AS MIL E UMA NOITES ERÓTICAS
Lourivaldo Perez Baçan
ÍNDICE
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 1
O ruído das turbinas não incomodavam os passageiros da classe especial daquele vôo da British Airway. Olhando pela janela, Dorothy Jane tinha a impressão
de que o aparelho descansava, imóvel e leve, sobre flocos de algodão.
Adorava voar, adorava viajar. Gostava de agitação, do movimento, do não parar em parte alguma e estar em todos os lugares.
Como jornalista de uma importante revista americana, tinha esse privilégio agora. O mundo lhe parecia pequeno e ela o conhecia.
Era estranho aquela sensação. Já visitará todos os continentes, conhecia todos os aeroportos famosos, mas estava absolutamente convicta de que nada
vira. Para uma garota nascida do interior de Oregon, já fora mais longe do que pudera imaginar, quando, debruçada na janela de sua casa, olhando as plantações,
imaginava até onde ia aquele mundo.
Na época em que lhe parecia pequeno, delimitado pelas colinas que cercavam a pequena fazenda. À medida em que foi vencendo etapas e distâncias, mais
e mais aquele mundo crescia, e paradoxalmente, diminuía.
Sorriu de suas lembranças quando o comandante da aeronave caminhou pelo corredor ao seu lado . Ela já o conhecia de viagem anterior.
Ele era um homem alto de ombros largos e sorriso cativante. Suas maneiras inspiravam uma calma surpreendente e, ao mesmo tempo, uma inquietação que,
naturalmente, apenas as mulheres entendiam.
- Olá - sorriu ele, apoiando-se no encosto da poltrona de Dorothy - Por onde tem andado?
- Pergunta boba! - riu ela. - Como vai, Kevin?
- Voando - brincou ele, e os dois riram - Vai cobrir algum importante acontecimento em Paris?
- Não, apenas uma conexão.
- Ainda hoje?
- Não, amanhã cedo. Tenho que aguardar um colega que se encontra na Espanha. Um fotógrafo...
- Ah, entendo! Para onde vão em seguida?
- Oriente Médio.
- Emirado de Kandin, não é?
- Como advinhou?
- A situação lá está explosiva, também leio jornais - sorriu ele, olhando-a de um modo que a fazia estremecer, perturbada. - Estarei livre à noite.
Só voarei amanhã também...
Havia uma clara sugestão nas palavras dele e no modo como ele a olhava. Dorothy Jane entendeu isso.
- É um convite, comandante? - desafiou ela.
- Se quiser encarar dessa forma? Onde se hospedará está noite?
- No hotel Marceaux, da rua Caumartin...
- Poderíamos tomar um aperitivo no café de la Paix e depois nos divertimos em algum ponto interessante... Conheço um bom restaurante na Champs Elisses...
- Roteiro aprovado - concordou ela.
- Às oito está bom para você?
- Estará ótimo. E você, onde se hospeda?
- Tenho um apartamento, algo simples para minhas etapas em Paris e... - sorriu ele, como se deixasse o resto por conta da imaginação dela.
- Muito cômodo, não? - sorriu ela, com ligeira malícia.
- Até lá, e uma feliz aterrissagem - despediu-se ele, passando adiante.
Dorothy inclinou-se para o lado e, por instantes, voltou-se a cabeça para olhá-lo se asfastar. Depois reclinou-se em sua poltrona, acendeu um cigarro
e fumou-o, pensativamente.
* * *
Num café esfumaçado e suspeito da zona do cais, em Marselha dois homens se encontravam. Um deles vestia-se com sobriedade extrema. Suas roupas eram
talhadas e caras. A expressão do seu rosto era calma, extremamente calma, como se ele vivesse alheio a tudo que o cercava.
O outro homem que agora bebericava um uísque, tinha olhos miúdos e brilhantes que parecia atento a tudo o que acontecia ao seu redor. Vestia-se com
roupas comuns. Um paletó surrado, em estilo americano, sobre uma camiseta de marinheiro, molhada à altura do peito pelo suor.
O homem elegante acendeu um cigarro e, por instantes, fitou o outro com desconfiança.
- Bebe alguma coisa, senhor? - indagou o homem de olhos miúdos.
- Vinho branco, por favor.
O outro fez um sinal para o garçon e pediu uma garrafa do melhor vinho branco que tivessem por ali.
- Vai nos desculpar, senhor, mas nossa adega não é das melhores. A freguesia sabe... - riu ele, apontando para as mesas ao redor deles.
- Compreendo - respondeu o outro, demonstrando-se claramente aborrecido com tudo aquilo.
Momento depois o garçom os servia. O homem elegante apanhou a garrafa e examinou o rótulo. Fez uma careta de desagrado. O garçom fez menção de levar
de volta o pedido, mas ele reteve a garrafa, ordenando, com um gesto, que ela fosse aberta.
Degustou um pouco de vinho. Não aprovou nem desaprovou. Seu rosto permaneceu impassível. Ele encarou o homem impassível. Ele encarou o homem a sua
frente e indagou:
- Tem certeza que ele chega hoje?
- Absolutamente, senhor.
- É de confiança?
- Um profissional do gênero.
- Há e compreender que todos aqueles detalhes mencionados na carta são imprencindíveis.
- Tenho sua carta comigo e posso lhe afirmar com convicção que ele é o homem exato para esse trabalho.
- O preço?
Os olhos miúdos do homem que bebia uísque brilharam mais forte. Ele fez contas mentais, examinou o homem diante de si, calculou a importância do trabalho.
Não se tratava apenas de fazer um preço pelo trabalho do profissional. Havia outros detalhes que teriam de ser preparados para que tudo corresse perfeitamente.
- Eu pensei em algo como...Duzentos mil dólares - disse, enquanto levantava o copo diante dos olhos e, ao mesmo tempo, examinava a reação do outro.
Nada houve, no entanto, para ser observado. O rosto do homem elegante continuou impassível, como se o preço estivesse mais do que razoável.
- Só um detalhe, senhor - disse, afinal, com certo desprezo. - O preço será pago ao profissional, tão logo ele cumpra sua parte.
- Há de compreender que haverá despesas iniciais, viagens, trabalhos extras na preparação...
- Creio que encontrará aqui o necessário para isso - disse o outro, retirando um envelope e depositando-o sobre a mesa.
O homem de olhos miúdos apanhou-o, abriu-o disfarçadamente, e seus olhos se tornaram, por momentos, maiores.
- Acho dez mil um adiantamento razoável - disse, voltando ao cálice de vinho.
Levou-o aos lábios, depois afastou-o definitivamente.
- Sim, parece-me muito razoável - concordou o outro.
- Neste envelope encontrará todas as instruções. Acho que está tudo muito bem entendido, não?
- Perfeitamente, senhor - concordou o outro.
O homem elegante levantou-se e deixou o café. Lá fora respirou fundo o ar da noite, mas a maresia deixou-o ligeiramente nauseado.
Dois homens que estavam à porta do café se acercaram dele.
- Vocês continuam aí. Tão logo ele passe as instruções para o profissional, livrem-se dele, é um homem muito perigoso, pode ser muito falador e isso
é inconveniente - disse ele, sem alterar um músculo do rosto, enquanto caminhava em direção de uma reluzente limusine.
* * *
Dorothy Jane caminhou adiante do boy que levava suas malas. No elevador, abriu o telegrama que estava a sua espera na portaria.
Houvera uma mudança de planos, fruto direto dos acontecimentos no Emirado para onde ela deveria ir. O Emir chegara de surpresa a Paris, tendo abandonado
o País, onde um golpe de estado estava em andamento.
Dorothy teria de conseguir uma entrevista com ele, depois partir para o emirado e cobrir os acontecimentos por lá.
Aquela mudança afinal, fora muito providencial. Durante o resto da viagem ela estivera imaginando como poderia ser excitante conhecer o apartamento
do comandante Kevin.
Afinal, estava em Paris e gostava de se divertir naquela cidade. As emoções poderia ganhar novas forças e uma intensa vibração. Talvez fosse a fama
da cidade, de conflitos e mistérios que parecia morar em cada um daqueles prédios históricos, daquelas vielas antigas, daqueles momentos famosos.
Tão logo se viu sozinha, atirou-se sobre a cama e levantou uma das pernas. tirando o sapato. Repetiu com a outra perna e respirou fundo.
- Paris! exclamou, sem conseguir afastar de seus pensamentos o compromisso à noite com o comandante.
Pensou em repousar um pouco, mas haveria tempo para isso no final daquela noite. Precisava, sim, estar preparada para quando ele chegasse.
Levantou-se e tratou de retirar as malas o essencial. Não podia desfazê-las inteiramente, pois viajaria na noite seguinte.
Em seguida meteu-se no chuveiro, de onde saiu algum tempo depois, gotejante. Enxugou-se, depois enrolou a toalha ao redor do corpo e foi até a janela.
A noite caía mansamente sobre a cidade. Aquele clima permanente de festas e paixões penetrou pelos poros da garota excitando-a.
Seus olhos admiravam a vista maravilhosa que se descortinava dentro dela. Observou os obeliscos da Praça da Concórdia, a estrutura metálica da torre
Eiffel, o Arco do Triunfo e as ruas movimentadas.
Agora realmente Paris, tinha tinha toda uma noite para gozá-la. Pensou em Kevin. Ele lhe pareceu sempre um homem desagradável, e ela torceu para que
essa impressão fosse verdadeira. Nada mais maçante em Paris que a companhia de um homem desinteressante.
Deixou a janela aberta ao sabor de uma brisa com perfume de flores e foi se sentar diante do espelho. Levantou os cabelos no alto da cabeça. Não gostou
do efeito.
Penteou-os para o lado e segurou-os com uma das mão. O resultado não a agradou. Talvez o melhor a fazer fosse deixá-los soltos e naturais.
Escovou-os demoradamente, enquanto se olhava no espelho e pensava naquela meninazinha numa janela onde não se via muito. Sim, seus sonhos todos se
tornavam realidade. Sua inquietação permanente dava-lhe o necessário incentivo para concretizá-los todos.
Fora um longo caminho, mas ela o vencera. O nome de Dorothy Jane era conhecido e respeitado em todo o mundo como uma das mais audaciosas e autênticas
jornalistas.
Onde quer que aparecesse, ali estavam os acontecimentos do momento, capaz de influenciar a todos os leitores do mundo. Sua reportagens famosas eram
traduzidas e publicadas em inúmeras outras revistas. Uma polpuda conta bancária lhe garantia um futuro tranqüilo para quando, se isso viesse a acontecer,
aquela inquietação afinal desaparecesse.
Enquanto isso, era uma mulher cortejada, admirada, invejada. Dorothy estava no topo do mundo e adorava a cada minuto disso tudo.
O telefone tocou. Imaginou uma ligação internacional de seu chefe, desejando comprovar que ela recebera as novas instruções.
Olhou-se mais uma vez no espelho, satisfeita com seu cabelos, depois foi atender.
- É Dorothy Jane, a repórter? - indagou uma voz com um sotaque francês inconfundível
- Marcel! - exclamou ela, com um sorriso feliz nos lábios. - Como soube de minha chegada?
- Temos nossos espiões - brincou ele. - Quanto tempo pretende ficar desta vez?
- Um dia apenas...
- E depois?
- É segredo.
- Não para mim. Sei para onde vai...
- Sabes? Então por que perguntou? - indagou ela, com um desafio divertido no tom de voz.
- Gostaria de vê-la ainda esta noite...
- É impossível!
- Já tem um compromisso?
- Sim tenho - reconheceu ela.
- Você não perde tempo mesmo, sorriu ele, e Dorothy se lembrou daquele sorriso com um certo carinho.
Haviam se reconhecido na Nicaraguá, durante a revolta sandinsta. Marcel era correspondnte de uma importante revista francesa e se apegara deliciosamente
a Dorothy.
Junto haviam enfrentado alguns momentos de perigo, mas haviam por outro lado, saboreados instantes de intimidade inesquecíveis.
Seria bom revê-lo, pensou ela, mas havia o compromisso com o comandante. Seria deselegante dar um bolo principalmente porque Kevin sempre foi muito
atencioso para com ela.
- Que acha de almoçarmos juntos amanhã? - sugeri ele.
- Eu adoraria Marcel.
- Passo por aí ao mei-dia, está bem?
- Ótimo.Um beijo...
Quando desligou, ela ficou, por instantes, recordando-se daqueles momentos emocionantes na Nicarágua. Marcel, como todo francês que ela conhecera,
sabia fazer uma mulher se sentir realmente como mulher.
- Talvez nas próximas férias - disse ela, disse ela, em voz alta, olhando-se no espelho.
Soltou, então a toalha e observou seu corpo nu. Estava ali uma mulher de trinta anos com um corpo de adolescente ainda. Dorothy se orgulhava daquela
plástica invejável.
Seu rosto ganhou uma expressão de pura malícia quando olhou as roupas que separara para aquela noite. Um conjunto bem esportivo de slack e túnica que
usaria sobre o corpo nu, valorizando os encantos de seus seios redondos e firmes.
O decote por certo escandalizaria as melhores famílias de Oregon, mas, em Paris ele estaria perfeitamente enquadrado naquele contexto de permanente
festa que pairava no ar.
Consultou o relógio. Ainda tinha uma hora. Sentou-se nua e explêndida, diante do espelho. Abriu sua frasqueira e espalhou seu melhor perfume em pontos
estratégicos de seu corpo. Depois abriu seu estojo de maquilagem e tratou de realçar ainda mais as linhas perfeitas e bonitas de seu rosto.
Quando terminou, vestiu-se e saiu à janela. As luzes da cidade criavam um efeito que ela sempre admirara. a torre Eiffel ao longe, tinha a aparência
de uma árvore natalina à noite, com lâmpadas acesas traçando seus contornos.
Retornou, momentos mais tarde, para diante do espelho. Olhou-se, deu um toque nos cabelos, depois alinhou melhor o decote sobre os seios deixando à
mostra o vale encantador entre aquelas deliciosas elevações.
Pensou em Kevin, naquela sua calma surpreendente, e imaginou que ele poderia ser carinhoso ao extremo, carinhoso como Marcel, do modo como ela apreciava.
Desceu para esperá-lo no saguão. Um jornal da portaria chamou sua atenção. Falava da chegada do Emir a Paris e comentava, com vários detalhes, a situação
no Emirado de Kandin.
Dorothy sorriu de tudo aquilo. Aqueles jornais deveriam ter um pouco mais de respeito pelo leitor. Se nada podia adiantar sobre a real situação do
país, que evitassem, então, as suposições.
Essa era, pelo menos, sua filosofia de trabalho. Não gostava de conjeturar. Ou ia fundo nos fatos ou permanecia em silêncio. Fora nisso que baseara
todo o seu sucesso.
Capítulo 2
Quando tomou o táxi à saída do aeroporto, Rick Hendel pensava na deliciosa aeromoça espanhola com quem flertara durante a viagem.
Conseguira o endereço dela em Paris, mas não poderiam se encontrar naquela noite, de qualquer modo, o nome estava anotado e ele tinha certeza de que
não faltaria oportunidade para estar com ela num futuro próximo.
Havia dado o endereço do hotel ao motorista, depois acendera um cigarro. Pensou em Dorothy Jane a famosa repórter. Trabalharia com ela pela primeira
vez e isso seria um privilégio, um verdadeiro golpe de sorte.
Trabalhar com Dorothy era o mesmo que se promover. Aquela mulher tinha o poder de influenciar os leitores com sua maneira honesta e profunda de escrever.
Para que os leitores realmente sentissem o que ela escrevia, Dorothy exigia sempre os melhores fotógrafos.
Rick tivera algum sorte nos últimos tempos, mas sabia que sua posição se consolidaria após aquele trabalho. Seu nome seria ainda mais conhecido e respeitado.
Ele sorriu, satisfeito. Estava certo de que poderia fazer um excelente trabalho.
Pouco mais tarde, já no hotel, lia o telegrama de seu chefe, comunicando a alteração nos planos. Iriam entrevistar o Emir, e a viagem para o Oriente
Médio ficaria para a noite seguinte.
Sabia onde Dorothy estaria, por isso resolveu ligar para ela e discutirem a respeito do dia seguinte. Foi informado, porém, pela portaria do hotel
da rua Caumartin, que Dorothy havia saído e não deixara recado.
Achou deselegante e irresponsável da parte dela aquilo, mas já sabia alguma coisa sobre Dorothy Jane. Era uma mulher independente e detestava todo
tipo de exigência. O universo deveria girar ao redor dela.
- Essas estrelas... - resmungou ele, enquanto caminhava pelo aposento.
Foi até a janela. Paris estava acesa, gritando e diversão no movimento de suas ruas, naquela atmosfera que se podia sentir contagiar.
Segundo o que sabia, teria de ficar ali e aguardar que Dorothy entrasse em contato com ele. Essa era a ordem, mas não era muito agradável para um homem
inrriqueto e sedento como Rick.
Afinal, estava em Paris. Não iria passar sua noite ali trancado num quarto de hotel esperando um telefonema de uma repórter caprichosa, apesar de famosa.
Abriu sua mala de roupas e retirou algumas peças. Em seguida desnudou-se ali mesmo, no quarto, diante da janela e foi para o banheiro.
Algum tempo depois estava vestido pronto para sair. Separou alguns dólares para aquela noite, depois desceu para o saguão.
Deixou um recado para o caso de Dorothy telefonar, depois saiu para a noite de Paris, sem haver percebido os dois homens que estavam lendo jornais
num sofá do saguão.
Tão logo ele chegou a rua, os dois homens se levantaram, deixando de lado seus jornais e o seguiram.
Rick havia pensado em tomar um táxi, mas a noite esseava agradável demais, e além disso, ele precisava de um exercício após a viagem.
Enquanto descia a rua Royale, na direção da Praça da Concórdia, pensava em sua última missão, na Espanha. O material conseguido a respeito dos bascos
iria lhe render muito bem.
Garotas francesa, com rostos sugestivos e corpos esguios, passavam por ele, tirando-lhe o fio do pensamento. O melhor a fazer era começar a pensar
nelas.
Na famosa praça, seus olho se alongaram pela célebre Avenida Champs Elysses até o arco do Triunfo. Antes de mais nada, era preciso comer alguma coisa.
Depois, com um pouco de sorte, talvez conseguisse alguma companhia agradável para o fim da noite, pensou.
Os dois homens que o tiveram seguindo desde o hotel apressaram o passo, alcançando-o.
- O senhor é americano, não? - indagou um deles, com sotaque francês.
- Sim, claro.
- Não seria por acaso Rick Hendel?
- Como me reconheceu? - indagou ele envaidecido.
- Ora, eu e meu amigo aqui somos admiradores do seu trabalho.
- Verdade?
- Achamos admirável sua série sobre os acontecimentos em El Salvador.
Rick nunca se sentiu tão bem em toda sua vida.
Aqueles dois homens pareciam saber muito sobre seu trabalho. O que falava com sotaque francês era baixote, de olhos brilhantes e gesticulava muito.
O outro, por incrível coincidência, assemelhava-se ao próprio Rick. Era louro e alto, mas muito calado e discreto. como se todo o tempo estivesse observando
o fotógrafo.
- Já sei o que vamos fazer - disse o francês, que se apresentou como Gilles Fontaine.
- Vamos levá-lo ao melhor restaurante de Champs Elyses e depois uma visita a uma casa muito especial e particular - propôs ele, com um sorriso malicioso
- Muito especial? - repetiu Rick, apenas para confirmar o que entendera.
- Muito, muito especial - repetiu o francês, esfregando as mãos matreiramente.
- Então o que estamos esperando? - indagou Rick satisfeito e eufórico como nunca se sentira antes.
* * *
Kevin parecia querer saber tudo a respeito de Dorothy e de seu trabalho. Após o jantar haviam saído para o passeio. Ela preferira caminhar, por isso
ele deixara o carro para trás.
Foram até a praça da Concórdia. Caminhavam lentamente. Enquanto ela falava, com seu jeito manso e delicioso, Kevin a examinava com atenção. Dorothy
era realmente uma mulher fascinante.
Sua beleza atingia um grau maduro, definitivo. Seu corpo bem talhado inspirava pensamentos maliciosos capaz de roubar aquela calma aparente que ele
deixava transparecer.
- Não é irônico? - indagou ela, quando passavam diante dos edifícios públicos da praça.
- O que?
- Que esta praça se chame Praça da Concórdia? Durante a revolução francesa, Maria Antonieta e muitos outros foram decapitados aqui.
Ele sorriu, concordando, com um sorriso, enquanto ela parava, cruzando os braços do corpo, e seus olhos magníficos se enchiam de luzes.
- Vamos voltar ao carro? - propôs ela.
- Sim, claro - concordou ele.
Dorothy apoiou-se, então, ao braço dele, e seu perfume envolveu-o. Aqueles cabelos soltos e perfumados esvoaçavam ligeiramente, provocando efeitos
de intensa beleza naquele rosto expressivo.
- A viagem cansou muito? - indagou Kevin.
- Um pouco...
- Há alguns lugares que gostaria que visse - disse ele, a voz denotando, pela primeira vez, uma certa impaciência.
- Seu apartamento, por exemplo? - riu ela, sem ironia.
- Também - respondeu ele, como firmeza. encarando-a.
Por momentos os olhos Dorothy se fixaram nele, provocando arrepios. Em seguida ela olhou para frente, enquanto sorria levemente.
Estava deliciosamente cansada e apreciava aquele cansaço que lhe tirava a vontade de se agitar na noite pariense. Seus pensamentos, escolheram um lugar
calmo, aconchegando, onde seu corpo pudesse se estirar e uma boa conversa repousasse seu espírito, predispondo-o a certas atividades muito íntimas.
Uma comichão deliciosa pareceu se espalhar por todo o seu corpo.
- Há alguns lugares que gostaria que visse - disse ele, a voz denotando, pela primeira vez uma certa impaciência.
- Seu apartamento, por exemplo? - riu ela, sem ironia.
- Também - respondeu ele, com firmeza, encarando-a.
Por momentos os olhos de Dorothy se fixaram nele, provocando arrepios. Em seguida ela olhou para frente, enquanto sorria levemente.
Estava deliciosamente cansada e apreciava aquele cansaço, que lhe tirava a vontade de agitar a noite parisiense. Seus pensamentos escolheram um lugar
calmo, aconchegando, onde seu corpo pudesse estirar e uma boa conversa repousasse seu espírito, predispondo-o a certas atividades muito íntimas.
Uma comichão deliciosa pareceu se espalhar por todo seu corpo.
- Há uns dois anos mais ou menos tive oportunidade de prestar um favor ao Barão de Rotschild...
- O homem dos vinhos?
- Sim, ele mesmo. Como recompensa, entre coisas, recebi dele uma garrafa do famoso Mouton-Rotschild safra mil e novecentos, uma raridade - disse ele
com aparente displincência, mas com visível intenção de provocá-la. - Está em meu apartamento, eu a guardo para uma ocasião especial...
Dorothy olho-o entendendo. O cenário estava pronto nos pensamentos dela. Uma boa cama, uma conversa agradável, um vinho excitante, um homem interessante,
a noite em Paris.
Algum tempo mais tarde, ligeiramente apoiado contra o ombro de Kevin, num quarto todo maluco mais muito excitante, Dorothy sentia aquela inquietação
aumentar em seu corpo.
Estirou o corpo sobre a cama redonda e macia. Sobre a mesa da cabeceira, a garrafa do famoso vinho. Kevin terminou de contar uma passagem pitoresca
e os dois riram.
Ela escorregou do ombro dele e soltou-se sobre a cama. Kevin a olhou demoradamente, detendo-se particularmente naquele decote ousado e sugestivo.
Dorothy respondeu ao olhar. Seus olhos brilharam intensamente. Kevin estendeu o braço e deixou sua taça sobre a mesa da cabeceira. Depois se inclinou
para ela.
- Você é uma mulher fantástica, Dorothy.
- Você é um homem interessante Kevin.
- Sabia que desde a primeira vez que viajamos juntos eu a desejei?
- Você não passou de todo desapercebido - brincou ela, com um sorriso maroto e provocante nos lábios delineados.
- Estou aqui com você e, no entanto, não posso deixar de imaginar quando a verei novamente - falo ele, com sinceridade.
- Estarei por aí sempre, você sabe disso - respondeu ela, sem prometer.
Não estava nisso a beleza e o fascínio de encontro como aqueles? Nada programado, tudo ao sabor do acaso, tudo entregue nas mãos da sorte.
Dorothy queria a vida como ela se apresenta-se, sem programações prévias, sem promessas, livre, totalmente livre.
O corpo de Kevin se inclinou ainda mais para ela. Sua cabeça pendeu. Dorothy fechou os olhos lentamente quando os lábios dele roçaram os seus.
Os braços dela subiram pelo pescoço dele, enlaçando-o e puxando-o para si. Kevin soltou-se num abraço forte e um beijo prolongado, gozando a maciez
e o calor daquele corpo.
Ela vibrou intensamente com aquele beijo e aquele abraço que enchiam seu corpo de uma sensação estonteante e estimulante.
Acariciou sem pressa os cabelos deles, deixando que dentro de si aquelas emoções crescem naturalmente, tirando-lhe o fôlego, distanciando-o da música
que vinha de algum ponto daquele aposento.
Kevin a beijou, então, nas faces, depois no pescoço, saboreando o gosto eletrizante de feminilidade e sensualidade que cobriam aquela pele, tornando-a
fascinante.
Suas mãos se soltaram lentamente sobre o corpo dela, escorregando pelos seus flancos, sentindo os contornos irretocáveis e sensuais, massageando aquela
carnes tentadoras.
Como ela esperava, Kevin era extremamente carinhoso. O toque de suas mãos tinha uma sensualidade incrível e hábil ao mesmo tempo, como se ele a manipulasse
como aos controles de sua aeronave, conseguindo as reações que pretendia.
Calor e a curiosidade natural do sexo moviam os dedos dele naquela caminhada de louvor e elogios sobre as formas sublimes do corpo de Dorothy.
Ele a foi desnudando lentamente, fazendo de cada movimento uma carícia. Dorothy retribui na mesma medida, descobrindo pouco a pouco as formas másculas
e excitantes daquele corpo.
Dorothy suspirou e se apertou a ele, quando seus corpos se viram nus. O calor da pele de Kevin parecia penetrá-la e ir agitar seu íntimo com violência.
Com a mesma lentidão suave do princípio as mãos deles foram refazendo caminho sobre as curvas insinuantes, tornando-a mais e mais amorosa e ardente.
Uma volúpia incontrolável dominou-a. Ela sugou os lábios dele, beijou-o no pescoço e nos ombros. Sua língua penetrou a orelha dele arrepiando-o e excitando-o.
As mãos dele ganharam uma firmeza decidida e provocante sobre o corpo dela, demonstrando um frenesi que excitava a garota.
Com avidez ele espalhou beijos pelo pescoço e pelos ombros de Dorothy, buscando, em seguida, aqueles seios rijos e provocantes.
Arrepios elétricos percorreram o corpo dela, parecendo se concentrar em seu ventre, agitando-o , incendiando-o, inquietando-a e pertubando-a.
Toda a sua sensibilidade aflorou lentamente aqueles beijos que a fazia alucinada. Suas mãos femininas ganharam inquietação sobre o corpo dele, percorrendo-o
em carícias cheias de liberdade.
Ele a amava sem pressa, do modo como Dorothy apreciava. Seus lábios desceram pelos seios dela, chegaram ao seu ventre, provocando-o sensações rítmicas
que a punham em delírio.
Uma das mãos dele pousou sobre os seios da garota, acariciando-os alternadamente. A outra adiantou-se pelas coxas dela, indo e vindo num crescimento
tesão que a fazia estremecer.
Um toque mais íntimo, finalmente, a fez gemer entrecortada e se apertar a ele freneticamente. A carícia íntima persistiu com um gentileza incrível
e eficiente.
Seus dedos finos e sensíveis deslizaram febrilmente pelo corpo de Kevin...
Ele suspirou mais forte e suas carícias ganharam agora uma intensidade alucinante, pondo fogo nas veias de Dorothy, incendiando-o seu ventre, fazendo
sua cabeça girar no mais delicioso e arrebatador carrosseel.
Os momentos seguintes foram de puro delírio. As carícias mais audaciosas tiveram lugar. A pele de Dorothy parecia arder ao toque daqueles lábios. Delícias
indescritíveis se agitavam nas mais puras emoções.
Paris inteira, com suas luzes e história de amores devastadores. pareceu brilhar dentro do aposento, enquanto o mais intenso delírio fazia seus corpos
se contorcerem no momento máximo.
Uma sensação que se esvaía entre arrepios e suspiros, deixando atrás de si um rastro de calmaria e agradável sonolência, fez o corpo de Dorothy se
relaxar inteiramente, em quanto beijos calmos eram espalhados pela sua pele pelos lábios mornos e deliciosos de Kevin.
* * *
Ele a deixou no saguão do hotel, depois se afastou, com um sorriso. Dorothy ficou observando até que ele entrasse no carro, acenasse e partisse.
Ela sorriu, também, e girou o corpo. O relógio na portaria marcava duas horas da manhã. Ela se sentia cansada, mas aquele tipo de cansaço era gratificante
e inesquecível.
Foi até a portaria e pediu o número de um outro hotel. Assim que lhe forneceram, ela ligou para lá.
- Gostaria de falar com o senhor Rick Hendel - pediu ela.
- O senhor Hendel não está no momento. Por acaso é a senhora Dorothy Jane.
- Sim, ela mesma. Algum recado dele?
- Sim, ele disse que irá vê-la pela manhã, as oito horas para estudarem os detalhes.
- Está muito bem, obrigada - desligou ela.
Apanhou suas chaves e rumou para o se quarto. Despiu-se lentamente, tomou um banho quente e, antes de se deitar, abriu a mala e apanhou um envelope.
Havia algumas fotos ali e um breve dossiê sobre o trabalho que teria de fazer. Sua mente trabalhou rápido agora. Os detalhes excitantes dos momentos
de Kevin foram superados e toda a preocupação dela se voltou para o seu trabalho. Quando adormeceu, algum tempo depois, já havia delineado em sua mente
todo o seu esquema de trabalho.
Como das outras vezes, tudo era apenas uma questão de ir a fundo em busca da verdade honesta e completa.
Capítulo 3
Na manhã seguinte, logo ao acordar, Dorothy telefonou para a copa, pedindo seu café no quarto. Depois ligou para a portaria e pediu que lhe mandassem
um exemplar do jornal Le Figaro.
Vestiu-se sem muita pressa, depois foi para a janela olhar o sol se derramar generoso sobre aquela bela cidade. Algum tempo depois bateram à porta.
A copeira trazia-lhe o café e o jornal.
Enquanto ela preparava a mesa para Dorothy, a jornalista abriu o jornal e correu os olhos pelas manchetes, detendo-se um pouco mais sobre algumas notícias
a respeito da situação no Emirado de Kandin.
A vinda do Emir para a França fazia crer na iminência de um golpe de estado no país. Se assim fosse, haveria muito movimento por lá, e Dorothy desejava
estar lá quando isso acontecesse.
Num canto discreto da página havia uma notícia sobre um cadáver encontrado no Sena, possivelmente de um americano, com o rosto deformado por um tiro
de arma potente. Desconhecia-se a identidade do morto e mencionava-se alguma coisa sobre seus cabelos louros.
Dorothy lamentou a morte de um compatriota, más notícias como aquela já não a sensibilizavam mais. A violência do mundo moderno já não a espantava.
Após o café da manhã, decidiu pôr em prática o que planejara na noite anterior, antes de dormir. Faltava pouco para as oito. O fotógrafo deveria ser
pontual, ou Dorothy se encarregaria de enfernizar a vida dele.
Apanhou a lista telefônica e descobriu rapidamente o número do hotel onde o Emir estava hospedado. Quando falou em francês, um homem respondeu com
um sotaque horrível.
- Sou Dorothy Jane, da "Our Time" de Nova Iorque, e gostaria de marcar uma entrevista com o Emir - disse ela.
Do outro lado da linha pareceram ponderar. O nome de Dorothy Jane e de sua revista eram por demais conhecidos em todo o mundo. Ainda assim ela não
esperava tanta facilidade.
- Às três da tarde estaria bem, Srta Jane?
- Sim, naturalmente - concordou ela, satisfeita com a rápida decisão.
- Virá só ou...
- Levarei um fotógrafo comigo.
- Isso dependerá da disposição do Emir - informou o outro.
- Como assim?
- Ele decidirá se pode ou não ser fotografado.
Era uma decisão um tanto arbitrária, mas Dorothy não quis discutir. Afinal, o Emir poderia ser mais temperamental do que sabia sobre ele, ou então
um homem cheio de vaidades.
Como já havia conseguido o essencial que era a entrevista, Dorothy não insistiu nesse ponto. Levaria o fotógrafo. Sempre haveria um meio de conseguir
uma boa foto de uma oposição em contrário.
Quando desligou, consultou o relógio. O telefone voltou a tocar em seguida. Ela atendeu.
- Dorothy Jane? Aqui é Rick Hendel, queria lhe falar a respeito de nosso trabalho e...
- Diabos, rapaz! Eu o esperava às oito aqui, em meu hotel. Não foi isso o que mandou me dizer no recado que deixou com a portaria?
- Sim claro - gaguejou o outro, desconcertado por instantes. - É que acabei de acordar e...
- Pois tem quinze minutos para chegar aqui. Não temos o dia todo. Já marquei a entrevista com o Emir. Ele talvez não se deixe fotografar, por isso
é bom que você vá preparado para surpreendê-lo de alguma forma, entendido? Você deve saber como fazer isso...
- Claro, claro. Estarei aí em quinze minutos.
- É bom mesmo - falou Drorothy, ameaçadora.
Após desligar foi passar os olhos pelo dossiê que troxera sobre o Emir. Por algum motivo já havia se antipatizado com aquele fotógrafo, apesar das
referências que recebera sobre ele.
Pessoalmente ela não o conhecia, mas já vira muitos de seus trabalhos. Nesse ponto não podia criticar Rick Hendel, mas seu senso profissional não era
dos melhores.
Tinham apenas um dia par tratar de tudo em Paris antes de rumarem para o Oriente e aquele rapaz lhe telefonara às oito para informar que acabara de
acordar. Possivelmente se divertira até muito tarde da noite.
Pensou em Kevin e isso fez diminuir sua zanga. Aquele comandante teria sempre um lugar de destaque no seu coração.
Apanhou sua agenda e anotou rapidamente o que faria naquele dia. Havia o almoço com Marcel, a entrevista com o Emir, um horário para pequenas compras
e um passeio e finalmente, a viagem à noite. Deixaria o fotógrafo encarregado de confirmar as reservas e tudo estaria dentro dos planos dela, funcionando
como um relógio.
* * *
Marcel aguardou até que ela sentasse, depois tomou o assento diante dela. Olho-a demoradamente. Dororthy estava esplêndida. Ele admirava aqueles olhos
brilhantes e sedutores, o cabelo solto e natural, as maças do rosto ligeiramente salientes e os lábios carnudos e sensuais.
Ela se vestia de modo excitante. Uma túnica rendada sobre o tronco nu, deixando perceber as formas rijas e arrendondadas dos seios e a beleza bem esculpida
de seus ombros retos e elegantes.
Ele sorriu, embevecido. Dorothy estendeu suas mão sobre a mesa e tomou as dele.
- Você está ótima Dorothy! - exclamou ele, levando uma das mão dela aos lábios.
O toque cheio de calor fez um arrepio subir pelo braço da garota e a se desfazer morno e gostoso pelo seu corpo.
- Você continua o mesmo galanteador de sempre Marcel - sorriu ela, lisonjeada.
- Pedi seu coquetel favorito. Pensou que eu me esqueceria? - Falou ele. apontando para o copo diante dela.
- Eu tinha certeza de que não esqueceria.
Ele apanhou seu copo e levantou-o num esboço de brinde. Dorothy fez o mesmo, e tomaram goles silenciosos e curtos. Os olhos dele não cessavam de percorrer
o rosto de Dorothy, como se fizesse um reconhecimento e, ao mesmo tempo, matassem saudades.
Ela notou isso e, por instantes, veio-lhe a mente todas aquelas agradáveis recordações íntimas vividas na Nicarágua, apesar dos horrores daquela guerra
civil.
Os pensamentos de Marcel se identificaram com os dela e um apetite quase incontrolável fez seu corpo estremecer ligeiramente e desejar novamente o
de Dorothy.
- Sei que pretende ir para o Oriente - disse ele.
- Como?
- Já lhe disse ontem, temos nossos espiões - disse o rapaz.
- Está bem, eu vou para lá. Algum recado para alguém?
- Não, apenas gostaria de saber quando vai e em que avião pretende ir.
- Por quê?
- Porque pretendo ir com você.
- Que agradável surpresa, Marcel - falou ela, sinceramente surpreendida.
- Aprecio que tenha gostado da idéia.
- Adorei.
- Se me der os detalhes, tratarei de providenciar isso agora mesmo...
- Puxa, deixei meu fotógrafo encarregado disso, mas falarei com ele logo mais e telefonarei para você...
- Seu fotógrafo?
- Designado para esta missão. Rick Hendel, acho que já o conhece, pelo menos de nome.
- De nome apenas. Vi uma porção de trabalhos dele, são impressionantes realmente. Você escolhe sempre os melhores, não?
- É você que o diz - falou ela, lilgeiramente maliciosa, olhando-o intensamente. - O que tem de concreto lá na situação do emirado?
- Tudo é muito vago. Tenho minhas teorias a respeito, mas não posso lhe dizer...
- Por que guardar segredo se sabe que mais cedo ou mais tarde eu saberei mesmo?
Ele sorriu, tomou mais um gole de sua bebida, depois fez um gesto para o garçom. Fizeram os pedidos para o almoço. Dorothy ficou observando seu acompanhante,
ansiosa por notícias realmente interessantes a respeito da situação.
- Bem - disse ele, após a interrupção. - a vinda apressada de Emir para cá é sinal de que as coisas não andam bem para ele. Há um general, seu nome
é Omar Nazur. As forças do emirado estão agrupadas em torno dele e somente em torno dele poderá partir o golpe de estado.
- E quais as relações dele com o Emir?
- Num recente discurso de caserna, Omar criticou severamente a situação do Emir em relação à política adotada por ele em relação ao petróleo.
- Isso é muito significativo...
- Mas não é tudo. A vinda do Emir para cá não significa que ele deixou aberto o caminho para o seu rival...
- Não? O que mais sabe?
- São rumores apenas, mas com muito sentido. O Emir não queria estar no país quando acontecesse algo a Omar...
- Algo acontecesse a ele? Como assim?
- São comentários apenas...Com muito lógica, segundo entendo, porém. A sentença de morte de Omar já foi decretada. Ele morrerá durante a ausência de
Emir, que poderá voltar ao país sem maiores problemas, já que Omar é o único homem capaz de enfretá-lo e vencê-lo, o que é significativo.
- Muito interessante! Agora fale-me um pouco sobre o Emir. Já esteve com ele?
- Sim, logo após sua chegada. Pareceu-me um pouco assustado, apreensivo talvez seja o termo certo. Mas é acessível, apesar de um tanto esnobe...
- Força da riqueza.
- Sim, claro - concordou Marcel. - Estou certo porém, que não apreciara o secretário dele. Quando o conhecer saberá por quê.
Foram interrompidos pelos garçons que serviram o almoço. Conversaram pouco a seguir, mas olhavam-se intensamente. Mais e mais Dorothy sentia voltar
aquelas lembranças da Nicaraguá, e isso a fez sonhar.
Talvez houvesse um excesso de romantismo em suas fantasias, mas não deixava de ser excitante pensarem termos de noites quentes no deserto, de oásis
luxuriantes, de paixões agitadas ardendo na noite milenar.
O francês parecia ler os pensamentos de Dorothy. Pelo menos era o que ela entendia por aquele sorriso malicioso e bom pairando constatemente no canto
dos lábios dele, enquanto a olhava.
Saber que ele viajaria com ela era alentador. Desse modo, a viagem parecia ser muito mais interessante e excitante do que imaginara anteriormente.
* * *
Passava um pouco das quatro e meia quando Dorothy e Rick deixaram a suíte presidencial de um luxuoso Hotel na Praça Vendome.
Enquanto aguardava o elevador, Dorothy olhou para Rick com malícia e esperou dele um sorriso de aprovação. A expressão parva no rosto dele. no entanto.
a confundiu.
- É capaz de imaginar porque ele não quis ser fotografado? - indagou ela.
- Sei lá. essa gente tem cada motivo...
- Mas você cuidou para que isso acontecesse, não?
- Como assim?
A porta do elevador abriu-se. Ambos entraram. Rick firmou melhor a sacola que trazia e encarou Dorothy que o olhava intrigada.
- Quer dizer que não o fotografou?
- Você ouviu o que o secretário dele disse...
- Ao diabo com que ele disse. Eu havia avisado a você, não tomou nenhuma providência quanto a isso?
- E o que acha que eu poderia fazer?
- Uma câmara miniatura, sei que podia usá-la e que deve ter uma...
Rick sorriu forçado, depois adotou uma atitude complacente para com Dororhy.
- Eu poderia lhe dar mil e um detalhes a respeito da impossibilidade de se conseguir uma boa foto com aquela câmara miniatura, começando pela iluminação
do aposento. Sei que você entende um pouco disso tudo, não?
Dorothy talvez entendesse, mas a falta de uma agressividade profissional daquele fotógrafo a deixava preocupada a respeito do sucesso daquela cobertura,
Vira, no entanto, os trabalhos d Rick. Eram sensacionais. Talvez ela tivesse se entrometendo no campo dele. Afinal, Rick deveria saber o que fazia,
senão jamais seria recomendado para aquela missão.
- Está bem, acho que conseguiremos qualquer coisa boa nos arquivos - disse ela, em tom de desculpa.
Rick sorriu apenas, como se estivesse intimamente aliviado por contornar a situação.
Dorothy voltou para o seu hotel. O avião partiria às dez da noite. Marcel já havia sido avisado. A viagem com ele prometia, naquele cenário sugestivo
do Oriente.
Tomou um banho e pensou em fazer as malas, mas lembrou-se que precisava fazer aquelas compras pequenas. Apanhou sua bolsa e deixou o hotel.
Tinha algum tempo livre agora, e caminhar era interessante. Conhecia algumas lojas, e resolveu que uma rápida passagem por elas seria o bastante para
que precisava comprar.
Enquanto caminhava, passou por um banca de jornais. Na manchete de um jornal inferior ela leu a manchete: Você conhece este homem?
Olhou com atenção a fotografia e depois leu alguma coisa. Referia-se ao homem morto encontrado no Sena. Sabia que era um americano pelas etiquetas
das roupas que usava, e nada mais.
O rosto estava refeito numa espécie de montagem, dando a entender que o balaço que recebera fizera realmente um estrago medonho.
Os cabelos, porém, parecem familiares a Dorothy. Após pensar por instantes, ela descartou a idéia com um sorriso e deu de ombros.
Aqueles cabelos pareciam um pouco com os de Rica Hendel, ainda pensou ela, antes de continuar sua caminhada, deixando que a atmosfera de Paris a contagiasse.
À noite jantou sozinha, depois subiu e foi fechar suas malas. Rick chegou algum tempo depois , e juntos tomaram um táxi até ao aeroporto Charles de
Gaulle.
A construção, uma das mais modernas em todo o mundo, sempre impressionava Dorothy.
A espectativa da viagem, o visto nas passagens, tudo isso tomou seu tempo até pouco antes das dez, quando então se lembrou de Marcel.
- Parecia preocupada - observou Rick, abaixando o jornal que lia.
O rosto do fotógrafo revelou-se alarmado. Ele encarou Dorothy com espanto.
- Marcel Forret, acho que deve conhecê-lo...
- Sim, também é jornalista, não?
- Isso mesmo. Irá conosco.
- Por quê? - indagou ele, num tom um tanto agressivo.
- Porque ele quis ir. É o trabalho dele, assim como nós...
Rick ainda olhou por instantes, depois abaixou a cabeça e voltou a se concentrar no jornal diante de si. Dorothy disse qualquer coisa depois se afastou
ao encontro de Marcel que acabava de chegar.
Os dois trocaram algumas palavras, Dorothy apontou na direção de Rick. Marcel foi até o balcão de passagens, acertou os detalhes e depois foi ter com
Dorothy e Rick. O fotógrafo aguardou visivelmente apreensivo. Quando Marcel comprimentou naturalmente, toda aquela expressão assustada de seu rosto se
desfez.
Capítulo 4
Por sobre aquele tapete de flocos, a luz brilhava tranqüilamente, fazendo crer que o avião cruzava uma região irreal, mistura de sonhos e a criatividade
de um grande artista.
Dorothy fechou os olhos, a cabeça pendia ligeiramente para o lado. O cansaço se infiltrava pelo seu corpo. Tivera um dia agitado e merecia realmente
um descanso.
Refez mentalmente o seu dia. Deteve-se particularmente na entrevista com o Emir. Confirmando o que Marcel dissera anteriormente, Dorothy também o julgara
um homem assustado, algo como uma fera acuada e expulsa do seu próprio ninho.
Não era preciso muito esforço para entender aquela situação. O Emir estava entre os homens mais ricos do mundo. A instabilidade de seu governo o ameaçava
e isso era razão mais que suficiente para preocupá-lo.
Um rosto de feição intrasponíveis e de uma impassibilidade irritante desenhou-se na sua mente, fazendo-a lembrar-se do secretário do Emir.
Homem misterioso aquele secretário. Um boneco elegante e frio, de uma determinação que se podia ler em seus olhos. Um homem convencido também, e autoritário
ao extremo.
Deixou-o de lado para voltar a pensar no Emir. Fora uma entrevista muito produtiva, apesar de rápida. Ainda assim, fora o bastante para que ela pudesse
traçar o perfil daquele homem, segundo as próprias palavras dele.
Isso não queria dizer, porém, que a reportagem estava completa. Para Dorothy ela estava apenas no início. Restava ainda muita coisa, como traçar um
outro perfil do Emir, agora através da impressão de seus súditos, de seus homens do governo.
Lembrou-se do general mencionado por Marcel. Havia uma sentença de morte decretada e aquele general possivelmente estava com seus dias contados.
Era trágico, mas terrivelmente interessante, pensou ela, enquanto se sentia observada. Abriu os olhos e endireitou a cabeça.
Na poltrona ao lado, Marcel sorria. Dorothy suspirou, cansada, e ele estendeu a mão, tocando a dela. Seus dedos se entrelaçaram lentamente.
As luzes principais haviam sido desligadas. Lâmpadas guias no corredor projetavam uma fraca claridade dentro do avião, provocando um interessante jogo
de sombras.
Marcel se inclinou para o lado e sua cabeça apoiou-se sobre a de Dorothy. Ela levantou a outra mão e acariciou o rosto dele.
- Cansada? - indagou ele, num tom de voz confortador e, ao mesmo tempo, excitante ao ouvido dela.
- Bastante! - murmurou ela.
- Você se agita demais - continuou ele, a mão soltando dos dedos dela para pousar sobres as coxas roliças e sedutoras.
Dorothy não ofereceu resitência. A carícia provocante pareceu acalmá-la ainda mais e provocar uma deliciosa sensibilidade em todo o seu corpo...
Ele girou um pouco a cabeça e seus lábios tocaram a orelha da garota. Beijos carinhosos provocaram arrepios pelo corpo dela.
- Acho que nunca esquecerei a Nicarágua - disse ele, mordiscando agora o lóbulo da orelha de Dorothy.
Ela encolheu instintivamente o ombro, eletrizada. O hálito ardente de Marcel ameaçava incendiá-la e a idéia de fazer amor no interior de um avião excitou-a
ao extremo.
- Eu também não - respondeu ela, girando um pouco mais o corpo para ficar quase de frente para ele.
A mão de Marcel subiu pelas coxas de Dorothy, passou calmamente pelo seu ventre e buscou a abertura do decote para tomar-lhe um dos seios.
A carícia lenta e excitante a fez estremecer e suspirar. Os lábios dele desceram pelo rosto da garota até que roçassem os lábios dela.
- Eu posso me lembrar de cada momento - roquejou ele, os lábios executando uma dança interessante sobre os lábios dela, espicaçando-a, provocando-a
a um beijo delirante.
As mãos de Marcel se juntaram sobre o peito de Marcel, tocando-lhe a pele, acariando-lhe os músculos firmes e delineados.
Um botão soltou-se no blusão de Dorothy dando mais liberdade de ação a mão do repórter. Cobriu então, com delicadeza um dos seios dela, sentindo-lhe
a excitação.
- A cada dia eu me perguntava quando a reencontraria - disse ele, e seus lábios se colocaram aos dela num beijo vibrante e prolongado.
Os braços dele rodearam o corpo de Dorothy, apertando-o com delicadeza, fazendo a se sentir desejada e amada.
As carícias se tornaram incandescentes. Os beijos se repetiram numa seqüência alucinante.
- Marcel! - murmurou ela, enquanto os lábios desciam pelo seu pescoço, e seu ventre parecia entrar em ebulição, tal o desejo que a tomou de assalto.
Aquele francês era especial, sempre seria especial nos pessamentos de Dorothy. Assim como Kevin, sempre haveria um lugar de destaque para ele em sua
lembranças.
- Eu tenho uma idéia - disse ele, num tom de voz carregado de malícia e desejo.
- Sim?
Marcel aproximou seus lábios do ouvido da garota e sugeriu-lhe qualquer coisa. O silêncio da garota foi a resposta, assim como o sorriso de pura excitação
que brilhou em seus lábios tentadores.
Ambos se levantaram , então, e caminharam pelo corredor do avião. A maioria dos passageiros dormia. Alguns ressonavam, dando a impressão de que havia
qualquer problema com a pressurização do avião que permitia a entrada do barulho das turbinas.
Dorothy abriu a porta do toalete feminino e entrou. Antes de segui-la. Marcel olhou a sua volta. Depois, com o coração aos saltos, entrou e fechou
a porta atrás de si, trancando-a.
Antes que pudesse esboçar qualquer atitude, Dorothy o enlaçou-o com força, esfregando seu corpo ao dele como uma autêntica fêmea assanhada.
O rapaz adorou aquela atitude e enlaçou-a com força, apertando-a contra si, enquanto seus lábios cobriam as faces e o pescoço dela com beijos alucinantes.
Dorothy arfou, dominada pela paixão, vencida pelo desejo. Suas mãos desceram pelo corpo dele, acariciando-o possesivamente. Soltou-lhe o cinto depois
o fecho da calça. Uma das mãos dele desceu rápido pelo corpo de Dorothy repuxando-lhe o vestido e subiu, acariciante e insinuante, até tocar a calcinha
da garota.
Dorothy suspirou mais forte, agora empurrando a calça dele para baixo.
Um arrepio fez estremecer o corpo de Marcel, que livrou a calcinha e acariciou-a intimamente, fazendo-a estremecer em espasmos.
- Oh, Marcel! Que loucura! - exclamou ela, deixando que ele a empurrasse contra a parede e facilitando-lhe os movimentos.
A posse foi lenta e deslizante, fazendo-a se sentir como aquela aeronave que deslizava sobre flocos de algodão celeste.
Suas mãos acariciavam os cabelos dele, a nuca, as costas. Seus lábios correspondiam aos beijos alucinados, enquanto seus quadris iniciavam movimentos
de oposição aos movimentos dos quadris de Marcel.
Seu ventre agitou-se como se diluísse em fogo. Suas pernas tornavam-se gradativamente fracas para mantê-la em pé, por isso se agarrou a ele e deixou
que fluísse dentro dela aquela maravilhosa sensação de intensa sensibilidade e vibração.
Num espasmos, Marcel firmou-a com força junto ao seu corpo e , sentiu explodir em sensações, desfazendo-o no corpo dela.
* * *
Estavam em Kamal, capital do Emirado de Kandin há dois dias e, durante todo esse tempo, nada haviam podido realizar. Presos no hotel, não podiam sair
às ruas.
A situação estava tensa, os rumores de que já houvera um golpe de estado espalhavam-se rapidamente. Dorothy, assim como os outros correspondentes,
irritavam-se diante daquele desrespeito total à imprensa mundial.
Guardas fortemente armados permaneciam diante do hotel, impedindo que qualquer um saísse às ruas vazias.Toda e qualquer tentativa de chegar a uma real
visão da situação do país esbarrava-se naquela espécie de prisão.
No saguão, Dorothy e alguns outros repórteres conversavam. Ninguém sabia de onde havia partido a ordem para que todos os jornalistas permanecessem
naquele hotel, sem liberdade de ação.
- Creio que deve ter sido daquele general lembrou Marcel, cujo interesse na situação do país se via prejudicado agora pelo interesse total na figura
de Dorothy.
- É possível! Quem sabe alguma coisa de positivo sobre esse homem, se é que ele ainda está vivo? - indagou Dorothy.
- Também ouvi rumores a respeito do que lhe estava para lhe acontecer, por ordem do Emirado, mas não creio que ele esteja morto - disse um outro correspondente.
- Sei apenas que se há alguém capaz de fazer este país voltar à calma, este homem é o general Omar. Tenho minhas dúvidas, no entanto, quanto à qualidade
do governo que pretende implantar aqui.
- Como assim? - indagou Dorothy.
- Pelo que sei, o general Omar nunca saiu de Kandin. É um homem sem cultura, avesso as tentações do ocidente, um militar que chegou ao generelato graças
somente à sua habilidade militar, ao seu conhecimento de guerra.
- Um camponês? - riu Dororthy.
- Um camponês burro e grosso - disse alguém.
- Então isso explica o tratamento que estamos recebendo - comentou Dorothy, deixando o grupo e indo até o bar.
Marcel a seguiu. Atrás dele, sentado calmamente numa poltrona, Rick Hendel limpava a lente de suas máquinas fotográficas.
- O que pensa de tudo isso, Marcel? - indagou-lhe a garota, assim que apanharam bebidas e se sentaram a uma das mesas, diante de uma ampla janela que
dava para rua.
- Acho simplesmente que devíamos boicotar totalmente esse general.
- Opor-nos a ele através de nossas reportagens?
- Sim, parece-me um bom modo de mostrar ao mundo o tipo de homem que pode substuir o Emir.
- Diabos! Nós nem conhecemos o homem...
- Mas estamos sentido na carne de que ele é capaz. Não podemos trabalhar, não sabemos de nada, ninguém vem nos ver, não nos permitiram sair à rua,
que gente é essa.?
- Acho que tem razão? Devíamos malhá-lo, jogando a opinião pública mundial contra suas atitudes... - disse ela, sem estar muito certa de que aquela
era a melhor atitude a tomar.
Afinal, estava curiosa e intrigada a respeito de tudo. O que levara o general a dar aquela autêntica ordem de prisão aos repórteres de todo o mundo
que ali estavam.
Um veículo militar desceu a rua rapidamente. Dorothy e Marcel olharam pela janela. Havia um homem, um general, num dos assentos. Seu rosto moreno,
o bigode negro e bem cuidado, a clássica pose militar, tudo isso chamou a atenção de Dorothy.
Diante do hotel havia uma praça e, no momento seguinte, um tiro ecoou, fazendo com que o veiculo se desgovernasse e fosse cair num repuxo.
O motorista ficou tombado sobre o volante, comprimindo com o corpo a buzina, o que chamou a atenção de todos no hotel, que correram as janelas.
Novos tiros foram ouvidos. Dorothy podia ver as balas perfurando a lataria do veículo, enquanto seus componentes se ocultavam do outro lado. Ordens
foram ditadas. Os guardas diante do hotel abriram fogo contra uma torre, de onde um franco atirador disparava contra o veículo.
Dorothy torceu para que Rick, estivesse atento e fotografando aqueles momentos.
Outros veículos militares chegaram à praça, despejando soldados que corriam a se abrigar e responder ao fogo. A torre onde se ocultava o franco-atirador
estava, agora, crivada de balas.
A movimentção dos soldados era feita de acordo com as ordens do homem que se ocultava atrás do veículo acidentado. Momentos mais tarde foi ordenado
o cessar fogo.
Um silêncio pesado caiu sobre a praça. Os olhos de Dorothy estavam atentos aos acontecimentos. O general levantou-se e foi examinar o motorista ainda
debruçado sobre a buzina.
Uma de suas mãos se firmou ao peito do soldado, fazendo-o tombar ligeiramente para o lado. O general olhou para sua mão, então, molhada de sangue.
Imprecações, gritos raivosos vieram de uma porta, quando dois soldados trouxeram de arrastado o franco-atirador, firmando-o diante do general.
Este olhou mais uma vez para a sua mão suja de sangue, depois esfregou na cara do rebelde, que tentou chutá-lo. O general o golpeou no rosto, com força.
O franco-atirador se debateu anda mais nos braços que o firmavam. Um outro soldado levantou o fuzil, disposto a acertá-lo com a culatra.
O general impediu-o com uma ordem. Olhou firmemente para o rebelde, depois voltou ao veículo acidentado, onde apanhou um pequeno chicote.
O prisioneiro gritou o que deveria ser uma ofensa grave. A uma ordem do general, os soldados chutaram-lhe os joelhos, fazendo-o cair.
O chicote agateu-se sobre o rosto dele, traçando um suico avermelhado. O homem gritou e tentou se levantar. Nova chicotada, desta vez no ombro, o fez
urrar de dor.
Como um possesso, o general continuou-o golpeando.
- Isso já é demais. Bem diante dos nossos olhos! - disse Dorothy, revoltada.
- O que pensa que vai fazer, Dorothy? - indagou Marcel, quando ela, resolutamente, deixou o bar e se encaminhou para as porta do hotel.
Os guardas estavam atentos ao castigo que o general infligia no rebelde. Dorothy passou por eles como um furacão, ganhou rua e correu em direção do
general.
- Pare com isso! - gritou ela, postando-se diante do prisioneiro.
- Diabos! Ele vai matá-la! - comentou Marcel, enquanto os fotógrafos não perdiam um segundo do que acontecia.
- Já não o castigou bastante? - indagou Dorothy ao general, que a olhava entre surpreso e raivoso.
- Tirem-na daqui! - ordenou o general em sua língua.
Quando os dois soldados se aproximaram, Dorothy gritou: - Sou uma cidadã americana. Se me tocarem haverá sérias complicações diplomáticas.
O general impediu os dois soldados com um toque de mão e abaixou o chicote. Aproximou-se de Dorothy, encarando-a frente a frente.
Seus olhos negros luziam e seu corpo estava trêmulo, como se dominado pelo ódio. Dorothy se sentiu impressionada e, ao mesmo tempo, terrivelmente fascinada
pela aquela expressão de pura selvageria, como se o homem diante dela agisse apenas pelos instintos mais brutos.
- Aos diabos com sua cidadania, mulher - disse o general num péssimo inglês.
- Que é você, afinal?
- Omar Nazur, sua repórter abelhuda.
- O grande general - sorriu ela com ironia e desprezo. - Então você é o homem que teme a impressão mundial e que espanca pessoalmente seus prisioneiros.
O que acha do mundo saber disso, hem?
-Não acho nada. Volte para o seu hotel e fique lá, de preferência na cozinha...
- Um porco...
- Cale-se! - ordenou ele brandamente, fazendo Dorothy engolindo o que ia dizer.
- Ou você nos dá uma boa justificativa para o que está acontecendo aqui ou o mundo todo vai cair em cima de você como um abutre disposto a dicerá-lo,
seu general!
Ele a olhou agora demoradamente, como se admirasse a figura feminina diante de seus olhos. Depois afastou-se rapidamente.
Capítulo 5
Marcel bateu de leve na porta do quarto, depois entrou. Levava um copo com uísque na mão. Sobre a cama, estirada e ainda trêmula, Dorothy voltou a
cabeça para olhá-lo.
Por instantes seus olhos se fixaram no repórter, como se esperando dele uma explicação para o terrível momento que ela vivera.
- Beba isso, vai se sentir melhor - disse ele, sentando-se ao lado dela.
Dorothy girou o corpo e se apoiou no cotovelo. Aceitou o copo e bebeu um gole enorme, esperando que a bebida alcama-se daquela bebedeira.
Não conseguia tirar de sua mente aquele olhar primitivo, selvagem e, por incrível que pudesse parecer, fascinantes aos sentidos dela.
Marcel a olhou com preocupação, mas à medida que seus olhos percorreram o corpo da garota, aquela preocupação se fez desejo de tê-la naquele mesmo
instante.
Sua mão se estendeu e tocou o quadril da garota, iniciando uma carícia que se alongou pela coxa roliça e sedutora, até a altura dos joelhos de onde
retornou até o ventre dela.
Dorothy tomou mais um gole de uísque, depois passou o copo a Marcel e soltou o corpo sobre a cama, como se procurasse relaxar-se.
Marcel tomou um gole também , depois deixou o copo sobre um móvel ali perto. Voltou-se para ela , olhando-a com paixão.
- O que pretende escrever sobre ele agora? - indagou o repórter, enquanto suas mãos se uniam na tarefa de soltar os botões da blusa de Dorothy.
Olhos fechados, ela não consegui pensar no que escreveria. Aquele olhar de fera ainda permanecia gravado na sua mente, assustando-a excitando-a de
uma forma que ela jamais experimentara antes.
Assim, quando sentiu a mãos de Marcel se aprofundando em sua pele, um arrepio de puro desejo abalou seu corpo e fez desejá-lo, com uma intensidade
violenta.
- Ele podia tê-la maltratado e isso seria lamentável - declarou Marcel, num sussuro apaixonado, debruçando-o sobre ela.
Seu hálito pousou sobre o lábios dela como uma carícia preliminar. Por algum tempo ele olhou a beleza natural daquele rosto, depois acariciou-o com
beijos leves e gostosos.
Dorothy ronronou, delicada, uma das mãos levantou-se para acariciar-lhe o rosto. Marcel tomou-lhe aquela mão e comprimiu-a contra os lábios.
Ela abriu, então, os olhos e fitou aquele rosto onde se refletia a paixão. Por momentos seus olhos se encontraram e se magnetizaram numa atração irreversível.
Seus lábios se encontraram, então, num beijo sensual e fogoso. Dominado pela volúpia, Marcel abraçou-lhe o corpo, gozando-lhe a sensualidade e o calor.
Dorothy fechou os olhos e se apertou contra ele, desejando intensamente que, naquele momento, Marcel deixasse de lado toda a sua gentileza amorosa
e a possuísse como um selvagem.
Alheio, porém, aos desejos dela, Marcel se desmanchou em carícias lentas e possesivas sobre o corpo dela, livrando-a dos tecidos, buscando a nudez
que o seduzia.
Aquele tremor interno dizia a Dorothy que não haveria satisfação total, mas uma espécie de calmaria dentro dela. Talvez fosse mesmo a melhor pedida
para aquele momento.
Abandonou-se às carícias que cobriam seu corpo provocante, que tentavam seus seios, que escorregavam pelo seu ventre, que avançavam pelas suas coxas
torneadas e firmes.
Aceitou os beijos que desciam pelo seu pescoço, detinha-se em seus ombros, buscavam seus seios, varriam seu ventre.
Estremecimentos promissores percorreram seu corpo quando uma das mãos dele avançou intimamente. Ela queria apenas sentir, por isso deixou que ele se
desnudasse sozinho e que suas pernas se roçassem em seguida com volúpia.
Marcel talvez a tivesse sentido um tanto afastada, um tanto fria, por isso esmerou-se nas carícias, não permitindo que nenhum detalhe erótico escapasse
de suas ações.
Dorothy se sentia excitada e o desejava, mas era diferente daquela vez. O prazer não lhe vinha de ondas violentas e arrebatadoras.
Era como um sono chegando, calmo, tranqüilo, gostoso até certo ponto.
* * *
Durante o jantar, o pessoal todo da imprensa se encontrava na salão do hotel. Conversavam sobre os acontecimentos, tecendo conjeturas. Nada sabiam
de concreto a respeito da real situação e, após o incidente que haviam presenciado à tarde, tinham motivos para acreditar que, caso Omar assumisse o poder,
implantaria uma ditadura de terror.
Todos viam nele um homem rude, um militar exigente e de punho firme.
- Penso que ele já tenha dado o golpe e que esteja preparando uma aliança com os russos - comentou Marcel.
É possível - comentou um correspondente inglês, sentado à mesma mesa que ele, Dorothy e Rick.
Dorothy tinha seus pensamentos distantes e repartidos entre o incidente daquela tarde e a impressão que aquele homem havia causado nela.
Notou, então, que Rick se abstinha de qualquer comentário, preocupado apenas com a comida e o vinho à sua frente. Era um comportamento um tanto quanto
individualista para um repórter como ele.
- E você, Rick? O que pensa de tudo isso? - indagou ela, numa pausa entre a conversa de Marcel e do inglês.
- Acho que esse cara deveria mesmo ser morto - disse Rick, com uma naturalidade que surpreendeu Dorothy.
- Pelo que sei, isso já foi providenciado - disse o inglês, com um sorriso.
- Mas ainda não foi feito. Ele está bem vivo e atuante - lembrou Marcel.
- É tudo uma questão de tempo - acrescentou Rick, sorrindo misteriosamente.
Naquele momento um garçon se aproximou e chamou a atenção de Dorothy.
- Há um oficial que deseja falar-lhe Srta Dorothy.
- Do exército?
- Sim - confirmou o garçom, apontando para um militar parado à porta do salão.
- Então vamos ver o que ele quer - disse ela, embora não tão segura de si como gostaria de estar.
Por momentos teve medo, mas caminhou até lá.
- O general Omar quer vê-la - foi dizendo o oficial.
- A mim?
- Sim, ele pretende lhe dar uma entrevista exclusiva.
Os olhos da garota indicaram surpresa e, ao mesmo tempo, curiosidade.
- Eu a levarei até ele senhorita.
- Um momento, então - disse ela, voltando à mesa onde os outros a esperavam, impacientes. - O general quer me ver - disse ela, escondendo o detalhe
da entrevista.
- E você vai? - indagou Marcel, apreensivo.
- Sim, pode ser a única maneira de saber o que se passa neste país.
- Pode ser perigoso também. Você sabe qual deve ser a real posição de uma mulher por aqui. Talvez ele pretendia... - ia dizendo Marcel.
- Não creio que ele seja estúpido de tentar qualquer represália.
- Gostaria de ir com você, Dorothy - disse Rick, mostrando-se interessado.
- Não creio que isso seja possível. Eu procurarei ao máximo me informar sobre os acontecimentos e não serei egoísta guardando tudo para mim, está bem?
Voltou as costas para os amigos e rumou na direção do oficial, que a conduziu até uma viatura militar estacionada em frente do hotel.
* * *
Dorothy conhecia alguma coisa a respeito da cidade. Percebeu, portanto, que estava sendo levada para o palácio do Governo.
Se suas suspeitas se confirmassem, não haveria dúvida de que Omar já havia dado o golpe e assumido o poder, porém, era o motivo que o levara a praticamente
manter todo o pessoal da imprensa prisioneiro.
Nenhum outro correspondente chegara. Isso poderia indicar que o aeroporto fora fechado e que novos repórteres não estavam sendo admitidos no país.
Não era, porém, motivo para peocupá-la, afinal estava para ter uma entrevista exclusiva, com o homem mais misterioso da atualidade.
Talvez não devesse se preocupar, era o que pensava. A lembrança daquele olhar de puro ódio, porém, fazia com que ela estremecesse e ficasse temerosa.
Já passara, porém, por momentos semelhantes, e se safara de todos eles com excelentes reportagens. Aquela não seria uma exceção, tentou se convencer.
Como previra, o veículo se acercou do palácio, fortemente vigiado. Havia movimentação de tropas e barreiras. Nas ruas, apenas soldados. O povo parecia
oculto em suas casas, aguardando não se sabia o quê.
A estação de rádio oficial nada transmitia. O silêncio a respeito da situação era completo.
Dorothy foi levada parq o interior do palácio pelo oficial. Esperava vê-lo saqueado, mas tudo estava em perfeita ordem. O luxo e o requinte persistiam
nas tapeçarias, nas cortinas ricamente bordadas, na mobília luxuosa, nas guarnições, estátuas e peças sobre os móveis.
Subiram por uma escadaria de mármore, passaram por duas sentinelas de guarda e caminharam por um corredor até o final. Havia uma enorme porta, maciça
vigiada por outros dois soldados.
O oficial fez um gesto e a porta foi aberta.
- Ele virá num instante - disse o militar, afastando-se.
Dorothy caminhou para o interior do aposento. Os guardas fecharam lentamente a porta atrás dela. O silêncio reinou absoluto ali dentro.
Por momento ela ficou ali, deslumbrada com aquele luxo todo, depois se aproximou de uma das inúmeras estantes que cobriam as paredes.
Livros ricamente encadernados, primeiras edições rarissímas, um arsenal de cultura. Notou sobre uma escrivaninha, alguns livros. Aproximou-se e observou
os títulos. Falavam de economia, de política, de problemas sociais.
Um ruído atrás dela sobresaltou-o. Ela se voltou. Omar a olhava.
- Espero não tê-la feito esperar - disse ele.
- Não, não me fez esperar - respondeu ela, sem muita cordialidade, examinando-o.
Ele não vestia a farda completa. Estava em manga de camisa e parecia um tanto cansado.
O cabelo ligeiramente em desalinho caía-lhe sobre a testa. O rosto moreno parecia mais acessível e o brilho de seus olhos não a assustava.
- Eu sinto muito por hoje à tarde - disse ele, caminhando na direção de um móvel onde havia uma porção de garrafas e copos de fino cristal.
- Foi deprimente, general?
- Sim, eu sei, mas tenho meus motivos.
- Desde quando há justificativas para a desumanidade?
Antes de responder ele encheu dois copos de vinho, levando um deles até Dorothy. Olho-a nos olhos.
- Aquele homem tentou me matar. Não o consegui, mas tirou a vida de um soldado que estava ao meu lado.
- Contingências da guerra.
Tem sempre uma explicação para tudo, não? - comentou ele, passando o copo para a mão dela, depois apontando uma poltrona.
Dorothy foi se sentar. Ao fazê-lo, seus joelhos se descobriram e o general fixou seus olhos neles. A garota pensou em se recompor, mas logo dentro
dela sugeriu de imediato que seria um brincadeira interessante, um jogo realmente excitante.
- Seu oficial me falou a respeito de qualquer coisa sobre uma entrevista - disse ela, que, prudentemente, já havia ligado o gravador que trazia permanentemente
em sua bolsa.
- Sim. fiquei sabendo quem é você. Pode parecer irônico, mas conheço seu trabalho e respeito-o.
Dorothy não pode evitar o riso irônico e provocante ao mesmo tempo. O general a olhou demoradamente, como se a temesse e, ao mesmo tempo, quisesse
alcancá-la de algum modo.
- Por que riu? - indagou ele, sentando-se diante dela e obtendo assim, uma visão melhor daqueles joelhos e partes daquelas coxas torneadas e sedutoras.
- Falou em respeito, general, mas mantém toda a imprensa mundial afastada dos fatos, tratando-nos como inimigos em potencial.
-Tenho meus motivos...
-O que tem a esconder?
-Nada.
- Então por que não nos prende daquela forma?
- Defesa própria.
- Defesa própria? Acho que deveria ter mais imaginação, general...
Ele a olhou entre irritado e surpreso. O atrevimento e a agressividade daquela mulher o pertubava profundamente. Dorothy terminou o vinho, deixou o
copo de lado e acendeu um cigarro.
O general a olhou ainda mais surpreso. Num movimento rápido, pôs-se em pé, aproximou-se dela e tomou-lhe o cigarro dos lábios, indo atirá-lo pela janela.
Dorothy ficou estática, tentando entender aquele comportamento, o que não era difícil. Afinal, em países do oriente certos comportamentos da mulher
são considerados ofensivos à masculinidade.
O general ficou ali, olhando a noite por algum tempo. Quando se voltou, havia arrependimento nos olhos dele.
- Eu sinto muito - disse ele.
- Não seja por isso - respondeu ela, começando a compreender alguma coisa a respeito daquele homem.
- Onde estávamos mesmo?
- Falávamos de sua defesa própria - lembrou ela.
- Sim, isso mesmo. Há uma sentença de morte decretada contra mim pelo Emir...
- Sim, eu sei.
- Sabe? - surpreendeu-se ele.
- Tudo mundo sabe. E daí?
- Como acha que eu deva me sentir a esse respeito?
- Está numa guerra, general. Não esperava viver para sempre, não? - retrucou ela, com certa maldade.
Ele a olhou por instantes, entendendo aquela lógica, mas não podendo aceitá-la totalmente.
- O golpe já aconteceu? - quis saber ela.
- Sim, por isso é que estou aqui.
- A viagem do Emir...
- Ele pressentiu os acontecimentos e saiu a tempo.
- O povo parece não ter apreciado isso...Quero dizer, a mudança de governo. Não vi ninguém nas ruas festejando e...
- Nem verá, até que eu encontre o homem que veio para me matar.
- O homem que veio?
- Sim, meu assassino está entre os membros da imprensa mundial. Ele é um profissional disfarçado de repórter...
Deve estar brincando. Conheço cada uma das pessoas que estão naquele hotel...
- Pode responder pôr todos eles? Conhece-os realmente ou apenas de nome?
- Bem, alguns eu conhecia apenas de nome, reconheço, mas se fosse um estranho não passaria desapercebido entre tantas outras pessoas. Formamos uma
comunidade, as pessoas se conhecem nela.
- E não há, ainda assim, a possibilidade de haver um, pelo menos um, que não seja conhecido de todos?
- Talvez - respondeu ela, em dúvida.
-Este seria, então, o assassino - disse ele.
Capítulo 6
Assim que chegou de volta ao hotel, Dorothy foi cercada pelos seus amigos repórteres, que o encheram de perguntas. Ela pouco tinha a dizer a respeito
da situação. Sua entrevista com o general não chegara ao fim de como ela esperava. Um problema qualquer surgiu e ele fora chamado.
Haviam marcado, no entanto, a continuação da entrevista para o dia seguinte. Um carro viria buscá-la no hotel, como naquela noite.
Quando se viu livre de seus companheiros, Dorothy subiu para o seu quarto. Marcel e Rick a seguiram a seu pedido. No aposento da garota ela detalhou
os seus encontros com Omar Nazur.
- Não foi grande coisa - reconheceu Marcel.
- Mas já sabemos que houve um golpe de estado...
- E quanto as fotografias? O general não vai permitir que eu faça meu trabalho? - indagou Rick.
- Nada pude indagar a ele a esse respeito. Você pode compreender a situação dele, não? Qualquer um pode ser o assassino.
- Seria engraçado, se não for trágico - comentou Marcel.
Rick nada disse. Limitou-se a sorrir.
- Agora ouçam o que eu pretendo fazer continuou ela. Amanhã, quando me avistar com ele, pedirei autorização para que nós três possamos circular pela
cidade. Rick cuidará das fotografias...
- Gostaria de fotografar o homem também. Afinal, afinal amanhã ou depois ele pode se um homem morto...
- Pode ser - concordou Dorothy, notando qualquer coisa indefinida na voz de Rick.
- Talvez falemos das mesmas coisas, mas aposto como nossas abordagens vão ser diferentes...
- Qual é o enfoque que pretende dar a sua reportagem?
- Isso é segredo - disse ela, sorrindo misteriosamente.
Rick bocejou e pediu licença para se retirar. Marcel e Dorothy ficaram a sós. O francês caminhou pelo aposento, até uma janela.
Olhou por instantes a noite, depois se voltou e seus braços pousaram sobre a cama. Do outro lado dela, Dorothy entendeu o olhar, mas não sentia a mínima
vontade de se deitar com Marcel, não naquela noite.
- Esta noite não, Marcel - disse ela, com suavidade.
-Algum problema? - indagou ele, enquanto contornava a calma e ia segurá-la pelos ombros.
- Não, apenas cansaço - respondeu a garota, aceitando o beijo que rouçou seus lábios.
- Tem certeza? - indagou ele mais uma vez, as mãos escorregando pelas costas dela.
-Amanhã, talvez, susurrou ela, beijando-a.
Marcel compreendeu e deixou-a sozinha. Assim que ele saiu, Dorothy foi estirar o corpo sobre a cama. Fazia calor. Ela sentia suas roupas grudando-se
ao corpo. Levantou-se e foi a janela. Abriu-a. Uma brisa leve tocou seu corpo gostosamente. Ela segurou os cabelos e levantou-os no alto da cabeça, enquanto
se abanava.
Votou para a cama. Soltou alguns botões de sua blusa, depois estendeu-se novamente. Parecia sentir fluir o suor de sua pele, enquanto o calor produzia
uma estranha inquietação em seu corpo.
Seus pensamentos foram todos para aquele general. Podia entendê-lo melhor agora. Podia até traçar um esboço de seu perfil. Era algo que pretendia conhecer
a fundo. Omar possuía uma personalidade interessante.
Reconheceu, então, que ele era um homem que vivia sobre pressão. Sentiu-o tenso o tempo todo como se esperasse uma agressão por parte dela.
Sorriu ante a idéia de que Omar pudesse ter imaginado ser ela o assassino. Podia ser, ele tinha todo o direito de pensar assim.
O sorriso alargou-se ainda mais e ela pensou nele com ternura agora. Essa ternura tinha muito a ver com a inquietação de seu corpo.
O calor que esbraseava sua pele era idêntica a um outro que ardia em seu ventre. Lembrou-se com certa emoção do momento em que ele avançara e tomara
o cigarro de seus lábios.
Para Omar aquilo poderia ter sido encarado como uma ofensa aos costumes do país. Para Dorothy, no entanto, aquele gesto instintivo da parte dele viera
comprovar ainda mais aquela sua impressão inicial: Omar era um homem puro instinto, um selvagem moderno, um homem terrivelmente forte, um machão no sentido
exato da palavra.
Estremeceu e o calor em seu ventre provocou-lhe arrepios pelo corpo. Acomodou melhor o travesseiro sob a cabeça. Seus braços deslizaram pelo lençol
revelando sua inquietação.
Muitos pensamentos ainda passariam por sua cabeça, antes que adormecesse. Enquanto isso, no quarto ao lado, Rick Hendel analisava com cuidado uma folha
de papel estendida sobre a cama.
Parecia muito interessado nos detalhes todos daquela construção cuja planta estava ali, diante de seus olhos. Ele se voltou, então, para um envelope
que estava sobre o travesseiro.
Abriu-o e retirou dali uma fotografia de Omar Nazur. Com ela à mão se levantou e foi até a janela. Observou por momentos as ruas vazias, depois se
voltou e foi até o armário.
Retirou dali sua maleta de fotógrafo. Abriu-a e retirou um fundo falso. Havia uma pistola alemã , calibre quarenta e cinco, um explosivo concentrado,
detonadores, pedaços de fio, uma pistola estranha, de ar comprimido, e algumas setas esportivas dentro de um vidro com um líquido esverdeado.
Rick apanhou aquela pistola e o vidro, levando-os para cima da cabeceira. Depois apanhou um estojo de máquina fotográfica.
Retirou a câmara, abriu-a. A pistola encaixou-se dentro dela como se tivesse feitas uma para outra.
O fotógrafo sorriu enquanto olhava a fotografia do general.
* * *
Pouco antes do almoço, no dia seguinte, uma viatura militar estacionou diante do hotel. Dorothy estava ali, à sua espera.
Algum tempo depois ela percorria os mesmos corredores da noite anterior. Dessa vez, porém, teve de aguardar um longo tempo antes que fosse atendida.
Diversos militares deixaram a sala, e Omar veio, pessoalmente introduzi-la. Parecia descansado e de bom humor. Seu sorriso não revelava a tensão da
noite anterior.
Eu tomei a liberdade de pedir um almoço para nós dois - disse ele.
- Foi muito atencioso, agradeço...Espero não estar incomodando seu trabalho...
- De modo algum. Pouco a pouco estou descobrindo as pessoas em que devo confiar, e tratando de tirar de circulação as que poderiam ser perigosas -
disse ele, enquanto à levava a poltrona.
Dorothy se sentou, enquanto ele ia até as garrafas, de onde retornou com dois copos, passando um para a garota.
- Virão avisar quando o almoço estiver servido.
- Obrigada! - agradeceu ela, tratando de ligar o gravador e se preparando para fazer algumas perguntas que pudessem ser interessantes.
Não consegui pensar em nenhuma no momento. Os olhos de Omar, fixos nela, pertubavam-na mais do que podia imaginar.
- Deve ter muita experiência em seu trabalho, não? - indagou ele.
- Sim, deve ter realmente...
- Conhece a situação política em todo o mundo, não é?
- Não sou uma analista política, mas em linhas gerais, penso que sei tudo o que passa no mundo atualmente...
- Qual a sua impressão, então, a respeito da repercussão do nosso golpe de estado?
- Espere um pouco, o entrevistado é você - observou ela.
Omar sorriu descontraído. Dororthy se sentia incomodada pelo terrível calor. Algumas gotas de suor se formavam em sua testa, por isso ela abriu a bolsa
a procura do lenço.
A reação do general surpreendeu-a. Num salto ele a segurou pelos pulsos, antes de tomar-lhe a bolsa. Uma arma surgiu da mão dele, que a apontou direto
para Dorothy, que emudeceu, trêmulo e surpresa.
- O que ia apanhar aqui? - indagou ele, autoritário.
- Meu lenço... Estou suando...
A expressão do rosto dele se alterou, demonstrando embaraço. Ele vasculhou a bolsa da garota, depois caminhou pelo aposento, abobalhado, a arma pendente
em sua mão.
- Eu sinto muito... Eu sinto muito mesmo - disse ele, parando diante da janela.
Guardou a arma, envergonhado, depois foi devolver a bolsa para ela.
- Julgou que eu...
- Não falemos sobre isso, por favor. Já me desculpei - disse ele, com certa irritação.
- Simplesmente assim? Você vê em mim uma matadora profissional e, ao comprovar o engano, exige que eu o desculpe?
Omar a encarou como que desconfiado. A impertinência daquela mulher dava-lhe nos nervos. Ele tentara ser cordial, sem se esquecer das precauções. Ela
tinha de entender isso.
- Sou um homem ameaçado de morte....Isso não é fácil para mim...
- E o que quer de mim? A minha piedade? Flores para seu túmulo? Deveria procurar conhecer melhor as pessoas com quem convive...
- A menos que queira encerrar aqui e agora a sua entrevista, exijo que não falemos mais sobre este desagradável incidente - ordenou ele, olhando-a
duramente.
Dorothy se sentiu intimidada ante aquele olhar, percebendo nele aquele instinto selvagem que a fascinava. Irritou-se com ele, mas pensou em sua reportagem.
- Está bem, como quiser - declarou ela, impessoalmente. - Está disposto a responder às minhas perguntas, então?
- Eu a trouxe aqui para isso - disse ele, indo se sentar diante dela.
- O governo anterior sempre manifestou uma clara simpatia para com o ocidente. Isso vai continuar?
- Não vejo motivos para não continuar com isso. Estamos dispostos a no unir a todos reconheçam nosso governo...
- Algum país já fez isso?
- A União Soviética.
E como eles souberam? Como alguém lá fora pode saber o que está acontecendo aqui se você mantém os meios de comunicações sob controle?
- Fizemos uma aliança com eles antes do golpe. Eles sabiam das datas...
- Quer dizer que estão do lado dos russos?
Compramos armas, treinamento e tecnologia deles. Isso não quer dizer que aceitamos totalmente a ideologia deles.
-Mas reconhece que estão do lado deles...
- Não estamos do lado de ninguém. Acredite, isso não é um trabalho fácil, eu tenho encontrado dificuldades para encontar os meus colaboradores...
- Posso entender - comentou ela.
Bateram na porta. Omar se levantou e foi atender. Retornou em seguida.
- O almoço está servido. Quer me acompanhar?
Dorothy e ele atravessaram o corredor, desceram uma escadaria, depois avançaram por outro corredor, até uma ampla sala.
A mesa estava ricamente servida, com iguarias que Dorothy jamais sonhara experimentar. O general foi muito cavalheiro ajudando-a com a cadeira. Depois
ele se levantou diante dela, do outro lado da mesa.
- Esquecemos a política por enquanto, está bem? - propôs ele.
- Como quiser, general - aceitou ela.
* * *
Após o almoço, saíram para um passeio pelos jardins do palácio. Dorothy ficou simplesmente boquiaberta com o que tinha diante dos olhos.
Mãos de artistas pareciam ter combinado aquelas flores, árvores e fontes, criando efeitos de rara beleza. Enquanto camihavam, ela pensava a respeito
do homem que tinha a seu lado.
Sua curiosidade se afastou de todos aqueles detalhes sobre política a ser adotada pelo novo governo e se concentrou na figura humana do general.
Desejou conhecer a vida particular dele, detalhes íntimos que a ajudassem a continuar a traçando aquele perfil.
Pararam junto a uma fonte. Dorothy inclinou-se sobre ela e molhou as mãos, respingando o rosto a seguir. O general apoiou o pé a borda e ficou olhando
as águas e a figura da garota.
- Fale sobre você, general - pediu ela, olhando a imagem dele que se firmava, enquanto os círculos formados sobre a superfície da água se aquietavam.
O espelho cristalino a permitiu ver um sorriso interessante nos lábios dele.
- O que quer saber sobre mim?
- Sua vida particular...É casado por exemplo?
- Não, ainda não?
- Acho que nunca tive tempo para isso - declarou ele, pensativo por instantes
- Deve ter perdido algumas boas oportunidades, não?
- Por que diz isso?
- Ora - disse ela, encarando-o.
Ia dizer qualquer coisa, mas aquele fascínio primitivo que sempre via no rosto dele a fez calar-se. Olharam-se em silêncio, perturbados.
Dorothy sentiu seu coração bater mais forte. Ela imaginou então, que no momento seguinte o general a tomaria nos braços e a beijaria selvagemente.
Esse pensamento provocou arrepios e estremecimentos em seu corpo, pondo-a num estado de intensa excitação. Aquela troca de olhares persistiu.
Dorothy indagou-se por que ele hesitava, por que não a tomava nos braços e...
- Já está ficando tarde...Tenho alguns compromissos - disse ele, parecendo vencer o fascínio por àquela mulher.
- General! - chamou ela, o coração aos saltos.
- Sim? - respondeu ele, voltando-se para ela.
Dorothy não soube que primitivo instinto a guiou naquele momento, mas sentiu que aquilo era algo que precisava fazer. Antes que Omar pudesse esboçar
qualquer reação, ela se aproximou dele e pôs na ponta dos pés.
Seus lábios cobriram os dele num beijo fugidio.
- Por que fez isso? - indagou ele, surpreso, indeciso, entre repreendê-la ou agradecê-la.
- É preciso um motivo?
Por momentos a expressão dele permaneceu indefinida. Depois como se percebesse que aquela mulher terrível estivesse zombando dele, seu rosto se fechou.
- Vamos, vou mandar que a levem de volta ao hotel...
- Mas ainda não terminamos...
- Numa outra oportunidade - disse ele, apressando o passo diante dela.
- Quando? - insistiu a garota, indo no encalço dele.
- Quando for oportuno...
- Quero que me autorize a circular por aí e fotografar...
Ele estacou e se voltou repentinadamente. Dorothy quase caiu nos braços dele.
- Você quer?
- Sim, quero.
- Não acha que está exagerando? Você não deve fazer exigências e sim apenas aquilo que eu ordenar.
- Você pode governar seu povo, general, mas não a mim - declarou ela, com firmeza, desafiando-o.
Capítulo 7
Trancada em seu quarto, no hotel, Dorothy tentava entender aquele estranho jogo de atração e repulsão que se desenvolvia entre ela e aquele general
prepotente e grosseirão.
Havia se desvencilhado dos amigos, provocando até comentários a respeito do seu egoísmo em esconder informações aos outros.
Pela primeira vez, porém, em toda a sua carreira, Dorothy se deixava levar pela emoção no desenvolvimento do seu trabalho.
Não conseguia entender como aquilo acontecia. Sempre fora uma mulher racional e fria. Diante das situações mais incríveis soubera agir com diplomacia
para obter o que procurava.
Diante de Omar, todavia, todo aquele seu esquema se desmoronava e ela, antes de ser uma jornalista, se via como mulher, fascinada e perturbada demais
para manter o domínio da situação.
Lembrou-se do beijo que se desencadeara a última discussão. Não podia entender o que a lavara a fazer aquilo. No momento, fora como um impulso irresistível,
uma necessidade.
E o que lhe sobrara daquilo? Uma espécie de vaga emoção, incompleta, girando dentro do seu corpo, provocando uma deliciosa e perturbadora letargia,
um formigamento interessante em seu peito, uma sensação suave de tontura em sua cabeça e uma terrível irritação em seus braços.
Era como se desejasse agarrar qualquer coisa e apertá-la até que a sentisse esfacelar para, então, acariciá-la com toda a ternura do mundo.
Bateram na porta, ela não sentia vontade de ver ninguém, de falar com ninguém. O modo como Omar a despedira e a mandara de para o hotel a revoltada.
Ele fora grosseiro e rude ao extremo. Era um homem bruto, terrivelmente bruto, mas sua brutalidade provocara em Dorothy o despertar de instintos que
ela sempre julgara domados.
Compreendeu, então, que desejava aquele general. Que sua figura a fascinava e a envolvia como uma fantasia erótica, como um produto de seus mais baixos
desejos.
- Dorothy! - chamou Rick, à porta.
Ela se levantou irritada, passou diante do espelho e recompôs-se. Depois foi abrir a porta. Rick exibiu-lhe um envelope.
- Um mensageiro veio trazer - disse ele, passando-o para a garota.
Dorothy abriu-o rapidamente. Mal podia acreditar no que lia, apesar do péssimo inglês. Omar a convidava para um jantar naquela noite.
Caminhou atordoada pelo aposento, pensativa, lendo e relendo aquela mensagem. O que se passava com aquele homem? O mesmo, talvez, que se passava com
ela.
Talvez a atração fosse mútua, assim como natural aversão. Talvez se desejassem intimamente, mas compreendesse que nunca seria o par ideal para o outro.
- Algo interessante? - indagou Rick.
- O mensageiro está esperando pela resposta?
- Não, apenas entregou e foi embora.
- Diabos! Ele não pede, ele ordena. Ele decide até mesmo num simples convite. Não da chance para recusas - resmungou.
- O que foi?
- Nada, esqueça, Rick - respondeu ela, procurando pensar com frieza.
- Consegui a permissão para que pudéssemos circular por aí? - indagou Rick.
- Não, mas vou conseguir esta noite. Jantarei com o general.
Rick sorriu por instantes, depois tirou uma mini-câmara do bolso de sua jaqueta.
Se acaso ele não der a permissão, que acha de fazer isso por si mesma? - perguntou ele, exibindo a câmara.
- Pode ser interessante - concordou ela, indo até ele e apanhando-a.
Rick explicou-lhe o funcionamento, depois se retirou. Dorothy fechou a porta e, por instantes, ficou pensativa.
Lentamente um sorriso de pura malícia desenhou-se em seus lábios, como se ela houvesse chegado a uma decisão excitante para aquele desafio.
Caminhou até o armário e abriu-o. Escolheu seu vestido mais provocante, indo estendê-lo sobre a cama. Pensou no general, pensou naquele jogo, pensou
naquele fascínio. Ainda era a mesma mulher fria e determinada de sempre, traçaria o perfil daquele general e ainda o ridicularizaria diante do mundo.
- Eu fiz amor com um ditador - murmurou ela. - Não ficaria muito ameno...A cama do general...Talvez.
* * *
Faltava um quarto de hora para as oito, quando Dorothy foi levada mais uma vez ao palácio. O motorista da viatura parecia muito apressado, o que a
deixou intrigada.
Uma vez lá, Dorothy percorreu o caminho já conhecido. Omar veio recebê-la à porta do salão. Olhou-a por instantes. Parecia alegre e de bom humor.
- Venha, por favor - disse ele, tomando-a delicadamente pelo braço e levando-a para junto da janela.
Dorothy ficou intrigada a respeito do que se passava. Omar demonstrava certa euforia, enquanto apontava para a cidade.
As luzes da ruas estavam sendo acesas, possibilitando uma exata visão da dimensão da cidade-capital. Dorothy olhou Omar como se indagasse o motivo
de tudo aquilo.
- Às oito em ponto o povo sairá as ruas para festejar a vitória do nosso movimento. Seus amigos repórteres poderão circular livremente, fotografar,
colher impressões. Verá que o nosso povo está feliz como nunca o foi antes...
- Isso é maravilhoso...Mas por que só agora?
- Havia bolsões de resistência ao golpe. Os partidários do Emir precisavam ser localizados e afastados. Agora tudo está sobre controle. Procuramos
manter o povo longe das ruas para evitar qualquer perigo, caso houvesse alguma resistência armada...Agora está tudo bem mesmo.
- E não tem medo quanto ao seu assassino? O rosto do general se tornou ligeiramente sombrio.
- Vou ter de correr este risco. Todos os jornalistas que estão aqui, serão vigiados...Espero.
Omar consultou o relógio. Faltava pouco para a grande festa. Dorothy pensou naquele momento histórico e se lembrou da câmara que Rick lhe dera.
- Fique aí mesmo - pediu ela, retirando a câmara de sua bolsa, adaptando-lhe o flash e se afastando.
- Não, você não pretende me fotografar...
- Claro que sim, fique quieto...
- Espere! Você é jornalista e na certa vai fazer uma grande reportagem sobre tudo isso, não?
-É o meu trabalho...
- Então quero que sua primeira foto seja nossa...Isso é, você e eu, juntos. Sim, vai ser desse modo - disse ele, caminhando até a porta.
Abri-a e chamou uma das sentinelas.
- Sabe fotografar?
- Sim, claro que sim - respondeu o soldado.
Omar foi apanhar a câmara das mãos de Dorothy e levá-la para o soldado, que deixou de lado a arma e sorriu. Dororthy deu de ombros. Se o general queria
daquela forma..
- Quero que pareçamos dois bons amigos - disse Omar, enquanto seu braço contornava os ombros de Dorothy.
- Como quiser - sorriu ela, sentindo estranhamente perturbada com a proximidade dele e com a suave pressão que exercia ao redor de seu corpo.
Do outro lado da sala o soldado apontou a pequena câmara. Omar adotou uma pose marcial e sorriu...Um brilho cegante e, logo em seguida, foi como se
um vendável varesse o aposento.
Dorothy e Omar foram arremessados contra a parede. O corpo do soldado, estilhaçado, foi jogado para trás, enquanto a explosão provocava estragos terríveis
pelo aposento.
- O que aconteceu? - indagou Dorothy.
Soldados acorreram. Omar pôs-se em pé, olhando a destruição causada pela explosão. Seus olhos pousaram, então, sobre o corpo do soldado.
Agentes de segurança invadiram os aposentos, olhando incrédulos para a cena. Omar se voltou para Dorothy. Seus olhos refletiam seu ódio mais profundo.
- Você! - murmurou ele, cego de raiva.
- Eu não sei o que...tentou dizer ela.
- Está tudo sob controle. Limpem isso aqui, tragam-me uma farda nova - ordenou ele, enquanto la fora, a multidão ganhava as ruas.
O general se afastou de Dorothy e segredou qualquer coisa aos ouvidos de seus homens e seguraram Dorothy pelos braços, arrastando-a dali. A garota
estava aturdida demais para compreender o que estava acontecendo.
Omar virou as costas para ela e ficou olhando os vidros estilhaçados da janela. Diante do palácio, a multidão começava a se juntar.
Uma farda nova foi providenciada. Omar trocou-se rapidamente, depois deixou a sala e rumou para a área de entrada do palácio, onde faria sua aparição
diante de seus súditos.
Seus pensamentos, no entanto, estavam naquela mulher incrível, incapaz de compreender como ela se dispusera a dar sua vida para assassiná-lo. Não fazia
sentido, como compreender?
* * *
Dorothy caminhava ainda aturdida dentro daquele quarto. Ia até a janela, observava a multidão que dominava todas as ruas, ouvia seu alarido.
Retornava, atirava-se na enorme e confortável cama, tentando entender o que houvera. Seu vestido de noite estava rasgado em alguns pontos, manchados
em outros. Seu cabelo estava em desalinho, havia uma mancha vermelha numa de suas faces.
Então, como se gradativamente sua mente voltasse à lucidez, ela percebeu a situação terrível em que se metera. Houvera um tentado contra a vida de
Omar e ela fora, indiretamente, o instrumento.
Estava presa agora, disso não havia dúvida. A porta do quarto estava trancada. Omar na certa estaria pensando que ela era o matador contratado para
pôr fim à vida dele.
Seria, porém, um absurdo que ele não percebesse a verdade. Afinal, se Dorothy tivesse usado aquela câmara, estaria morta como aquele soldado.
Um arrepio de puro pavor percorreu seu corpo. A câmara...Rick Hendel!
Ela correu para a porta esmurrando-a e pedindo que abrissem. Seus apelos, no entanto, morriam inúteis aos ouvidos das sentinelas que nada entendiam
de suas palavras.
Dorothy insistia. Seus pensamentos estavam em Omar, no perigo que corria naquele instante. Rick Hendel, só poderia ter sido ele. Estava lá fora agora,
pronto a repetir, com sucesso, talvez, o atentado.
- Abra! Omar corre perigo! - repetiu ela, com insistência, até ser vencida pelo cansaço.
- Diabos! Ninguém me ouve - lamentou a garota em desespero, indo atirar-se na cama.
Precisava falar com Omar, precisava alertá-lo. Adormeceu, porém vencida pela suas emoções. Lá fora o barulho diante do palácio ia diminuindo, enquanto
a multidão, em festa, espalhava-se pelas ruas.
Alguém tempo mais tarde, passos decididos quebraram o silêncio daquele corredor. Diante da porta, Omar ditou algumas ordens para os homens. A porta
foi aberta. Ele entrou e fechou-a atrás de si.
Sacou a pistola e se aproximou do leito onde Dorothy adormecia. Apontou a arma, mas sua mão tremeu. Ele não consegui acreditar, ele não conseguia vencer
os impulsos que vinham das regiões mais íntimas de seu ser.
Havia algo naquela mulher, algo que o fascinava, o intrigava, que o envolvia. Era atrevida, desafiadora, mas cheia de vida de vitalidade. Era irracional
admitir como uma mulher como Dorothy estivesse disposta a morrer, suicidando-se numa missão que nada lhe dizia respeito.
Deveria haver um engano em alguma parte, mas tudo fora muito real, muito cruel. Omar ainda tinha diante de si o corpo estilhaçado daquele soldado.
Abaixou a pistola. Aproximou-se do leito. Dorothy resmungou qualquer coisa e se voltou. Seus olhos se abriram e, ao vê-lo, ela saltou da cama e abraçou-o,
movida por um impulso de alívio.
Oh, graças a Deus! - murmurou ela.
Omar estremeceu ante o contato com o seu corpo com o dela, mas resistiu ao desejo violento que tomou-o de assalto.
- Por quê? - indagou ele, segurando-a pelos ombros e afastando-a.
Foi quando Dorothy notou a arma. Seus olhos encararam-no com espanto.
- Você pensa que realmente eu...
- Dê-me um motivo apenas - falou ele, levantando a arma para ela.
- Oh, não. Eu não poderia...Será que não entende? Eu posso explicar...
- Eu seria um louco se a ouvisse...Eu sou um louco por não puxar logo este gatilho e...
- Diabos! Como pode ser tão cego?
- Não blasfeme diante de mim! - gritou ele, furioso.
- Aos diabos com você, seu pedante, prepotente, ignorante, bruto... - explodiu ela, deixando-se levar pela tensão que se acumulara dentro de si.
Jogou-se contra ele, ofendendo-o e esbofeteando. A arma caiu no tapete, enquanto Omar procurava se defender. Dorothy havia perdido todo o controle
de si.
Ele a segurou pelos ombros, balançando-a, mas isto apenas a irritou mais. Suas mãos batiam implacavelmente contra o rosto dele. Omar se viu cego pela
fúria. Empurrando-a para trás. Dorothy retornou ao ataque.
Ele a esbofeteou, mas isso não parece acalmá-la. Dorothy se agarrou a ele, desequilibrando-a. Seus corpos caíram sobre a cama. Dorothy se debateu.
Omar prendeu um de seus braços como uma maneira de mantê-la quieta.
Seus rostos ficaram próximos, seus hálitos se confundiram, seus sentidos giraram no mesmo carrossel de loucura e desejo, de fúria e de tentação, de
irracional e instintiva atração.
Beijaram-se como se procurassem ferir-se. Suas bocas procuravam o domínnio sobre a outra. Suas línguas se degladiaram, suas salivas se fizeram uma
só, até que a paixão caísse sobre eles como uma terrível realidade de que não podia fugir.
Abraçaram-se e rolaram sobre o leito ao sabor da volúpia. As mãos de Omar desceram pelo corpo dela, encontrando os rasgos do tecido, alargando-os,
dilacerando as roupas da garota que se enroscavam a ele presa de sua própria luxúria.
A carnalidade vibrava naqueles beijos violentos e sôfregos. As carícias mais intensas e rudes eram desejadas por Dorothy, como se a presença de Omar
lhe despertasse os mais ocultos instintos.
Ela queria ser dominada por ele, invadida a paciência e a calma de Marcel, sem a irritante docilidade de Kevin e de outros tantos homens com quem fizera
amor.
Talvez Omar lhe significasse algo novo em sexo, novas atitudes, novas emoções, novas descobertas. Talvez seu papel de mulher agressiva e emancipada
a estivesse cansando. Talvez quisesse apenas um homem que a fizesse sentir inferior, que a possuísse como um marinheiro a uma meretriz do cais.
O fato era que aquele homem conseguira arrancar dela mais emoções do que todas as que já experimentara. O rasgar dos tecidos produzia, nos sentidos
se Dorothy a mais excitantes sensações.
O modo bruto e rápido como ele a despia, quase machucando-a, punha-a fora de si. Ele retribuía, dando vazão livre ao seu desejo. Suas mãos o feriam
em carícias violentas, suas unhas buscavam a pele dele no embate secular dos sexos.
Botões foram soltos, a japona militar fora atirada a algum canto do aposento. Dorothy o queria nu diante de si, seu corpo másculo roçando sua pele,
machucando-a, pesando sobre ela , sufocando-a e excitando-a. As emoções que tomavam de assalto eram violentas e deliciosas.
Capítulo 8
Omar a beijou no rosto, no pescoço, enquanto suas mãos avançavam rudes e possessivas sobre a pele dela. Arrepios de intensa paixão punham o corpo da
garota em violenta tensão.
Estremecia continuamente, enquanto os lábios dele avançavam em direção aos seus seios, aspirando o suave perfume daquele vale excitante, depois tocando-os,
mordiscando-os, sugando-os.
Uma de suas mãos subiu pelo corpo dela e massageou um dos seios, enquanto seus lábios rendiam a justa homenagem ao outro.
As pernas dele forçaram passagem por entre as dela, buscando uma posição de domínio total. Suas respirações eram ofegantes, seus sentido giravam perdidos
num carrossel de loucura e desejo.
As mãos da garota se enterraram nos cabelos dele. Sua unhas, a seguir, arranharam-no na base da nuca, depois nas costas. Beliscões espalhavam pequenos
traços vermelhos sobre a pele de Omar, cujos lábios carregados de volúpia perdiam-se entre os seios de Dortohy.
O calor e o fogo da paixão punham suor em seus corpos. Os ruídos obcenos mais e mais emocionavam Dorothy, despertando todos os seus instintos no cio.
Um sabor de sexo e suor contagiou os lábios de Omar, que a beijou no ventre.
Como um felino assanhado, Dorothy se debateu no leito, girando seu corpo por sobre o de Omar , esfregando-se a ele como se pretendesse impor sua vontade
sobre ele.
As mãos dele firmaram sobre as nádegas e novamente giraram sobre o leito, voltando à posição anterior. O peso do seu corpo sobre o de Dorothy a punha
em delírio. Ela não desejava carícia, não desejava docilidade. Queria ser possuída de imediato e era essa a intenção de Omar.
Parecia haver entre eles uma secreta desavença, uma luta íntima pelo poder. A de Omar era autêntica; a de Dorothy era apenas estratégia, um meio de
forçá-lo a fazer o que ela desejava dele.
Na realidade, o vencedor seria o vencido ou, talvez, não houvessem vencedores nem vencidos, apenas combatentes que alcaçariam a mesma vitória.
Ele encontrou um prazer adicional ao opor resitência ao avanço final. Omar a beijou febrilmente. Sua língua devassou o interior da boca de Dorothy,
tirando-lhe a razão definitivamente.
Os joelhos dele forçaram os dela em busca de acomodação total para os seus quadris, fazendo-a soluçar e gemer, totalmente eletrizada.
Um sorriso de prazer desenhou-se nos lábios dele quando a possuiu num movimento rápido, profundo, quase brutal. Os lábios de Dorothy se entreabriram
e todo o seu corpo arqueou num espasmos de prazer insuportável.
Clímax sucessivos abalaram seu corpo, submissos ao movimento de quadril de Omar. Ela se sentia diluir , desfazendo-se em suspiros e gemidos, a mente
confusa e delirante naquela cadeia de prazer que ameaçava levá-la à loucura..
Murmúrios roucos escaparam da garganta do general, quando abraçou-a com força comprimindo-a contra o leito e imobilizando-se num espasmo final.
* * *
Omar levantou-se e vestiu-se. Parecia aturdido, envergonhado. Dorothy cobriu-se com uma ponta de lençol. Nunca se sentira daquela forma, completamente
insegura, totalmente vencida por sensações que jamais julgara encontrar dentro de si.
Aquele homem havia possuído e a amado de uma forma que sempre havia sido inconcebível para ela. Deveria sentir humilhada, vencida, mas,ao contrário,
sentia-se satisfeita, brutalmente satisfeita.
- Acha que pode ouvir-me agora? - indagou ela.
Omar se voltou, terminando de fechar os últimos botões de sua japona. Seus olhos ainda revelavam confusão total.
- O que tem a me dizer? - indagou ele, abaixando-se e apanhando a arma que ficara ali caída.
Examinou-a por instantes, depois guardou-a no coldre.
- Eu não tive nada haver com que aconteceu e acho que sei quem foi o responsável por tudo aquilo.
Os olhos dele brilharam, querendo acreditar no que ela dizia.
- Há um fotógrafo comigo, seu nome é Rick Hendel. Foi ele quem me deu a câmara.
- Você já o conhecia?
- Não, nunca o havia visto antes. Foi designado para me acompanhar porque estava fazendo um bom trabalho...Mas...
- Oque foi?
- Não sei , pequenas suspeitas se juntam agora...O que você sabe desse complô para matá-lo?
- Sei apenas que o Emir contratou um matador profissional, um homem eficiente, talvez o melhor de todos em seu ramo, considerando a fortuna que o Emir
acumulou nos bancos suíços e em outras partes do mundo.
- Se assim for, você precisa se cercar de todas as precauções - disse ele, saltando do leito e indo abraçá-lo, movida por um impulso que não pôde controlar.
Omar acariciou-a, então, com extrema suavidade, o corpo dela, provocando arrepios, sensibilizando-a. Ela se sentiu submissa, como que domada por aquele
fogo selvagem que havia incendiado seu corpo.
Queria apenas estar com ele, sentir a presença dominadora daquele homem, submeter-se a ele, a ser dele quando ele assim o desejasse.
- Vou arrumar roupas para você. Talvez ainda possamos comer aquele jantar - sorriu ele, segurando-a pelos ombros e afastando-a para olhá-la.
Os lábios de Dorothy se fecharam e seus lábios se entreabriram num convite e numa oferta de Omar a beijou-a, estreitando-a em seus braços.
Pouco mais tarde, já vestida, Dorothy o acompanhou até uma sala onde o jantar estava servido. Omar havia pedido uma descrição de Rick Hendel e a passara
a seus homens de confiança que imediatamente saíram a procura do matador.
No palácio, porém, Omar podia se sentir seguro. Seus soldados lhe davam toda a proteção possível e Rick jamais se aventuraria a penetrar ou tentar
penetrar ali.
Seria praticamente impossível, pelo menos era o que todos pensavam. Naquele momento, no posto da guarda , à entrada do palácio, uma sentinela abriu
o portão para a entrada de um jipe militar conduzido por um oficial.
O veículo avançou pelo pátio, depois rumou para a garagem, nos fundos. Quando desceu, o homem retirou o quepe e seus cabelos louros foram agitados
pela brisa.
Ele apanhou uma maleta no assento do jipe. Abri-a. Examinou a câmara fotográfica preparada com uma pistola de ar comprimido. Não teria chances de usá-la,
mas a pistola ainda era a arma mais eficiente e segura naquela ocasião.
Apanhou uma das setas no vidro com veneno e introduzi-a na arma do coldre. Ia depositar ali a arma de comprimido, mas pareceu pensar melhor.
Deixou no coldre a pistola quarenta e cinco e desengatilhou a de ar comprimido, prendendo-a no cinto, por dentro da camisa. Abotoou-se, em seguida,
depois caminhou com segurança na direção de uma porta.
Enquanto caminhava com desenvoltura pelos corredores do palácio, pensava em como o general havia conseguido escapar da explosão.
A quantidade de explosivo empregada seria eficiente a curta distância, numa tentativa de fotografar em close. Dorothy talvez houvesse tentado uma foto
mais afastada, de corpo inteiro.
Isso não importava agora. Vira o general quando se apresentara a multidão. O fato de estar vivo era apenas uma questão de tempo. Havia muito dinheiro
em jogo, além de uma reputação que não podia ser maculada.
Havia traçado cuidadosamente seu plano. Conhecia o castelo, estudara a fundo aquela planta. Bastava caminhar por ali à procura do general. Ninguém
barraria a passagem de um oficial. Aquela pistola era silenciosa. O veneno era mortal e rápido. Enquanto todos se preocupassem com o general, ele sairia
dali calmamente e logo estaria de volta a Paris, onde uma pequena fortuna o esperava.
* * *
Ainda estavam à mesa. Acertavam detalhes para uma entrevista coletiva com a imprensa no dia seguinte. A idéia fora de Omar que pretendia preparar uma
armadilha para apanhar seu possível matador.
- Acho que vai ser arriscado - disse Dorothy, com certa apreensão.
- Não há outro modo. Você ouviu o que disse meu oficial. Estiveram no hotel, procuraram nas ruas . O tal Rick simplesmente sumiu no ar.
- Deve estar por aí. É um profissional, é um assassino frio e inteligente. Na certa já tem um plano...
- Falarei com meus acessores a respeito disso. É uma situação delicada. Não posso me esconder para sempre. O povo pode vir a saber disso. O que pensarão
a meu respeito?
Dorothy percebeu que não adiantaria argumentar, apesar de conhecer o perigo.
- O que pretende fazer agora, Dorothy? indagou ele, após um breve silêncio entre eles.
- Terminar minha reportagem e...Não sei! Francamente não sei - respondeu ela, percebendo que não havia nenhuma perspectiva à sua frente.
- Talvez possa fazer uma série de reportagens a respeito do meu país. Seria uma boa propaganda para mim...
- Não creio...Depois da aliança com os russos...
- Não é definitiva...
- Mas você se aliou a eles.
- Tinha de obter alguma ajuda em alguma parte...
- Os Estados Unidos...
- Os Estados Unidos estão ainda do lado do Emir, não compreende isso?
- É tudo uma questão de estratégia. Tente negociar agora que detém o poder.
- Acha que me ajudarão?
- Você tem o petróleo...É o maestro, Omar
- É tudo tão difícil! - exclamou ele, levantando-se e caminhando até a janela.
Voltou-se e encarou Dorothy. Omar parecia um homem confuso, alguém que se via com um sério problema nas mãos.
- Viu aqueles livros lá na biblioteca?
- Sim, até me surpreendi...
- Pois eu estive lendo...Tenho tentado aprender, mas sou m militar, não um político.
- Preciso de ajuda Dorothy. Talvez se você...de uma conselheira para assuntos internacionais. Por que não fica aqui?
Dorothy o encarou com surpresa, sem saber o que penar daquela oferta. A porta do salão se abriu e um oficial entrou, fechando-a atrás de si. Ao ver
Omar junto a janela, caminhou na direção dele.
Dorothy estava sentada de costas para aquele oficial que, após olhar Omar por instantes, desabotou calmamente a camisa e sacou a pistola de ar comprimido,
engatilhando-a.
- Quem é você? O que vai fazer? - indagou Omar, apanhado de surpresa.
Dorothy voltou-se na cadeira e viu, espantada, o homem que apontava aquela estranha arma na direção de Omar.
- Rick! - exclamou ela.
O matador mal pôde acreditar em seus olhos, tomado de surpresa. Que o general não moresse naquela explosão era compreensível. Mas como Dorothy escapara?
Seu instante de dúvida foi a salvação de Omar.
O general moveu-se rapidamente e, quando Rick disparou, a seta encravou-se na parede, sem atingir o militar.
O que se seguiu foi um autêntico duelo de rapidez e frieza. Os dois homens levaram as mãos às armas que tinham nos coldres. A de Rick saiu antes, mas
quem disparou primeiro foi Omar.
A terrível quarenta e cinco sempre fora eficiente nas mãos do general. Os olhos de Rick se esbugalharam quando aquele impacto o fez recuar até bater
contra a porta.
Tentou levantar sua arma e disparar, mas a porta foi aberta violentamente e seu corpo foi jogado para frente. As duas sentinelas caíram sobre ele,
mas era desnecessários. Rick Hendel, ou fosse quem fosse, já estava morto.
* * *
Não fora fácil Dorothy tomar aquela decisão. Afinal, ela evolvia uma dose de sentimento e emoções que ela jamais poderia esquecer.
Ficar, porém, estava fora de cogitações. Dorothy tinha um trabalho, tinha um estilo de vida. Não sabia por quanto tempo poderia dominar dentro de si
aquela sua antiga inquietação.
Logo os limites do emirado seriam pequenos demais para ela, assim com havia sido sua pequena fazenda no interior de Oregon.
O que sentia em relação a Omar era indefinível, Dorothy não entendia, não conseguia entender e, talvez por isso, temesse aquilo.
Aquela paixão submissa demais. Um dia chegaria em que a personalidade forte de Omar acabaria por sufocá-la totalmente ou, se isso não acontecesse,
possivelmente estaria em conflitos.
Não, realmente não poderia ficar definitivamente, apesar de alguma parte de seu ser desejar isso.
Fechou as malas, depois deu mais uma olhada, a última, pelo aposento. Às vezes esquecia coisas e não queria que isso acontecesse.
Deixou as malas ali, depois desceu até o saguão. Na portaria providenciaram a remoção de suas malas. Sobre o balcão, com uma foto de Omar, estava a
sua revista. A reportagem inicial fora um sucesso.
Um veículo militar parou diante do hotel. Um soldado desceu e recolheu as malas da garota. Ela pagou a conta e saiu. O ar quente, as pessoas na rua,
as construções, tudo isso fazia pensar nas mil e uma noites de Sherazade.
O soldado ajudou-a a subir no veículo. Depois tomou assento ao volante e manobrou pelas ruas movimentadas.
- Depressa, por favor - pediu ela, na língua do soldado.
A impaciência a dominava. Queria chegar logo ao palácio, onde se hospedaria durante a série de reportagens que pretendia realizar sobre o país.
Talvez estivesse adiando a partida , talvez tivesse encontrado motivos para não partir. Naquele momento desistiu de pensar naquelas coisas todas.
Estava calma e tinha um trabalho pela frente. Um trabalho agradável, realmente agradável. Quando ele terminasse veria o que fazer.
No momento queria chegar logo ao palácio e encontrar-se com Omar, roubá-lo de alguma reunião importante e trancar-se com ele num daqueles quartos para
ser amada e possuída.
Que outra mulher no mundo não se excitaria apenas diante daquela idéia.
FIM
Livros completos, lidos por Paulinho Geller. Romances, ficção, aventuras, textos interessantes e tudo mais que tenha me chamado a atenção e que podem ser aconpanhados na íntegra. Querendo, solicite por e-mail a cópia do texto em formato .txt. Para leitura Offline.
LER é VIAJAR, APRENDER, ADQUIRIR CULTURA, É TORNAR-SE GENTE.
Sejam bem vindos!
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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
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