William Tecumseh Sherman (1820 - 1891) levou os exércitos da União para o oeste até Atlanta e, então, cruzou o sul cumprindo
sua promessa de "fazer a Georgia uivar".
Lee tentou sair do cerco de Richmond e Petersburg em abril de 1865. Foi cercado pelos homens de Grant e se rendeu no Tribunal de Appomattox. O restante do exército
confederado se rendeu próximo a Durham, na Carolina do Norte, para o exército de Sherman.

O presidente Lincoln foi assassinado a bala por James Wilkes Booth, justamente quando a guerra se aproximava do fim. O conflito Hez dos Estados Unidos uma nação
verdadeiramente indivisível. Mais ! de seiscentos mil homens foram mortos ou feridos.

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ICUERRA DO PARAGUAI
(1864-1870)
brasileiros que faziam da bateria comandada Io coronel Mallet, 1866. Heca Nacional do Uruguai.

Desde sua independência, em 1811, o Paraguai vinha prosperando em todos os sentidos e se destacando na América Latina. O analfabetismo fora praticamente erradicado,
assim como a escravidão; fábricas de pólvora e armas e a indústria siderúrgica se desenvolveram; ampliaram-se as estradas de ferro e o sistema de telegrafia. Além
disso, o exército paraguaio era o mais bem treinado e equipado da América do Sul.
Em 1862, Francisco Solano López (1826 - 1870) assumiu a presidência do Paraguai e seu governo passou a incentivar a expansão territorial do país. O Paraguai
queria ter o mesmo acesso ao rio Prata que o Brasil, a Argentina e o Uruguai, podendo assim usar o oceano Atlântico para expandir suas atividades comerciais.
Solano López tentou primeiro uma solução diplomática com o Brasil, mas não obteve sucesso. Em 1864, o Brasil interveio

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no Uruguai, atacando o governo de Anastásio Aguirre, como havia atacado em 1851 o governo de Manuel Oribe, devido a problemas nas fronteiras gaúchas. Foi o estopim
para o presidente paraguaio Solano López, que apoiava Aguirre, rompeu as discussões diplomáticas e, em 11 de novembro de 1864, ordenou a captura do navio brasileiro
"Marquês de Olinda", que trafegava pelo rio Paraguai detendo passageiros e tripulantes. Em seguida, invadiu o Mato Grosso e o Rio Grande do Sul e, com seu exército
bem preparado, conseguiu vencer as primeiras batalhas.
Em Ia de maio de 1865, no entanto, Brasil, Argentina e Uruguai decidiram formar a Tríplice Aliança para lutar contra o Paraguai. 0 governo brasileiro anunciou
o alistamento dos "voluntários da pátria" - brasileiros das classes mais baixas e escravos atraídos pela promessa de alforria. A Aliança conseguiu reunir uma força
de 27 mil homens, dos quais 18 mil eram brasileiros. A primeira grande derrota paraguaia aconteceu na famosa e sangrenta Batalha do Riachuelo, em 11 de junho de
1865. As forças navais dos almirantes Tamandaré e Barroso, aliadas às forças argentinas, dizimaram a frota paraguaia. Em 18 de setembro, tropas paraguaias foram
derrotadas em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, rendendo-se ante o imperador Dom Pedro II.
A partir daí, o Paraguai passou para a defensiva, procurando se proteger em fortalezas localizadas em seus territórios. Em 1866, argentinos comandados pelo general
Bartolomeu Mitre invadiram o Paraguai. De julho a dezembro de 1868, o Brasil, liderado por Luis Alves de Lima e Silva (1803 - 1880), o duque de Caxias, e pelo marechal
Manuel Luís Osório, conseguiu sucessivas vitórias também em solo paraguaio, enfraquecendo ainda mais o já debilitado exército daquele país. Em janeiro de 1869, os
aliados entraram na capital Assunção, e Solano López se retirou para o norte do país. Em Ia de março de 1870, o presidente que resistia no exílio foi assassinado
em Cerro Corá, marcando o final da guerra.
Estima-se que o Paraguai tenha perdido de 1 5% a 20% (um terço, segundo algumas fontes) de sua população na guerra, entre mortos

nos combates e cidadãos dizimados pela fome e pelas doenças que Issolaram o país. Para o Brasil, a guerra deu grande prestígio ao exército, que passou a ter mais
influência política, além de se envolver as questões abolicionistas. Menos de duas décadas depois, teria papel cisivo na proclamação da República, determinando o
fim da monarquia.

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IS-1.

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GUERRA AUSTRO-'RUSSIANA
(1866)
Bherme I, rei da Prússia de Si a 1871 e imperador da "temanha de 1871 a 1888.

Em 1866, a Alemanha ainda desunida enfrentava uma questão crucial: quem dominaria o futuro da Europa central, Áustria ou Prússia? Desde a derrota de Napoleão Bonaparte
(1769 - 1821), em 1815, a Áustria exercia forte influência sobre a Confederação Alemã: nos dias de glória do primeiro-ministro da Áustria, Klemmens von Metternich,
policiais e espiões austríacos se infiltraram na confederação, tentando ganhar apoio para o liberalismo e nacionalismo, conceitos que a era napoleônica havia promovido.
Em 1862, Otto von Bismarck (1815 - 1898) tornou-se chanceler do Reino da Prússia. Bismarck deixou clara sua determinação em um famoso discurso de 29 de setembro
de 1862: "A grande questão do momento não será resolvida com discursos e decisões da maioria... mas com ferro e sangue." A grande questão do momento, claro,
era se a

165

Samuel WiIIa rd Crompton
Berlim" foram ouvidos. As manipulações de Bismarck fizeram Napo-leão III (1803 - 1873) declarar guerra à Prússia em 19 de julho de 1871, uma guerra para a qual os
franceses não estavam preparados.
Três exércitos prussianos invadiram a França quase ao mesmo tempo e o general francês Achille Bazaine levou um exército para o leste para encontrá-los. Seus
homens se defenderam com habilidade na Batalha de Gravelotte, em 18 de agosto, mas os franceses não contra-atacaram e Bazaine refugiou suas forças na cidade-fortaleza
de Metz. Um exército prussiano os perseguiu e conduziu um cerco de 54 dias, que terminou com a rendição de todo o exército de Bazaine.
Enquanto isso, em Ia de setembro de 1871, a maior parte do exército francês, com Napoleão III no comando, foi derrotada na Batalha de Sedan. Napoleão rendeu-se
com seus oitenta mil homens no dia seguinte.
Apesar da captura do imperador, a França continuou a lutar bravamente. O governo provisório que foi estabelecido em Paris logo depôs Napoleão III, declarou a
criação da Terceira República da França e se preparou para defender Paris. Dois exércitos prussianos cercaram a capital francesa de 19 de setembro de 1870 a 28 de
janeiro de 1871, quando a cidade finalmente se rendeu por causa da fome.
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Enquanto isso, em 18 de janeiro de 1871, Bismarck e o rei Guilherme I declararam que a Prússia comandaria uma nova e unificada Alemanha. O Império Alemão foi
proclamado formalmente na Galeria dos Espelhos do Palácio de Versalhes. O rei Guilherme I tornou-se imperador da Alemanha e Bismarck manteve seu posto de chanceler.
Bismarck havia realizado um milagre diplomático ao unir quatro reinos (Prússia, Baviera, Saxônia e Wuttenberg), cinco grão-ducados, 13 ducados e três cidades livres
(Bremen, Hamburgo e Lubeck) para formar a primeira Alemanha unificada desde os primeiros tempos Sacro Império Romano no século XII.
O Tratado de Frankfurt, assinado em 10 de maio de 1871, PerJj mitia que a Alemanha tomasse e controlasse as províncias de Ais ci e Lorena, que pertenciam à França,
e obrigava a França a pagar ur indenização de cinco milhões de francos.
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68
SEGUNDA
GUERRA
AFEGÂ
1878 - 1880)
Bolan Pass, MD Afeganistão.

A tensão entre Rússia e Grã-Bretanha levou ao início da Segunda Guerra Afegã em 1878. Sher Ali havia sucedido seu pai, Dost Mohammed, como emir do Afeganistão em
1863. A Rússia levou seus soldados para perto da fronteira do Afeganistão em 1878 e enviou uma missão diplomática a Sher Ali. Grã-Bretanha e índia correram para
fazer o mesmo, mas os diplomatas britânicos foram barrados por guardas de fronteira afegãos em Passo Khyber. Os britânicos exigiram um pedido de desculpas
e uma explicação de Sher Ali; insatisfeitos com a resposta, invadiram o sul do país.
Enquanto as tropas britânicas entravam em seu país em novembro de 1878, Sher Ali fugiu para o norte e pediu ajuda aos russos. Aconselhado pelos russos a voltar
e negociar a paz com os britânicos, ele se recusou e morreu pouco depois em Mazar-i-Sharif. Seu filho Yakub Khan

fechou um tratado que cedia o controle de Passo Khyber e outros pontos estratégicos aos britânicos. No entanto, os invasores cometeram o mesmo erro de 1839 (ver
na 56) ao acreditar que o emir tinha tanto poder quanto um rei, quando, na verdade, ele era visto como um dos líderes tribais afegãos.
Representantes britânicos enviados a Kabul em 1879 foram assassinados por afegãos que se ressentiam com a ideia de que a política externa de seu país devia
ser ditada por Londres. Furiosos com o rompimento do tratado, os britânicos enviaram três exércitos para o norte. Capturaram Kabul e Kandahar e Yakub Khan foi
exilado Doze tribos afegãs diferentes logo começaram a lutar contra os invasores britânicos com um novo líder no comando, Sirdar Abdur Rahman, neto de Dost Mohammed
e primo de Yakub Khan. Ele estivera exilado na Rússia por doze anos, mas quando apareceu no rio Oxus, no norte do Afeganistão, as tribos se uniram à sua volta. Conforme
ele avançava em direção a Kabul, os britânicos se retiraram da cidade. Sirdar Abdur Rahman provou ser uma pessoa com quem tanto afegãos quanto britânicos conseguiam
conviver como líder. Fez muito para diminuir o poder das diferentes tribos e integrou a maior parte do Afeganistão em uma única unidade política. Em 1893, suas conversas
com os britânicos resultaram no traçado da Linha Durand, que ainda hoje marca a fronteira entre Afeganistão e Paquistão.

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69
GUERRA ZULU
(1879)
i cavalaria britânica abre ninho a golpes de sabre
_. de guerreiros zulus, na i África do Sul. Gravura do
London lllustrated News, Picture Library, Londres.

Em 1879, soldados do exército vitoriano da Grã-Bretanha encontraram os adversários mais destemidos e extraordinários com quem já haviam lutado no século XIX: os
guerreiros da tribo zulu do sul da África.
A nação Zulu fora fundada em 1816 pelo chefe Shaka, que havia convencido seus guerreiros a abandonar sua arma tradicional -os dardos arremessados - e a usar a lança.
Os guerreiros zulus haviam lutado contra os bóeres descendentes de holandeses em 1838 e sido derrotados na Batalha do Rio de Sangue. Após a derrota, voltaram a suas
terras, chamadas de Zululândia, e lá viveram como tribo dominante da região por quarenta anos. Os britânicos anexaram a região do Transvaal em 1877 e herdaram dos
bóeres o que alguns chamavam de "problema dos zulus".
Arrogantes devido à sua longa história de sucessos nos combates contra tribos

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171

I
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ii:

nativas, os britânicos exigiram o controle de fato da Zululândia. O rei zulu, Cetewayo, ignorou a exigência e o general britânico Frederic Thesiger invadiu a Zululândia
com três colunas de tropas britânicas e aliados nativos no início de janeiro de 1879.
A primeira batalha foi travada em Isandlwana, onde milhares de zulus cercaram um destacamento de soldados britânicos. Quando outros soldados chegaram um dia
depois, encontraram no campo os corpos de 52 oficiais britânicos e 806 alistados, além de quinhentos aliados nativos. Os zulus, que haviam esmagado os britânicos
com seus ataques, pagaram pela vitória com aproximadamente três mil mortes.
A bravura de zulus e britânicos foi novamente demonstrada de 22 para 23 de janeiro de 1879, quando quatro mil zulus atacaram 140 soldados britânicos, equipados
com rifles e artilharia. Os zulus deixaram mil mortos após uma série de ataques que duraram dez horas e resultaram em mais cruzes de Vitória (medalhas de honra)
que nenhuma outra batalha travada pelos britânicos antes ou depois dessa. Reforços para o exército britânico chegaram em abril e maio. Um dos soldados era o príncipe
imperial da França napoleônica, Luis J. J. Bonaparte, filho de Napoleão III. A morte do príncipe, atingido por uma lança zulu em 2 de junho de 1879, fez a guerra
parecer ainda mais selvagem aos europeus, que liam notícias dramáticas nos jornais sobre a bravura feroz dos zulus e o espírito resoluto dos britânicos.
Os zulus resistiram fortemente nas batalhas de Esghowe e Kambula, mas foram derrotados em Ulandi em 4 de julho. O rei Cetewayo escapou do campo de batalha, mas
foi capturado em agosto e forçado a aceitar os termos de paz dos britânicos. A Grã-Bretanha anexou oficialmente a Zululândia em 1887. Cerca de dez mil zulus foram
mortos na guerra; os britânicos perderam 1.100 homens e gastaram cinco milhões de dólares na realização da guerra.

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70
VTALHA DE "AN JUAN (1898)
Theodore Roosevelt como
onel da Primeira Cavalaria
antária dos Estados Unidos,
cida como "Rough Riders".

A batalha que trouxe fama a Theodore Roosevelt (1858 - 1919) e aos "Rough Riders" (Cavaleiros Valentes) da Primeira Cavalaria Voluntária foi travada no morro Kettle
Hill, parte da cadeia San Juan, que se descortina para a cidade de Santiago de Cuba. A batalha foi o mais importante combate em terra da Guerra Hispano-americana,
conflito que durou três meses.
O tenente-coronel Theodore Roosevelt recrutou homens dos estados do oeste, bem como alunos das universidades da "Ivy League" para seu regimento voluntário especial,
os Rough Riders. Há muito interessado em guerras e querendo provar sua competência, Roosevelt juntou seus homens à invasão americana de Cuba, que começou quando
os americanos desembarcaram em Daiquiri e iniciaram sua marcha rumo a Santiago. Ao fim de junho, já haviam chegado à selva localizada em frente à cadeia de montanhas
San Juan, 24 quilómetros

172

173

I1!

a oeste de Santiago. Se os espanhóis conseguissem manter o controle da cordilheira, conseguiriam bloquear o avanço americano, mas o general espanhol Arsenio Linares
alocou apenas 521 homens para a defesa dessas montanhas e da cadeia de El Caney, a sudeste.
As tropas americanas levantaram-se às quatro horas da manhã em 1" de julho de 1898, e a bateria de Allyn K. Capron começou a atirar nas posições espanholas às
6h30min; às 8h, seguiu-se outro ataque da artilharia. Dada a disparidade em números e peso da artilharia parecia certo que os americanos conseguiriam tomar tanto
Kettle Hill como El Caney; mas uma confusão com relação às ordens de batalha levou centenas de americanos a se dispersarem na área entre a selva e a cordilheira.
Os espanhóis abriram fogo com seus rifles de repetição, infligindo muitas vítimas aos americanos, que ainda estavam esperando ordens para avançar. Um balão de observação
americano foi derrubado em torno das llh30min da manhã, prejudicando ainda mais o moral dos soldados.
Foram Theodore Roosevelt e sua Primeira Cavalaria Voluntária e a Nona Cavalaria do Exército Regular (um regimento formado por afro-americanos) que mudaram o
rumo dos acontecimentos daquele dia. Às 12h30min daquela tarde, Roosevelt levou seus homens morro acima e forçou os espanhóis a deixarem-no, ainda que sofrendo grandes
perdas. A lh30min, os americanos já haviam tomado não só Kettle Hill, mas toda a cordilheira de San Juan.
Seis quilómetros ao sudeste, outras tropas americanas passaram por momentos terríveis em seu ataque a El Caney. Os espanhóis defenderam-se heroicamente e só
às quatro horas da tarde os americanos capturaram o morro. Somente quarenta dos soldados da defesa espanhola conseguiram escapar de Santiago, o que significou uma
perda de 480 homens naquele dia. Mas os americanos haviam sofrido 1.474 vítimas, entre mortos, feridos e desaparecidos no labirinto que era o terreno em frente às
cadeias de San Juan e El Caney. A dimensão das perdas americanas faz pensar o que poderia ter acontecido se

DS espanhóis tivessem destacado mil homens para defender os mor-os, em vez de 521.
Os combates do dia garantiram o sucesso do ataque americano a
Santiago e a cidade se rendeu em 17 de julho. Os Estados Unidos ha-am vencido uma "esplêndida pequena guerra" e o tenente-coronel heodore Roosevelt - que poucos
anos depois se tornaria presidente 3S Estados Unidos - havia conquistado fama eterna como herói da atalha de San Juan.

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175

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71
GUERRA
Russo-
JAPONESA
(1904-1905)
iravura japonesa mostrando
um navio de guerra russo
sendo destruído por um
moderno navio japonês.

Poucos observadores estrangeiros tinham expectativas de que o Japão do século XIX se desenvolvesse muito, o que tornou a vitória deste país na Guerra Russo-Japonesa
ainda mais notável. O Japão se "abrira" à influência ocidental em 1853, com o aparecimento dos navios a vapor americanos. De 1870 em diante, a nação insular passou
por um rápido processo de industrialização e modernização de suas forças armadas.
Em 1904, o Japão tentou convencer a Rússia czarista a concordar com um reconhecimento mútuo dos interesses japoneses e russos na Manchúria e na Coreia. Os russos
negociaram de forma negligente e, em 6 de fevereiro de 1904, o embaixador japonês interrompeu as conversações abruptamente e foi para casa. Dois dias depois, a frota
japonesa afundou dois navios de guerra russos em Chemulpo, na Coreia, e atacou com um navio de torpedos a frota russa principal

177

que muaaram a ni>iuin

li!
I :

que estava ancorada em Porto Arthur, na península Liaotung (que a Rússia havia arrendado da China imperial). O restante dos navios russos estava ancorado em Vladivostok,
ao norte, e presos pelo gelo.
Devido à sua repentina superioridade marítima, a marinha japonesa conseguiu levar centenas de milhares de soldados para o continente asiático e atacar os postos
russos. Os japoneses venceram os coreanos rapidamente e, em Ia de maio, já estavam na Manchúria Em setembro, o exército russo já havia sido empurrado para Mukden
ao norte, e Porto Arthur estava cercado, tanto por terra quanto por mar. Duas batalhas sangrentas, porém inconclusivas, foram travadas próximo a Mukden e os japoneses
acabaram formando um longo cerco a Porto Arthur. Usando metralhadoras, os russos foram agressivos contra as forças japonesas, mas em 2 de janeiro de 1905, Porto
Arthur foi forçado a se render. Após a mortífera Batalha de Mukden, que durou de 21 de fevereiro a 10 de março de 1905, o número de vítimas de ambos os lados foi
tão grande que nenhum dos oponentes havia realmente vencido.
Em meados de 1905, tanto o Japão quanto a Rússia estavam cansados da guerra. A Frota Báltica da Rússia havia finalmente chegado ao Pacífico, depois de navegar
por meio mundo. Rumando a todo o vapor em direção a Vladivostok, a Frota Báltica chocou-se com a Frota Imperial japonesa de 27 para 28 de maio na Batalha Naval dos
Estreitos de Tsushima. Os japoneses obtiveram uma vitória esmagadora, capturando toda a frota russa e perdendo apenas três navios de torpedos.
Aceitando a proposta do presidente americano Theodore Roosevelt (1858 - 1919) para que ele atuasse como mediador, representantes russos e japoneses se encontraram
em Portsmouth, nos Estados Unidos, em 10 de agosto de 1905. O Tratado de Portsmouth, assinado em 5 de setembro de 1905, dava a região sul da Ilha Sakhalin ao Japão.
A Rússia reconhecia os interesses japoneses na Coreia e transferia o território que havia arrendado da China na península Liaotung

jio Japão, além de dar a eles direitos de pesca nas proximidades da posta da Sibéria. Era um ganho enorme para o Japão, que havia pu-ado para a proeminência como
único país asiático de seu tempo a fconseguir derrotar uma grande potência europeia.

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179

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72
GUERRAS EALCÂNICAS
(1912-1913)
i de Th Weinreb mostrando a região dos Bálcãs, 1914.

Em 1912, ressentimentos nos Bálcãs haviam criado uma situação que estava pronta para explodir. O longo domínio otomano na região não poderia continuar. Incentivados
pela Rússia czarista, que se considerava protetora dos povos eslavos, Grécia, Sérvia, Bulgária e Montenegro formaram a Liga Balcânica em 1912. Argumentando que seus
primos eslávicos que viviam dentro das fronteiras do Império Otomano estavam sendo maltratados, os países exigiam que os otomanos reformassem sua regência. O sultão
otomano hesitou em fazer as reformas e a Primeira Guerra Balcânica começou em 1912. Os gregos cercaram o exército turco e liberaram a Salôni-ca, enquanto os sérvios
se moviam para o sul e venciam as batalhas de Kumanovov e Montastir, no outono de 1912. Invadindo os domínios otomanos pelo leste, forças búlgaras venceram as batalhas
de Kirk Kilissa e Lule Burgas, onde se chocaram

181

li:

com o principal exército turco e o forçaram a recuar totalmente em direção a Constantinopla. Problemas de abastecimento impediram que os búlgaros tomassem Adrianópolis
e Constantinopla. Um armistício turco-búlgaro foi decidido em 3 de dezembro de 1912.
Enfurecidos com essa demonstração de fraqueza em campo, os "Jovens Turcos", um grupo de oficiais do exército, expulsaram o sultão e estabeleceram um novo governo
otomano. Eles recuperaram a guerra, mas sofreram outra perda quando Adrianópolis caiu, cedendo às tropas búlgaras e servias em 3 de março de 1913. Os otomanos aceitaram
os termos do Tratado de Londres, segundo o qual perdiam Creta e metade de seus territórios na Europa.
A Segunda Guerra Balcânica estourou em 1913, quando os "Jovens Turcos" rejeitaram os termos de paz do Tratado de Londres. Os turcos estavam com sorte, já que
os vencedores da Primeira Guerra Balcânica estavam brigando entre si. A Bulgária entrou em guerra contra a Sérvia em junho de 1913 e em julho forças servias e gregas
já haviam reprimido os búlgaros, que logo foram atacados também pelos romenos. Com toda esta confusão, não é de surpreender que os turcos conseguissem recapturar
Adrianópolis em 20 de julho de 1913. O Tratado de Bucareste de 10 de agosto de 1913 deu todos os territórios que a Bulgária havia conquistado na Primeira Guerra
Balcânica para seus ex-aliados, Sérvia, Grécia e Montenegro. Os líderes otomanos ficaram com Adrianópolis, mas as duas guerras haviam reduzido muito a influência
turca na Europa.

73
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
(1914-1918)

Poucos alunos de história discordam quanto às três principais causas da Primeira Guerra Mundial: o nacionalismo (especialmente nos Bálcãs), o crescimento armamentista
desde 1890 e um emaranhado de alianças.
Em agosto de 1914, o arquiduque Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, foi baleado em Sarajevo. Sua

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Tropas alemãs atravessam um
campo em Champagne, em
direção aos franceses no rio
Mame, 1914.

morte desencadeou uma série de eventos que logo levaram os impérios germânico, austro-húngaro e otomano (atual Turquia) a enfrentarem uma combinação de potências
que incluía a Grã-Bretanha, a França, a Rússia e, finalmente, os Estados Unidos.
183

A Alemanha começou a guerra com um esforço centralizado para esmagar a França, para poder depois concentrar suas forças contra a Rússia, ao leste. Quando não
conseguiu tomar Paris em 1914, caiu em um estado de guerra de trincheira no front ocidental que duraria quatro anos. Soldados alemães, franceses e britânicos acostumaram-se
a ouvir "Por cima!" - o sinal para que saíssem de suas trincheiras e atacassem a "Terra de Ninguém" de arame farpado e explosivos, tentando chegar às fileiras dos
inimigos. A combinação de tiros de metralhadora e plataformas de artilharia tornava os movimentos ofensivos quase impossíveis e os três países entraram em batalhas
de atrito mortíferas como Verdun e Somme. Os combates no front leste eram mais fluidos; exércitos russos geralmente derrotavam os austríacos, mas depois eram forçados
pelas forças alemãs a recuar.
Em um esforço para escapar a esse impasse, a Grã-Bretanha tentou abrir o estreito de Dardanelles e capturar Constantinopla; o resultado foi a campanha de Gallipolí,
que custou aos Aliados 250 mil vítimas. Os dois acontecimentos que quebraram o impasse foram a Revolução Russa e a entrada dos Estados Unidos na guerra. Os americanos
entraram com relutância e por causa da guerra de submarinos que afundou uma série de navios de passageiros que levavam cidadãos americanos. Em abril de 1917, o presidente
norte-americano Woodrow Wilson (1856 - 1924) jurou tornar o mundo um lugar seguro para a democracia e logo um milhão de soldados de infantaria americanos estavam
a caminho da França. A Revolução Russa no mesmo ano criou o regime bolchevique comandado por Vladimir Lênin (1870 - 1924), que tirou a Rússia da guerra em março
de 1918.
Uma série de ataques desesperados da infantaria alemã - conhecidos como ataques de Luddendorff - fez progresso considerável, mas foi detida pela exaustão dos
alemães e pela chegada das tropas americanas. Em agosto de 1918, os alemães já estavam em retirada e, em outubro, os Aliados entraram na famosa linha Hindenburg,
na fronteira alemã. O kaiser Guilherme II abdicou e a guerra terminou em 11 de novembro de 1918 com a assinatura do Tratado de Versalhes.

IUU uuerras que mudaram a Historia ao IVIUMUU
Milhões de homens haviam sido mortos ou feridos, vastas regiões Sviam sido destruídas e quatro impérios deixavam de existir: o im-Êrio russo, criado em 1618;
o império alemão, fundado em 1871; o jpério austro-húngaro e o império otomano, que finalmente perdia Écontrole da encruzilhada entre Europa e Oriente Médio.

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74
[EVOLUÇÃO
RUSSA
(1917)
Lênin falando aos revolucionários, em 1917.

A criação do primeiro Estado comunista no mundo gerou pânico entre as democracias ocidentais; estadistas britânicos, como Winston Churchill (1874 -1965), convocavam
o ocidente a sufocar o bolchevismo ainda no berço. O que os líderes ocidentais não perceberam é que o povo russo, em geral, preferia a ditadura do proletariado à
continuação da regência czarista.
O regime czarista de Nicolau II (1868 - 1918) entrou na Primeira Guerra Mundial (ver na 73) com um exército que praticamente não havia atualizado seus equipamentos
desde a Guerra da Criméia (ver nfi 60). Os primeiros três anos da Primeira Guerra foram devastadores para a Rússia, que teve cerca de três milhões de homens mortos,
feridos ou desaparecidos. Revoltas espontâneas de estudantes e agitações de trabalhadores aconteceram em Petrogrado em 8 de março

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de 1917. O czar Nicolau II, que estava perto do front, ordenou qUe os soldados derrubassem a revolta, mas muitos homens se recusaram a atirar em seus compatriotas.
Os soldados de Moscou se amotinaram em 10 de março e a polícia que foi enviada para sufocar o motim foi massacrada. Ao ver a situação sem esperanças, Nicolau abdicou
e um governo provisório foi estabelecido com o príncipe Georgi Lvov.
Bem informados quanto à situação da Rússia, oficiais alemães de alto escalão decidiram permitir que o escritor dissidente Vladimir I Lênin (1870 - 1924), deixasse
a Suíça e fosse para Petrogrado, onde começou a incentivar o povo a se rebelar. Incitando multidões com gritos de "todo o poder para os soviéticos" (conselhos de
trabalhadores), Lênin se viu em confronto com Alexander F. Kerensky (1881 -1970), novo líder do governo provisório. Ironicamente, os dois homens haviam crescido
na mesma cidade, Simbirsk. Lênin tentou empreender um golpe, mas seu esforço prematuro fracassou e ele foi exilado novamente, desta vez na Finlândia. Kerensky cometeu
o erro de dar continuidade ao envolvimento da Rússia na Primeira Guerra Mundial. Quando as notícias de mais vítimas russas chegaram a Petrogrado, seu governo começou
a perder força.
O colega mais próximo de Lênin, Leon Trotsky (1879 - 1940), organizou a revolução de novembro de 1917 que tirou Kerensky do poder. Em 6 de novembro, Kerensky
enviou tropas para fechar a imprensa bolchevique em Petrogrado, mas a Guarda Vermelha contra-atacou e tomou os edifícios do Estado e empresas de serviços públicos.
Kerensky fugiu para o estrangeiro e Lênin se tornou presidente de um Conselho de Comissários do Povo. Tropas bolcheviques tomaram Moscou após sangrentas lutas de
rua e, em um mês, passaram a controlar a maior parte do país. Em janeiro de 1918, Lênin dissolveu a assembleia nacional, eleita diretamente, a última assembleia
legislativa que a Rússia teria até a década de 1990.


75
IERRA CIVIL >A CHINA [REVOLUÇÃO IOMUNISTA
(1930-1949)
exaltando a união do proletariado.

A longa guerra civil que dividiu a China em territórios nacionalistas e territórios comunistas começou em 1930, quando o governo nacionalista (kuomintang), liderado
pelo generalíssimo Chiang Kai-Chek (1887 - 1975), iniciou uma campanha para erradicar a influência comunista na China. Chiang Kai-Chek liderou cinco campanhas de
1930 a 1934, tentando cercar redutos comunistas centralizados na cadeia de montanhas Jing Gang, no sul da China. Após uma violenta batalha em Kiangsi (que os nacionalistas
alegaram ter vencido), o Exército Vermelho moveu suas bases mais para o sul. Usando táticas aprendidas com seus conselheiros alemães, Chiang Kai-Chek empreendeu
uma campanha de terra arrasada em 1933, que finalmente desalojou os comunistas de suas bases.
Em outubro de 1934, duzentos mil soldados comunistas, liderados por Mao

188

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Tsé-Tung (1893 - 1976) e Chu En-Lai (1898 - 1976), começaram aquilo que ficaria conhecido como a "Grande Marcha", uma caminhada de quase dez mil quilómetros para
o norte. Durante o ano seguinte, os comunistas retirantes atravessaram 18 cadeias de montanhas e 24 rios principais em sua movimentação para a segurança do norte.
Depois de cruzarem Hunan e Sichuan, os cinquenta mil sobreviventes da marcha chegaram a Shensi, no norte da China, onde logo foram seguidos por outros cinquenta
mil voluntários.
Durante os anos da Guerra Sino-japonesa (ver n" 80), os comunistas tomaram o controle do norte e os nacionalistas de Chiang Kai-Chek mantiveram sua posição no
centro e no sul da China. Quando a Primeira Guerra Mundial (ver na 73) terminou, em 1945, tanto nacionalistas como comunistas tentaram ocupar as regiões que foram
abandonadas pelos japoneses. Aviões norte-americanos ajudaram os nacionalistas realizando pontes aéreas que os permitiram ganhar o controle de muitas das principais
cidades em 1945.
O general americano George Marshall (1880 - 1959) procurou atuar como mediador entre nacionalistas e comunistas em 1946; Mao Tsé-Tung parecia disposto a negociar,
mas Chiang Kai-Chek não; quando Marshall e as últimas tropas americanas voltaram para casa em 1947, a Guerra Civil chinesa recomeçou de fato.
Os comunistas capturaram trezentos mil soldados nacionalistas na Manchúria em outubro de 1948 e 66 divisões nacionalistas se entregaram no norte da China em
dezembro do mesmo ano. Os comunistas se movimentaram para a região ao sul do rio Yangtze pela primeira vez em abril de 1949 e em dezembro do mesmo ano, Chiang Kai-Chek
e muitos de seus seguidores já haviam fugido para a ilha de Formosa (atual Taiwan). Mao Tsé-Tung estabeleceu a República Popular da China em 1949 e Chiang Kai-Chek
proclamou a República da China em Formosa, em 1950. Uma das mais longas e amargas guerras do século XX terminava com a criação de duas Chinas - uma continental e
comunista; a outra, insular e capitalista.

76
ÈEVOLUÇÃO
DE 1930
(1930) e
REVOLUÇÃO
riTUCIONÃLlSTA
DE 1932
(1932)
"Constitucionalistas de 1932.

No início do século XX, a política brasileira era comandada pelos grandes proprietários de terra, de acordo com o que se chamava sistema oligárquico. Isso favorecia
os fazendeiros de café de São Paulo e os de gado leiteiro de Minas Gerais, que apoiavam os candidatos à presidência da república - os presidentes eram sempre paulistas
ou mineiros, alternando-se no poder, na chamada política do "café com leite".
Ao mesmo tempo, com a industrialização, novos grupos sociais ganharam representação e, em 1922, o Partido Comunista do Brasil foi fundado. Classe média e exército
também estavam descontentes

190

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com o sistema oligárquico e diversas revoltas militares ocorreram na década de 1920.
Tudo se agravou com a crise mundial de 1929, que causou desemprego e fome no país. O presidente da República, o paulista Washington Luís (1869 - 1957), lançou
Júlio Prestes (1882 - 1946), também paulista, como candidato do governo à sua sucessão. Com isso, rompia a tradicional aliança entre as oligarquias de São Paulo
e Minas Gerais A oposição, Aliança Liberal, lançou o gaúcho Getúlio Vargas (1882 -1954), com o paraibano João Pessoa (1878 - 1930) como candidato a vice-presidente,
mas Júlio Prestes acabou vencendo as eleições.
Para impedir que Júlio Prestes assumisse, e depois do assassinato de João Pessoa, em 26 de julho de 1930, a Aliança Liberal e o exército, sob a liderança de
Getúlio Vargas, levantaram uma revolução. Em 3 de outubro do mesmo ano, o movimento explodiu no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e no Nordeste, alastrando-se em
pouco tempo para o restante do país. Em 24 de outubro, os revoltosos cercaram o Palácio da Guanabara, no atual estado do Rio de Janeiro, e Washington Luís foi levado
preso. Em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas assumiu o comando do Governo Provisório, pondo fim à Primeira República (1889 - 1930), iniciando a Era Vargas e prometendo
reformas sociais e económicas.
Vargas teve dificuldades em acomodar os interesses de todos os grupos que haviam participado da revolução e foi acusado de retardar a formação da Assembleia
Constituinte. Sua política centralizadora desagradou principalmente às oligarquias paulistas. A legalização do Partido Comunista e o reconhecimento dos sindicatos
dos trabalhadores aumentou a insatisfação. No início de 1932, os partidos Republicano Paulista (PRS) e Democrático (PD) se aliaram formando a Frente Única Paulista
e sua campanha pela constituinte ganhou grande apoio popular. Em 23 de maio de 1932, a polícia reprimiu um comício em São Paulo, matando quatro estudantes, os primeiros
mártires do movimento que ficou conhecido como Revolução Constitu-cionalista de 1932.

IUU uuerras que mudaram a História ao iviunuu
Em 9 de julho, Júlio Prestes conseguiu reunir quarenta mil ho-Lns entre soldados dos batalhões estaduais e voluntários civis, que iram' enviados para as fronteiras
do estado de São Paulo com Minas lerais, Paraná e Vale do Paraíba, entre outros locais estratégicos. Mas ' forças federais eram muito maiores, e, após três meses
de luta, São
lido acabou sendo cercado pelas tropas legalistas. Em 3 de outubro 1932, os paulistas se renderam após negociações. As estatísticas Jciaís indicam 830 mortos nos
combates, embora se acredite que o lúmero tenha sido bem maior. O movimento, apesar da rendição dos paulistas, acelerou a convocação da Assembleia Constituinte e
a pro-
nulgação da nova Constituição, que ocorreu em 1934.

192

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77
IERRA ENTRE ITÁLIA E ETIÓPIA
^1935-1936)
pas italianas da infantaria iftem do porto de Nápoles i direção à África oriental, em setembro de 1935.

O que parecia um espetáculo bélico sem importância deu início a um período de agressão fascista na Europa que levou à eclosão da Segunda Guerra Mundial apenas quatro
anos depois. Benito Mussolini (1883 - 1945), o líder fascista da Itália, há tempos prometera se vingar de um dos grandes fracassos da história italiana: a derrota
na Batalha de Adowa para a Etiópia, em 1896. A presença da Liga das Nações, criada pelo Tratado de Versalhes após a Primeira Guerra Mundial, deveria ter detido não
só Mussolini como qualquer outro possível agressor durante a década de 1930. Idealizada pelo presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson (1856 - 1924), a Liga se
propunha a resolver disputas internacionais e evitar atos de agressão de nações mais poderosas contra nações mais fracas.
Mussolini conseguiu convencer a Liga de que a Itália tinha direito à Etiópia.

195

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winara Lrompion
Alterando documentos dos tratados que haviam sido assinados em 1887, 1896 e 1900, ele demonstrou que a Itália tinha interesses legítimos no país africano que ficava
perto da Somalilândia italiana A Liga elaborou o Plano Hoare-Laval, que pedia uma divisão da Etiópia. Esse plano foi rejeitado sumariamente pelo imperador Hailé
Selassié I e Mussolini prosseguiu com a ação agressiva que estivera planejando o tempo todo.
Em 1934, ocorreu um confronto sangrento entre tropas italianas e etíopes em Ualual, na fronteira entre Etiópia e Somalilândia Selassié recuou seus homens para
trinta quilómetros de distância da fronteira, para demonstrar sua vontade de manter a paz. Confiante, àquela altura, de que a Liga de Nações não iria intervir, Mussolini
ordenou o início da invasão italiana em 3 de outubro de 1935. Usando aeronaves e armas modernas, os italianos lutaram contra os etíopes, cujas únicas armas eram
cavalos e lanças. A resistência foi feroz e somente em 5 de maio de 1936 os italianos conseguiram entrar em Adis-Abeba, a capital da Etiópia.
Selassié fugiu do país e apresentou-se à Liga das Nações em pessoa para apelar pela causa de sua nação. A Liga já havia cortado os suprimentos enviados para
a Itália que iriam ajudar no esforço de guerra, mas não tinha poder para tomar outras providências e Selassié partiu para o exílio. A Itália anexou a Etiópia e juntou-a
à Eritréia e à Somalilândia italiana, formando uma nova província chamada África Oriental Italiana.
Mussolini, espertamente, havia demonstrado fé na carta da lei internacional ao mesmo tempo em que desafiava o próprio espírito daquela lei. Benito Mussolini
é visto como um fracasso político e militar, mas sua estatura era imponente no mundo fascista da década de 1930. Suas ações na Etiópia serviram para incentivar formas
semelhantes de agressão pela Alemanha nazista.

78
INTENTONA ^COMUNISTA
(1935)
Jfc
>lga no Rio de Janeiro, 1935.

Em 1935, outro movimento levantou-se contra o governo de Getúlio Vargas (1882 - 1954), instalado em 1930 (ver nu 76).
Nos anos de 1930, o mundo viu surgir governos fascistas em diversos Estados. No Brasil, as forças do fascismo estavam incorporadas no movimento integralista, criado
em 1932. Em vários lugares do mundo, surgiam também movimentos antifascistas e Frentes Populares, inspi- radas na Revolução Russa, de 1917 (ver n2 74).
*"*í-
Em 1935, após uma esta- da na União Soviética, Luís Carlos Prestes (1898 - 1990) voltou ao Brasil ao lado da mulher, a judia alemã e militante comunista Olga
Benário (1908 - 1942). Sua missão, apoiada pelo governo soviético, era dirigir uma revolução armada no Brasil, para instituir o regime socialista no país. Prestes
foi nomeado presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora (ANL), criada em janeiro e comandada pelo Partido Comunista.

196

197

Em julho do mesmo ano, fez um discurso contra Vargas, em que pedia sua renúncia. Mas a movimentação comunista acabou fortalecendo Vargas, que recebeu o apoio dos
militares e conseguiu mais poderes na Assembleia Legislativa. Em seguida, Getúlio Vargas declarou ilegal a ANL.
Prestes e os outros líderes comunistas começaram, então, a articular a revolta armada, contando com o apoio de parte do exército que deveria iniciar o levante
nos quartéis. No entanto, os primeiros levantes ocorreram de forma precipitada, antes do previsto, em 23 e 24 de novembro, em Natal e no Recife. Esse início inesperado
apressou também o levante no Rio de Janeiro, mas o governo, que já sabia das intenções dos militantes por seus espiões infiltrados no Partido Comunista, conseguiu
reprimir a revolta na cidade logo que ela se iniciou, no dia 27 de novembro de 1935.
Como consequência, o governo perseguiu os líderes comunistas em todo o país; milhares de militantes de esquerda foram presos, muitos foram mortos, feridos e
torturados. Luís Carlos Prestes foi preso em 1936 e só libertado em 1945. Sua mulher, Olga Benário, foi entregue à Gestapo, a polícia alemã, que a enviou a um campo
de concentração, no qual morreu em 1942.
Toda essa repressão já era indício do que viria a acontecer apenas dois anos após a Intentona Comunista. Em 1937, Getúlio Vargas deu o chamado "autogolpe", instituindo
uma ditadura - o Estado Novo -, que iria durar até 1945.
198

79
ÍUERRA CIVIL ESPANHOLA
(1936-1939)
^Representação da explosão da
Guerra Civil na Espanha em
1936, na qual o general
Francisco Franco está entre as
: forças militares e da Igreja.
Mural do pós-guerra.
Acervo Histórico Militar, Madri.

A monarquia dos Bourbon da Espanha chegou ao fim com o reinado de Alfonso XIII; a Espanha tornou-se uma república em 1931. O poder político, a princípio, foi controlado
por uma coalizão centrista, mas a tradicional inimizade entre a direita e a esquerda espanholas, ao lado da miséria económica criada pela Grande Depressão da década
de 1930, polarizou a sociedade espanhola. Em 1936, o país mergulhou em uma guerra civil.
O general Francisco Franco (1892 - 1975), líder do grupo direitista Falange, foi para o Marrocos espanhol e iniciou uma revolta nas guarnições do exército de
lá em 17 de julho de 1936. Esta centelha viajou para a Espanha continental, onde unidades do exército se rebelaram em Cardiz, Sevilha, Burgos, Saragoça e Huesca.
Autodenominando-se nacionalistas espanhóis, os seguidores de Franco logo ganharam o controle do sul e do sudoeste da Espanha.
199

Aqueles que apoiavam a república se auto-rotulavam legalistas. Controlando o norte e o centro da Espanha, eles, ainda assim, se viram lutando defensivamente
contra os nacionalistas, que unificaram suas conquistas sitiando Badajoz em 1 5 de agosto. Madri só conseguiu se manter devido aos esforços dos legalistas e de uma
brigada internacional de voluntários vindos da Grã-Bretanha, França e Estados Unidos.
Em P de outubro de 1936, Franco foi nomeado "chefe do Estado espanhol", um título ambíguo que dava uma pista sobre o tipo de governo autoritário, até mesmo fascista,
a que ele aspirava. Franco logo foi auxiliado por equipamentos alemães e tropas italianas (um total de setenta mil italianos lutou na guerra), enquanto a União Soviética
enviou ajuda aos legalistas. Cerca de 27 nações concordaram em manter a neutralidade.
Os nacionalistas atuaram incansavelmente, capturando Bilbao em 18 de junho de 1937, após um cerco de oitenta dias, e Barcelona, em 26 de janeiro de 1939. Madri
se rendeu incondicionalmente em 28 de março de 1939, após um cerco de 28 meses, e logo as forças nacionalistas triunfaram por toda a Espanha. Grã-Bretanha, França
e Estados Unidos foram forçados a reconhecer o regime de Franco.
Apesar dos apelos internacionais por moderação, os nacionalistas estabeleceram tribunais fascistas especiais que julgaram, condenaram e executaram muitos legalistas.
As atrocidades que haviam sido cometidas por ambos os lados durante a guerra criaram um sentimento de consternação duradouro entre o povo espanhol, que impediu que
a Espanha participasse inteiramente dos assuntos europeus até a morte de Franco, em 1975, e a ascensão ao trono do rei Juan Carlos.


GUERRA IO-JAPONESA
(1937-1945)
rra Sino-Japonesa: japoneses gTinghai, maior cidade da Ilha íChusan, em 15/07/1939. (c) AFP

O ano de 1937 viu o começo de uma longa e arrasadora guerra entre as duas maiores potências na Ásia oriental, que deixou ambas as nações exauridas durante a Segunda
Guerra Mundial (ver na 81). Em 1937, o Japão já havia conquistado uma superioridade em sua relação com a China nacionalista, dominada pelo governo de Chiang Kai--.-,
Chek. O Japão havia instalado Henry Puyi (1906 - 1967) [o último imperador mandchu da China, que havia sido forçado a abdicar de seu trono em 1912] como imperador
fantoche em Manchukuo, território da Mancharia que controlava. Procurando ampliar sua influência ainda mais, os japoneses sondaram cautelosamente as províncias mais
ao norte da China.
Em julho de 1937, um incidente entre tropas japonesas e chinesas na Ponte Marco Pólo, ao norte de Pequim, incentivou o Japão a invadir a China. Tiros foram

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trocados na ponte e uma guerra não declarada começou entre o Japão imperial e a China nacionalista.
Desde o início, o Japão gozava de grande superioridade material Bombardeiros de Manchukuo atacaram as cidades do norte da China e a frota japonesa bombardeou
o porto e a cidade de Xangai. Em dezembro de 1937, a capital Nanquim caiu e os japoneses realizaram o infame "estupro de Nanquim": por semanas, saquearam, queimaram
torturaram e estupraram. O governo nacionalista chinês fugiu para Hankow, que foi declarada a nova capital, mas quando esta também caiu, o governo central se mudou
para Chungking, na região oeste da China. Ao final de 1938, os japoneses já haviam ocupado todas as principais cidades costeiras e controlado as ferrovias do leste
da China. Considerando a disparidade populacional entre as duas nações, foi uma realização militar significativa.
Um impasse se seguiu durante os anos de 1939 a 1941, e então, em dezembro de 1941, os japoneses bombardearam Pearl Harbor (ver n- 81 e 84), levando os Estados
Unidos para a Segunda Guerra Mundial. A partir daquele momento, as coisas começaram a dar errado para os japoneses. Aviões americanos saíam da índia e sobrevoavam
o Himalaia em direção a Chungking, levando suprimentos e equipamentos de guerra para os nacionalistas, e a recém-treinada força aérea chinesa começou a bombardear
redutos japoneses no leste da China. O Japão não podia ocupar todo o país e nem conseguia convencer nenhum chinês a servir um governo fantoche. O término da Segunda
Grande Guerra prenunciou o destino final do esforço de guerra japonês na China, e a entrada da Rússia na guerra trouxe uma invasão que conquistou a Manchúria para
o governo soviético. Quando os japoneses se renderam oficialmente aos Estados Unidos, em 2 de setembro de 1945, muitas das regiões costeiras da China já haviam sido
retomadas pelos nacionalistas chineses.

81
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
(1939 - 1945)
Diego Rivera. er e .J p'''(nção da violência, 1933.

O povo alemão nunca esquecera as perdas humilhantes que havia sofrido na Primeira Grande Guerra (ver na 73) e os termos impostos no Tratado de Versalhes, de 1919.
Quando Adolf Hitler (1889 -1945) prometeu levar a Alemanha a uma imva era de glória, na tradição do Sacro Império Romano, muitos alemães estavam prontos para segui-lo.
Em 1- de setembro de 1939, soldados e tanques alemães entraram na Polónia usando as táticas de "Blitzkrieg" - guerra relâmpago -, que os tornariam
famosos. Os soldados da Wehrmacht (exército alemão) invadiram a Polónia e anexaram aquele território ao novo Terceiro Reich que Adolf Hitler idealizara. França
e Grã-Bretanha logo declararam guerra à Alemanha e a Segunda Guerra Mundial começou. Na primavera de 1940, tanques, aviões, jipes e tropas alemãs invadiram
os Países Baixos, Bélgica e França (ver na 82). A Luftwaffe, força aérea alemã, preparou

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o caminho com bombardeios pesados; os tanques e jipes atravessaram, então, as linhas inimigas e a multidão de soldados alemães veio por último. Em julho de 1940,
Hitler já estava no ápice de sua carreira; tinha chegado muito mais longe que o kaiser Guilherme II jamais conseguira chegar em todos os anos da Primeira Guerra
Mundial.
O primeiro obstáculo de Hitler veio no outono de 1940, quando os britânicos se recusaram a se render a seu bombardeio aéreo (ver nu 83) Os pilotos de guerra
da Real Força Aérea (R.A.F.) acabaram sendo superiores aos da Luftwaffe. Hitler logo voltou sua atenção contra a Rússia, anunciando uma invasão ao país - a "Operação
Barbarossa" assim chamada em homenagem ao imperador Frederico "Barba Ruiva" (Frederick Barbarossa) do antigo Sacro Império Romano -, em junho de 1941.
Os primeiros ataques alemães tiveram grande sucesso. Milhões de russos foram mortos ou feridos enquanto os exércitos de Hitler se encaminhavam para Moscou. Eles
foram finalmente detidos por tropas russas trazidas da Sibéria e pelo severo inverno de 1941. Quase ao mesmo tempo o Japão, aliado de Hitler, decidiu fazer um ataque-surpresa
à base naval americana de Pearl Harbor (ver nfi 84), obrigando os Estados Unidos a entrar na guerra.
Daquele momento em diante, as potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) estavam fadadas ao desastre. Embora muitas batalhas épicas ainda estivessem por acontecer
e a resistência alemã no campo de batalha causasse muita ansiedade aos comandantes de guerra dos aliados, a força industrial e o potencial humano combinados da Grã-Bretanha,
Estados Unidos e União Soviética eram inegáveis. Hitler conseguiu manter a iniciativa até as derrotas de Stalingrado (ver na 86), em fevereiro de 1943, e da África
do Norte, em março de 1943, e a derrota japonesa em Midway (ver na 85), em junho de 1942, que deu ânimo às potências aliadas.
Em 1944, exércitos russos expulsaram os alemães da Rússia e avançaram até Varsóvia, na Polónia, enquanto soldados americanos, britânicos e canadenses desembarcavam
na costa da Normandia e

IUU uuerras que mudaram a História ao MUMUU
briam caminho para a libertação da França. Hitler reuniu uma brça numerosa para um último contra-ataque na região da floresta . Ardenas, mas a resultante Batalha
do Bolsão de Ardenas acabou om a tentativa. Ao final de abril de 1945, Hitler se suicidara em eu quartel-general e a guerra europeia estava no final. A guerra pntinuou
no Pacífico até agosto de 1945, quando duas bombas |ômicas, detonadas sobre Hiroshima e Nagasaki, convenceram os íponeses a se render.

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SEGUNDA
GUERRA
MUNDIAL
- BATALHA PELA FRANÇA
(1940)
Segunda Guerra Mundial:
; alemãs entram em Paris e
ssam pelo Arco do Triunfo,
06/1940.
(c) Intercontinental Press

Após conquistar a Polónia no outono de 1939, Hitler fez uma pausa de vários meses e os jornais daquele inverno se referiam à sua campanha como a Guerra da Polónia.
Tudo estava calmo até que Hitler resolveu atacar novamente na primavera de 1940.
Em 25 de abril de 1940, soldados, tanques, jipes e Volkswagens alemães seguiram para a densa floresta de Arde-nas, no nordeste da França, evitando as defesas
formidáveis da Linha Maginot. Imaginando ser impossível passar com forças motorizadas pela floresta, os franceses tinham somente uma leve barreira de tropas
de infantaria guardando a região. Para surpresa deles, foram forçados a recuar pelas forças alemães. A velocidade e o vigor do ataque caracterizaram aquilo que logo
ficaria conhecido como a guerra-relâmpago (Blitzkrieg), em que um

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lado atacava tão rapidamente que o oponente não tinha tempo de se reagrupar ou recuar.
A guerra-relâmpago continuou através da floresta, e, em questão de dias, os alemães surgiam do outro lado, prontos para conquistar os Países Baixos e a Bélgica.
A Força Expedicionária da Grã-Bretanha que apoiava os franceses, recuou para a costa da França e da Bélgica' tentando chegar à Inglaterra. Cerca de 338 mil soldados
britânicos e franceses foram evacuados de Dunkirk em barcos pesqueiros, cargueiros e até iates e veleiros particulares da Grã-Bretanha. Os britânicos haviam respondido
à Blitzkrieg com uma evacuação brilhante que salvou um grande número de soldados.
Para a França, o pior ainda estava por vir. Forças alemãs entraram em Paris em 12 de junho e os franceses foram obrigados a recuar ainda mais para o sul. O marechal
de campo Henri Petain (1856 - 1951) foi chamado da reserva para negociar um armistício com os alemães. Petain conseguiu que a França continuasse controlando o terço
inferior do país, com um novo governo centralizado na cidade de Vichy, em vez de Paris. Para os franceses, a batalha havia sido um desastre horroroso e a visão de
Paris nas mãos dos alemães era uma humilhação insuportável. Duzentos mil franceses tinham sido mortos ou feridos nos combates. Hitler celebrou fazendo com que o
armistício fosse assinado no mesmo vagão de trem em que os aliados haviam forçado a Alemanha a fazer a paz em 1918.

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83
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
- BATALHA DA INGLATERRA
(1940- 1941)
effield, TI:J .ivra, na Segunda
0'ji'iu Mundial, 1941.
i Lb N,ji "nal Archives/AFP

Adolf Hitler estava disposto - ansioso, na verdade - a chegar a um acordo com a Grã-Bretanha. Mas Winston Churchill (1874 - 1965), que havia se tornado primeiro-ministro
em 10 de maio de 1940, foi irredutível em sua resistência. Jamais se renderia ou negociaria com o poder nazista. Assim, Hitler decidiu conquistar a Grã-Bretanha.
Os alemães sabiam que nenhuma potência estrangeira havia tomado a Inglaterra desde 1066 e que tanto Luis XIV quanto Napoleão Bonaparte haviam fracassado por
causa do domínio britânico no mar. Agora, pensavam que o poder alemão no ar, representado pela Luftwaffe (força aérea alemã), seria suficiente para bombardear o
povo britânico até que se rendessem. Hitler ordenou que a Luftwaffe realizasse campanhas de bombardeamento sobre a Grã-Bretanha em preparação para

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a Operação Leão-Marinho - invasão total da nação, caso necessário A batalha começou em 13 de agosto, conhecido como o Dia da Águia com 1.485 aeronaves alemãs no
ataque.
Mas Hitler deixou de considerar a nova arma que os britânicos haviam desenvolvido: o radar. Os britânicos sabiam antecipadamente o local ao qual os alemães iriam
dirigir seus ataques e enviavam aviões da Real Força Aérea (R.A.F.) para combater os bombardeiros inimigos que se aproximavam. Mesmo assim, o peso das ofensivas
alemães foi suficiente para garantir um sucesso considerável. Eles bombardearam uma série de campos de aviação e estavam próximos de reprimir a R.A.F. quando Hitler
deu ordens para uma mudança de estratégia. Ordenou que, em vez de destruir os campos de aviação, a Luftwaffe se concentrasse em arrasar as principais cidades inglesas.
Aviões alemães logo convergiram em Londres e Coventry, criando grande tumulto entre a população urbana da Inglaterra.
A firmeza do povo britânico durante as Blitz foi notável. Inspirados pelas transmissões de rádio de Winston Churchill, encorajados ao saber que a R.A.F. estava
revidando os ataques contra os alemães e determinados a triunfar, os britânicos resistiram. Muitas pessoas passavam as noites em túneis do metro de Londres e em
abrigos antiaéreos. Enquanto isso, a força da R.A.F. continuava a crescer, bem como a precisão de seu radar. Em 17 de setembro de 1940, os alemães já estavam sofrendo
mais perdas no ar do que podiam aguentar e Hitler retirou-se da batalha. Era sua primeira grande derrota e as implicações deste fato se ampliariam com a continuação
da guerra. Churchill ficou exultante com a vitória e elogiou os pilotos da R.A.F. com as famosas palavras: "Nunca, no âmbito dos conflitos humanos, tantos deveram
tanto a tão poucos."

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84
SEGUNDA
GUERRA
MUNDIAL
- BATALHA DE PEARL HARBOR
(1941)
avurd japonesa mostra aviões preparando-se para decolar, nte d batalha de Pearl Harbor.

Enquanto Alemanha e Itália lutavam contra a Rússia e a Grã-Bretanha, os Estados Unidos continuavam fora do conflito. Um forte movimento isolacionista ainda existia,
devido às perdas sofridas na Primeira Grande Guerra, e muitos americanos tinham esperanças de que conseguiriam permanecer fora de outra guerra europeia. Essa atitude
mudou quando a base naval americana em "V - IVarl Harbor, no I lavai, foi atacada. O Japão imperial havia se juntado, em um tratado de defesa, à Alemanha e à Itália.
Após o sucesso na invasão de grande parte da China na década de 1930, os japoneses estavam procurando novas terras para conquistar. O presidente dos Estados Unidos,
Franklin Roosevelt (1882 -1945) declarou um embargo na venda de petróleo para o Japão em 1941 como forma de registrar o descontentamento americano

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com as conquistas do Japão na Ásia oriental. Logo após a declaração desse embargo, o governo militar do Japão começou a planejar um ataque surpresa fatal contra
os Estados Unidos.
Embora o pessoal da inteligência americana tivesse advertido que os japoneses eram uma ameaça, a maioria dos formuladores de políticas não considerava os perigos
vindos do oriente. Acreditava-se que os japoneses não eram suficientemente capacitados ou irresponsáveis para se meter com os Estados Unidos. Os americanos ficaram
chocados quando os japoneses realizaram um ataque surpresa naquela manhã de domingo, 7 de dezembro de 1941.
Uma frota japonesa comandada pelo almirante Chuichi Nagumo havia deixado o Japão e seguido, a todo o vapor, por uma rota que a deixou a nordeste das ilhas do
Havaí. Com a vantagem da surpresa, aviões japoneses decolaram de um de seus cargueiros e atacaram a base americana às 7h55min da manhã. Os resultados foram devastadores
para os americanos: 188 aviões foram destruídos no ataque e 2.581 americanos foram mortos. Cinco dos oito navios de guerra que estavam no porto afundaram, mas nenhum
dos cargueiros da Frota do Pacífico foi atingido - estavam no mar quando o ataque aconteceu. A ofensiva terminou em uma hora. Os japoneses haviam dado um golpe potente
e eficaz contra os americanos, mas deixar de destruir os cargueiros custou caro. Como predissera o alto-almirante Isoruku Yamamoto (1884 - 1943), o Japão poderia
lutar contra os Estados Unidos em igualdade por algum tempo, até que o poderio industrial americano o ultrapassasse com sua produção e esmagasse a nação insular.
Pearl Harbor tornou-se um grito de união para os americanos e milhões correram para se alistar nas forças armadas. Os dias de isola-cionismo haviam terminado e os
Estados Unidos entraram na guerra contra o Japão. Em seguida, em 11 de dezembro de 1941, a Alemanha declarou guerra aos Estados Unidos.

85
SEGUNDA
GUERRA
MUNDIAL
- BATALHA DE MIDWAY
(1942)
¦ B. Coale. Pintura mostrando
ataque norte-amerícano aos
aviões japoneses.

O alto-almirante japonês Isoruku Yamamoto (1884 - 1943) informou aos seus superiores que precisaria obter outra importante vitória no Pacífico para garantir que
os americanos não bombardeassem as ilhas do Japão. Em maio de 1942, Yamamoto zarpou do Japão com quatro cargueiros, diversos navios de guerra e um grupo de navios
de apoio que somavam 162 embarcações - a maior e mais potente frota que o Japão colocaria em ação durante a guerra. Yamamoto rumou em direção à ilha Midway, esperando
pegar os americanos de surpresa mais uma vez.
Nos seis meses desde Pearl Harbor (ver n2 84), uma pequena equipe de peritos em comunicação de rádio americanos havia conseguido descobrir o código secreto dos
japoneses. Trabalhando dia e noite, instalada em porões no Havaí, a equipe repassava informações cruciais sobre as movimentações de Yamamoto aos

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almirantes Raymond Spruance e Frank Jack Fletcher. Enquanto Os japoneses se aproximavam da ilha Midway, duas frotas americanas estavam prontas para encontrá-los.
A batalha feroz se estendeu de 4 a 6 de junho de 1942, com o combate crucial sendo travado na manhã do dia 4. Às 6h30min d manhã, 108 aviões japoneses decolaram
e atingiram a ilha Midway com algum sucesso. Um grande número de bombardeiros aéreos americanos revidou contra a frota japonesa; 33 aviões de torpedos foram perdidos
e não houve nenhum impacto sobre os japoneses. O momento decisivo ocorreu quando 54 Dauntless - bombardeiros de mergulho dos Estados Unidos - decolaram às 10h26min
da manhã. Ao encontrarem a frota japonesa, os americanos diminuíram a altitude justamente quando centenas de aviões japoneses reabasteciam nos conveses de três cargueiros.
Por cinco cruciais minutos, os aviões americanos bombardearam os navios japoneses e, naqueles cinco minutos, a guerra naval pela supremacia do Pacífico estava perdida
para o Japão. Inúmeros aviões e pilotos experientes foram eliminados, três carregadores foram afundados e o quarto ficou bastante avariado. Enquanto os japoneses
abandonavam cabisbaixos os combates aéreos de Midway, o almirante Yamamoto sabia, embora muitos do alto comando japonês negassem, que o Japão havia feito sua aposta
na guerra e perdido.

86
SEGUNDA
GUERRA
MUNDIAL
- BATALHA DE STALINGRADO
(1942 - 1943)
Tanque alemão abandonado
pelos alemães em Stalingrado,
01/1943.
€ Popperfoto/lntercontinental Press

Ocupar a Mãe Rússia era missão extraordinária e apenas líderes tão megalo-maníacos como Napoleão Bonaparte (1769 - 1821) e Adolf Hitler (1889 - 1945) iriam se aventurar
a fazê-lo. A Operação Barbarossa, lançada em 22 de junho de 1941, deu início à maior onda de mortes já sofridas por um único front. Tropas alemães invadiram a Rússia
e, usando suas famosas táticas de guerra-relâmpago (Blitzkrieg) [ver n" 81], conseguiram chegar perto de Moscou em dezembro, antes de serem detidas por uma série
de contra-ataques russos. Na primavera de 1942, Hitler lançou uma nova ofensiva. Querendo tomar e controlar as regiões ricas em petróleo das montanhas do Cáucaso,
enviou grandes destacamentos das forças alemães que estavam na Rússia para a península da Criméia e para a cidade de Stalingrado, assim batizada em homenagem ao
líder da Rússia soviética, Josef Stalin (1879- 1953).

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Os alemães seguiram diretamente para os campos de petróleo, mas Hitler - que cada vez mais tomava o controle estratégico de seus generais - insistia em que os exércitos
conquistassem e controlassem Stalingrado primeiro.
Os alemães entraram nos subúrbios da cidade em agosto e começaram uma violenta série de batalhas para tomar posse. O exército principal da Rússia permaneceu
na margem leste do rio Volga não entrando na defesa, que foi realizada pelos habitantes da cidade e uma guarnição de soldados. Nas brigas corpo a corpo que se seguiram
nas ruas, o estilo característico dos alemães - velocidade e manobras - era muito menos eficaz do que havia sido em campo aberto, nas estepes russas. Três meses
de lutas sangrentas deram aos alemães o controle de noventa por cento da cidade, mas custaram-lhes um grande número de homens.
A Rússia contra-atacou em 19 de novembro de 1942, com uma série de ataques circulares pelos rios Don e Volga. Os russos afugentaram unidades húngaras e búlgaras
que guardavam os flancos alemães e, em duas semanas, haviam cercado completamente o Sexto Exército alemão dentro da cidade em ruínas. O general Friedrich von Paulus
pediu permissão para sair da armadilha, mas Hitler lhe assegurou que a força aérea alemã os reabasteceria pelo ar. Sem outra opção que não fosse continuar a lutar,
von Paulus e seus homens ficaram, até mesmo quando uma unidade de ajuda da península da Criméia chegou a cinquenta quilómetros da cidade. A força aérea alemã não
conseguiu cumprir sua promessa de levar suprimentos e, ao final de janeiro, os alemães que estavam na cidade passavam fome. Von Paulus enviou mensagem a Hitler,
pedindo permissão para se render; a resposta que recebeu foi o bastão de um marechal de campo prussiano. A mensagem de Hitler era para que lutassem até a morte.
Em vez disso, von Paulus escolheu se render e, em 2 de fevereiro de 1943, os setenta mil soldados alemães que restaram se renderam às forças russas.
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SEGUNDA
GUERRA
MUNDIAL
- BATALHA DO DIA D
(1944)
Tropas norte-americanas
desembarcam na Normandia
durante o Dia D, 06/1944.
(c)AFP

De 1941 a 1944, Josef Stalin insistiu em que os britânicos e americanos abrissem um "segundo front" na Europa para aliviar a pressão de suas forças soviéticas. Como
precisavam fortalecer suas tropas na Inglaterra e coordenar seus esforços, britânicos e americanos só ficaram prontos para invadir o continente no início de 1944,
e mesmo então, muitos de seus líderes continuavam seriamente apreensivos. Adolf Hitler havia tomado o continente tão decisivamente durante os anos de 1940
e 1941 que muitos dos generais britânicos temiam ver a cena se repetir.
A ordem de avançar veio do general americano Dwight D. Eisenhower (1890 -1969), comandante supremo das forças aliadas. Quando soube pela previsão do tempo que
a travessia do Canal da Mancha ficaria imprevisível no começo de junho, ele pensou por alguns momentos e
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GUERRA FRIA
(1945-1990)
AMEPHKAHCKHM 0EPA3 HÍH3HH
} Cartaz soviético de propaganda,
< 1950, destinado a exibir o estilo
h de vida norte-americano,
( recorrendo a estatísticas
'' criminais para mostrar que "a
cada 21 segundos ocorre um
crime grave nos EUA".
então proferiu a famosa frase: "Certo, vamos." O tempo de espera havia passado, era hora de atacar os alemães no continente. Durante a noite de 5 de junho de 1944,
1.213 navios de guerra, 4.126 porta-aviões, 763 embarcações auxiliares e 864 navios mercantes foram posicionados entre Plymounth, na Inglaterra, e a costa da Normandia
na França. Tropas transportadas por ar aterrissaram na retaguarda alemã, derrubando pontes e cortando comunicações. Um bombardeio violento foi usado para enfraquecer
as posições alemãs. Apesar de toda essa preparação, ainda havia muita incerteza quando 175 mil soldados americanos, britânicos, canadenses e australianos se dirigiram
para seus pontos de desembarque naquela manhã de 6 de junho.
As tropas aliadas chegaram às praias às 6h30min da manhã e foram recebidas com uma quantidade de tiros surpreendente, disparados pelos alemães da defesa. Os
alemães estavam esperando que o ataque principal fosse ocorrer na região de Pas de Calais, mas os soldados que faziam a defesa das praias lutaram com ferocidade.
Os americanos desembarcaram em duas praias que chamaram de Utah e Omaha; entraram 14 quilómetros a partir da primeira, mas foram detidos por um enclave a apenas
dois quilómetros e meio de Omaha, que lhes custou três mil vítimas. Os britânicos aterrissaram nas praias de Gold e Sword e seguiram para o interior até avistarem
as cidades de Bayeux e Caen no primeiro dia. Os soldados canadenses desceram em Juno e entraram para o interior por 11 quilómetros.
A defesa alemã foi prejudicada porque Hitler havia determinado que suas unidades blindadas não se movessem sem suas ordens; quando o Fuhrer foi acordado em seu
quartel-general às quaro horas da tarde, não havia mais tempo para que o contra-ataque alemão tivesse qualquer efeito. Ao cair da noite do dia 6 de junho de 1944,
os aliados haviam desembarcado 87 mil homens e sete mil veículos. Dada a superioridade aliada no ar, os alemães não tinham chance de tirar aqueles homens de suas
cabeças-de-ponte na costa da Normandia. A Fortaleza Europa de Hitler havia sofrido um grande golpe.

A euforia da derrota de Hitler mal havia esmaecido quando Estados Unidos e Rússia se deram conta de que se moviam em direções opostas: um queria tornar o mundo seguro
para a democracia e o capitalismo, enquanto o outro procurava converter o mundo em uma sociedade socialista baseada na doutrina marxista-leninista.
Foi durante os governos de Josef Stalin e do presidente americano Harry Truman (1884-1972) que a Guerra Fria teve início. A União Soviética logo ganhou o controle
de quase toda a Europa central e a oriental no final da Segunda Guerra Mundial. Quando a Rússia enviou ajuda aos guerrilheiros comunistas na Grécia, Truman respondeu
com a Doutrina Truman e a política de contenção, que declaravam que os Estados Unidos auxiliariam qualquer governo que

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procurasse se defender contra agressões comunistas. Em 1946, 0 ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill observou que uma "Cortina de Ferro" havia descido
sobre a Europa central e a oriental cunhando assim uma expressão que se tornou emblemática da Guerra Fria. Em 1949, os Estados Unidos tiveram importância crucial
na formação da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para a defesa da Europa ocidental, e a Rússia respondeu com o Pacto de Varsóvia de 1955.
Os russos fizeram um bloqueio a Berlim Ocidental (controlada pelos americanos) de 1948 a 1949; só a campanha maciça de socorro aéreo empreendida pelos americanos
pôde deter os soviéticos. Por duas vezes, o presidente americano Dwight Eisenhower (1890 -1969) fez ameaças declarando que talvez usasse armas nucleares no Vietnã,
mas foi no governo de seu sucessor, John F. Kennedy (1917 -1963) que a maior crise aconteceu. Em 1962, Kennedy exigiu que os soviéticos retirassem seus mísseis da
ilha de Cuba. O premiê soviético Nikita Khruschev (1894 - 1971) relutou de início, e os russos só recuaram horas antes do prazo final imposto pelos americanos. Em
1973, tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética pareciam prontos para entrar no Oriente Médio para dar apoio aos Estados que deles dependiam durante a Guerra
do Yom Kippur.
A rivalidade russo-americana cedeu durante a era da détente, na década de 1970, mas voltou com mais força ainda durante o governo de Ronald Reagan (1911 - 2004).
Reagan implementou a Iniciativa da Defesa Estratégica, acreditando que tornaria os Estados Unidos invulneráveis a um ataque nuclear. Em seus esforços para se equiparar
à tecnologia americana, os russos gastaram o que sobrara de seus recursos económicos e, durante a liderança de Mikhail Gorbachev (1931 -), o Kremlin evitou confrontos.
Declarando a política da Glasnost (abertura), Gorbachev se encontrou com Reagan e com seu sucessor, George Bush (1924 -), e reduziu enormemente o número de mísseis
soviéticos apontados para os Estados Unidos.
Foram as revoluções de 1989 na Europa central e oriental que desferiram o golpe fatal à Guerra Fria. A Rússia não interveio quando

i uu uuerras que mudaram a niMuno ^^ ...-
Alemanha Oriental, Hungria, România e outros países derrubaram seus governos comunistas, e a Cortina de Ferro caiu no final de 1989. A própria Rússia logo entrou
na luta pelas mudanças, e, em 1991, tanto Gorbachev quanto Bush já falavam sobre o fim da Guerra Fria e o início da cooperação entre o Oriente e o Ocidente.

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V-.

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GUERRA DA INDOCHINA
(1946-1954)
Guerra da Indochina:
distribuição de vestimentas e
¦JI alimentos pelos soldados
franceses à população de Soc-Trang a Bac-Lieu. (c) AFP

A guerra entre a França e parte de sua antiga colónia que começou em 1946 transformou-se em uma guerra com repercussões internacionais; uma guerra que convenceu
muitos franceses da futilidade de tentar manter um império em terras longínquas. Em 1946, a França, eufórica por ter se libertado da ocupação nazista, procurou se
restabelecer como uma das potências coloniais de importância no mundo.
O Japão retirou suas forças da Indochina em 1945 e duas Indochinas logo surgiram. A República Democrática do Victnã foi proclamada em 2 de setembro de 1946,
com a cidade de Hanói como capital e Ho Chi Minh (1890 - 1969) como primeiro presidente. Desconfiados desse Estado desconhecido, os franceses organizaram um governo
provisório na região sul do país, sob a regência apenas nominal do imperador Bao Daí; era, na realidade, um Estado fantoche da França.

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Em 19 de dezembro de 1946, forças do Veitminh (Vietnã do Norte) realizaram um ataque surpresa aos alojamentos franceses próximos a Hanói, inaugurando uma luta
que se estenderia pelos sete anos seguintes. Os franceses resistiram a qualquer acordo com o Vietnã do Norte e conseguiram que os Estados Unidos, ainda que com relutância,
reconhecessem seu Estado Associado do Vietnã, com capital em Saigon, na região sul do que antes fora a Indochina.
Sob a liderança de Ho Chi Minh e do general Vo Nguyen Giap os norte-vietnamitas lançaram uma ofensiva no delta do rio Vermelho em 1950, que não conseguiu desalojar
os franceses. Entre 1951 e 1953, o Vietminh atacou os franceses com táticas de guerrilha de tal forma que o apoio popular ao conflito começou a diminuir na França.
O fator crucial que debilitou a última resistência francesa veio quando os vietnamitas sitiaram a cidade de Dien Bien Phu, controlada pelos franceses e situada na
região noroeste do Vietnã francês. O cerco durou de 13 de março a 7 de maio de 1954, comandado pelo general Giap, que surpreendeu seus inimigos ao passar com sua
artilharia por terrenos que muitos acreditavam ser intransponíveis e ocultando sua aproximação até estar pronto para lançar uma série de ataques concentrados.
Embora os franceses tenham infligido muitas vítimas, a inexorável onda de ataques humanos e os bombardeios da artilharia exauriram a defesa. Os franceses se
renderam em 7 de maio, marcando o fim de uma era do colonialismo europeu: nem mesmo o poderio aéreo e de fogo dos franceses havia conseguido impedir a captura da
fortaleza por um inimigo implacável, que estava determinado a conquistar e controlar seu próprio país. Um armistício foi assinado em julho de 1954, dividindo temporariamente
o país em dois, Vietnã do Norte e Vietnã do Sul, pelo paralelo 17. Os franceses logo abandonaram o Vietnã, deixando o caminho aberto para outra potência ocidental
testar sua determinação e sua força contra as do estado comunista do Vietnã do Norte.

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í GUERRA CIVIL - INDIANA E GUERRA ENTRE \ ÍNDIA E
, PAQUISTÃO
(1947-1948)
Soldados indianos, apoiados
pelos britânicos, chegam a
Srinagar para lutar contra as
tropas paquistanesas,
12/11/1947.
(c) Bettmann/Corbis/Stock Photos

Os indianos que haviam trabalhado ao lado de Mohandas Karamchand Gandhi (1869 - 1948) para obter a libertação do país exultaram com a repentina independência da
índia, conquistada em 1947. No entanto, os graves problemas internos e externos da nação continuavam. Eram problemas particularmente difíceis, pois envolviam questões
religiosas e territoriais.
Dada a divisão do subcontinente entre hindus e muçulmanos, a Grã-Breta-nha e as Nações Unidas decidiram dividir a índia em dois Estados: a índia pre-dominantemente
hin-duísta e Paquistão Ocidental e Oriental. O Paquistão Ocidental e o Paquistão Oriental distavam centenas de quilómetros um do outro, separados pela volumosa região
norte da índia. A divisão tornou-se efetiva em 14 de agosto de 1947 e a Grã-Bretanha retirou-se oficialmente do subcontinente.

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Quase cm seguida, em 16 de agosto, uma guerra civil entre hindus e muçulmanos eclodiu em Punjab, na índia. Os combates logo se espalharam e integrantes dos
dois grupos religiosos da região norte entraram em pânico. Cinco milhões e meio de refugiados trocaram de moradia entre o Paquistão Ocidental e o oeste da índia,
cerca de um milhão e 250 mil pessoas fugiram do Paquistão Oriental para Bengala Ocidental e quatrocentos mil hindus trocaram o Paquistão Ocidental pela índia. Rebeliões
ocorriam constantemente nas regiões do norte e talvez um milhão de pessoas tenha morrido durante o período de deslocamento, entre 1947 e 1948. O primeiro-ministro,
Jawaharal Nehru (1889 - 1964), não permitiu que as tropas britânicas ainda presentes na índia interviessem, o que fez com que as rebeliões ficassem mais difíceis
de ser debeladas.
Jammu-Kashmir, antigo estado britânico na índia, havia decidido manter a independência tanto da índia quanto do Paquistão. A população predominantemente muçulmana
era governada por uma classe de donos de terra hindus e, em outubro de 1947, muçulmanos patanes em Poonch se revoltaram contra estes proprietários. Como Jammu-Kashmir
fazia fronteira tanto com o Paquistão quanto com a índia, o Paquistão enviou tropas para defender os direitos da população muçulmana. As forças paquistanesas cercaram
Muzaffarabad e Uri, incendiaram uma série de vilarejos e avançaram até avistarem a capital de Srinigar. O governante de Jammu-Kashmir pediu socorro à índia e tropas
indianas foram transportadas por via aérea de Deli a Kashmir. As tropas indianas (formadas, na maioria, por sikhs) forçaram os paquistaneses a recuarem até a fronteira
deles com Kashmir.
Em 30 de janeiro de 1948, Gandhi foi assassinado por um extremista hindu. Gandhi havia trabalhado, jejuado e orado pela paz entre hindus e muçulmanos e, após
a sua morte, os dois grupos religiosos da índia acabaram se entendendo melhor. Outras três semanas de combates entre índia e Paquistão em Kashmir levaram as Nações
Unidas a declararem um cessar-fogo em abril de 1948. A maior

parte de Kashmir tornou-se estado da índia, enquanto a parte que ainda era controlada pelo Paquistão tornou-se uma província daquele país, conhecida como Azad (livre)
Kashmir. Disputas entre Paquistão e índia sobre os direitos sobre a água continuaram até 1960.

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GUERRA DE INDEPENDÊNCIA I ISRAELENSE
í (1948-1949)
Proclamação da independência
do Estado de Israel em Tel-Aviv,
14/05/1948.
(c) AKG/Intercontinental Press

O Estado judeu de Israel foi proclamado em 14 de maio de 1948. Naquele mesmo dia, os exércitos e forças aéreas de cinco diferentes Estados árabes (Egito, Síria,
Transjordânia, Líbano e Iraque) declararam guerra à nova nação. Os israelenses logo adotaram o lema "Ein Breira" (Nenhuma outra solução) e sua luta pela sobrevivência
criou uma ética militar raramente igualada na história das guerras.
Israel foi criado pelas Nações Unidas, que tentava compensar os judeus pelas profundas perdas que haviam sofrido durante a Segunda Guerra Mundial. A divisão
da Palestina feita pela ONU deixou metade do território nas mãos dos palestinos e a outra metade nas mãos dos israelenses, que em 1948 totalizavam aproximadamente
seiscentos mil.
A guerra começou com aviões árabes bombardeando cidades dos judeus e os

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JdIMUei VV Ilidiu

exércitos de todas as cinco nações árabes atacando Israel ao mesmo tempo. A situação parecia absolutamente irremediável, uma vez que os árabes possuíam uma superioridade
esmagadora em número, além de melhores equipamentos militares. Os israelenses lutaram em defesa; sua missão era preservar sua nova terra, a primeira que possuíam
desde a tomada de Jerusalém e da Judéia pelos romanos. As tropas da Transjordânia capturaram a Cidade Velha de Jerusalém e as forças árabes já haviam sido detidas
em todos os outros lugares quando uma trégua da ONU entrou em vigor em 11 de junho de 1948.
Quando os combates recomeçaram em 8 de julho, foram os israelenses que tomaram a ofensiva, capturando Nazaré (mas não a Cidade Velha de Jerusalém). Uma segunda
trégua, efetiva em 18 de julho, permitiu que os árabes se reagrupassem. A guerra foi reiniciada em 14 de outubro, com outro armistício instituído em 22 de outubro.
A última campanha ocorreu entre 22 de dezembro e 8 de janeiro de 1949. Aquela altura, a força total do exército israelense havia chegado a cem mil homens e mulheres,
e os judeus fizeram os árabes recuarem em todos os fronts.
O cessar-fogo de 7 de janeiro de 1949 levou a negociações que finalmente terminaram em julho de 1949, com Israel assinando armistícios com todas as nações árabes,
exceto o Iraque, que, no entanto, retirou suas forças. Ao final do verão de 1949, não havia dúvidas de que a nova nação israelense havia sobrevivido a seu maior
teste, com fabulosa engenhosidade e determinação.

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I GUERRA DA I COREIA
I (1950-1953)
Garota com seu irmão às costas
passando pelo tanque M-26 em
Haengju, Coreia, 09/06/1951.
(c) AFP

Em 25 de junho de 1950, tropas da Coreia do Norte atravessaram o Paralelo 38 da latitude norte e atacaram a República da Coreia do Sul. Dois dias depois, a Organização
das Nações Unidas convocou seus membros a auxiliarem os sul-coreanos sitiados; 15 países responderam imediatamente. Os Estados Unidos tomaram a dianteira e, quando
a ONU pediu ao presidente americano Harry Truman (1884 -1972) que designasse o comandante-chefe das operações, ele logo nomeou o general Douglas MacArthur(
1880-1964) para o posto.
Os norte-coreanos capturaram territórios com uma rapidez espantosa e, em 5 de agosto, haviam quase chegado à ponta da península. Lá foram detidos por forças
combinadas da Coreia do Sul e das Nações Unidas, na linha do perímetro de Pusan. O general MacArthur designou uma arriscada movimentação anfíbia para

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REVOLUÇÃO CUBANA
(1956-1959)
Foto de Ernesto "Che" Guevara
em Havana, Cuba,
conversando com um
guerrilheiro cubano, 1959.
(c) AFP

Entre 1956 e 1959, um pequeno grupo de guerrilheiros liderados por Fidel Castro (1926 -) expulsou o regime militar do general Fulgencio Batista y Zaldivar (1901
- 1973). Conduzida com um mínimo de recursos, a Revolução Cubana criou o primeiro Estado comunista no hemisfério ocidental, provocando a ira de seu vizinho do norte.
Fidel Castro fora excelente atleta e aluno quando jovem; formou-se em Direito em 1950. Em 26 de julho de 1953, liderou 160 revolucionários em um ataque suicida
ao quartel de Moncada, em Santiago de Cuba. Capturado e condenado a 15 anos de prisão, cumpriu de fato dois anos antes de ser libertado por uma anistia geral. Com
um punhado de seguidores, foi para o México planejar sua nova tentativa de depor Batista, que havia, ele próprio, tomado o poder em um golpe, em 1952.
Castro e 81 seguidores desembarcaram na costa da província do Oriente

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em 2 de dezembro de 1956, após uma traumática viagem de sete dias, saindo do México a bordo do iate Granma. Unidades da Guarda Rural de Batista atacaram os homens
de Fidel em 5 de dezembro, matando ou capturando todos, exceto Che Guevara, 14 homens e o próprio Fidel Castro. Vendo sua situação desesperadora, Fidel levou esse
mínimo grupo à cadeia de montanhas Sierra Maestra.
No início de sua luta contra Batista, Fidel Castro tinha 16 homens para combater quarenta mil soldados e policiais. Em 17 de janeiro de 1957, Fidel conseguiu
sua primeira vitória na mínima Batalha de La Plata; embora pequena, a batalha deu início à fama do poder dos guerrilheiros de Fidel. Após sobreviver por pouco a
um ataque aéreo contra sua posição duas semanas depois, Fidel divulgou seu "Apelo ao Povo de Cuba", que delineava propostas para o melhoramento da sociedade cubana.
Batista enviou centenas de homens ao quartel de Fidel Castro nas montanhas, em uma ofensiva de 76 dias, iniciada em 20 de maio de 1957. Mil homens de Batista
morreram e quatrocentos foram feitos prisioneiros, enquanto Fidel se tornava herói da população de Cuba. Fazendo intermináveis transmissões pela Rádio Rebelde, Fidel
denunciava Batista e seu regime como corruptos e patéticos. Em 1957, seu irmão, Raul Castro, capturou 49 cidadãos americanos; o irmão mais velho logo libertou os
reféns e ganhou terreno em Cuba como consequência.
Fidel conquistou seu sucesso decisivo no final de 1958. Chc Guevara capturou a cidade de Santa Clara em 30 de dezembro e, logo após a meia-noite, em 31 de dezembro,
Batista e sua família embarcaram em aviões para fugir para a República Dominicana. Fidel Castro entrou em Santiago em 2 de janeiro e em Havana em 3 de janeiro de
1959. Sua notável revolução havia durado 25 meses; nos 18 meses seguintes, ele levaria Cuba a seu atual status de Estado marxista-leninista. Embora muitos observadores
critiquem os métodos e fracassos económicos de Fidel, ele continua sendo o líder mundial com um dos mais longos perídcfós de permanência já registrados na história
dos séculos XX e

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GUERRA DO VÍETNÃ
(1956-1975)
Guerra do Vietnã: habitantes da
cidade de Hanói no Nordeste do
Vietnã durante um ataque a
bomba dos norte-americanos,
05/07/1967.
(c) AKG Images/lntercontinental Press

Em 1956, uma guerra civil foi iniciada entre o governo comunista do Vietnã do Norte (estabelecido em 1946) e o governo do Vietnã do Sul, que recebia cada vez mais
apoio dos Estados Unidos. Originalmente, tratava-se de uma guerrilha em que lutavam os soldados vietcongues, homens que voltaram a sua terra natal no Vietnã do Sul
para lutar contra o governo supostamente democrata.
Desde o início,
os Estados Unidos for
neceram conselheiros
militares ao Vietnã do
Sul e, em 1961, o pre
sidente John Kennedy
¦ :' - -' (1917 - 1963) autori-
zou que estes conselheiros lutassem junto às tropas sul-vietnamitas. Antes de ser assassinado, em novembro de 1963, Kennedy já havia aumentado a presença americana
no Vietnã para um número substancial de 16 mil homens.
Coube a seu sucessor, o presidente Lyndon Johnson (1908- 1972), expandir o

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comprometimento norte-americano. Em 2 de agosto de 1964, barcos de patrulha norte-vietnamitas teriam atacado destróieres americanos no Golfo de Ionkin. Johnson aumentou
a estatura das forças americanas no Vietnã, sem declarar guerra oficialmente. Aviões americanos realizaram bombardeios no Vietnã do Norte e soldados americanos foram
enviados como aliados oficiais, e não mais como conselheiros. Em 1968, havia mais de meio milhão de soldados americanos no Vietna^íealiZando missões de busca e destruição
contra o Vietcong.
Em janeiro de 1968, o Vietnã do Norte lançou sua Ofensiva de Tet, atacando 36 cidades no Vietnã do Sul. Embora os norte-vietnamitas tivessem sido expulsos, sofrendo
grandes perdas, sua determinação e coragem impressionaram os observadores e um sentimento an-tiguerra começou a crescer nos Estados Unidos.
O presidente Johnson não concorreu à reeleição em 1968, e seu sucessor, Richard Nixon (1913 - 1994), começou a retirar as tropas do Vietnã do Sul em maio de
1969. Em dezembro de 1971, o número de americanos no Vietnã já havia sido reduzido para 184 mil.
O Vietnã do Norte lançou uma invasão do paralelo 17 em 1972 e capturou uma província da região norte. Em retaliação, os Estados Unidos minaram os principais
portos do Vietnã do Norte. As conversações de paz, que haviam começado em 1968, se arrastavam sem avanço e, em dezembro de 1972, o presidente Nixon ordenou 11 dias
de bombardeios contra as cidades do Vietnã do Norte. Um cessar-fogo em janeiro de 1973 levou a acusações de má-fé de ambos os lados. Em 1974, o Vietnã do Norte capturou
diversas capitais do Vietnã do Sul e, em janeiro de 1975, iniciou a tão temida invasão total do sul, através do planalto central. Em 30 de abril de 1975, o Vietnã
do Sul se rendeu incondicionalmente ao Vietnã comunista e Saigon foi reba-tizada como cidade de Ho Chi Minh.
Unidos como a República Socialista do Vietnã em 2 de julho de 1976, o novo país aproveitou o prestígio de sua vitória sobre os imperialistas franceses e americanos
por um período de mais de trinta anos. Durante a guerra, o Vietnã do Sul sofreu 220.357 mortos e 499 mil feridos e os Estados Unidos relataram 57.605 mortos e 303.700
feridos.

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GOLPE DE 1964
E
REGIME MILITAR
(1964-1985)
Golpe militar de 1964: tanques
do exército passam pelas ruas de
São Paulo, 14/04/1964.
(c) João Marques/Acervo
U H/Folha Imagem

Em 1961, com a renúncia do presidente Jânio Quadros (1917 - 1992), João Goulart (1918 - 1976) assumiu a presidência do Brasil. Durante seu governo, cresceram os
movimentos sindicalistas, o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) organizava greves frequentes, o Partido Trabalhista Brasileiro tomava atitudes e posições radicais,
e diversos outros movimentos de esquerda se organizaram. João Goulart tentava mobilizar a sociedade, principalmente os trabalhadores, para a realização de reformas
sociais e económicas.
Esse clima de instabilidade provocou uma reação nos setores conservadores da sociedade brasileira. Empresários, a Igreja Católica, militares e partidos da oposição
temiam e denunciavam o planejamento de uma revolução comunista no país. João Goulart, com seus discursos inflamados, aumentava a reação dos opositores.

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Seu comício de 13 de março de 1964 teve como resposta a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, organizada em São Paulo em 19 de março.
As Forças Armadas começaram a se organizar e, em 31 de março de 1964, saíram de São Paulo e de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro. Os esquerdistas não
opuseram resistência aos militares, e João Goulart, em vez de reprimir os golpistas que seguiam para o Rio de Janeiro, preferiu fugir para o Uruguai, exilando-se
até morrer, em 1976. Com o caminho livre, em lu de abril de 1964, os militares assumiram o poder e, em 9 de abril, decretaram o Ato Institucional n" 1 (AI-1), iniciando
cassações políticas e suspendendo direitos constitucionais. Em 15 de abril de 1964, o general Castelo Branco (1900 -1967) foi eleito presidente pelo Congresso Eleitoral.
Os presidentes da República passaram a ser eleitos indireta-mente por um colégio eleitoral. O país mergulhou em uma ditadura militar imposta à força, que viria
a durar 21 anos. Muitos foram presos como subversivos; presos políticos eram torturados e desapareciam. Em 1968, um novo Ato Institucional, o AI-5, abriu caminho
para novas cassações e suspensões de direitos políticos. O AI-5 ainda permitiu o fechamento do Congresso e suspendeu o habeas corpus, agravando a situação dos presos
políticos.
O governo do general Emílio Garrastazu Mediei (1905 - 1985), de 1969 a 1974, foi um dos períodos mais violentos do regime militar, que viu também o estabelecimento
da censura a todos os meios de comunicação. Os órgãos de repressão política, os DOI-CODIs (Destacamento de Operações e Informações e Centro de Operações de Defesa
Interna), ficaram ainda mais poderosos, sendo usados contra quaisquer opositores ao regime. Ao mesmo tempo, cresciam as pressões contra a ditadura.
Os anos seguintes presenciaram uma lenta abertura política e, em 1985, foi eleito, ainda indiretamente, o primeiro presidente civil desde o golpe, Tancredo Neves
(1910 - 1985), que morreu antes de assumir o cargo. A redemocratização só se completou em 1988, com a promulgação de uma nova Constituição.

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GUERRA DOS SEIS DIAS
(1967)
Abdel Nasser direciona-se à
população da Algéria durante
uma visita, 07/05/1963.
Bettmann/Corbis/Stock Photos

Em junho de 1967, os relativamente pequenos exército e força aérea de Israel realizaram uma das campanhas mais assimétricas da história das guerras. Partindo do
princípio de que tinham de vencer com-pletamente ou enfrentar a destruição, os israelenses planejaram e executaram uma primorosa operação militar entre 5 e 10 de
junho.
O presidente do Egi-to, Gamei Abdel Nasser (1918- 1970), que era reconhecido como o líder mais proeminente do mundo árabe, solicitou que as forças da Organização
das Nações Unidas (ONU) deixassem o Egito em maio de 1967. A ONU concordou e Nasser logo instituiu um bloqueio do Estreito de Tiran, isolando o porto de Israel no
golfo de Aquaba. A medida que outros países árabes começaram a agrupar seus exércitos, o mundo observava em agitado estado de suspense. As vitórias dos judeus em
1948 a 1949 e em

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1956 pareciam esmaecer quando comparadas à combinação de forças que se levantavam contra eles na primavera de 1967.
Surpreendentemente, Israel atacou primeiro. Às 7hl0min de 5 de junho de 1967, aviões de guerra israelenses decolaram, e às 7h45min, já sobrevoavam os campos
da força aérea egípcia. Duas outras ondas de ataque se seguiram e, em três horas, os israelenses haviam destruído trezentos dos 340 aviões da força aérea do Egito.
Ataques semelhantes foram lançados contra a Jordânia e a Síria; ao fim do dia, Israel havia eliminado 416 aviões inimigos, dos quais 393 em terra. Os próprios israelenses
haviam perdido 26 aviões para a artilharia antiaérea.
Na mesma manhã, às 8hl5min, forças israelenses atacaram em terra e obtiveram sucesso quase total. Derrotaram um exército egípcio de duzentos mil homens no deserto
do Sinai e forçaram passagem até as margens orientais do Canal de Suez. No front oriental, os israelenses lutaram corpo a corpo contra os jordanianos c capturaram
tanto a Cidade Velha de Jerusalém quanto a margem ocidental do rio Jordão (Cisjordânia) até 7 de junho, privando a Jordânia de sua terra mais fértil. Ao norte, os
israelenses atacaram duramente os sírios, que se defenderam com desespero. Mas em 10 de junho, toda a região de Golan (série de montanhas ao norte de Israel) já
estava nas mãos dos israelenses. A guerra terminou com um cessar-fogo nesse mesmo dia de 1967.
Israel havia expandido consideravelmente seus territórios e invertido completamente a situação militar do Oriente Médio. Antes de 1967, bombardeiros e aviões
árabes estavam sempre próximos à fronteira de Israel. Após a guerra, eram os aviões israelenses, baseados em Sinai, na Cisjordânia ou no norte de Israel, que poderiam
atacar quando quisessem as capitais Cairo, Aman e Damasco. Na guerra, os israelenses tiveram 759 homens e mulheres mortos e três vezes esse número de feridos, enquanto
os árabes sofreram um total aproximado de trinta mil mortos, feridos ou desaparecidos. A vitória notável foi uma prova do planejamento meticuloso das Forças de Defesa
de Israel antes da guerra.

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BATALHA DO CANAL DE
SUEZ
(1973)
Tanques israelenses movendo-se
por Golã, após ataque da Síria e
do Egito no Canal de Suez,
08/10/1973.
(c) Daniel
Rosenblum/Keystone/Getty Images

Os países árabes ansiavam por vingança contra Israel após as humilhações que haviam sofrido na Guerra dos Seis Dias (ver na 96), em 1967. Em 1973, os presidentes
do Egito, Anwar Sadat, e da Síria, Hafez el-Assad, concordaram em coordenar um ataque contra Israel. Egípcios e sírios empregaram camuflagem e
equipamentos sofisticados e o alto comando israelense não reagiu aos avisos de última hora que recebeu. Os ataques árabes de 6 de outubro, dia do Yom Kippur, foram
uma surpresa para os soldados israelenses em terra.
Os egípcios organizaram a travessia do Canal de Suez, partindo de Port Said, no norte, até a cidade de Suez, no sul, com 285 mil soldados, que usaram pontes
flutuantes para fazer passar dois mil tanques. Os israelenses ainda estavam

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confiantes que venceriam devido à superioridade de sua força aérea, mas quando começaram o ataque aéreo das linhas árabes, perderam grande número de aeronaves para
a artilharia de mísseis Sam-6, que muitos soldados egípcios carregavam. Em 8 de outubro, os egípcios já haviam atravessado o canal e mantinham suas novas posições
contra represálias por terra e ar.
Desacostumados a esse tipo de sucesso, os comandantes egípcios tornaram-se cautelosos, esperando por horas cruciais antes de se movimentarem contra os desfiladeiros
das montanhas do leste. Quando afinal procuraram tomar os desfiladeiros de Mitla e Giddi, sua investida foi rechaçada por uma forte defesa israelense. Os egípcios
fizeram uma pausa em 10 de outubro para aguardar pelo cessar-fogo que esperavam fosse acontecer.
Em vez disso, foram contra-atacados pelos israelenses que, cm 16 de outubro, conseguiram passar por um fraco elo das linhas egípcias. Os israelenses cruzaram
o canal para as margens oeste e destruíram os armamentos antiaéreos dos inimigos, permitindo que a força aérea israelense dominasse o front. Quando o cessar-fogo
foi anunciado cm 24 de outubro, pode-se argumentar que os egípcios estivessem em pior posição do que em 1967, no final da Guerra dos Seis Dias, mas seu sucesso inicial
na travessia do canal teve suas consequências. Daquele momento em diante, os israelenses nunca mais li-zeram pouco caso de seus inimigos árabes c uma iniciativa
pela paz começou a se desenvolver, pressionada tanto pelos Estados Unidos quanto pela União Soviética.

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GUERRA CIVIL AFEGÃ
(1979 - 1389)
Foto do início dos anos 1980
mostra os primeiros grupos da
resistência afegã.
(c) AFP

Em dezembro de 1979, tropas e tanques soviéticos entraram no Afeganistão; seria, pensava o Kremlin, simplesmente uma ação policial. Entretanto, a União Soviética
entrava de fato em uma guerra que muitos historiadores chamam de "Vietnã da Rússia".
A monarquia afegã foi derrubada em 1973, e o Partido Democrático do Povo (simpático à União Soviética) logo se tornou o único partido político com
liberdade de expressão no Afeganistão. O novo governo concluiu um tratado de amizade com a União Soviética em dezembro de 1978 e o Afeganistão logo foi
inundado por literatura e propaganda do comunismo soviético. Mas tanto os soviéticos quanto o Partido Democrático do Povo haviam deixado de considerar
a longa história das tribos afegãs, que não gostavam de influências externas e resistiam a elas

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(ver n"s 57 c 68). As comunidades tribais se revoltaram contra o governo cm 1979 e o Partido Democrático do Povo também demonstrava fraqueza interna; o presidente
foi expulso por seu primeiro-ministro em setembro de 1979, e este foi depois derrubado pelo líder esquerdista Babrak Karmal.
Os líderes soviéticos enviaram trinta mil soldados para o Afeganistão na última semana de dezembro de 1979. Tanques e unidades de apoio vieram em seguida e,
em pouco tempo, os soviéticos transformaram o gabinete de Karmal em um governo fantoche. O sucesso inicial dos soviéticos na tomada de Kabul e de outras cidades
importantes foi denunciado por muitos líderes mundiais, entre eles o presidente dos Estados Unidos, Jimmy Cárter. Mas a reação geral mudou quando o mundo começou
a ver como a experiência no Afeganistão estava se tornando embaraçosa para o exército soviético.
Conhecidos como "mujahedin" (guerreiros santos), os homens das tribos afegãs combateram os soviéticos de suas posições rurais. Os tanques soviéticos não conseguiam
penetrar nas regiões montanhosas e os guerrilheiros abateram soldados soviéticos e do governo de Karmal em grandes números. Os rebeldes afegãos logo foram auxiliados
pelo envio de armas tanto dos Estados Unidos quanto da China comunista; as armas eram passadas para o Afeganistão através do Paquistão.
Surpresa com a força da resistência rebelde, a União Soviética enviou numerosos reforços, até que o total de soldados russos chegou a 1 15 mil. A medida que
a década de 1980 avançava, os líderes soviéticos começaram a achar humilhante enviar tantas tropas e comprometer tanto dinheiro em uma campanha que não levava a
lugar nenhum. Em abril de 1988, os soviéticos aceitaram um acordo de retirada mediado pela ONU e em fevereiro de 1989, quase dez anos após a invasão, os últimos
soldados russos partiram do Afeganistão.
A experiência contribuiu para diminuir o prestígio russo no mundo e foi a última aventura militar do Kremlin durante a era soviética. Mikhail Gorbachev, o líder
soviético que conduziu a retirada, seria o último líder da Guerra Fria.

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GUERRA
iRÃ-lRAQUE
(1980-1988)
Nuvens de fumaça negra
durante a Guerra do Golfo,
13/12/1987.
(c) Françoise de
Mulder/Corbis/Stock Photos

A guerra entre o Irã e o Iraque em 1980 teve causas económicas, políticas e religiosas, mas logo provou ser uma das lutas mais infrutíferas da segunda metade do
século XX. O Irã, nação composta por uma maioria de muçulmanos xiitas, era liderado pelo aiatolá Ruhollah Khomeini (1900 - 1989), que havia tomado o poder do governo
secular do xá em 1979. O Iraque, formado predominan-temente por muçulmanos sunitas, era comandado pelo ditador Saddam Hussein (1937 -), líder do Partido Baath. Os
dois líderes se detestavam.
Irã e Iraque há muito disputavam o controle do rio Shatt al-Arab, que corria entre as duas nações a caminho do Golfo Persa. O Irã fez o primeiro
movimento do conflito, tentando assassinar Hussein e seu premiê substituto e atacando a embaixada do Iraque em Roma. Como resposta, tropas e tanques iraquianos invadiram
o sudeste do

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Irã de 21 a 22 de setembro de 1980. As tropas de Hussein tiveram sucesso no início; afundaram canhoneiras iranianas no Shatt al-Arab e causaram danos consideráveis
a seus campos aéreos e refinarias de petróleo.
Khomeini, entretanto, uniu o povo do Irã, inspirando-o a lutar com um tipo de abandono desmedido quase desconhecido no século que havia inventado tanques, aviões,
bombas e mísseis. "Ondas" humanas de jovens iranianos armados de metralhadoras atacavam tropas iraquianas nas trincheiras. Apesar do enorme número de vítimas que
os iranianos sofreram, suas táticas extremas causaram perdas humanas e consequências psicológicas aos oponentes, e no início de 1982, o Irã já havia recuperado todo
o território que perdera inicialmente para o Iraque (os combates ocorreram nas províncias iranianas de Khuzestan e Kermanshah).
Para piorar a situação de Hussein, aviões israelenses, em uma ação sem vínculo com a guerra Irã-Iraque, bombardearam e destruíram o reator nuclear de Osirak,
próximo a Bagdá, onde cientistas estavam a ponto de criar uma bomba atómica. De 1982 em diante, Hussein tentou estabelecer a paz, mas o aiatolá não deu trégua, querendo
apenas destruir o líder iraquiano e seu regime. A guerra continuou, com os dois países sofrendo enormes danos humanos, materiais e económicos devido ao esforço de
guerra e à perda dos lucros com o petróleo. Um cessar-fogo foi acordado em agosto de 1988. Khomeini morreu em junho de 1989 e Hussein tinha poucos motivos para reivindicar
a vitória de uma guerra que havia custado milhões de vidas e envenenado as relações entre dois dos mais ricos c poderosos países árabes do mundo.

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GUERRA DO GOLFO PÉRSICO
(1990 -1991)
Três soldados norte-americanos
indo em direção ao helicóptero
perto de uma base americana na
Arábia Saudita, 29/12/1990.
(c) Peter Turnley/Corbis/Stock
Photos

A Guerra do Golfo Pérsico, que ocorreu no inverno de 1990 a 1991, foi o conflito mais televisionado que a humanidade presenciara. Milhões de telespectadores testemunharam
o uso de "bombas inteligentes", mísseis Tomahawk e outras maravilhas da tecnologia.
Em 2 de agosto de 1990, tropas e aviões iraquianos invadiram o pequeno Kuwait, nação rica em petróleo localizada ao sul do Iraque. Em 8 de agosto, o líder
do Iraque, Saddam Hussein, anunciou a anexação do Kuwait e a jogada para aumentar seu lucro
com o petróleo parecia ter sido bem-sucedida. A milhares de quilómetros dali, o presidente americano George Bush (1924 -) anunciou que a invasão de Hussein precisava
ser repelida. Agindo por intermédio da ONU, Bush reuniu uma coalizão de países dispostos a auxiliar os Estados Unidos na operação para forçar o Iraque a desistir

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dos resultados de sua agressão. Sanções económicas foram declaradas em 6 de agosto de 1990 e, no dia seguinte, Bush anunciou a Operação Escudo do Deserto, sob a
qual milhares de militares americanos seguiram imediatamente para o Oriente Médio, instalando-se no reino da Arábia Saudita.
O general americano H. Norman Schwarzkopf liderou uma Força de Desdobramento Rápido, que em trinta dias já contava com cem mil soldados americanos e até novembro
de 1990 reuniu 230 mil homens. Os soldados americanos encontraram-se com tropas de outros países que haviam se juntado à coalizão e logo a Organização das Nações
Unidas deu um prazo até 1 5 de janeiro de 1991 para que o Iraque se retirasse do Kuwait.
Saddam Hussein se recusou a voltar atrás e previu que o conflito se tornaria "a mãe das batalhas". Conversações de última hora em Genebra, na Suíça, não conseguiram
mudar a posição do Iraque, e, na noite de 16 de janeiro de 1991, as forças de coalizão iniciaram a Operação Tempestade do Deserto, com um bombardeio aéreo devastador
ao Iraque. "Bombas inteligentes" encontravam alvos militares enquanto evitavam centros civis; 112 mil surtidas foram lançadas durante a guerra.
A guerra por terra começou na noite de 24 de fevereiro. Tropas americanas, sauditas, egípcias, sírias, britânicas e francesas realizaram uma ampla movimentação
flanqueada através do deserto do Iraque contra as tropas iraquianas no Kuwait. A resistência iraquiana começou a ruir e logo o exército de Hussein batia em retirada
em direção ao norte. A retirada forçada foi assediada por bombardeios aéreos, e milhares de tanques, jipes e viaturas de transporte de pessoal foram destruídos na
única estrada principal do Kuwait que segue para o norte. Os Estados Unidos suspenderam a guerra por terra em 28 de fevereiro, após cem horas de combates em que
os iraquianos haviam sido totalmente expulsos do Kuwait.
As forças de coalizão tiveram 343 mortos (dos quais 268 eram americanos) durante a guerra. As imensas perdas iraquianas foram estimadas em cem mil mortos, trezentos
mil feridos e 88 mil prisioneiros.
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Fim do livro.

2 comentários:

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